Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Paulo Rogério

‘Se faço ficção, posso inventar o que quiser. Se faço jornalismo, não posso. Devo ater-me aos fatos. Ricardo Noblat, jornalista

No jornalismo, chamamos de ‘barriga’ a publicação de um fato falso, um grave erro de informação. Foi isso o que aconteceu na edição da última terça-feira (2) quando O POVO deu como manchete do jornal ‘Enem – UFC abre 100% das vagas para todo Brasil’. Na chamada e na matéria interna, na página 10 (Fortaleza), a notícia era de que, com o Enem, os estudantes cearenses não teriam cota reservada nas 6 mil vagas que seriam ofertadas nacionalmente pela Universidade Federal do Ceará, o que poderia gerar turmas só com estudantes de fora.

O problema é que a UFC nunca teve qualquer tipo de cota e a seleção & vestibular – sempre teve caráter nacional, como manda a lei. Tudo não passava de ficção, fruto de uma apuração errada. O professor Barros Neto, diretor do Centro de Tecnologia da UFC, disse que o fato gerou intranquilidade. ‘A manchete do jornal soava alarmista’ protestou.

Detectado o erro, no dia seguinte foi publicada matéria, em manchete de página interna, admitindo a falha e corrigindo a informação. Mesmo com a atitude correta de reconhecer o equívoco, o jornal perde em credibilidade por pura falta de atenção. ‘O erro na apuração foi grave e o núcleo Cotidiano promete ficar cada vez mais atento’ afirmou a editora executiva do núcleo, a jornalista Tânia Alves, responsável pelas editorias Fortaleza, Ceará, Gol e Ciências & Saúde. E deve. Informação correta é o mínimo que o leitor espera encontrar em um jornal.

Gramática atropelada

Pior que uma informação errada são os constantes erros de português no jornal. A manchete da edição de segunda-feira (1) ‘Cresce (sic) 58% homicídios praticados por jovens’ foi motivo de várias criticas dos leitores pelo erro de concordância – o correto é ‘Crescem 58% homicídios praticados por jovens’. ‘Um jornal do porte do O POVO não pode mostrar um erro desse.’ desabafou, logo cedo, um leitor que não quis se identificar. Márcio Silva lamentou o fato relembrando outros erros diários. ‘É profundamente lamentável!’. Ambos cobram a presença da figura do revisor.

A chefia de Redação lamentou o ocorrido. ‘Sabemos o quanto o nosso leitor é cioso pela qualidade. Por isso mesmo, o assunto é debatido com toda a honestidade em nossos processos internos’ afirmou. De fato, há cursos sistemáticos para os jornalistas e uso de ferramentas especiais por parte dos editores, porém a volta do revisor não está prevista. ‘Ainda que a gente saiba que não existe jornal sem erro, a nossa meta é reduzi-lo ao mínimo. No momento, porém, a opção é pelo investimento em nossos profissionais’ explicou a chefia.

Palavrões republicados

As escolas costumam utilizar o jornal como ferramenta de trabalho nas salas de aula. O POVO até incentiva este tipo de atividade através do projeto ‘O POVO na Educação’. Mas na edição de terça-feira (2), a editoria Brasil esqueceu o fato na matéria ‘Livro escolar com palavrões vira polêmica’, manchete da página 29, ao republicar os palavrões questionados por pais e educadores no Mato Grosso do Sul.

Não vou repetir o mesmo erro, reproduzindo os tais palavrões. Mas é hora do jornal repensar o uso de uma linguagem chula em suas páginas, totalmente fora da norma culta. Em livros, pode até ser considerado normal. Porém, em um jornal, com acesso livre a crianças e idosos, soa como desrespeito.

Promessa cumprida

Conforme foi prometido na minha primeira coluna, segue o balanço dos dois primeiros meses de atividade do ombudsman. O período de análise vai de oito de janeiro até a última sexta-feira, dia cinco de março, exatos 57 dias. Durante este tempo foram recebidas 151 ligações, média de 2,64 por dia. Os e-mails atingiram a média de 1,84.

A maioria dos comentários se refere a erros de abordagem nas matérias. A seguir estão erros de português e de digitação, problemas com o Portal – comentários e implantação do RAP10 – e falhas na Central de Atendimento. Já os assuntos mais criticados foram a cobertura do Caso Alanis e da pesquisa apontando falta dos professores. Elogios são esporádicos. Quando surgem, são para matérias pontuais sobre segurança e trânsito. O ombudsman participou ainda do Seminário Ouvidoria e Comunidade: Vencendo a Distância e da primeira reunião do Conselho de Leitores do O POVO.’