Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O Estado de S. Paulo

GLAUCO
Três décadas de humor e desenhos

‘Glauco Vilas Boas tinha 53 anos, com mais de três décadas dedicadas aos desenhos e ao humor, principalmente nos jornais. O cartunista nasceu em 10 de março de 1957 em Jandaia do Sul, no Paraná, mas foi em Ribeirão Preto que começou sua carreira, no início dos anos 1970.

Glauco foi para o interior paulista para prestar vestibular para Engenharia. Foi descoberto pelo jornalista José Hamilton Ribeiro, que dirigia o Diário da Manhã e começou a publicar os trabalhos do cartunista.

O reconhecimento veio anos depois, quando venceu o prêmio do Salão do Humor de Piracicaba, em 1977. No fim da década de 1970, começou a publicar suas tiras na Folha de S. Paulo e no início da década de 1980 passou a fazer parte do grupo de cartunistas do jornal, onde recentemente publicava charges e cartuns. Glauco também foi roteirista e fundou uma Igreja adepta do Santo Daime, chamada Céu de Maria. Ele deixa a mulher Beatriz Galvão e dois filhos.~

 

Edison Veiga

Glauco e filho são enterrados sob aplausos

‘O cartunista Glauco Vilas Boas, de 53 anos, e seu filho Raoni, de 25, foram enterrados às 10h30 de ontem no Cemitério Parque Getsêmani Anhanguera, em Osasco, Grande São Paulo. Participaram da cerimônia cerca de 300 pessoas, a maioria familiares, amigos e seguidores da Igreja Céu de Maria, ligada ao Santo Daime, fundada pelo artista.

Em caixões fechados – e cobertos com a bandeira da igreja -, os corpos de Glauco e Raoni chegaram ao cemitério às 9h30. Já eram aguardados por dezenas de pessoas – algumas, dentro do cemitério, gritavam ‘assassino! facínora!’, em referência ao estudante Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, de 24 anos, considerado pela polícia o principal suspeito do crime. Nunes estava foragido até o início da noite de ontem.

Durante uma hora, a cerimônia foi conduzida por religiosos da Céu de Maria, trajados com camisas brancas – os homens, em grande parte, com calças também brancas com listras laterais verdes; as mulheres, de saias com detalhes em verde. Comovidos, os seguidores da igreja entoaram dúzias de cânticos rimados, com melodias parecidas umas com as outras. ‘Não quero nem falar. Perdi dois grandes amigos’, disse um dos religiosos, em lágrimas, batendo no peito em sinal de respeito.

Vários cartunistas compareceram à cerimônia. ‘Existem algumas pessoas que são muito especiais. E Glauco era uma delas. Um iluminado, principalmente pelo trabalho que desenvolveu e fez com que o público passasse a ter outra visão do cartum. Foi responsável por uma reviravolta do humor brasileiro’, disse o cartunista Orlando. ‘É um cara que ia ser um velhinho muito divertido, sem dúvida.’

‘É como John Lennon. Glauco era um gênio que cruzou com um doido e aconteceu isso’, declarou o cartunista Spacca, comparando Glauco com o ex-beatle que foi assassinado em 8 de dezembro de 1980 quando retornava de um estúdio de gravação em Nova York (EUA). ‘Mas o importante é que ele era uma pessoa sempre disposta a ajudar os outros’, disse. Caco Galhardo, outro cartunista que estava presente, visivelmente emocionado não quis falar sobre o amigo.

Entre as dezenas de coroas de flores estavam homenagens de outros cartunistas, como Mauricio de Sousa, e dos profissionais do jornal Folha de S. Paulo, que publicava as tirinhas de Glauco. Representando o jornal, compareceu ao enterro o editor executivo da Folha, Sérgio Dávila, que se lembrou de quando era editor do caderno Ilustrada e tinha uma ‘convivência bem-humorada’ com Glauco. ‘Ele era um notório atrasador do jornal’, comentou. ‘Mas como o resultado sempre acabava sendo uma surpresa agradável, brincávamos que Glauco era o único que podia atrasar’, disse. Dávila afirmou que, em breve, o espaço onde as tiras de Glauco são publicadas será remanejado, em substituição ao cartunista.

Às 10h, uma procissão saiu da sala de velório do Getsêmani Anhanguera, seguindo os caixões até a sepultura. Sempre em coro, os religiosos prosseguiram com as canções. Às 10h10, já em frente ao local do enterro, fizeram um minuto de silêncio, seguido por uma salva de palmas. Depois de mais um canto, o grupo rezou várias ave-marias e pai-nossos. Às 10h25, novas palmas. Estavam enterrados Glauco e o filho Raoni.

Velório. O velório dos corpos do cartunista e do filho ocorreu entre a tarde de anteontem e a manhã de ontem, na sede da Igreja Céu de Maria, em uma chácara em Osasco onde também fica a casa em que Glauco morava com a família. O local abriga uma comunidade baseada no Santo Daime. O acesso foi reservado a familiares e amigos. Na missa, os seguidores da igreja, vestidos com trajes utilizados em rituais, entoaram cânticos. Os jovens eram maioria.

Dois dias antes, na quarta-feira passada, eles haviam se reunido no mesmo local para comemorar os 53 anos do cartunista. Ontem, durante o enterro, a família de Glauco não se pronunciou.’

 

E-BOOK
Raquel Cozer

Quem usa kindle, no fim das contas?

‘A sensação de quem lê livros no Kindle em ambientes públicos hoje em dia é mais ou menos como a de um pai ou uma mãe que sai para passear com o bebê. Todo mundo que esbarra no dono de um e-reader para, faz festa, quer pegar e saber detalhes.

O leitor de títulos eletrônicos foi assunto abordado à exaustão pela imprensa cultural e de tecnologia no ano que passou, mas a verdade é que parcela ínfima da população brasileira chegou sequer a ver um de perto. Tanto é um artefato beirando o exótico que, em geral, a primeira descoberta de quem coloca as mãos num deles é a de que meter o dedo sobre o espaço do texto suja a tela. À primeira vista, ele dá a impressão de ser touchscreen, como o iPhone, mas não é.

Para os detentores de e-readers, porém, esses aparelhos já ocupam um patamar que os celulares alcançaram por aqui nos anos 90: foi possível viver sem eles por décadas, mas deixar de usá-los agora seria um problemão. Ao menos é essa a opinião de quem lê neles com frequência. Em geral, gente que tem interesse bem acima da média nacional pela leitura e que comprou a ferramenta só para uso profissional antes de se render a ela.

Assim como os celulares não aboliram o telefone fixo, o Kindle também não elimina o livro impresso para essa primeira geração de usuários. Os critérios de compra são diferentes, avalia o escritor e editor Paulo Roberto Pires. Com 1.500 títulos em papel em casa, sendo que na última limpa conseguiu desapegar de 600, carrega o Kindle que usa há nove meses com o que chama de volumes ‘meio descartáveis’, que ele não pode mais se dar ao luxo de tentar enfiar nas estantes. Integram essa lista, hoje com 50 títulos, romances policiais, por exemplo.

Por estes, Pires até abre mão da ‘coreografia do livro’ da qual todo leitor compulsivo conhece variações – e que quase sempre inclui a checada básica por cima para ter noção do quanto falta ler. Os e-readers, que não numeram as páginas, até tentam facilitar a coisa: indicam a porcentagem de texto já superada. ‘Não é a mesma coisa. Perde-se a noção de progressão’, avalia.

São os pequenos detalhes que incomodam, na opinião do escritor Sérgio Rodrigues, paladino do Kindle desde que ganhou um da namorada, no fim do ano passado. Ele defende que a tela lembra tanto a de papel que ‘o aparelho fica invisível’, mas, como bom representante de uma geração que não nasceu na frente da tela de um computador, ainda encontra dificuldades. ‘Quando você está na página 80 e quer conferir o nome de um personagem na 20 é um saco. Tem de voltar uma por uma.’ O mecanismo de busca deveria facilitar a tarefa, mas como fazer a busca por um personagem cujo nome não se lembra?

Folhear faz falta, assim como ver a estante cheia. A editora Mariana Zahar tem quase uma coleção de e-readers – um Sony Reader, um Cooler, um Kindle e um aplicativo de Kindle para iPhone -, mas não raro eles servem de aperitivo para a compra do título impresso. Já aconteceu algumas vezes, quando começou a ler um livro num e-reader e foi para a praia – onde prefere ler em papel para não estragar o aparelho – ou quando achou o livro tão bom que ‘precisava ter em casa’.

É curioso que a maior desvantagem do Kindle em relação a plataformas como o Nook (e-reader da Barnes&Noble) e o iPad (dispositivo eletrônico da Apple) seja, na avaliação de Sérgio Rodrigues, sua maior vantagem: o fato de não ter acesso à internet. Há algumas semanas, o escritor fez uma veemente defesa do Kindle em seu blog, o Todoprosa. ‘É um aparelho bisonho, quase jurássico, feito exclusivamente para ler’, escreveu. ‘Se você está lendo um romance, a última coisa que quer é um e-mail bipando. As distrações on-line ficam de fora, é para ler livros e pronto, não serve para mais nada’, diz.

É possível que em algumas décadas não seja fácil encontrar quem entenda a opinião de que o ‘livro em papel é um objeto tecnologicamente perfeito’, como diz Paulo Pires. Mas, por enquanto, difícil é não se identificar com uma charge publicada no último dia 10 no USA Today. Nela, um homem observa a vitrine de uma livraria, onde lê-se o aviso: ‘Livros sem baterias’.’

 

PESQUISA
Daniel Bramatti

91% acham que mídia é arma anticorrupção

‘Para 91% dos brasileiros, a imprensa ajuda a combater a corrupção ao divulgar escândalos que envolvem políticos e autoridades, indica pesquisa feita pelo instituto Análise a pedido do Estado. Nada menos que 97% dos entrevistados se declaram a favor da investigação e divulgação de casos e suspeitas de corrupção pela imprensa.

Quando o instituto pergunta quais são os principais canais de denúncias de corrupção, jornalistas e meios de comunicação aparecem em primeiro lugar, com 50%. Para outros 37%, são os próprios políticos os que mais denunciam irregularidades de políticos. A maioria expressiva dos entrevistados vê a imprensa como apartidária (69%) e digna de credibilidade (88%) ao revelar desvios e irregularidades. Nove em cada dez entrevistados defendem que os meios de comunicação não sejam submetidos a nenhum tipo de controle.

Para Alberto Carlos Almeida, diretor do instituto Análise, o fato de jornais, rádios e TVs serem vistos como os principais canais de denúncias de corrupção revela a boa imagem de que a imprensa desfruta e o descrédito da população em outras instituições. ‘Em termos de combate à corrupção, os cidadãos se veem representados e assistidos pelos meios de comunicação, mas eles esperam resultados, e é aí que o papel do Judiciário deixa a desejar’, analisou, destacando a virtual inexistência de condenações judiciais de políticos acusados de desviar recursos.

‘Existe o reconhecimento da cidadania de que, no vazio deixado por outras instituições, a imprensa exerce bem o papel de fiscalizar o poder’, avaliou o jornalista Eugênio Bucci, que presidiu a Radiobrás no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Bucci fez reparos à utilização, na pesquisa, do termo ‘denúncia’ em relação às práticas da imprensa. Para ele, o papel dos meios de comunicação não é denunciar, mas apontar os indícios de fatos ilícitos.

Depois de citar ‘o mensalão do PT, a corrupção de Sarney e do Senado, os gastos secretos de cartões de crédito da Presidência, o mensalão do DEM no DF e o mensalão de Minas que envolveu um senador do PSDB’, os pesquisadores perguntaram aos eleitores se a imprensa ‘só faz denúncias contra um lado ou denuncia todo mundo, como o PT, o PSDB, o DEM e o PMDB’. Apesar do preâmbulo, 24% responderam que apenas um lado costuma ser alvo. Para Almeida, no entender desse contingente, ‘esse lado é o governo, que é mesmo quem tem de ser fiscalizado’.

Para o sociólogo Demétrio Magnoli, é importante destacar o universo dos 69% que respondem de forma distinta. ‘Uma enorme maioria considera que a imprensa age com isenção. Em outros países democráticos, cerca de um terço da população questiona a imparcialidade da imprensa.’ Magnoli observa que todos os governos reclamam da imprensa. ‘No Brasil de hoje, porém, há algo mais. Há, por parte do presidente e do PT, uma campanha sistemática de que a imprensa representa a elite e que está contra o governo.’

Para o sociólogo, esse discurso encontra eco na sociedade. ‘É provável que sejam seguidores incondicionais do presidente esses 24% que veem a imprensa como parcial.’’

 

REFORMA
Momento de apostar

‘O jornalismo impresso começa a se redesenhar para um futuro promissor. Em que a chave está na convergência cada vez maior com o mundo digital. Apesar de nos últimos anos ter virado moda prever o fim dos jornais, especialistas são uníssonos: com um produto mais analítico e sofisticado, o prognóstico é de vida longa e saudável. ‘Os jornais são detentores do conteúdo de alta qualidade’, justifica Christoph Riess, chefe do grupo executivo da Associação Mundial de Jornais (WAN-Ifra). ‘Não podemos subestimar sua força.’

Os temores não surgiram do nada. A circulação dos diários nos Estados Unidos e na Europa está em declínio. A pressão exercida pelo crescimento da internet aumentou e as grandes empresas ainda não encontraram fórmula de lucrar com seus sites. Mas, no Brasil e em outros países em desenvolvimento, o cenário é diferente. ‘Se um país cresce, as pessoas também querem crescer’, diz Riess. ‘Por isso, há muito espaço para que os jornais aumentem sua circulação, se fizerem movimentos para isso.’

Esses ajustes incluem a coragem de mudar um dos princípios mais antigos do jornalismo impresso: o de apenas dar notícias do dia anterior. ‘Os jornais deixam de ser a fonte do que ocorreu para também antecipar fenômenos e analisar fatos’, explica Marcelo Rech, integrante do conselho do Fórum Mundial de Editores, ligado à WAN.

Nesse sentido, o território online seria mais apropriado ao noticiário e o papel, para a interpretação e para surpreender o leitor com conteúdos diferenciados. ‘O tempo simbólico de 24 horas que o jornal tem para ser publicado é ideal para a decantação dos acontecimentos’, explica.

Por isso, ao contrário do que se tem alardeado, as duas plataformas são complementares, não concorrentes. ‘Nunca se leu tanto jornal’, crava o jornalista Matías Molina, autor de Os Melhores Jornais do Mundo, que prepara um livro sobre periódicos brasileiros . ‘Só que no online.’

Repercussão. Para Molina, o jornal impresso é que pauta os grandes assuntos de um país e sua influência só aumenta com a repercussão gerada na internet. ‘Por isso, o papel tem de andar de mãos dadas com o digital.’

Cada ambiente de informação com seu atrativo: se na web o usuário navega e busca exatamente o que quer, aos jornais cabe surpreender, fazer apostas, oferecer o inesperado. ‘Quem faz jornal deve encarar o trabalho feito na internet como um grande alívio de tarefas’, avalia Molina. ‘Com a web dando notícias minuto a minuto, sobra tempo para os jornalistas aprofundarem as discussões no papel.’

Concorda com isso o professor de História da Cultura na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, Peter Burke. ‘É difícil dizer se daqui a cem anos o papel ainda vai existir. Mas, no curto prazo, ele conviverá com a internet.’

Autor do livro História Social da Mídia, Burke aposta na ‘diferenciação de produto’ para que as duas versões de um jornal não sejam idênticas e possam ser oferecidas ao mesmo leitor.

Outra tendência apontada pelo historiador é a de os veículos atenderem a demandas específicas. ‘Na Inglaterra, temos diários voltados para grupos sociais distintos. Na Itália, há seções de jornais direcionadas a diferentes regiões’, exemplifica.

O oxigênio para os avanços dos diários vem de um design mais funcional, que facilite a navegação do leitor pelo jornal e lhe ofereça a maior quantidade possível de conteúdo por página ou peça informativa. ‘As pessoas têm cada vez menos tempo. O que não quer dizer que elas não estejam interessadas em informação’, diz Mark Porter, jornalista inglês responsável pelo redesenho em 2005 do diário The Guardian, que se transformou em um modelo para jornais do mundo todo.

Porter aponta ainda a exigência cada vez maior dos leitores por um projeto gráfico mais bem acabado. ‘Especialmente os jovens, que têm acesso a um design fantástico em tudo que usam, de seus carros a seus blogs.’

Sofisticação. Com um produto tão sofisticado nas mãos, é natural que se presuma que o jornal seja cada vez mais um produto valorizado. ‘Talvez vejamos um cenário parecido com o do século 19, quando os jornais eram para leitores classificadíssimos e muito exigentes’, analisa Molina. Marcelo Rech concorda: ‘Os jornais só têm a crescer em relevância, porque oferecem um conteúdo premium, com a credibilidade e o trabalho de edição que sabem fazer.’’

 

Jornal e web: cada vez mais conectados

‘Decidir o próximo passo numa empresa centenária requer reflexões. Qual o tamanho do passo a ser dado? Qual o melhor momento? Em que direção? Mas são os mesmos 135 anos de tradição que garantem ao Grupo Estado a segurança de fazer esse movimento.

Desde julho do ano passado, uma equipe de designers, jornalistas e executivos se dedica ao redesenho do jornal que os leitores recebem hoje e do novo estadão.com.br, no ar desde a meia-noite. Até a definição das mudanças, foram meses de pesquisas, visitas às mais respeitadas redações do mundo, criação de protótipos e muitas avaliações e discussões. O saldo dessas reflexões: o Grupo Estado acredita na convivência entre as mídias.

‘A ideia é estar ao lado dos leitores a cada segundo, a cada minuto, a cada dia, oferecendo instantaneidade, interatividade, conteúdos multimídias, contexto e análise’, explica Ricardo Gandour, diretor de Conteúdo do Grupo Estado.

‘O futuro do jornalismo é múltiplo, tanto na forma com que se oferece o conteúdo quanto no jeito com que se consome a informação’, completa Silvio Genesini, diretor-presidente do Grupo Estado.

Para tornar esses objetivos possíveis, o Estado se empenhou na formulação de um redesenho que atendesse tanto às demandas dos leitores – detectadas em pesquisas de percepção e qualitativas – quanto às dos jornalistas que produzem o jornal.

‘Sabíamos que era hora de mudar, que precisávamos pensar grande e no longo prazo e que tínhamos de fazer algo muito bem feito’, diz Roberto Gazzi, editor-chefe do Estado e responsável pelo novo projeto.

Gandour lembra que, durante as mudanças feitas pelo Estado em 2004, o jornalista Ruy Mesquita, diretor de Opinião do Estado, comentou: ‘(O jornal) procura adaptar seu modelo gráfico às novidades da época, para melhor servir aos que nos distinguem com sua preferência na procura de informações sobre a cidade, o País e o mundo. (…) Os jornais diários parecem cada vez mais destinados a ajudar a pensar, a compreender e a criticar do que a simplesmente informar.’ ‘Esse testemunho continua absolutamente atual’, analisa Gandour.

‘Com uma tipografia mais elegante e maior organização das peças informativas, aumentamos o conforto do leitor ao percorrer as páginas’, explica Fabio Sales, diretor de Arte do Grupo Estado.

As imagens também foram mais valorizadas na nova versão do jornal. ‘Embora abrigue o mesmo conteúdo, a área de texto está menor. Com isso, fotografia e infografia são realçadas.’

Organização. Para aumentar a percepção do leitor, os diferentes gêneros jornalísticos também ganharam colunas e formatos gráficos diferentes, contribuindo para um jornal mais organizado, mais analítico, de leitura mais agradável e com maior diversidade de cadernos, do Paladar ao Negócios, do Sabático ao Estadinho.

‘A intenção sempre foi de melhoria contínua’, resume Gazzi, referindo-se à movimentação iniciada em 2004, ano do último redesenho. O processo foi acelerado com a pressão do crescimento da internet. Norteando as mudanças esteve a certeza de que ‘o jornal ainda vai ser, por muito tempo, um meio de distribuir notícias exclusivas’, diz Gazzi. ‘Mas complementadas com muita análise, prospecção, bastidores, cenários, serviços.’

Hora de investir. O cenário nacional colabora para essas escolhas. Internamente, o Grupo Estado vive momento positivo. ‘O grupo está muito saudável financeiramente e recuperou sua capacidade de investir’, comemora Genesini. ‘Teremos várias iniciativas até o fim do ano, no sentido de preparar o grupo para essa multiplicidade de oferta de conteúdos e a diversidade de consumidores.’

Algumas ações expandem o alcance do conteúdo editorial. A ideia é levar o Estado ao leitor, além de atrair o leitor ao Estado. ‘Já fazemos muitos eventos, como o Prêmio Paladar’, diz Ilan Kow, editor-chefe de Publicações. ‘Agora, planejamos ações na Rádio Eldorado, eventos especiais, debates e publicações extras para ainda mais produtos. Tudo com a marca Estadão.’

A estabilidade econômica e social também faz crescer o número de pessoas em busca de conhecimento de qualidade. ‘O crescimento econômico levou pessoas que nunca haviam lido jornal a consumir esse produto e se sentir mais cidadãs’, avalia Carlos Alberto Di Franco, diretor do Master em Jornalismo e professor de Ética da Comunicação. Decorre disso a explosão de diários populares. Os mais tradicionais, por sua vez, precisam de diferenciação para manter e conquistar leitores mais qualificados. ‘E esse nicho procura uma marca forte, que tenha tradição e credibilidade.’ É nisso que o Grupo Estado acredita e aposta.’

 

‘Fonte dá ar mais elegante ao jornal’

‘Para inovar também na tipografia, o Estado trabalhou em parceria com o designer português Mário Feliciano. Responsável pelas fontes exclusivas do semanário Expresso, de Portugal, e do diário El País, da Espanha, foi ele quem criou as fontes Estado Headline, Estado Fine e Flama. ‘Busquei dar um ar mais contemporâneo à fonte do Estadão’, resume.

Qual a importância da tipografia na identidade de um jornal?

Total, porque a tipografia é a intermediária entre o leitor e o conteúdo. As letras são o sangue das palavras. E a tipografia inclui a forma como as letras estão organizadas, sua disposição na página, os espaçamentos.

Como se constrói uma fonte?

Como trabalho com isso há 14 anos, tenho uma noção do que funciona ou não em determinado meio. No caso do Estado, adaptei outra fonte que já havia construído. Fiz modificações para a letra ficar mais harmoniosa e apropriada à língua portuguesa, além de mais contemporânea. O jornal é um produto genérico, no sentido de que a minha mãe e a sua mãe têm de conseguir ler. Um dos aspectos mais importantes é o entendimento de que as letras são resultado de uma história. Não pode haver uma em destaque, tem de haver uniformidade.

Como melhorar legibilidade?

Todos os planos de proporção entre as letras afetam a legibilidade. Assim como a língua usada. No português existem, por exemplo, acentos e palavras curtas, como artigos e preposições. Isso também ajuda a definir o desenho da letra.

Qual é a identidade que a tipografia do ‘Estado’ transmite?

Um ar contemporâneo, que tem a ver com o momento efervescente que o Brasil vive, mantendo a raiz histórica que caracteriza meu trabalho. Tudo isso é muito sutil. É difícil que o leitor comum racionalize essas sutilezas, mas, ao se confrontar com elas, sabe identificá-las. A fonte Estado é um tipo de letra que não rompe com o que é feito nos jornais do mundo, porque senão seria rejeitada. Mas tem uma personalidade. E ajuda a definir o caráter mais sóbrio e mais elegante que o jornal está buscando.’

 

Estadão.com.br se aproxima das redes sociais

‘A partir de hoje, o site do Estadão muda profundamente. A navegação está mais clara, o design puxa pela elegância, vídeos e fotografias ganharam destaque. O novo site agora poderá ser acessado tanto pelo estadão.com.br quanto pelo estadao.com.br (com ou sem til), ou ainda pelo estadao.com – neste caso, sem o til.

Ele se aproxima das redes sociais e ressalta um arrojado processo de integração das redações, comum nos Estados Unidos e na Europa, mas único no Brasil. ‘A integração ocorre quando, na redação, as fronteiras entre papel e online se dissolvem’, explica o editor-chefe de Conteúdos Digitais, Pedro Doria. ‘Os jornalistas do Estado contribuem para o estadão.com.br e os do site publicam no jornal. Ler um é como ler o outro, duas versões diferentes do mesmo produto. Uma de olho no minuto a minuto, a outra na bem cuidada edição diária, ambas ricas em noticiário e análise.’

‘As redações trabalham com alto nível de integração e com visão multiproduto e multiplataforma’, diz Ricardo Gandour, diretor de Conteúdo do Grupo.

A página inicial do novo site traz ao Brasil o conceito europeu de organização. Logo na entrada, o leitor encontra duas colunas, uma com o noticiário mais importante, outra com tudo o que é interessante.

Assim, o estadão.com.br rompe o conceito de portal, ainda em voga no Brasil, porém já ultrapassado no exterior. É um site que serve para informar, mas que não deseja confinar leitores num único ponto da internet. Foi construído para se integrar às mídias sociais e estimular circulação de informação pela rede, via Twitter, Facebook, Orkut, e-mail ou blogs.

Por conta do investimento feito no Twitter, o estadão.com.br já conta com 40 mil seguidores. E o Twitter já é a segunda fonte de acessos externos ao site, perdendo para o Google, mas ganhando de outros sistemas de busca.

O empenho dedicado às mídias sociais se mostra também no número de blogs, que dobrou nos últimos meses e deve triplicar até o fim do semestre.

Blogs têm dupla importância em um site noticioso. É onde jornalistas especializados podem escrever com mais liberdade sobre seus temas – da psiquiatria à tecnologia, seja em Nova York ou Pequim. É também onde a conversa entre jornalistas e leitores é mais intensa.

A internet é também uma oportunidade de relatar histórias de maneiras inimagináveis no papel. Contando com uma equipe de fotógrafos composta pelos melhores do País, o site abre espaço para a publicação de fotografias em quantidade e ensaios dos mais sofisticados no blog Olhar sobre o Mundo.

A TV Estadão é outra que ganha espaço na home. Filmando no estúdio no meio da redação ou indo até os entrevistados, servirá de canal para especialistas e autoridades. A variedade de vídeos se ampliará neste ano, com a criação de programas transmitidos ao vivo.

O novo design gráfico é de responsabilidade da Cases i Associats, empresa que também redesenhou o jornal. São projetos irmãos, pensados em conjunto para que se completem. O resultado permite dar destaque à apresentação dos infográficos multimídia, animados, um dos sinais de qualidade do estadão.com.br.

Copa e eleições. O ano de 2010 é especial. Tem Copa do Mundo seguida de eleições presidenciais. Em 2008, nos Estados Unidos, o público correu para a rede com objetivo de saber a respeito de um pleito particularmente competitivo. No Brasil, não será diferente. A cobertura de futebol e política terá destaque no novo site – assim como, desde fevereiro, economia tem seu próprio espaço.

Para Silvio Genesini, diretor-presidente do Grupo Estado, a internet tem de oferecer conteúdos múltiplos para um público cada vez mais amplo. Isso permite também um modelo misto de negócios. ‘Um pedaço importante do site deve ser aberto a esse público. E outros pedaços podem ser fechados. Os usuários perceberão o valor diferenciado desses conteúdos fechados e se disporão a pagar quantias não tão altas’, acredita Genesini. ‘Esta tem sido a tendência nas grandes empresas de comunicação do mundo. Claro que nada disso pode ser feito de forma radical ou imposta, isso se dá com testes progressivos. Mas é para esse caminho que estamos seguindo.’’

 

Da política ao esporte, objetivo é sempre incentivar a conversa

‘Uma das ênfases do novo estadão.com.br é no incentivo à conversa. Cada núcleo do site é visto não como uma editoria e sim como uma comunidade. Um ambiente que fornece informação é por natureza um ponto de encontro para quem se interessa pelo assunto. Do Paladar ao Link, da política ao futebol, todo assunto é desculpa para a troca de ideias.

O jornal britânico The Guardian já aplica essa fórmula com sucesso. Lá, equipe de moderadores tem a responsabilidade de acompanhar as discussões com dois objetivos. Primeiro, o de garantir que a conversa seja em termos civilizados, para que todos se sintam à vontade para participar. O segundo, o de estimular.

No Guardian, a qualidade de uma comunidade é dada pelo número de leitores que retornam para interagir e pela frequência com que os jornalistas da casa participam.

Também no estadão.com.br os critérios serão esses. Na área de comentários das matérias ou nos blogs assinados pelos jornalistas, os próprios autores, em conjunto com moderadores, estarão presentes. Ouvir o leitor e responder a ele é instrutivo para ambos. Permite ao jornalista sentir o pulso da nação e, ao leitor, compreender como chega a informação.

Participação. Complementando, os leitores da web ganham, na versão em papel do site, que atende pelo nome O Estado de S. Paulo, espaço na seção de cartas da página 3.

Mas a conversa vai além das caixas de comentários. ‘Ela estará na participação ao vivo em debates promovidos pela TV Estadão e nas redes sociais que jornalistas do Estado já frequentam, como Twitter, Orkut, Facebook e tantas outras que venham a surgir’, afirma Pedro Doria, editor-chefe de Conteúdos Digitais do Grupo Estado. ‘E estará naquela rede social que atende pelo nome vida cotidiana. No café da manhã, no almoço de domingo com a família, na mesa de bar e nas pausas no trabalho, essa relação entre a notícia e a conversa sempre se deu. Se as ferramentas são novas, a vocação é antiga.’’

 

iPad e celulares 3G: jornalismo digital rompe o limite dos sites

‘Dentro do Google, discretamente, funciona um núcleo dedicado a estudar o futuro da imprensa. Richard Gingras, que comandava esse núcleo, baixou em Nova York em 2005 para ajudar a equipe do New York Times a redesenhar seu site. O resultado foi uma mudança radical, um site por um lado perfeitamente integrado aos sistemas de busca, por outro ousado na maneira em que apresenta como multimídia a informação.

O fluxo de informação entre as principais empresas do Vale do Silício e as maiores redações americanas é cada vez mais intenso. Dentre essas conversas estão as que influenciaram a Apple no desenho de seu mais novo produto, o iPad.

O jornalismo digital não está mais confinado a sites na web. Descentralizado na rede, ele se reinventa nos celulares. A expansão dos smartphones se dará rapidamente e essa pode tornar-se uma das plataformas dominantes da imprensa em alguns anos.

Com o lançamento de sua nova versão, o estadão.com.br não faz apenas um alinhamento com a vanguarda tecnológica dos principais veículos de imprensa do mundo. Vai além: inaugura uma fase de transformação permanente. Muitas mudanças estão por vir e é preciso se adequar rapidamente.

Uma dessas, possivelmente, é na maneira como as pessoas encontram informação na rede. Cada vez mais sites dominam a arte de manipular os mecanismos de busca para aparecer mais em cima nas páginas de resultados. A consequência é que sites como o Google têm maiores dificuldades de apresentar respostas úteis a seus usuários.

Nesse mesmo passo, o número de leitores que consultam uns aos outros nas redes sociais em busca de respostas para suas dúvidas aumenta. Pedem recomendações de tudo quanto é tipo e podem, assim, alterar a maneira como a internet funciona.

3G. Some-se esse fenômeno ao barateamento esperado das conexões em banda larga 3G, para celulares e outros apetrechos móveis, e nos depararemos em cinco anos com uma internet radicalmente diferente da de hoje.

Afinal, bom jornalismo se faz com qualidade de informação e estando sempre preparado para o que o futuro apresentar.’

 

Em 135 anos, história e credibilidade

‘São 135 anos de existência e 130 de vida independente. O jornal O Estado de S. Paulo, lançado em 4 de janeiro de 1875 com o nome de A Província de São Paulo, nasceu do ideal de um grupo de republicanos, dois anos após a Convenção de Itu. Apresentava-se como um órgão sem compromisso partidário, apesar das convicções de seus fundadores. A primeira edição do jornal, de quatro páginas, foi impressa à luz de velas de sebo, numa máquina comprada de segunda mão movida pelos músculos de seis negros libertos. Para uma tiragem de 2.025 exemplares, foi necessária quase uma noite de trabalho.

‘A Província, que mudaria de nome em 31 de dezembro de 1889, um mês e meio após a queda da monarquia, inovou o mercado. A começar pela distribuição, quando o francês Bernard Gregoire saía a cavalo pelas ruas da cidade, barrete branco na cabeça, buzina na mão e um maço de jornais debaixo do braço, gritando as notícias. Foi um sucesso nas vendas avulsas, apesar de os concorrentes – Correio Paulistano, Diário de S. Paulo e O Ipiranga – ridicularizarem a imagem do jornaleiro, mais tarde incorporada no ex-libris do Estado.

Em 1888, quando o nome de Julio Mesquita apareceu na primeira página como diretor-gerente, o jornal comemorou a abolição da escravatura, pela qual vinha lutando desde sua fundação. ‘Viva a República’ foi a manchete de 16 de novembro de 1889.

A tiragem, então de 4.800 exemplares, subiu para 8 mil em 1892, quando São Paulo se aproximava dos 150 mil habitantes. A capital começava a se industrializar: contava já com 109 fábricas, que empregavam 5.670 operários. O crescimento e a modernização das indústrias se refletiram na redação e na gráfica do jornal.

Com Julio Mesquita na direção, o jornal inovou a equipe de jornalistas. Euclides da Cunha, que começou assinando uma coluna com o pseudônimo de Proudhon, ao lado de colaboradores como Julia Lopes de Almeida, Raimundo Correia, Aluísio de Azevedo, Raul Pompeia e Alberto de Oliveira, foi enviado como repórter para cobrir a Guerra de Canudos. Escreveu relatos sobre a terra, o homem e a luta no interior da Bahia, que depois desenvolveria nas páginas do clássico Os Sertões. Pelo Estado passaram também Guilherme de Almeida, Mário de Andrade e Monteiro Lobato, o criador de Jeca Tatu, que se lançou como escritor pelas páginas do jornal em novembro de 1914.

Agilidade. As oficinas renovavam suas máquinas e as notícias do exterior chegavam pela agência Havas, atual France Presse, cujos telegramas deram maior agilidade às informações. Durante a 1ª Guerra Mundial, Julio Mesquita escreveu artigos semanais, que seu bisneto, Ruy Mesquita Filho, publicaria em 2000 no livro A Guerra, em quatro volumes. O jornalista analisava o conflito sem disfarçar sua posição favorável aos aliados. Em represália, indústrias alemãs suspenderam seus anúncios no jornal.

Em 1915, outra inovação: a empresa lançou uma edição vespertina, conhecida como Estadinho, que circulou até 1921. Era um jornal irrequieto e às vezes irreverente, cujo diretor era Julio de Mesquita Filho, que estreava como jornalista, enquanto seu irmão, Francisco Mesquita, começava a trabalhar na administração. Com a morte do pai, Julio Mesquita, em 1927, os dois assumiram a direção.

Até a morte dos dois irmãos, em 1969, a empresa passou por uma série de transformações gráficas e modernizou suas instalações. Comprou rotativas modernas e construiu uma nova sede, na Rua Major Quedinho, centro da cidade, depois da devolução à família Mesquita em 1945 do jornal que havia sido ocupado pela ditadura de Getúlio Vargas, em 1940. Os cinco anos de ocupação não são contados na história do Estado.

Após a morte do pai, Julio de Mesquita Neto assumiu a direção do Estado, enquanto Ruy Mesquita continuava à frente do Jornal da Tarde. Luiz Carlos Mesquita, o irmão caçula, dirigia a Rádio Eldorado e a Edição de Esportes, publicada às segundas-feiras, quando o Estado não circulava.

Tanto o Jornal da Tarde quanto a Edição de Esportes representaram uma revolução gráfica na imprensa brasileira. Modernizaram o visual e investiram em reportagens leves e atraentes.

Computadores. As mudanças continuaram ocorrendo nas décadas seguintes, com sucessivas renovações. A chegada dos computadores à redação foi mais uma inovação, ao lado da instalação de novas máquinas de impressão. Reformas gráficas cada vez mais ousadas deram uma nova cara ao jornal, atualizando imagem e texto sem sacrificar a tradição e a credibilidade.’

 

Censura marca a trajetória do jornal em diferentes épocas

‘Conflitos armados e ditaduras sempre foram sinônimo de censura para O Estado de S. Paulo. Isso ocorreu em quatro períodos no século passado, da Revolução Paulista de 1924 ao regime militar de 1964, passando pela Revolução Constitucionalista de 1932 e pelos sete anos do golpe do Estado Novo, de 1937. A exceção viria depois, em julho do ano passado, quando o desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, proibiu que o jornal publicasse informações sobre investigações feitas pela Polícia Federal sobre atividades do empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney. O Estado interpretou a decisão como censura prévia.

Na revolta dos paulistas contra o presidente Artur Bernardes, em 1924, o jornal foi censurado pelas duas partes em guerra – primeiro pelas tropas rebeldes do general Isidoro Dias Lopes que controlavam São Paulo e, depois, pelas forças vitoriosas do governo. Julio Mesquita foi preso e enviado para o Rio, então capital da República. Em 1932, seus filhos e sucessores na direção do Estado, Julio de Mesquita Filho e Francisco Mesquita, foram detidos e mandados para o exílio em Portugal, após a derrota das tropas paulistas que lutaram por uma nova Constituição.

O Estado viveu um período de trégua entre 1934 e 1937, na administração do governador Armando de Salles Oliveira, que encarregou Julio de Mesquita Filho, seu cunhado, de coordenar a criação da Universidade de São Paulo (USP).

A trégua durou pouco. Com o golpe do Estado Novo, voltou a censura. Julio de Mesquita Filho foi preso 17 vezes, entre novembro de 1937 e novembro de 1938, quando foi exilado para a França. Às vésperas da 2ª Guerra, ele foi para a Argentina.

Com a devolução do Estado, que passou mais de cinco anos sob ocupação da ditadura, de março de 1940 a dezembro de 1945, a empresa viveu um período de grande prosperidade. Os negócios se expandiram com a fundação da Rádio Eldorado em 1954 e do Jornal da Tarde em 1966. Mais tarde, surgiriam a Agência Estado (1970), a Oesp Mídia (1984), a Oesp Gráfica (1988), a AE Broadcast (1991) e o portal estadao.com.br (2000). Em junho de 1976, a empresa se mudou para a sede atual, no Limão, zona norte de São Paulo.

Receitas e poemas. A censura voltou com o Ato Institucional n.º 5, em dezembro de 1968. Agentes da polícia instalaram-se na redação e, depois, nas oficinas, para cortar textos, fotos e ilustrações. Julio de Mesquita Neto e Ruy Mesquita, que sucederam ao pai em 1969 (o irmão deles, Luiz Carlos Mesquita, morreu em 1970), resistiram à arbitrariedade, recusando-se a substituir o material proibido. Publicaram poemas (Estado) e receitas de bolo (Jornal da Tarde) para preencher o vazio. A censura acabou em 3 de janeiro de 1975, na véspera da comemoração do centenário do Estado. A repressão trouxe também ameaças, prisões e torturas de jornalistas dos dois jornais.’

 

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