Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Osvaldo Martins

‘Cumpridos dois anos de mandato, este é o último comentário do ombudsman. Foram 24 meses de uma experiência pioneira da TV Cultura que, espero, tenha continuidade na emissora e sirva de estímulo às suas congêneres a adotarem semelhante iniciativa. Cá para nós, a probabilidade de outras emissoras de TV criarem também a função de ombudsman me parece remota. Um ombudsman seria um incômodo para elas, posto que a imprensa em geral detesta ser criticada; pagar para isso, então, nem pensar. Basta ver que, depois do advento da figura do ombudsman na Folha de S. Paulo, em 1989, nenhum outro grande jornal brasileiro seguiu o exemplo.

Na TV Cultura, a experiência permitiu dois avanços interessantes. Primeiro, o de abrir uma interlocução com o seu público. Nada mais adequado, em uma televisão pública, que ouvir e dar voz ao seu telespectador. Em segundo lugar, as observações do público e as do próprio ombudsman podem ter contribuído para melhorar alguma coisa na programação de jornalismo da emissora.

O jornalismo, aliás, foi o último setor a sofrer modificações nestes dois anos. Os resultados positivos da mudança de comando aos poucos começam a aparecer, pelo menos no que diz respeito à disposição para o trabalho – o que não é pouco. Parece finalmente extinto na Cultura o ambiente de repartição pública, a mais grave ameaça que uma TV pública pode sofrer.

Nesta despedida, quero registrar com ênfase um fato que me parece relevante. Ao longo destes dois anos, jamais a diretoria da Cultura dirigiu uma única palavra, um gesto, nem mesmo uma leve insinuação, na direção de inibir a liberdade de expressão do ombudsman. Sei que intervenções de direções com opiniões e interesses contrariados não são raras pelo mundo a fora. Constatei isso em meu convívio com a ONO, a organização mundial de ombudsmans, e pude verificar quanto a independência é importante para o exercício dessa função.

A conduta da direção da Cultura honra uma tradição da casa, permanentemente vigiada pelo Conselho Curador, de respeito ao pluralismo que está na base das instituições democráticas. É muito bom que seja assim, e assim permaneça.’