Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Mario Vitor Santos

‘No dia seguinte à publicação aqui de uma nota criticando erros de tradução e de português em textos do The New York Times divulgados pelo iG, este ombudsman foi verificar se sua crítica resultou em alguma melhoria na qualidade da redação do material oferecido aos leitores.

Neste primeiro momento, para efeitos práticos, a impressão é de a crítica deste ombusdman foi ignorada. É o que se deduz da leitura da primeira reportagem no índice de textos do NY Times exibido pelo iG às 16h30 de sexta-feira (10/8). Há problemas sérios, que poderiam ter sido corrigidos com uma leitura mais atenta.

Leia o primeiro parágrafo da reportagem ‘Cruz Vermelha enfrenta críticas sobre ajuda às vítimas do Katrina’ e veja se é possível entender. Depois disso, tente o segundo parágrafo.

– o texto tem muitos defeitos. Aqui são mencionados alguns que evidenciam a falta de cuidado. O primeiro parágrafo é incompreensível. Algum detalhe, como um ‘e’ a mais (a frase provavelmente era ‘o programa tem sido muito severo e o dinheiro, limitado demais’), gerou a confusão.

– a ordem das palavras no início da primeira frase é esdrúxula (‘um pouco conhecido programa’), pois mantém o jeito do original inglês de articular substantivo e adjetivo (‘A little-known American Red Cross aid program…’ Em português, a ordem natural soa muito simples: ‘Um programa pouco conhecido no Brasil’.

– a palavra charities (no plural), que significa ‘instituições beneficentes’, foi traduzida como ‘caridades’, o que deixa o texto sem sentido.

Para não julgar somente por uma reportagem, este ombudsman analisou todas os textos traduzidas do ‘New York Times’ publicadas no iG desde a crítica anterior (leia abaixo) sobre traduções, feita na quinta-feira. Dos cinco textos divulgados na sexta-feira, dois estavam bem traduzidos: ‘Iraquianos de classe média fogem para a Jordânia, apenas para encontrar pobreza’ e o editorial ‘Perseguindo a imprensa alemã’. Eles não apresentam erros.

As outras três reportagens, incluindo a da Cruz Vermelha citada acima, estão repletas de erros de concordância e de crase. Confira trechos das duas notas restantes:

Comentário: Bono, ajuda internacional e céticos’.

– problemas nas vírgulas deixam o primeiro trecho entrecortado. Muito mais fácil seria trocar por ‘mas, recentemente, o cantor ficou perturbado ao falar em uma conferência na África.’

– há erro no uso da preposição: vaiaram Bono, ou seja, ‘vaiaram-no’ e não ‘vaiaram para ele’

– erro nos acentos em ‘ás vezes’ (com acento agudo em vez de grave) e ‘concluí’ (que não deveria ter acento algum)

– o que significa ‘superbo’? Seria mais uma importação de uma forma do inglês?

Uma casa atrasa o desenvolvimento olímpico em Pequim’.

– erro de concordância no primeiro parágrafo: ‘Sun e sua irmã viram listas (…), mas não ousaram’

– construção ainda lembra o inglês: ‘a demolição não é novidade’ (em vez de nova) e ‘a diferença é que Sun’

– A mesma cnstrução estranha aparece na tradução de uma declaração que resultou estranha: ‘Estou só esperando por eles demolirem’. As pessoas esperam alguém demolir, não esperam ‘por alguém demolir’.

A qualidade de um texto traduzido depende muito do tradutor, que não deve só encontrar o significado das palavras, mas reescrever frases inteiras na nova língua, sendo fiel ao sentido e às informações do original. Enquanto em outros portais a leitura do NYTimes é exclusiva para assinantes, no iG o conteúdo é aberto, o que só aumenta a importância desse trabalho. É preciso controlar melhor a qualidade desses textos. Seria bom também, como fazem outros veículos, publicar o nome dos tradutores junto ao trabalho. Assinar os textos é reconhecer co-autoria e pode resultar em mais rigor.’

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‘Não deu no New York Times’ (9/8/2007)

‘O The New York Times é um dos jornais mais importantes e bem feitos do mundo, com uma audiência de 17 milhões entre a versão on-line e a impressa. As suas reportagens são conhecidas pela qualidade da apuração e pelo texto muitas vezes impecável. Disso resulta a credibilidade adquirida ao longo dos seus quase 156 anos (que serão completados em setembro). Tais atributos fazem do jornal um dos parceiros de maior prestígio do iG, que publica uma cota de oito textos diários, sempre com a marca do jornal aparecendo no alto da página. Há até uma área em que os textos do ‘Times’ aparecem indexados. Entretanto, a qualidade dos textos pára na versão em inglês.

O iG publica textos traduzidos também da edição do dia anterior do NYTimes. Por isso, quem decide ler o conteúdo não pode esperar só notícias quentes, mas sim notícias de interesse. Exatamente por não ter o compromisso com a urgência característica da internet, o texto deveria ser inclusive melhor do que o do restante do Último Segundo (a área de notícias do iG), que às vezes é feito às pressas para dar a informação rapidamente. A única preocupação que a equipe que edita o ‘New York Times’ no iG deveria ter é tornar o conteúdo acessível ao público brasileiro.

Palavras mal-traduzidas, erros de concordância, de ortografia, e de português em geral, povoam os textos. A falta de cuidado aparece aqui e ali em praticamente todos os parágrafos. É necessário ter um compromisso maior com a qualidade da redação entregue aos leitores. Trechos como ‘os grupos de direitos dos imigrantes (…) previu que as leis…’ não podem ser outra coisa senão uma mostra de descaso com o produto. Com isso, a intenção de oferecer um serviço especial de qualidade perde-se no descuido. Um material nobre, de leitura sofisticada, cai em descrédito. O que deveria ser vantagem resulta em precariedade maior quando atinge um público exigente.

Veja abaixo alguns destes problemas, em diferentes notícias:

Governo irá fiscalizar contratação de imigrantes ilegais

– o texto está confuso: ‘elas a seguraram para esperar pelo resultado’. ‘Elas’ só pode ser ‘as regras’. Então, quem as regras seguraram?

Tensões entre Clinton e Obama se intensificam

– ‘extraordinariamente tardes’ é só um dos problemas que dificultam a compreensão do trecho

– erro de crase: ‘à poucos’ (crase é uma junção da preposição ‘a’ com o artigo ‘a’(s) ou com os pronomes demonstrativos que começam com ‘a’. Ou seja: não se usa antes de verbos, advérbios e palavras masculinas) – veja aqui mais dicas sobre o uso da crase

– escolha errada de palavras: se a cena já aconteceu é na noite seguinte, não na próxima; o que são ‘confins amigáveis’? E o ‘equivalente legislativo’?

Mulheres no Japão ainda ficam para trás enquanto tentam progredir

– falta de cuidado evidente no uso de quatro ‘ela’ no mesmo trecho

– problema com a escolha do verbo (a lei de oportunidades possui falhas, ou mesmo furos, mas não ‘é com furos’)

Colapso de ponte nos Estados Unidos levanta questões sobre prioridades passadas

– Confusão nos pronomes: o colapso (que muda a cabeça das pessoas) foi tratado a seguir como ‘ela’; assim como estradas e pontes (que ‘foram vítimas’ – e não ‘receberam’) são tratadas como ‘eles’.

– Não dá para entender o que o trecho que começa com ‘apesar dos picos históricos’ quer dizer.

Publicar o NYT traz prestígio. Ao fazer isso, o iG busca informar melhor o seu leitor. O resultado, infelizmente, por questões de acabamento, fica aquém do planejado e do esperado. É preciso cuidar dos detalhes, do português (que não é nem de longe um detalhe), e assim usar melhor o material colocando-o na capa do portal. Para isso é preciso trabalhar para manter a excelência do produto oferecido pelo New York Times, mas não apenas dele. Há algo de grave no acabamento dos textos nobres do iG e, assim, em boa parte do portal.’

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‘O caso Richarlyson: ‘Ora bolas, se a moda pega’’ (8/8/2007)

‘O noticiário esportivo das últimas semanas tem destacado o caso do jogador meia Richarlyson, que está processando um dirigente do Palmeiras, que o teria chamado de homossexual durante um programa de TV. O caso ganhou proporções ainda maiores quando o juiz encarregado, Manoel Maximiano Junqueira Filho, da 9ª Vara Criminal de São Paulo, arquivou o processo numa sentença com argumentos e expressões inacreditáveis, em que faz alegações do tipo ‘futebol é jogo viril, varonil, não homossexual’.

A respeito deste caso, a leitora Elenice cobra uma cobertura mais aprofundada do iG. Veja abaixo a mensagem dela:

‘Mário

Boa tarde

Em mensagem anterior esqueci de mencionar que este fato polêmico do jogador Richarlyson merecia mais informações e debates no IG. É uma sentença que não julgou o mérito do pedido, mas tem uma decisão com características de parcialidade. O que é inconcebível para um agente público, que tem a função de aplicar e distribuir justiça. Foi uma sentença que ao ler eu senti-me humilhada e triste com tanto preconceito por parte de um juiz. Os advogados alegam homofobia. Uma grande questão – se os advogados entraram com ação porque o diretor do Palmeiras afirmou que Richarlyson era homossexual, cabe uma pergunta: por que afirmam que a sentença é homofóbica se o pedido da ação tem como finalidade contestar a afirmação do hmossexualismo. Homofobia o que é? Há também a nota que Richarlyson será um militante político contra preconceitos. Esta notícia é excelente, porque os jogadores de futebol do Brasil são alienados politicamente e não se manifestam nem quando são ofendidos. Porque será? É desinformação? Medo do clube? Ou falta de consciência das suas responsabilidades como atletas? Como agem os atletas como o frances Thurran (não sei se é assim que se escreve), e Michael Jordan? Aliás o apresentador Milton Neves também contribuiu para que o fato da ‘indiscrição’do diretor do Palmeiras acontecesse. Espero ver esta notícia no iG, mas com mais conteúdo. Mário um abraço e bom trabalho.’

Elenice

Trechos da decisão foram divulgados por diversos veículos. Mas nenhuma descrição consegue dar conta do teor da sentença, cuja íntegra está reproduzida abaixo. Vale lembrar que o iG tem acompanhado a história desde o começo, apesar de não esmiuçar o assunto em mais detalhes, como seria recomendável.

Processo nº 936-07

‘Conclusão

Em 5 de julho de 2007. faço estes autos conclusos ao Dr. Manoel Maximiano Junqueira Filho, MM. Juiz de Direito Titular da Nona Vara Criminal da Comarca da Capital.’

Eu, Ana Maria R. Goto, Escrevente, digitei e subscrevi.

A presente Queixa-Crime não reúne condições de prosseguir.

Vou evitar um exame perfunctório, mesmo porque, é vedado constitucionalmente, na esteira do artigo 93, inciso IX, da Carta Magna.

1. Não vejo nenhum ataque do querelado ao querelante.

2. Em nenhum momento o querelado apontou o querelante como homossexual.

3. Se o tivesse rotulado de homossexual, o querelante poderia optar pelos seguintes caminhos:

3. A – Não sendo homossexual, a imputação não o atingiria e bastaria que, também ele, o querelante, comparecesse no mesmo programa televisivo e declarasse ser heterossexual e ponto final;

3. B – se fosse homossexual, poderia admiti-lo, ou até omitir, ou silenciar a respeito. Nesta hipótese, porém, melhor seria que abandonasse os gramados…

Quem é, ou foi BOLEIRO, sabe muito bem que estas infelizes colocações exigem réplica imediata, instantânea, mas diretamente entre o ofensor e o ofendido, num TÈTE-À TÈTE’.

Trazer o episódio à Justiça, outra coisa não é senão dar dimensão exagerada a um fato insignificante, se comparado à grandeza do futebol brasileiro.

Em Juízo haveria audiência de retratação, exceção da verdade, interrogatório, prova oral, para se saber se o querelado disse mesmo… e para se aquilatar se o querelante é, ou não…

4. O querelante trouxe, em arrimo documental, suposta manifestação do ‘GRUPO GAY’, da Bahia (folha 10) em conforto à posição do jogador. E também suposto pronunciamento publicado na Folha de São Paulo, de autoria do colunista Juca Kfouri (folha 7), batendo-se pela abertura, nas canchas, de atletas com opção sexual não de todo aceita.

5. Já que foi colocado, como lastro, este Juízo responde: futebol é jogo viril, varonil, não homossexual. Há hinos que consagram esta condição: ‘OLHOS ONDE SURGE O AMANHÃ, RADIOSO DE LUZ, VARONIL, SEGUE SUA SENDA DE VITÓRIAS…’.

6. Esta situação, incomum, do mundo moderno, precisa ser rebatida…

7. Quem se recorda da ‘COPA DO MUNDO DE 1970’, quem viu o escrete de ouro jogando (FÉLIX, CARLOS ALBERTO, BRITO, EVERALDO E PIAZA; CLODOALDO E GÉRSON; JAIRZINHO, PELÉ, TOSTÃO E RIVELINO), jamais conceberia um ídolo seu homossexual.

8. Quem presenciou grandes orquestras futebolísticas formadas: SEJAS, CLODOALDO, PELÉ E EDU, no Peixe: MANGA, FIGUEROA, FALCÃO E CAÇAPAVA, no Colorado; CARLOS, OSCAR, VANDERLEI, MARCO AURELIO E DICÁ, na Macaca, dentre inúmeros craques, não poderia sonhar em vivenciar um homossexual jogando futebol.

9. Não que um homossexual não possa jogar bola. Pois que jogue, querendo. Mas, forme o seu time e inicie uma Federação. Agende jogos com quem prefira pelejar contra si.

10. O que não se pode entender é que a Associação de Gays da Bahia e alguns colunistas (se é que realmente se pronunciaram neste sentido) teimem em projetar para os gramados, atletas homossexuais.

11. Ora, bolas, se a moda pega, logo teremos o ‘SISTEMA DE COTAS’, forçando o acesso de tantos por agremiação…

12. E não se diga que essa abertura será de idêntica proporção ao que se deu quando os negros passaram a compor as equipes. Nada menos exato. Também o negro, se homossexual, deve evitar fazer parte de equipes futebolísticas de héteros.

13. Mas o negro desvelou-se (e em várias atividades) importantíssimo para a história do Brasil: o mais completo atacante, jamais visto, chama-se EDSON ARANTES DO NASCIMENTO e é negro.

14. O que não se mostra razoável é a aceitação de homossexuais no futebol brasileiro, porque prejudicariam a uniformidade de pensamento da equipe, o entrosamento, o equilíbrio, o ideal…

15. Para não se falar no desconforto do torcedor, que pretende ir ao estádio , por vezes com seu filho, avistar o time do coração se projetando na competição, ao invés de perder-se em análises do comportamento deste, ou daquele atleta, com evidente problema de personalidade, ou existencial; desconforto também dos colegas de equipe, do treinador, da comissão técnica e da direção do clube.

16. Precisa, a propósito, estrofe popular, que consagra:

‘CADA UM NA SUA ÁREA,

CADA MACACO EM SEU GALHO,

CADA GALO EM SEU TERREIRO,

CADA REI EM SEU BARALHO’.

17. É assim que eu penso… e porque penso assim, na condição de Magistrado, digo!

18. Rejeito a presente Queixa-Crime. Arquivem-se os autos. Na hipótese de eventual recurso em sentido estrito, dê-se ciência ao Ministério Público e intime-se o querelado, para contra-razões.

São Paulo, 5 de julho de 2007’

MANOEL MAXIMIANO JUNQUEIRA FILHO

JUIZ DE DIREITO TITULAR’

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‘A web dos leitores e o ônibus de Paulista’ (7/8/2007)

‘Nesta semana, o Blog do Ombudsman recebeu a mensagem da leitora Juliana Cavalcanti, que reclamava da ‘displicência do iG com supostas matérias de leitores’. Segundo a crítica da internauta, o iG destacou uma falsa notícia de que a cidade de Paulista, em Pernambuco, não teria linhas de ônibus de centro para o litoral. Veja abaixo a mensagem da leitora:

‘Prezado Mário Vitor,

Gostaria de reclamar sobre o conteúdo da sessão ‘Eu na Web’, que contém supostas matérias de leitores. Por mais que o objetivo da seção seja a participação do internauta, contesto [a leitora quis dizer que não aceita] que os textos sejam publicados sem que sejam checados. No último sábado, navegando no IG, vi uma chamada para uma matéria que dizia que município pernambucano não tinha linhas de ônibus. Quando li, desacreditei imediatamente, mas mesmo assim fui checar. O município de Paulista, citado pelo leitor, tem inúmeras linhas de ônibus. Eu sou moradora de Recife, mas conheço pessoas que moram em Paulista. Não foi difícil achar as linhas e inclusive um terminal de integração de ônibus, em Olinda (cidade vizinha), que serve o município, no site da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos – a mesma citada pelo leitor na sua ‘matéria’. Com certeza há dificuldades no transporte público de Paulista, mas é grave dizer que não há linhas de ônibus. Mesmo porque é um município central da Região Metropolitana do Recife e isso só aconteceria se os veículos fizessem uma volta absurda para não passar por ele.’

A reportagem, citada por Juliana, é ‘Cidade de Pernambuco ´não possui` ônibus’, enviada por José Ricardo de Oliveira Filho. Nela, o leitor afirma que, ‘a cidade de Paulista (situada a apenas 22 Km do Recife, no litoral norte), apesar de ter cerca de 300 mil habitantes, não possui nenhum sistema oficial de ônibus servindo a região do litoral ao centro da cidade’.

Para tirar a dúvida, o Blog do Ombudsman foi falar com o secretário municipal de transportes de Paulista, João Augusto Muniz, que confirmou a inexistência de ônibus que façam o trajeto litoral – centro. Segundo ele, as linhas da EMTU que a leitora disse existirem, embora em pequena quantidade, não fazem esse percurso.

O secretário ainda afirmou que ‘Paulista, assim como 70% das cidades do país não tem um sistema de transporte municipal’. Disse ainda que a situação deve ser resolvida até o ano que vem com a criação do Consórcio de Transportes da Região Metropolitana do Recife (CTM), que vai substituir o atual sistema. As kombis, apesar de não serem da prefeitura, são regularizadas e prestam contas ao município.

A notícia enviada pelo internauta estava correta, mas o título induzia a erro. Paulista até que tem alguns ônibus, que passam pela cidade, mas nenhum vai para o litoral. Juliana, na verdade, levanta o tema da responsabilidade do iG em relação às mensagens de internautas. Pelas regras que o iG anuncia, serão rejeitados textos que, entre outras coisas ‘após análise da equipe editorial do iG, fiquem comprovados como informações errôneas ou enganosas’. Entretanto, segundo o mesmo regulamento, o autor é ‘o responsável pelas conseqüências legais e sociais do seu texto e fotos’. O problema de fundo é se o iG faz ou não faz checagem do conteúdo que divulga. Aí sim, reside um grande potencial de problemas.’

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‘iG e Wall Street Journal: tão longe, tão perto’ (6/8/2007)

‘O assunto da semana no noticiário econômico foi a venda do ‘The Wall Street Journal’ (WSJ). É o mais importante diário econômico do mundo, com circulação de quase 2,6 milhões entre as versões impressa e on-line. O comprador, que pagou US$ 5 bilhões, é Rupert Murdoch, um australiano que já é dono do grupo Fox (cinema, TV, jornalismo etc) e de uma cadeia de jornais e TVs em diversos países, inclusive os sensacionalistas ‘The Sun’ e ‘New York Post’, além do londrino ‘The Times’.

A negociação com a família Bancroft, proprietária do WSJ, vinha se desenrolando desde o dia 1º de maio, quando Murdoch anunciou sua oferta. A imprensa internacional acompanha os detalhes e os efeitos da transação ao longo desses meses. Os repórteres do próprio WSJ vêm cobrindo o assunto de maneira bastante independente (se bem que houve ao menos uma reportagem crítica do The New York Times questionando a imparcialidade do noticiário do Journal sobre esse assunto).

No dia em que o negócio foi oficializado, por exemplo, um repórter do WSJ declarou que havia razões para temer seriamente pelo futuro, ou seja, que a venda implicava riscos para a cultura de jornalismo independente existente na Redação. Lá, como em outros veículos, segundo se diz, os gestores da área administrativa e de negócios não influenciam decisões editoriais. Isso é responsabilidade exclusiva dos chefes da Redação, instruídos a usar critérios éticos de verdade e imparcialidade para defender a imagem da publicação. Esses princípios, segundo os quais o jornalista deve publicar tudo o que comprovar, valem também em relação às notícias que afetam tanto próprio veículo, como seus acionistas e controladores.

Agora, sob o comando de Murdoch, acusado de ter influído e destruído a qualidade editorial do ‘The Times’ de Londres, os temores de perda dessa cultura de independência são tão ponderáveis que o novo dono prometeu submeter as decisões a um ‘conselho independente’, visando manter separação entre a Administração e a Redação. Em julho, o iG veiculou ao todo 42 reportagens e textos de opinião sobre a venda do WSJ, produzidos pelas agências internacionais e pelo ‘The New York Times’.

Enquanto isso, em paralelo, no Brasil, uma outra importante notícia de negócios tem merecido ampla atenção dos meios de comunicação, mas um tratamento diverso de parte do iG. A notícia envolve a possível, embora complexa, fusão entre a Brasil Telecom, proprietária do iG, e uma outra grande empresa de telefonia a Telemar (que atua em 16 Estados do país, em uma área que vai do Rio de Janeiro ao Amazonas), para a formação de uma grande empresa brasileira capaz de concorrer com outros gigantes do setor no Brasil e disputar potencialmente também na América Latina.

No dia 18 de julho, quase todos os veículos de comunicação divulgaram um fato relevante ligado a essa negociação maior. Os fundos de pensão de empresas estatais que são sócios da Brasil Telecom junto com o Citigroup ampliaram sua participação na empresa de telefonia comprando, por US$ 515 milhões, a parcela de 38% que a Telecom Itália antes detinha.

Na semana que passou a capa do iG destacou, por exemplo, o excelente desempenho registrado pela Brasil Telecom no primeiro semestre, mas não publicou nada a respeito da compra da participação da Telecom Itália na Brasil Telecom.

Agora, a partir desse negócio, abrem-se vários outros. Tanto que o ministro das Comunicações, Hélio Costa, disse nesta quarta-feira, 1, que recebeu o aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para começar a constituir um grupo de trabalho que, a partir desta semana, debaterá a origem da nova grande companhia de telefonia, o que envolve até alterações na regulamentação do setor.

Diz-se que a fusão das duas empresas faz muito sentido sob o ponto de vista da concorrência e da presença brasileira no setor de telecomunicações. Mas, há evidentemente muitos detalhes e complexidades que terão que ser superados.

Na empresa resultante, os fundos de pensão da empresas estatais vão ter participação provavelmente dominante. O ministro das Comunicações afirma que uma espécie de ‘ação de ouro’ dará ao governo o controle sobre a empresa. Já há quem diga que isso é uma espécie de re-estatização. A agência Reuters, veiculada pelo iG, deu a informação, mas a Redação do iG não a recebeu. A direção do iG informa que não fez e não faria qualquer restrição a essa cobertura.

Sendo assim, está havendo uma omissão decorrente de desatenção ao noticiário relevante, enquanto se desenrolam negociações importantes na área da economia, do governo e da mídia. O iG está nas melhores (e nas piores) condições para acompanhá-la.

É necessário ter atenção aos temas sensíveis justamente nos momentos mais críticos, até quando são afetados os interesses dos próprios veículos, como procurou fazer até agora o ‘Journal’, talvez o jornal de economia de maior credibilidade no mundo. Lá dos EUA, o WSJ, aliás, justificando sua fama, foi o primeiro a publicar a notícia sobre o grupo que vai estudar a fusão Brasil Telecom-Telemar.’

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‘Acidente da TAM, a única certeza’ (4/8/2007)

‘De todo o festival de hipóteses e afirmações supostamente definitivas que marca a cobertura com o acidente do Airbus da TAM, apenas uma coisa é certa: com todas as evidências que vão surgindo, inclusive com a gravação do diálogo da cabine, não é possível condenar ninguém. Nem inocentar. Nessa cobertura, parcela da mídia deixou-se conduzir pela ânsia de associar o acidente em Congonhas ao caos aéreo no país e, assim, responsabilizar as condições da pista e o governo federal.

Faça o que fizer a partir de agora, essa mídia já errou. Contra ou a favor do governo, todos deixaram-se levar precipitadamente a uma disputa de adivinhações cujo verdadeiro tema de fundo é apenas um: culpar ou não culpar o governo Lula. A dúvida sobre o que ocorreu foi trocada pelas certezas. O jornalismo criterioso e prudente, baseado em evidências, no confronto e na interpretação minuciosa de informações, foi substituído pelo fla-flu da manipulação política.

Como não deu certo, boa parte da mídia atravessa agora constrangida uma fase de esconder ou explicar porque, com base nas informações existentes, não se sustentam as conclusões que ela mesma havia sugerido. Apesar de num primeiro momento os veículos terem comprado a possibilidade de falha humana, os especialistas, peritos e as máquinas de gravação que é provável que a pista não tenha causado o acidente.

A essa altura já é possível, então, chegar a um juízo final, sob o ponto de vista da ética jornalística. Seja qual for o desfecho, a cobertura foi um fracasso, repetindo, como resultante geral, desvios já ocorridos em coberturas anteriores. Os veículos jornalísticos moveram-se em grupo pautando-se pela discussão da culpa ou inocência de Lula. Isso inclui todos, a favor ou contra o governo. Se houve órgãos que se destacaram mais do que outros na escolha de hipóteses erradas (expressando interesses claramente políticos) para basear seu trabalho, não houve nenhum (inclusive o iG) que se destacasse pelo oposto, ou seja por evitar avançar conclusões feitas com base em ‘apurações’ de qualidade duvidosa.

Isso só reafirma o valor de trabalhos jornalísticos como o de Fernando Rodrigues, da Folha (que teve acesso ao diálogo na cabine do avião na hora do acidente), e Marcio Aith, da Veja. Trouxeram a público informações inéditas, na contramão do que prevalecia na cobertura, mas que nem assim permitem qualquer conclusão sobre responsabilidades, tomada com base em fatores isolados.’