Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O poder das charges políticas

Em sua coluna de domingo [28/9/08], a ombudsman do Washington Post, Deborah Howell, escreveu sobre os cartunistas políticos que destilam suas opiniões por meio da arte. Suas charges causam reações fortes – quando agradam e quando desagradam.

Um cartum divulgado no sítio do Post no dia 9/9, de autoria de Pat Oliphant, gerou uma enxurrada de e-mails furiosos – 750 mensagens de todo o país, ultrapassando o número de e-mails enviados sobre a crise financeira. O desenho mostrava a candidata republicana à vice-presidência, Sarah Palin, falando ao telefone de maneira incompreensível; John McCain aparece ao lado dela, explicando que a governadora do Alasca é pentecostal e que só Deus entende o que ela diz. Deus, por fim, aparece com o telefone na mão dizendo a São Pedro que não está entendendo nada. ‘Pedro, o que tem de errado com este telefone? Tudo o que consigo ouvir é uma política de extrema-direita declamando palavras inarticuladas’, reclama. ‘Não posso dizer que estou surpreso, senhor’, responde o santo.

Desafiar a ordem

Muitos dos leitores que escreveram ao Post eram pentecostais, mas havia também e-mails de cristãos e até de um budista. Todos consideraram que a charge satirizava – além de Sarah – todos os pentecostais. O australiano Oliphant, de 73 anos, é considerado um dos melhores cartunistas políticos dos EUA. ‘O objetivo do cartum é chamar atenção para situações com as quais não concordamos. Isto me mantém vivo’, diz ele, que é liberal. ‘A charge deve desafiar o status quo‘.

Para Jack Ohman, cartunista editorial do Oregonian, chargistas são ‘iconoclastas’. ‘Os chargistas desconfiam de todos no poder e de instituições poderosas. Temos a obrigação de ser compreensíveis, mas não de ser justos’, resume. É o que também pensa Tom Toles, cartunista do Post. ‘Não espero que os leitores vejam meu trabalho como justo’.

Liberdade de expressão

Muitos do que reclamaram da charge de Oliphant pensaram que ela havia sido publicada também na versão impressa do jornal – o que não ocorreu. É política do Post não publicar cartuns que possam difamar ou perpetuar estereótipos religiosos, raciais ou étnicos – por esta razão, o diário também não publicou as polêmicas charges dinamarquesas do profeta Maomé.

Já a versão online é diferente, pois os cartuns que são de agências – Oliphant é sindicalizado – são automaticamente adicionados ao sítio. ‘Sempre achei que não devemos limitar a liberdade de expressão dos cartunistas. Preferimos apresentar as charges e permitir que os leitores escolham se pronunciar caso se sintam ofendidos’, afirma o editor do sítio, Jim Brady.