Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Paulo Machado

‘O leitor Mauricio Cardoso escreveu para esta Ouvidoria após ler a matéria Grandes jornais e revistas reproduzem posições contrárias a ações afirmativas para negros, publicada dia 20 de novembro: `Não sei se a falha é da pesquisa ou da matéria, mas me esclareçam uma coisa: se 22% das matérias publicadas nos jornais são contra as politicas afirmativas de política racial e 15% são a favor, o que acontece com as restantes 63%, que por sinal são a maioria e, consequentemente, devem determinar a posição dos jornais em relação à causa. A mesma falha de raciocínio ocorre em relação às revistas. Eu, francamente, não entendi. Se vocês entenderam, me expliquem.`

A Agência Brasil respondeu que: `Os percentuais de 22% e 15% se referem somente às políticas de reparação. A pesquisa tratou de `cotas nas universidades, reconhecimento de direitos quilombolas, ações afirmativas, Estatuto da Igualdade Racial, diversidade racial e religiões de matriz africana`. Esses temas (e não apenas as políticas de reparação) é que representam os 100% do objeto da pesquisa.`

A referida matéria tratou da maneira como jornais e revistas de grande circulação cobrem as ações e o debate de assuntos relativos ao combate à desigualdade racial e foi baseada na análise feita pelo professor Venício Lima publicada em sua coluna no site da Agência Carta Maior, dia 17 de novembro, sob o título A grande mídia e a desigualdade racial (*).

Ao contrário do que supostamente pensou o leitor, o universo da pesquisa não tratava apenas de posições da mídia contra ou a favor das politicas afirmativas de igualdade racial, apesar de ser essa uma das possíveis interpretações da maneira como a informação foi passada pela matéria da ABr. A resposta da Agência se referiu a isso mas não esclareceu que as estatísticas foram tiradas de um gráfico, presente na matéria do pesquisador, e omitido na matéria da ABr. Daí decorre a dificuldade dos leitores em compreender o universo e as porcentagens apresentadas.

No gráfico, cujo título é Frequência das Construções de Sentido Agrupadas (%) os percentuais se referem aos assuntos observados e suas abordagens pelos jornais pesquisados (Folha de S.Paulo, O Estado de São Paulo e O Globo). A pesquisa provavelmente cruzou e agrupou mais de uma informação para chegar aos números a que chegou. Ou seja, trata-se de uma avaliação quantitativa e ao mesmo tempo qualitativa das abordagens sobre os dez assuntos mais importantes da questão da igualdade racial. Do universo de 100% das reportagens e/ou artigos opinativos analisados: 22% delas trataram de politicas afirmativas com posições editoriais contrárias a elas, 16,6% debateram o racismo, 15,8 % trataram de ações afirmativas em curso, 15% tiveram uma abordagem favorável às politicas afirmativas, 10,8% trataram da cultura e da religião, 7,4% abordaram reivindicações de direitos, 6,6% de entraves às ações afirmativas, em 2,2% delas o foco foi a SEPPIR, 1,7% diziam que as ações afirmativas precisam de mais debate e 1,2% foram sobre a Conferência de Durban.

Como o próprio nome do gráfico salienta, os dados procuram refletir como os jornais (ou revistas retratadas em outro gráfico) constroem o sentido da informação segundo as posições politicas e ideológicas que defendem de maneira velada ou explícita em artigos opinativos e reportagens. Portanto, para entender essas estatísticas e compreender os gráficos ilustrativos o leitor precisa de informações de como os dados foram coletados, o que procuraram medir e qual a metodologia empregada. Se visualizando os gráficos, a sua leitura e compreensão são bastante difíceis, na matéria da Agência, sem os gráficos, esse entendimento e essa compreensão são quase impossíveis.

Até a próxima semana.

(*) – matéria original em: http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=4475′