Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Mario Vitor Santos

‘Um aviso de um leitor, professor de química, para este ombudsman fez que o iG, depois de algumas horas, retirasse do ar nesta sexta-feira uma página criminosa, que divulgava várias formas de montar bombas, cometer atentados e outras deliqüências. Para que o leitor tenha uma idéia do conteúdo, publicado na área de sites gratuitos (hpg) veiculados por leitores que recorrem a identidades falsas, vai aí uma amostra dos teor das informações que estavam no ar:


´Eu não me responsabilizo por qualquer ato cometido por um dos visitantes desta Home Page. Conteúdo contra a lei e dá cadeia !!!´



´Como mandar um carro para o inferno!`


[Seguem-se várias instruções físico-químicas]


´Voce odeia a sua escola?`


[Instruções]


´Voce odeia Festa Junina?´



´Como fazer uma bomba de fertilizante`



´Tomando refrigerante FREE´



´Bomba de …´



´Detonador´



E continua.


O iG está apurando desde quando a página estava no ar, quantos acessos teve e por que seus controles de conteúdo do portal não funcionaram. Deve também explicações a seus leitores sobre as ferramentas que usa para acompanhar o conteúdo levado aos leitores. A falta do acompanhamento, além de ser errada, pode ter graves conseqüências. É muito preocupante que isso esteja acontecendo. Será que o iG tem condições de garantir que este era o único caso e que seu sistema é seguro para o internauta e também imune ao crime?


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Para pensar (13/3/08)


Veja algumas das afirmações do seminário de 70 anos da BBC no Brasil, realizado ontem e hoje em São Paulo.


Quatro mesas discutiram as relações de vizinhança e estranhamento entre Brasil e América do Sul; objetividade e subjetividade no jornalismo do século 21; a liberdade de expressão e os limites do jornalismo hoje e no futuro, e as questões ligadas ao novo jornalismo, com forte presença da convergência de meios e da interatividade.


JORNALISMO NO SÉCULO 21: OBJETIVIDADE x SUBJETIVIDADE


Bob Fernandes, diretor do Terra Magazine


´A convergência de mídias virá muito rapidamente´


´Há uma enorme dúvida sobre o papel das escolas de jornalismo´


´O Brasil está vivendo uma ruptura extraordinária. Resta saber quem vai organizar essa imensa massa de informação existente´


´Não existe a isenção. O que pode existir é a pluralidade ‘


´Não sei como vamos fazer para termos informações checadas e que incluam a participação do cidadão´


´A cobertura da crise Colômbia-Equador-Farc foi um festival de palpites absolutamente subjetivos, entre o que a gente discute e a verdade do que publicamos´


Gary Duffy, correspondente da BBC no Brasil


´Como fica a imparcialidade quando um jornalista trabalha sob pressão para três ou quatro meios, como rádio, TV e site de notícias´?


´A violência, quando está próxima a você, tem grande impacto no jeito como você encara as notícias´


´Sendo irlandês, acompanhei a violência desde criança em Belfast e vi como isso altera a maneira como a população vê as notícias´


´A forma como os jornalistas tratam as notícias traz conseqüências reais para pessoas reais´


´Exercitar a contenção, não divulgar notícias sensacionalistas, é muito importante´


´Temos responsabilidade de buscar a imparcialidade e falar a verdade. Se somos imparciais, o público julgará´


´Hoje em dia, na BBC, os jornalistas trabalham sob enorme pressão durante a cobertura de assuntos importantes para rádio, televisão e internet simultaneamente, mas temos de nos esforçar para dizer a verdade, sermos justos e precisos´


Mariza Tavarez Figueira, diretora-executiva da CBN


´Nós (jornalistas) não podemos perder o olhar estrangeiro. Se tivermos um olhar de quem está cansado, a gente deixa de perceber e de se indignar.´


Caio Túlio Costa, diretor-presidente do iG


´Mesmo sob o risco de errar, eu sou a favor de dar o furo. A atualização e as mudanças nas notícias fazem parte do jornalismo´


Tereza Rangel, ombudsman do UOL


´Hoje, você tem medições muito específicas de audiência e pode acabar caindo na armadilha do sensacionalismo na tentativa de agradar o público´


LIBERDADE DE EXPRESSÃO: LIMITES DO JORNALISMO NO SÉCULO 21


Mario Magalhães, ombudsman da Folha


´Nas cidades menores, em que as relações de poder são mais primitivas, o cerceamento à imprensa ainda acontece´


´No caso de alguns veículos menores, ações (na Justiça) deste tipo paralisam completamente a redação, e eles nunca mais vão querer publicar notícias que possam gerar a mesma reação`


Laurindo Leal Filho, professor da USP


´A televisão pública nasce provocando debate e convidando a sociedade a torná-la efetivamente pública´


´A expectativa é de que esta TV dê oportunidade para que olhares brasileiros nunca socializados ganhem visibilidade´


O NOVO JORNALISMO: CONVERGÊNCIA E INTERATIVIDADE


Márcia Menezes, diretora de jornalismo do G1


´Temos que dar atenção e valor àquilo que é enviado por usuários, mas isso também exige um enorme cuidado, já que você leva esse conteúdo para muito mais gente com seu nome e seu aval´


´Às vezes, numa cobertura simples como o anúncio da taxa de juros pelo Copom (Comitê de Política Monetária), há um repórter da CBN, um da GloboNews, um da Rede Globo, um do jornal O Globo, um do Extra… Ainda precisamos integrar melhor as nossas operações´


Antonio Prada, diretor de Mídia do Terra na América Latina


´O usuário não só interage em tempo real, como cria conteúdo. Ele é também um formador de opinião. Em tempo real`


´A Internet consome apenas 2,7 % do bolo publicitário brasileiro. Nos EUA, são mais de 6%, no Reino Unido, quase 10%´


Pete Clifton, diretor do BBC News Interactive


´Os nossos sites vão dar mais chances para o internauta moldar sua experiência e personalizar a maneira como recebe o conteúdo.´


´Também vamos permitir que o usuário fale sobre o que conhece. Um exemplo disso é que vamos convidar os eleitores a escrever os perfis e os assuntos em questão nas suas regiões na época das eleições´


´Procuramos cada vez mais profissionais que tenham bom texto, mas que também tenham alguma experiência em rádio ou talvez um interesse em televisão`


´Vamos trabalhar agora numa redação integrada, em que cada jornalista pode produzir para várias mídias simultaneamente´


´A maneira como o conteúdo é apresentado depende de um mix das opções do público e dos jornalistas´


´O que o leitor nos diz ajuda muito na melhoria da qualidade do vídeo e do áudio que oferecemos na internet´


´Apesar das incertezas, não há lugar melhor para trabalhar do que nesse novo tipo de jornalismo convergente e interativo. Mas o que vai decidir, no fundo é qualidade do conteúdo´


Andrea Fornes, diretora-executiva do MSN Brasil


´Decidimos que a melhor estratégia para o MSN Brasil é associar o conteúdo do site aos nossos softwares, oferecendo uma experiência diferente ao usuário´


´A nossa home page é desde agosto a mais acessada do Brasil. Tem 35% de alcance´


´O portal era visto como um portal gringo`


´As mudanças trazidas pela internet revigoraram muito o meu interesse e o de muitos profissionais pelo jornalismo´


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A bolsa sobe e o iG diz que cai (12/3/08)


O iG promoveu ontem uma inversão na principal notícia do dia, como apontou o leitor Roberto Arneiro. O iG disse em sua capa o seguinte: ´Bolsas fecham em forte queda após decisão do BC dos EUA´. A notícia verdadeira é o oposto disso. As bolsas fecharam em forte alta após a ação do Banco Central norte-americano. Segundo o leitor que procurou o ombudsman, o redator da chamada do iG ´não consegue imaginar que com essa dinheirama toda, os mercados se acalmam e as Bolsas do mundo se recuperam´. As bolsas, repita-se, não caíram, mas subiram.


O ruim disso tudo, além do erro, é que até agora, mais de 24 horas depois, o erro não foi reconhecido nem corrigido pelo iG. A admissão e a correção das informações erradas levadas ao ar é um dever do iG junto aos seus leitores. É uma regra do Manual de Redação do Último Segundo. Faz parte de uma política de respeito ao leitor, com transparência e busca permanente da qualidade nos serviços. Corrigir os erros com sinceridade e rapidez é coerente com a manutenção da função de ombudsman, um canal aberto para as queixas e opiniões dos leitores.


Na correção de erros e na apuração rápida e correção dos erros apontados através deste ombudsman, o desempenho tem sido sofrível. O último erro que o iG admitiu é de 14 de fevereiro. Vários erros apontados pelos leitores não têm sido examinados pela Redação do iG, nem assumidos, muito menos corrigidos. Há erros apontados encaminhados por leitores e enviados pelo ombudsman à Redação há mais de cinco meses, sem que o iG tenha apurado o caso e respondido.


Recentemente, este ombudsman encaminhou uma cobrança a respeito do tema para o diretor de Conteúdo do iG, Caique Santana Severo, que agradeceu a cobrança e prometeu tratar do tema com presteza.


Veja abaixo apenas uma parte dos erros apontados através deste ombudsman e até agora não corrigidos. Alguns dos erros são pontuais, outros são graves incorreções sobre a principal notícia do dia, como a falsa ´queda` das bolsas ontem.


Casos que nem sequer foram abertos examinados pelo iG


´Prezado Ouvidor, Sr. Mario Vitor Santos,


Meu nome é Ricardo e estou lhe escrevendo como um cidadão indignado com a notícia que foi veiculada por meio desse portal de notícias.


Trabalho nos Correios, contudo, não lhe escrevo esta mensagem em nome da Empresa, apesar ter sido membro da Ouvidoria dos Correios e membro associado da Associação Brasileira de Ouvidores – ABO nacional.Na última quarta-feira, tivemos acesso por meio deste portal, da seguinte notícia: ´Site dos Correios brinca com situação do Corinthians´.


A reportagem afirma que ´o site oficial dos Correios disponibiliza em sua busca de endereços uma brincadeira de muito mal gosto, pelo menos para os corintianos, mas de puro delírio para os rivais.´


É um absurdo o que esse repórter do IG está fazendo com uma empresa como os Correios. Por que não confirmam a informação antes de publicarem uma notícia como essa? Vocês estão brincando com coisa séria, paixão nacional! Imaginem um torcedor corintiano ofendendo ou agredindo um trabalhador da Empresa, como um carteiro. O CEP EXISTE! DEIXEM DE SER SENSACIONALISTAS!!! Imaginem o prejuízo na imagem de uma empresa que serve o público e não tem nada a ver com essa história. Espero que a área jurídica dos Correios tome uma providência contra vocês!


Esse repórter pode até ter entrado em contato com os Correios, contudo, não esperou por uma resposta oficial da empresa, como ele diz. Não ocorreu qualquer invasão no banco de dados da empresa. O Cep existe e não há qualquer motivo para os Correios brincarem com um assunto que não lhe diz respeito e nem com qualquer outro. Empresa nenhuma pode brincar com os seus clientes e o senhor, que é um Ouvidor, sabe disso. Realmente espero que a área jurídica dos Correios tome providências enérgicas em relação ao assunto. Imaginem uma agência depredada ou um motoqueiro dos Correios sofrendo qualquer agressão, por conta de uma irresponsabilidade como esta. Ainda que o site da empresa tivesse sido invadido, não se pode atribuir um erro sem antes obter todas as informações relevantes que comprovem tal fato. Espero que o senhor leve até a redação de esportes do IG tal informação e que o citado repórter publique um retificação e um pedido de desculpas aos torcedores corintianos e aos Correios.


Agradeço pela atenção.´


Ricardo Bitencourt, em 5 de novembro de 2007


´Bom Dia! Que gafe. Na página de carnaval intitulada ´Belas Famosas enfeitam os camarotes da Sapucaí´, uma foto da linda dançarina Sheila. No entanto, a foto é da Loira Sheila Mello e não da morena Sheila Carvalho como descrito…´


Sandro Senne, em 11 de fevereiro


´A chamada para anunciar o jogo Inter PA e São Luiz está errada. Vocês estão considerando o Inter-PA como líder, mas que o líder é o Inter-SM, três pontos a frente. O máximo que o Inter -PA vai conseguir é encostar no Inter SM, se ganhar. Ass. Um Gremista e torcedor do Inter de Santa Maria´


Dioní Jorge Costa de Oliveira, em 23 de fevereiro


´Prezados senhores,


Solicito corrigir a enquete de hoje sobre a eliminação no BBB8, pois quem está no paredão é Tathiana (conforme mostra a foto) e não Gyselle, relacionada entre as opções de escolha. Solicito que o processo seja reiniciado, zerando-se o resultado parcial, pois está incorreto. Grato.´


Julio Reis, em 26 de fevereiro


´Prezado,


Observei na matéria sobre a operação Pirita da polícia federal, hoje, que foi mencionado que os estelionatários presos ou procurados aplicavam golpes em investidores que possuíam ações de baixa liquidez, as quais, segundo a matéria eram de comercialização mais fácil no mercado. Isso é um contra-senso, pois liquidez dá a idéia de comercialização. Se a liquidez é baixa, a comercialização não é fácil. Outra matéria que me chamou a atenção foi sobre a Standard & Poor´s ter mantido as classificações de risco da Ambac e MBIA. A matéria da AFP chama essas empresas de securitizadoras, quando na verdade são seguradoras, pois seu principal negócio é garantir o risco de títulos emitidos principalmente pelos municípios e agentes financiadores imobiliários dos EUA. Estranho que tanto a AFP quanto a EFE, volta e meia cometem essas impropriedades de tradução, que mais estranhamente são pacificamente aceitas pelo IG.´


Murilo de Paula Souza, em 26 de fevereiro


É isso. Ao não corrigir, o iG erra duplamente.


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A primeira largada (11/3/08)


O iG anunciou hoje a estréia de seu site dedicado aos Jogos Olímpicos de Pequim. O anúncio chegou a merecer a manchete do portal. De agora em diante, o interesse pela competição será cada vez maior, e o iG acerta ao procurar acompanhar o evento da melhor maneira possível. As Olimpíadas são também uma ocasião para aumentar o faturamento publicitário, com a venda de pacotes de patrocínio da cobertura e a possibilidade de captação de anúncios de ocasião.


Um certo tom de publicidade está presente em alguns títulos das reportagens do site e em chamadas nas capas do iG (´iG dá largada para cobertura especial da Olimpíada a China´), do Último Segundo (´Novo site do iG está no ar e tem tudo sobre os Jogos´) e no Especial das Olimpíadas (´iG dá largada para cobertura olímpica na China´).


O adjetivo que comanda esse lançamento é o ´completo` em diversas versões: portal completo, cobertura completa, ´tudo´. A principal reportagem da edição de abertura do trabalho do iG, a única que investe numa cobertura exclusiva do portal, anuncia um testemunho em primeira pessoa de uma jornalista brasileira do iG que foi ´enviada especial` à capital chinesa e escreve, com exclusividade para o portal, prestando um serviço aos leitores: ´Enviada especial: Repórter do iG Esportes mostra os contrastes de Pequim e as aventuras que aguardam os turistas´.


Na verdade, a reportagem, como o próprio iG anuncia, é antiga, já estando publicada no próprio iG desde o meio do ano passado. Além disso, o texto não mostra ´os contrastes de Pequim` e muito menos adverte para ´aventuras que aguardam os turistas´. Faz comentários em geral simpáticos, mas ligeiros, sobre trânsito, policiamento, obras, poluição, design da logomarca dos jogos e o hábito de cuspir nas ruas.


Será que depois de tempo a enviada especial não poderia ser convidada a produzir um outro texto para o iG, com novas observações que não tenha usado anteriormente, ou com reflexões que tenha feito a partir do retorno de viagem a local tão distante, de modo a dar um maior frescor à cobertura exclusiva?


A julgar pelo que informou nesse primeiro dia, não ficam claros os objetivos do iG nestas Olimpíadas. Sabe-se que o portal enviará ´cinco jornalistas` à China e que vai ter contar também com o trabalho de colunistas. É evidente que a ambição é grande, mas os detalhes e a eficiência da cobertura só ficarão claros mesmo durante os Jogos. Por enquanto, seguem algumas observações sobre o que foi visto no dia de hoje.


– A lista de notícias está bem apresentada, fácil de ler


– o link sobre a equipe brasileira é bom, apesar de ainda não ter dados suficientes


– as notícias são recentes


– mas o destaque de galerias (19 e 16 de fevereiro) e vídeos (26 e 20 de fevereiro) traz material antigo


– o hot site está bem estruturado, com divisões por modalidade, mas podia ser mais atrativo e harmônico graficamente


– a linha do tempo, com as edições anteriores dos Jogos, é uma idéia bem realizada, com exceção de um detalhe: pode haver problemas no controle da velocidade, que às vezes fica muito rápida. Ao clicar em cada edição, surge um pouco da história daqueles Jogos


– a legenda do destaque (que tem um fundo branco) colocada sobre uma foto clara dificulta a leitura


– as seções home, notícias, fotos, modalidades, time brasileiro, olimpíadas anteriores e quadro de medalhas estão bem colocadas ao lado esquerdo, o que facilita a navegação


Por último, hoje, fica um desafio a esclarecer: será que o iG vai se diferenciar nesta cobertura, fugindo da mesmice e dos clichês, oferecendo um noticiário realmente criterioso, próprio e forte do ponto de vista jornalístico, com pleno uso das ferramentas tecnológicas existentes?


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Vídeos incríveis e seus riscos (10/3/08)


Recebi a seguinte mensagem da leitora Thais Fernandes, que se queixa da veiculação de um vídeo pelo iG.


´Senhor,


custa crer que os senhores estão dando divulgação a um vídeo sobre tortura infantil (criança de 2 anos em lava-jato). Não pude comprovar isso porque meus princípios impedem-me de assisti-lo.


Divulgar esse conteúdo como ´vídeos incríveis` é, no mínimo, repugnante e viola a dignidade da criança. É evidente que a conotação não é jornalística. Do contrário, também seriam divulgadas fotos de menores utilizadas ou visitadas por pedófilos. Os senhores não pensam em fazer isso, não é? E por que não? Porque é preciso resguardar a dignidade da vítima e a empresa seria processada, por certo. Mas não têm receio de acontecer o mesmo no presente caso? Por favor, menos sensacionalismo e mais jornalismo.´


Thaís Fernandes


De fato, o vídeo mostra imagens fortes. Uma criança é castigada pela mãe, que lhe joga jatos d’água num lava-rápido, enquanto a filha tenta livrar-se, sem sucesso, do aperto da mão que a segura. O tema é complexo.


A observação da cena pode ser chocante para muitos espectadores. Ela também pode, sim, promover algum tipo de dano à dignidade da filha, além do que eventualmente já tenha sido feito. Castigos infligidos pelos pais existem e podem ser incorporados ou assimilados pelo sujeito em seu processo de amadurecimento. São questões que, dentro de certos limites humanos, devem ser mantidos no âmbito da família.


Já a exposição de certas imagens para vários milhões de pessoas pode ter certamente conseqüências desagradáveis para a criança no futuro. A simples notícia de que aquela cena teve tanta exposição pode provocar ou agravar danos em sua auto-estima. Não basta pensar no sentimento de indignação que o assunto provoca entre os espectadores. Em primeiro lugar, é preciso considerar as conseqüências para a criança individualmente. No caso mais geral, a exibição de certas imagens também pode ter efeitos sociais positivos. Serve para chamar a atenção e provocar indignação contra violências que são efetivamente cometidas. Serve como alerta, como as imagens de babás e empregadas que praticam violências contra crianças e são filmadas por câmeras ocultas. Se a criança não é identificada nas imagens, nem vem a saber que aquela é uma cena em que ela é a vítima, danos ainda maiores talvez não sejam provocados pela divulgação do vídeo. Mas esse anonimato não é inteiramente garantido. Basta que alguém revele, ou que a informação seja de alguma forma descoberta, para que o incidente possa se transformar em pesadelo.


O pior é que o iG , por alguma razão, foi o único portal a divulgar as imagens de vídeo. A BBC (citada como fonte da informação) publicou apenas uma foto, com conseqüências bem menos fortes. O vídeo do iG foi extraído do site YouTube. Ou seja, houve uma ação voluntária do iG para colher essas imagens do site e divulgar para seus leitores com conseqüências eticamente condenáveis. Nem tudo o que está disponível na web deve ser oferecido aos freqüentadores deste portal.’