Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Os EUA, o Islã e a imprensa

A coluna de 5/12/04 do ombudsman do Washington Post, Michael Getler, chama atenção para uma notícia importante que não saiu nas páginas do jornal. Trata-se de um relatório de 102 páginas produzido pelo Defense Science Board, comitê governamental formado por cientistas, intelectuais e representantes do setor privado para aconselhar a secretaria da Defesa, chamado ‘Comunicações Estratégicas’, que não foi tornado público até que o New York Times fizesse referência a ele no dia 24/11.

O ombudsman ressalta que, em meio à ladainha burocrática, o documento levanta questões, em sua opinião, cruciais para o debate sobre a intervenção militar americana no Oriente Médio, que não têm sido abordadas com a devida profundidade pela mídia. Contundente, o relatório conclui que o esforço americano para separar ‘a vasta maioria de muçulmanos não-violentos dos militantes radicais não só falhou como provocou o oposto do que pretendia’.

Estes são alguns pontos destacados por Getler dentre as observações do comitê:

** ‘A intervenção direta americana no mundo islâmico, paradoxalmente, aumentou a estatura e o apoio dos radicais islâmicos, diminuindo o apoio aos EUA a níveis irrisórios em certas sociedades árabes’.

** ‘Os muçulmanos não odeiam a ‘liberdade americana’, mas odeiam suas políticas. A maioria deles faz objeção ao que considera ser uma política unilateral a favor de Israel e contra os direitos palestinos, e ao histórico e crescente apoio ao que os muçulmanos vêem como tiranias, mais notadamente no Egito, Arábia Saudita, Jordânia, Paquistão e os estados do Golfo’.

** ‘Desde o 11 de setembro de 2001, ‘as ações americanas e o transcorrer dos acontecimentos elevaram a autoridade dos insurgentes da jihad, ratificando sua legitimidade entre os muçulmanos’. O que antes era uma rede marginal, diz o relatório, é agora ‘um movimento de grupos guerrilheiros’ de alcance comunitário’.

** ‘‘Os muçulmanos’, diz o comitê, ‘vêem os americanos como estranhamente narcisistas – ou seja, que acreditam que a guerra tenha a ver só com eles, sendo nada mais que uma extensão de suas políticas domésticas e seu grande jogo’. O ponto crítico para a diplomacia pública americana, conclui a seção, é ‘um fundamental problema de credibilidade’. ‘Simplesmente não há nenhuma – os EUA hoje não têm um canal de comunicação operante com o mundo dos muçulmanos e do Islã’’.