Tuesday, 16 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Mario Vitor Santos

‘O anúncio da descoberta de uma suposta bacia de petróleo numa área contínua que vai do litoral do Espírito Santo a Santa Catarina foi comandado pelo presidente da República diante dos jornalistas e de vários ministros na sede da Petrobras. As ações da empresa ações subiram 14% em um dia levando a companhia a valorizar-se mais de R$ 48 bilhões em questão de horas. Os números divulgados são ciclópicos. No Último Segundo, do iG, houve apenas uma reportagem mais cautelosa. A maioria, dos títulos principalmente, aceitou as versões talvez excessivamente eufóricas (como saber?). A ministra Dilma Roussef comandou a ocasião após a retirada do presidente Lula. Pode-se especular que a ministra Roussef foi designada para falar tendo em vista o pano de fundo da sucessão presidencial. Pode-se especular o contrário também: a ministra falou justamente por não haver hipótese de ela vir a ser a candidata do presidente, como declarou em ocasião anterior. Impossível saber. Pode-se dizer que a euforia e o anúncio precipitado para abafar o suposto impacto negativo da chamada crise do gás. Também se pode dizer o contrário: supostas notícias desse porte devem vir à luz logo, para reduzir a especulação e o uso de informações privilegiadas. Quem soubesse do anúncio poderia, por exemplo, comprar ações da Petrobras na véspera, por exemplo.

Os técnicos da Petrobras foram, porém, muito mais cautelosos do que os políticos. Incluíram um alerta logo no primeiro slide da apresentação da descoberta, que dizia, como destacou o jornal ‘O Globo’, à pág. 27 de sexta-feira: ‘Os resultados futuros das operações da companhia podem diferir das atuais expectativas.’ Um diretor declarou que tudo não passa de hipótese, que agora tem mais robustez. Anúncios exagerados não são incomuns na área do petróleo, inclusive no Brasil. Ainda de acordo com ‘O Globo’ (p. 25), na década de 70, o campo de Caioba, foi estimado como fornecedor potencial de até 500 mil barris/dia de petróleo ao ser descoberto. Sua produção máxima, na verdade, foi inferior a 30 mil barris/dia. Termos como ‘descoberta’ são considerados impróprios pela Securities and Exchange Commission, que regula o mercado de capitais nos EUA. Quando valem dinheiro sério, as informações econômicas não podem estar expostas a cálculos sobre os quais não há certeza baseada em estimativas sólidas. A esse respeito, além do ceticismo de parte do noticiário de ‘O Globo’, vale conferir a entrevista do especialista Adriano Pires Rodrigues ao Conversa Afiada, de Paulo Henrique Amorim.

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Lancelotti, a polícia e o jornalismo (8/11/2007)

O noticiário sobre o caso de suposta extorsão ao padre Julio Lancelotti caminha para um desfecho desconcertante. Em uma reviravolta, a polícia anunciou ontem que o padre foi vítima de extorsão. E quando alguma autoridade (inclusive a polícia) fala, os veículos tendem a aceitar imediatamente, como se fosse a verdade acabada. Foi assim quando o episódio começou. É assim quando caminha para seu desfecho inconclusivo. Este episódio é exemplar para mostrar a tendência subserviente do jornalismo às fontes oficiais.

No início, quando a própria polícia vazou a informação para os jornalistas, inúmeras versões vieram a público. Mencionou-se o desvio de dinheiro público arrecadado por uma ONG de que o padre faz parte, falou-se em pedofilia, relacionamento sexual inclusive na sacristia. Os valores que supostamente foram dados pelo padre aos pretensos criminosos variaram de R$ 30 mil a R$ 600 mil, sendo que o próprio advogado de Lancelotti elevou a quantia a respeito da qual se falava no início. Houve depoimentos mantidos em segredo pela polícia e pela própria mídia, que chegou a veicular testemunhos em que a imagem de uma acusadora era mostrada, mas seu rosto permanecia na penumbra, anônima. Houve escândalo nacional, especialmente em São Paulo, onde o padre é uma figura de grande projeção e influência, gozando de imagem polêmica, mas positiva como um defensor dos que não têm nada. Algumas acusações levavam a outros supostos crimes sobre os quais existia grande curiosidade. Agora, por razões escassamente fundamentadas, a polícia ‘conclui’ (verbo polêmico, que indica também ‘encerra’) que houve extorsão e só.

As únicas duas notícias publicadas hoje pelo iG a respeito são textos produzidos pela Agência Estado, com base em apenas uma fonte, a polícia. O mesmo texto da agência Estado é também o único veiculado pelos portais G1 e Uol (este também veicula outra notícia semelhante produzida pelo jornal ‘Folha de S.Paulo’ e reescrita pelo portal Terra). A conclusão é uma só: o jornalismo brasileiro na internet (e também fora dela) caminha para tornar-se uma atividade com fonte única (geralmente oficial) e com reproduções infindáveis dessa mesma versão, oriundas todas da mesma agência, às vezes com as mesmas palavras e até os mesmos títulos. Apurações independentes, conduzidas em competição por equipes próprias dos principais veículos que vão a campo, praticamente não existem, mesmo quando um fato ocorre na principal cidade do país e chama a atenção de todos.

O padre é inocentado, mas já está condenado, mesmo que nunca tenha sido jamais acusado formalmente de nada. Sua imagem ficará afetada. Sobre ele, falta ainda a conclusão do juiz que comanda a investigação. Sobre a atuação do jornalismo neste caso, seus problemas são técnicos, decorrentes dos poucos recursos materiais e humanos disponíveis e de uma atitude que vai ficando cada vez mais passiva e conformista. O jornalismo independente passa por sérias dificuldades, em quase todas as áreas. Mas, na cobertura policial, especialmente depois do assassinato de Tim Lopes, ele caminha para o fim.

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A volta por cima (7/11/07)

O iG deveria criar uma maneira pela qual os internautas poderiam cancelar sua assinatura do portal de maneira fácil, rápida e desburocratizada. Uma mensagem eletrônica, um formulário preenchido em um minuto ou um telefonema sem filas nem teclas deveria ser suficiente para a providência. O correto seria estabelecer um critério: a formalidade deveria ser tão ou mais simples e rápida do que a adesão aos serviços do portal. Um sistema assim, além de estimular a fidelidade, contribuiria para conter a principal razão de queixa dos leitores que procuram o ombudsman, os problemas com atendimento. Nessa categoria estão as dificuldades que o internauta encontra para conseguir o desligamento do iG. Os problemas de atendimento foram objeto de uma série de textos no blog ao longo de uma semana no mês passado. Em outubro, essas queixas (que incluem também as queixas sobre de dificuldade de conseguir falar com alguém na à Central do Ciente) apresentaram um crescimento importante, de 80 para 141 casos de pessoas que apelaram ao ombudsman, um aumento de 76% em um mês. Faz parte das estratégias de manutenção dos clientes uma série de procedimentos, inclusive as conversas com responsáveis que oferecem vantagens e promoções. Nada contra. O problema são as dificuldades criadas e os exageros que mais prejudicam do que reforçam a imagem junto aos clientes do passado, do presente e, quem sabe, de novo no futuro.

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Leitores questionam propaganda (6/11/07)

A propaganda é uma forma de comunicação inevitável. Há quem a considere até necessária, sendo cada vez mais incorporada pela internet. A participação relativa da internet no bolo publicitário geral (dividido, com TVs, jornais, revistas etc) é ainda pequena. Existem previsões de que a participação da internet na verba geral do setor publicitário vá crescer muito em questão de anos, se não meses. Há, portanto, uma grande avidez para que cada veículo de internet ocupe esses espaços, firmando-se como referência de vendas para o meio, aumentando seu faturamento, o que parece ser crucial num ambiente tão competitivo. Dessa expansão no faturamento podem depender os investimentos necessários à melhoria de outras áreas, como conteúdo e jornalismo, por exemplo. É nessa hora que ocorrem exageros no trabalho de sedução aos anunciantes, como peças publicitárias que invadem a tela do computador agressivamente, ocupando a página inteira, impedindo o acesso aos conteúdos, sem nem mesmo dar ao internauta a possibilidade de afastá-los. É a tentativa de imposição da lógica da TV aberta em que o espectador ainda não tem como escapar dos anúncios.

Abaixo, algumas manifestações de leitores sobre um anúncio desses publicado neste portal. Em seguida, a manifestação do iG:

‘Gostaria de saber quem do iG autoriza uma propaganda como a da ‘Brahma’ que fica permanente na tela, encobrindo notícias.’

Roberto Brazil

‘Além de colocar a publicidade em cima do conteúdo de leitura, não possibilita nenhuma alternativa para o usuário fechá-la ou minimizá-la. Esta publicidade prejudica o próprio portal, pois não podemos ler a notícia e acabamos por evitar a visita ao iG.’

Rodrigo A. Orati

‘Gosto de ler as notícias no iG por causa do conteúdo, mas não vou negar que o layout também ajuda. O iG tem colocado uma publicidade da Brahma que realmente atrapalha a leitura das notícias. Pode parecer uma besteira, porém para quem está acostumado a ler notícias no iG acha até estranho.’

Douglas Silvestre

‘Já há muito tempo acesso a internet através do iG, e não mudo por nada, apesar das inúmeras propagandas que existem. Sei que elas são necessárias para a manutenção dos serviços.Gostaria, porém, de fazer uma crítica à nova propaganda da Brahma, pois não existe botão para o encerramento, o que nos impossibilita de ler as notícias.’

Luciano Jatobá

‘Que coisa mais chata a propaganda da cerveja Brahma na abertura do site de vocês. Não consegui sumir com ela e acabei não podendo ter acesso ao conteúdo que estava atrás.’

Dirceu Reis

iG: ‘Geração de receita é necessária’

Questionado a respeito, o diretor de Publicidade do iG, manifestou-se, pelo que agradeço. Seguem as informações de Lobianco:

‘O formato de Brahma, veiculado na home, segue o conceito de banner expansível – muito utilizado nos veículos de mídia online do mundo inteiro.’

‘A ação acontece após o internauta passar o mouse sobre a peça, interagindo com a marca, que se abre e complementa a comunicação.

É um formato novo e recentemente implementado pelo iG, que ainda avalia o impacto junto à sua audiência.

O iG possui seu conteúdo 100% aberto para o internauta e sem nenhuma cobrança pelo seu acesso.

A publicidade online fica responsável pela geração de receita, necessária para produção e manutenção do conteúdo. Atenciosamente,’

Marcelo Lobianco

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Leitores cobram editoriais no iG (5/11/07)

O leitor Norberto Zollner escreve para fazer uma cobrança muito pertinente:

Ele quer que o iG assuma posições em relação aos temas mais relevantes do noticiário e encaminha uma proposta muito específica: ‘Possuam coragem de publicá-las em EDITORIAL.’ É assim, com letras maiúsculas que o leitor encaminha sua cobrança.

Zollner quer que o iG crie uma seção, como as dos jornais e muitas revistas de prestígio, em que o veículo assuma publicamente a sua posição diante dos fatos. A sugestão é muito interessante e parece inteiramente ausente da internet no Brasil e no mundo. É sinal de uma certa superficialidade dos veículos e do própria internet a idéia de que eles possam se ausentar institucionalmente do debate público. Como pretendem influir sobre as grandes questões se abrem mão de exercer seu papel de formação de opinião, função que sempre significou o exercício de uma responsabilidade no caso dos grandes jornais. Além disso, publicar editoriais é sinal de transparência. Quando um veículo assume e divulga suas posições a respeito de temas relevantes que fazem parte de sua pauta de assuntos, ele fornece aos leitores instrumentos para avaliar qual é a ‘personalidade’ que governa aquele meio de comunicação. Publicar editoriais implica assumir posições sobre temas polêmicos. Está na hora de abandonar a omissão. A juventude da internet não é desculpa. Uma pretensa superficialidade, menos ainda. O iG e o jornalismo na internet querem ser mais importantes, ter mais gravidade institucional e influência, o que exige uma atitude institucional coerente com essas aspirações. Os leitores estão pedindo.’