Monday, 18 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Mario Vitor Santos

‘Manchete do iG destacou nesta sexta-feira queda de 4,2% no analfabetismo entre os brasileiros. Os dados, originados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), do IBGE, divulgada hoje, foram utilizados em uma reportagem da Agência Estado, que o iG reproduz.

Em 2005, 10,2% dos brasileiros com mais de 10 anos eram analfabetos. Em 2006, o índice ficou em 9,6%. A queda é de 4,2% no número total de analfabetos. A taxa caiu de um ano para outro apenas 0,6 ponto percentual. Caiu na verdade menos de um ponto. O número de analfabetos caiu, diz o IBGE, de 15,57 milhões para 14,92 milhões. Toda queda nesse número vergonhoso é muito importante, mas a diminuição é bem menor do que a manchete ufanista dá a entender numa leitura menos atenta. Em seu Manual, o iG compromete-se a contextualizar todas as informações, dando a ela o destaque que merecem.

A reportagem não explica como o IBGE chegou a esses números. Como todos sabem, há várias formas de determinar se alguém é alfabetizado ou não. A pesquisa do IBGE levou em conta a opinião declarada pelos entrevistados. Diz o IBGE, nos comentários da pesquisa, em seu site: ‘Na PNAD, por definição, uma pessoa alfabetizada é aquela que responde que sabe ler e escrever pelo menos um bilhete simples no idioma que conhece’. Na verdade, é uma pesquisa que mede a opinião das pessoas sobre sua alfabetização. Isso não é esclarecido na reportagem do iG, que trombeteia dados róseos sobre a educação brasileira.

Sessão secreta

Colaboradora intensa deste blog, a leitora Elenice Oliveira aponta, mais uma vez, uma omissão muito importante no jornalismo do iG.

‘Mário

Acabei de ouvir o ministro do STF Celso Mello afirmar que: ‘a sessão de julgamento do processo do senador Renan Calheiros deveria ser aberta a qualquer pessoa, que a sessão deveria ser pública, o plenário aberto ao público’.

Ouvindo este pronunciamento faço-lhe a seguinte pergunta: Por que nenhum órgão de imprensa impetrou mandado de segurança para ter assegurado o direito líquido e certo de estar no Plenário e poder informar ao público o que lá ocorria?

O ministro Celso Mello, pelas declarações, teria concedido liminar, autorizando a entrada a quem pretendesse garantir um direito.

Qual vossa opinião?

Obrigada

Boa-Noite’

Elenice

De fato, era obrigação dos meios de comunicação, inclusive do iG, ficar de olhos abertos e questionar, em nome da liberdade de imprensa, a proibição de cobrir a sessão do Senado que apreciou o pedido de cassação de Renan Calheiros.

Vestígios do mês

Após a explosão dos atendimentos em julho, o Ombudsman voltou à ‘normalidade’ em agosto. É resultado da solução de alguns problemas (embora outros tenham surgido) e também de o ombudsman passar a ocupar um espaço rotineiro no índice de canais do iG.

O sistema de classificação das comunicações recebidas pelo ombudsman sofreu uma alteração a partir do mês de agosto. As manifestações sobre as áreas de tecnologia e serviços foram reunidos em ‘produtos iG’ e ali redistribuídos em suas diversas categorias. O item marketing foi extinto, para que suas solicitações sejam postas em categorias maiores. Além disso, foram criados outros itens, que geram solicitações recorrentes.

Com base na tabela e no gráfico, é possível tirar algumas conclusões:

1) o número de atendimentos de agosto foi mais baixo que o de julho, quando houve o lançamento (e defeitos) da nova capa do iG e problemas de perdas de milhares de e-mails;

2) as duas principais áreas sobre as quais os internautas enviam mensagens referem-se a ‘produtos iG’ (o que envolve e-mails, provedor e os demais serviços com a marca do portal) e ‘conteúdo’;

3) apesar da diminuição quantitativa em relação ao mês anterior (quando foram registrados 254 casos) os problemas com e-mail continuam sendo os vilões do atendimento, com o maior número de reclamações (177);

4) o número de pessoas reclamando de cobrança indevida continua entre os mais altos;

5) as críticas ao atendimento iG e a demora na solução dos problemas também têm sido um dos maiores motivos de queixa;

6) o site Conversa Afiada, de Paulo Henrique Amorim, mantém-se polêmico e recebeu 16 reclamações. O número, entretanto, é bem menor do que os 65 do mês passado, sobre as quais o ombudsman manifestou-se nas notas ‘A ‘Conversa Afiada’ do iG’, ‘A Versão do iG’ e ‘Falam os internautas’. Para, em seguida, virem ‘A opinião de Paulo Henrique Amorim’ e ‘Conversa Afiada: ataque e defesa’;

7) o novo relatório incorpora a queixa de quem ‘não consegue ver área/página do site’, o que une problemas com o megaplayer (produto do iG para assistir a vídeos) com as demais áreas do site;

8) é de se supor que a continuação de problemas de funcionamento do acesso, lentidão e queda no serviço afetem a audiência. Demandam solução rápida e definitiva.

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Mais do que celebridades (13/9/2007)

O site Glamurama publicou nesta quarta-feira aquilo que parece ser um furo de reportagem: uma entrevista com a ex-modelo Maria Stella Splendore, que foi casada com Dener, um estilista de comportamento muito polêmico e que se tornou mito nos anos 60. Splendore declarou que há grandes chances de sua filha ter sido concebida durante um relacionamento extraconjugal com o cantor Roberto Carlos. A entrevista, de autoria de Malu Vergueiro, está na edição de setembro da revista Joyce Pascowitch e foi destaque nos principais sites brasileiros: Celebridades (UOL), Gente & TV (Terra) e Ego (Globo.com). Este último, inclusive, tentou ouvir o cantor que, segundo sua assessoria, não comentou. Na área de Entretenimento do Globo.com, é a quinta notícia mais lida hoje.

O Glamurama, também de Joyce Pascowitch, é um parceiro do iG. A notícia está no Glamurama. Por que justo o iG não a destacou então? Logo o iG, que muitas vezes mostra-se atento e rápido para registrar os fatos, nem sempre relevantes, relativos às celebridades. O caso não mereceu destaque nem ao menos na capa da área denominada ‘Gente’, voltada para essa área de celebridades.

Um observador da mídia poderia questionar se os caminhos e descaminhos da vida de uma celebridade merecem destaque ou não. O fato é que, jornalisticamente, o iG dispunha de um material de grande apelo e não lhe deu atenção. Isso é mais significativo no caso de um astro que moveu polêmicas ações legais anteriores destinadas a preservar sua imagem. Recentemente, Roberto Carlos conseguiu vetar na Justiça a comercialização da biografia ‘Roberto Carlos em Detalhes’, de autoria de Paulo Cesar de Araújo, o que foi considerado um ataque à liberdade de informação. Seria lamentável se o iG tivesse deixado de tratar do tema por não ter mesmo percebido o interesse que provoca.

É a hora do Manual – final

Outros dois pontos importantes a ressaltar nessa análise do Manual do Último Segundo referem-se à transparência. O iG diz estar comprometido com a publicação de correções. Um verbete do Manual, acrescentado agora nesta ‘versão 1.2’, recomenda (o que é muito brando) divulgar retificações imediatamente. Veja o texto: ‘Se por qualquer circunstância o Último Segundo divulgar uma notícia errada, deve publicar uma retificação imediata, a Errata, e com destaque. Nela, vai indicar claramente que se errou e dar a informação correta.’

Para isso, foi criada no Último Segundo uma área de erratas. Entretanto, é importante notar que a área quase não tem sido utilizada. Até agora só foram publicados ali três correções. A primeira correção refere-se a texto do dia 17 de abril passado (veja aqui). A correção mais recente publicada ali é do dia 1º de agosto (veja aqui), ou seja, há 44 dias. Será que o iG não cometeu erros desde então? Será que o iG comete tão poucos erros? O Último Segundo que tem errado pouco? A rotina do Último Segundo parece ser a de corrigir os textos das notas publicadas, quando os erros são detectados. Além disso, ao menos nos erros relevantes, o iG deve registrar as correções na seção de erratas, o que torna os procedimentos mais transparentes e mais permanentes também.

A última consideração diz respeito ao verbete chamado ‘Embargo’. Ali se estabelece o seguinte: que ‘todas as notícias que envolverem as empresas acionistas da Brasil Telecom, controladora do iG, BrTurbo e iBest, bem como dos concorrentes do Internet Group, (…) jamais poderão ter destaque no Último Segundo sem consulta prévia à direção de conteúdo da empresa. Isso se dá em função do ambiente hipercompetitivo em que se vive no mercado de internet e de telecomunicações’.

Como foi dito em duas notas anteriores, para manter a transparência, é positivo que o iG também noticie os assuntos da Brasil Telecom. Já que há este embargo, pelo menos ele está explícitado no manual de redação, disponibilizado ao público.

Ainda há muito a percorrer. A publicação do Manual é apenas um passo. Para a redação do Último Segundo, o manual está em vigor desde 24 de agosto de 2006. Apesar disso, muitas de suas regras não têm sido cumpridas e talvez não sejam nem mesmo bem conhecidas. É preciso saber se existem condições para que sejam observadas. Caso isso aconteça, não há dúvida da melhoria na qualidade do jornalismo do portal.

Se o jornalismo dos internautas também é jornalismo (citação do iG durante a estréia da nova capa do iG), talvez seja necessário adaptar o manual para todo o iG, com diferentes versões para as outras áreas, e cobrar para que suas regras tenham validade sempre. A publicação das regras do manual já mostra as boas intenções. Agora é hora de zelar com toda energia para que o manual seja levado a sério. Depois, pode ser tarde.

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Manual prega jornalismo na rua, em busca de fatos e fontes (11/9/07)

Ir à fonte – Diz o Manual: ‘As informações devem ter fontes claramente identificáveis’. Excelente princípio. Falta esclarecer se a norma vale para todas as reportagens do Último Segundo, inclusive as de parceiros. Por exemplo, hoje o Último Segundo publicou reportagem assinada por sua própria Redação dando informações sobre a situação de baixa umidade do ar, o que favorece a proliferação de diversos problemas de saúde e desconfortos físicos. A reportagem não cumpre as recomendações do Manual. Limita-se a reproduzir conselhos de fonte oficial. Neste caso, existem acusações de que as autoridades não dispõem de nenhum plano de orientação à população para controlar os efeitos maléficos dessa condição atmosférica. A reportagem do Último Segundo não falou com nenhum doente, médico, profissional de educação física. Não visitou hospitais nem falou com pneumologistas e pessoas acometidas de crise respiratória. Não falou com crianças e idosos, os que mais sofrem. Faltou, portanto, cumprir o Manual. Falar com as fontes, todas elas.

Sem opinião – O Manual proclama: ‘Os textos produzidos pelos jornalistas procuram ser objetivos e podem ser analíticos – mostrar os fatos, suas causas e conseqüências – mas não podem ser opinativos’. Nada a reparar. A mistura de opinião e informação no jornalismo é ainda maior na internet. Um site jornalístico que se preze deve defender o espaço das informações ‘objetivas’, ‘diretas’, s’simples’ e ‘imparciais’. Muitos podem não saber o que isso seja, mas têm uma boa idéia do prejuízo que seria a sua eliminação.

Utopia salutar – Uma norma do Manual é digna de menção: ‘No caso de um texto produzido de forma precária em função do ‘tempo real’, a redação do Último Segundo inclui na reportagem o texto ‘O Último Segundo continuará a tentar contato com Fulano para ouvir sua versão’ até que a referida parte seja ouvida’. A norma precisa ser praticada. Essa é uma responsabilidade dos editores. Pode parecer uma mania no início, mas é um compromisso. Bom jornalismo depende de investigação de todos os lados envolvidos numa notícia.

Olho no olho – Apesar da relevância das agências de notícias e dos parceiros, o manual também cita a importância da reportagem, com ‘todo o esforço possível para fazer as entrevistas pessoalmente, olhando no olho do entrevistado’. Já deu para notar que o manual supõe uma grande equipe de editores e repórteres pondo em marcha uma máquina de apuração, sob o comando de profissionais capacitados a selecionar e editar, com critérios jornalísticos de relevância.

No local – Hoje, coincidentemente, faz seis anos do atentado às torres gêmeas que mudou a história do mundo. O iG não enviou ninguém ao local e deveria tê-lo feito. Era a ocasião de fazer um balanço, com olhos e ouvidos brasileiros, desse mundo, e dos fatos que causaram mudança tão grande. O único profissional do iG que se encontra no local é o colunista Caio Blinder, que hoje escreveu um artigo para coluna de análise da política internacional. Porém, diz a norma do Manual do Último Segundo: ‘O jornalista deve tentar ir ao local da notícia. Uma rebelião em penitenciária não deve ser coberta apenas pelo telefone; uma informação completa e detalhada sobre um desfile de moda fica melhor quando o repórter assiste ao desfile’

A análise da do Manual do Último Segundo, que o iG tornou agora público, prossegue amanhã.’