Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Mario Vitor Santos

‘O epicentro da crise é em Nova York. O principal jornal daquela cidade é o New York Times. O iG veicula reportagens e tem até um site dedicado aos textos oriundos da ‘old gray lady’, o apelido do jornal. O iG, porém, continua a usá-los mal.

Nas dezenas de remissões que a reportagem da manchete econômica do sábado de manhã, por exemplo, trazia, nenhuma era para as reportagens do jornal nova-iorquino sobre o mesmo assunto.

No site do New York Times no iG, ao menos duas reportagens mostravam as reações diversas de Obama e McCain diante da crise no setor financeiro americano (‘Candidatos adotam posturas diferentes diante da crise em Wall Street’, ‘Crise financeira representa desafios para candidatos à presidência dos EUA’). Deixá-las num espaço rotineiro neste momento é um desperdício de qualidade, a meu ver.

Além disso, permanecem os problemas de tradução dos textos do inglês para o português, já apontados anteriormente aqui.

O primeiro parágrafo da reportagem de sexta-feira intitulada ‘Crise financeira representa desafios para candidatos à presidência dos EUA’ foi publicado assim: ‘A crise financeira transformou a disputa presidencial entre os senadores John McCain e Barack Obama numa audição para determinar qual dos dois consegue lidar melhor com essa emergência econômica nacional’. Audição? No português, a palavra ‘audição’ soa estranha nesse contexto. Não é uma boa tradução para a inglesa ‘audition’ do original, que seria mais bem representada como ‘teste’, ‘ensaio’ ou mesmo ‘disputa’.

O melhor, porém, seria que o iG destacasse mais as reportagens de qualidade de um dos melhores jornais do mundo, principalmente quando elas tratem de assunto de tanta relevãncia, na cidade-sede da publicação, onde ela dispõe de tantos repórteres, fontes e influência. Os direitos de publicação em português não são exclusivos do iG, mas uma boa edição pode fazer a diferença.

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Os comentários em discussão (19/9/08)

O iG publica milhares de comentários de leitores todos os dias. Esses comentários não são controlados. Vão para o ar automaticamente. Em geral, a participação dos internautas é séria e entusiasmada, formando o embrião de um novo tipo de comunicação democrática.

Os internautas escrevem, manifestam suas opiniões, comunicam erros, ajudam a aperfeiçoar o trabalho jornalístico, estabelecem um diálogo muito rico. Às vezes, surgem ofensas e todo tipo de linguagem ofensiva, racista, sexista.

A internet é, entre outras coisas, uma selva. Mas é possível criar áreas mais civilizadas. Portais importantes estão trabalhando para impor uma conversa livre, mas respeitosa com os leitores. Qualquer portal deve ter uma estratégia para canalizar a energia gerada pelos internautas de maneira construtiva, sem tolher a liberdade que justifica a existência da rede.

O público tem poder e deve ter liberdade para exercê-la. Os excessos de alguma maneira devem ser evitados. No caso do iG, é necessário explicitar claramente a política para a participação dos leitores, de forma que todos conheçam as regras básicas. É claro que algum limite já existe e sempre existirá. É preciso comunicá-lo claramente.

Desenvolver um ambiente de participação vai exigir o que às vezes falta na internet: lucidez, tolerância e consistência. A direção do iG aceitou falar a respeito dos comentários. Confira o que fala o diretor de Conteúdo do iG, Caique Severo, que gentilmente respondeu um pequeno questionário enviado por este ombudsman.

Pergunta – Quem gerencia os comentários? Há uma política a respeito? Qual o critério usado na publicação?

Caique Severo – Nas páginas do iG, permitimos que os comentários sejam publicados sem moderação, ou seja, o comentário é publicado imediatamente. Não monitoramos todos os comentários publicados. Em textos de conteúdo mais sensível, os editores normalmente lêem os comentários e eventualmente eliminam comentários considerados ofensivos. A decisão é de cada editor, mas consideramos ofensivos comentários agressivos em relação à raça, credo e gênero e incitação a crimes.

Pergunta – Os blogueiros são orientados a esse respeito?

Severo – Os blogueiros são responsáveis pelo seu próprio conteúdo e por implementar uma política de moderação adequada à sua comunidade. Alguns são mais restritivos, outros mais liberais. A decisão é de cada um.

Pergunta – O que mais você gostaria de dizer sobre esse assunto?

Severo – Acho que falta detalhar essa política editorial de gestão de comentários e publicá-la no nosso manual de redação. Vamos tratar disso.

Exemplos de fora

O The New York Times tem uma política clara sobre comentários: todos são moderados por uma equipe do site e os critérios principais são a relevância e se a manifestação é adequada.

O The Guardian foi ainda mais longe e criou uma comunidade em que os leitores podem se candidatar a vagas na equipe que modera os comentários. Em conjunto com editores e blogueiros, a equipe é engarregada de zelar pela qualidade das manifestações.

Lixo nos comentários

Reprodução alterada de comentários que estão no ar agora no iG:

Na matéria ‘Kassab foi um golpe do DEM em Serra, diz Alckmin’ e na ‘Algas deixam água de São Paulo com gosto e cheiro ruins’

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O Google e o aborto (18/9/08)

Reportagem da BBC inglesa ontem anuncia mudanças do Google em relação a links patrocinados que anunciam métodos e clínicas de aborto(veja notas anteriores do ombudsman: ‘Como puedo abortar?’ e O iG age no caso do anúncio do aborto):

‘Google recua sobre anúncios de aborto

De Christopher Landau

Correspondente da BBC News para temas religiosos

O Google mudará sua política sobre anúncios publicitários relacionados a aborto após pressões de um grupo cristão.

O site recusou o anúncio de um instituto católico, alegando que não permite nenhum tipo de propaganda de sites religiosos que contenham informações sobre aborto.

O instituto ameaçou usar a lei britânica para contestar a decisão.

Mas após um acordo fora dos tribunais, o Google permitirá anúncios de grupos religiosos sobre aborto.

Isso significa que quando a palavra ‘aborto’ é digitada na ferramenta de busca, os internautas não terão acesso somente a detalhes sobre clínicas de aborto e grupos de ajuda, mas também encontrarão links para grupos religiosos que se opõem à prática.

‘Entendimento’

Em um pronunciamento, um porta-voz do Google disse à BBC News: ‘A questão do aborto é um tema delicado e o Google não toma nenhuma posição.

‘Nos últimos meses temos revisto nossa política em relação aos anúncios sobre aborto para ter certeza de que esta seja justa, atual e consistente com as práticas e costumes locais.

‘Seguindo essa reformulação decidimos melhorar nossa política, criando um diálogo e possibilitando às associações religiosas veicular anúncios sobre aborto de um jeito factual.’

O Instituto Cristão afirma que a decisão é um sucesso para o entendimento e a liberdade de expressão.

Mike Judge, membro do instituto, disse à BBC News que o Google, com seu status de porta de entrada para a internet, tem uma responsabilidade especial de tratar os grupos igualmente.

‘Eles têm sido muito construtivos ao responder nossa ação legal. Penso que agora o jogo está equilibrado para os grupos religiosos, e estamos satisfeitos com a decisão do site’, disse.’

Opinião deste ombudsman

A notícia é muito animadora, pois favorece a diversidade de opiniões, e mostra a abertura do Google para considerar a complexidade dos temas em discussão e evitar ferir sensibilidades de internautas. Mas o assunto ainda não está inteiramente claro. Perguntas a serem respndidas:

1) O acordo é válido internacionalmente ou só na Inglaterra, onde se originou a ação?

2) O acerto se refere apenas à ferramenta de busca ou abrange também links patrocinados colocados junto a reportagens de parceiros que se referem a aborto, como foi o caso do iG?

3) O aborto poderá ser anunciado internacionalmente à revelia das legislações de cada país, inclusive daqueles onde a prática é proibida ou restringida?

4) Quem anuncia métodos, drogas e clínicas de aborto poderá chegar a detalhes, como ocorreu no iG recentemente, de recomendar aos eventuais interessados que procurem obter, caso não seja possível de outra forma, as substâncias abortivas ao ‘fornecedor de maconha’, por exemplo?

Uma coisa é defender a concessão do direito legal ao aborto, sob argumentos ligados aos direitos individuais ou de saúde pública. Outra é incentivá-lo explicitamente, ainda mais com métodos inaceitáveis.

A liberdade de expressão é fundamental e deve ser garantida a todo custo. Mas é recomendável que o iG e o Google façam um controle voluntário, coibindo excessos e procurando manter o manejo do assunto nos limites do bom senso.

Títulos repetidos

Na capa do iG das 16h39, duas repetições de chamadas. A resposta dE Glória Kalil ao colunistas Maurício Stycer, no ‘Destaques’ da home e na caixa de notícias. E a manchete do último Segundo, que repete a chamada do box de educação mais abaixo na capa.’