Tuesday, 16 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Ombudsman relata semana agitada

Em sua coluna de domingo [26/10/08], a ombudsman do Washington Post, Deborah Howell, conta que teve uma semana agitada: apoio político, fotos erradas e um boato sobre um suposto colunista geraram toneladas de mensagens e reclamações de leitores.

O apoio

Em editorial publicado no dia 17/10, o Post declarou seu apoio ao candidato presidencial Barack Obama – o que levou ao cancelamento de mais de 240 assinaturas. Não é incomum que haja cancelamento de assinaturas após o apoio público a determinado candidato, diz Deborah, e aqueles que encerraram as assinaturas provavelmente apoiavam o republicano John McCain.

Além dos cancelamentos, houve também muitas mensagens: alguns leitores defendem que o Post não deveria apoiar nenhum candidato; outros alegaram que há muitos anos o jornal não apoiava ninguém; houve quem perguntasse se os republicanos já foram alguma vez apoiados; e, por fim, teve quem sentisse que o apoio oficial do diário corrobora a crença de que o Post é liberal em sua cobertura. Deborah pôs-se a responder: é algo lógico que o jornal apóie candidatos, já que costuma publicar opiniões institucionais sobre temas importantes; em sua história recente, o Post apoiou apenas democratas em eleições presidenciais, sendo que, em 1988, na disputa entre George HW Bush e Michael Dukakis, não apoiou ninguém; membros do conselho editorial, como o cartunista Tom Toles e o editor Fred Hiatt, já apoiaram diversos candidatos republicanos em eleições locais.

Sobre a suposta inclinação democrata, a ombudsman lembra que o Post tem apoiado a posição de McCain sobre a guerra no Iraque e algumas iniciativas passadas do senador, incluindo a reforma de financiamento de campanha. Ela diz, entretanto, ter ficado claro que o jornal não apoiaria formalmente o candidato republicano em um editorial no fim de agosto questionando a escolha de Sarah Palin como candidata à vice-presidência.

Em seus três anos no cargo, Deborah diz que não encontrou sinais de interferência entre as páginas de notícias e as de opinião. ‘A decisão do conselho editorial não interfere na cobertura jornalística’, defende. Leonard Downie Jr, que acaba de deixar o posto de editor-executivo do Post, era conhecido por não ler os editoriais; um sistema de computador evita que a redação tenha acesso ao trabalho da equipe das páginas de opinião.

O boato

Há pouco mais de uma semana, a ombudsman começou a receber e-mails questionando se ‘Dale Lindsborg’ era jornalista do Post. Alguns leitores chegaram até a enviar uma suposta ‘coluna’ que ele teria escrito no jornal – criticando a participação de Barack Obama no programa televisivo Meet the Press. Na verdade, diz Deborah, não existe nenhum Dale Lindsborg no Post; o tal texto que circulou na internet – dizendo que Obama não gostava do hino nacional, havia participado de cerimônias em que bandeiras dos EUA foram queimadas e era a favor do desarmamento – tratou-se de um artigo falso. ‘Deveria o Post ter escrito sobre o caso?’, questiona Deborah, concluindo que tratava-se de uma decisão arriscada, pois poderia ampliar ainda mais o alcance do artigo de mentira.

A foto

Na semana passada, o diário publicou uma foto que mostrava os atores Mel Brooks e Alan Alda, junto com Jack Valenti, ex-presidente da Motion Picture Association of America, em cerimônia de gala da National Italian American Foundation. Detalhe: Valenti morreu em 2007. Alguns leitores, incluindo o âncora Sam Donaldson, perguntaram como um erro deste tipo pôde ter acontecido.

Deborah explica: um diagramador escolheu três fotos no banco de dados do diário e não notou que uma era de dois anos atrás. Um editor escreveu a legenda, também não observando o erro, e um revisor deixou passar a gafe. ‘Estou passada com isto. Obviamente, foi um erro terrível – que eu percebi assim que peguei o jornal’, contou a jornalista Amy Argetsinger, autora da matéria. ‘Além do fato de Valenti estar morto, não mencionei Alda nem Brooks no texto’.