Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Paulo Machado

‘A Agência Brasil vem realizando uma série de entrevistas com os governadores empossados há quatro meses retratando ‘os desafios que terão de enfrentar em 2011, como estão trabalhando para resolver os problemas encontrados, as prioridades estabelecidas e as metas a serem cumpridas para os próximos quatro anos.’


Nas 11 entrevistas publicadas até o momento (20/04), há uma certa padronização quanto aos assuntos abordados, o que sugere a existência de um roteiro básico com pequenas variações tratando de alguns aspectos específicos e de fatos recentes que ganharam destaque na mídia nacional como, por exemplo, o caso das revoltas de trabalhadores na construção de usinas hidrelétricas em Rondônia e da violência policial contra um adolescente no Amazonas.


Apesar de fornecer uma visão panorâmica e bastante geral da situação administrativa dos estados, o formato de entrevista, adotado pela ABr, não permite contrapontos ou contestação a partir de outras visões que não a dos próprios mandatários. Restou, portanto somente à reportagem, o papel de aprofundar certas questões para tentar aproximar as respostas da realidade vivida pela população.


Para leitora Marta Silva ‘na matéria com o governador de Roraima, Anchieta Júnior, a Agência Brasil poderia ter atentado à realidade e não ao quadro de mil maravilhas pintado pelo chefe do Executivo. Vou dar exemplos da calamidade em que a saúde se encontra: esta semana uma idosa morreu menos de 24h após ser operada da perna errada no HGR. Uma parturiente recebeu alta da maternidade com gaze na vagina. Descobriu 14 dias depois, devido a uma forte infecção. Há um escândalo de desvio de R$ 30 milhões na saúde. O presidente do CRM e o Ministério Público dizem que a saúde pública do Estado está uma calamidade. Nem vou falar das estradas intransitáveis, da péssima qualidade da educação, das escolas literalmente caindo na cabeça dos alunos e do caos na segurança pública. Os policiais civis fizeram paralisação esta semana e executam uma ‘operação tartaruga’. Até os telefones das delegacias estão cortados por falta de pagamento.’


Quanto às ‘metas a serem cumpridas para os próximos quatro anos’, como propõe a resenha inicial da série, faltou a ABr fornecer quais são os indicadores básicos para cada área de atuação e como andam os índices atuais, absolutos e relativos, por estado, permitindo uma comparação entre os diversos estados da Federação.


Na área da saúde, por exemplo, os indicadores para se avaliar a qualidade dos serviços da Organização Mundial de Saúde – OMS, serviriam de parâmetro e de referência para os leitores saberem se os problemas diagnosticados e as soluções propostas pelos executivos estão ou não de acordo com a realidade da saúde pública de seus estados. Funcionariam como um contraponto ao diagnóstico dos governantes.


Metas para políticas públicas são referenciadas obrigatoriamente por indicadores, sem eles, fica apenas o discurso genérico de boas intenções, portanto impossível de verificação futura.


O leitor German La Forge contestou certas informações adicionadas pela ABr à entrevista com o governador do Amapá: ‘…Ao falar que o governador Camilo Capiberibe é filho de senador, não contextualiza que o sr. João Capiberibe ainda não assumiu e que teve o mandato cassado por compra de votos. Em outro trecho diz que o prefeito Roberto Góes é sobrinho do ex-governador Waldez Góes, o que não é verdade e que ele é apoiado pelo senador José Sarney. Roberto é do PDT e Sarney do PMDB. O partido não participa da gestão municipal não tendo em nenhum cargo na prefeitura membros do PMDB amapaense. Depois afirma que o ministro Edison Lobão é inimigo de Camilo porque é indicação de Sarney. Uma contextualização desnecessária e errônea. Nem ouviu o ministro e não colocou que a estatal de energia amapaense deve mais de 1 bilhão de reais.’


A Agência Brasil respondeu ao leitor: ‘Agradecemos a mensagem do leitor. As correções pertinentes foram feitas. Não temos reparo a fazer ao conteúdo da entrevista, mesmo com as observações de juízo de valor feitas pelo leitor. O governador foi convidado a falar à Agência Brasil sobre os desafios que terá à frente da administração do Amapá.’


A ABr não corrigiu a informação sobre o parentesco entre Roberto Góes o ex-governador Waldez Góes – na verdade ambos são primos. Quanto à dívida do estado com a Eletronorte, ela é citada logo no começo da entrevista. As relações políticas entre o senador José Sarney, a família Capeberibe e o Ministro Edison Lobão foram reproduzidas na matéria Governador diz temer apagão energético no Amapá, publicada dia 16 de março, logo após a entrevista com o governador, onde a ABr afirma ter procurado o Ministro, mas ele se negou a comentar as declarações.


Embora haja referências em outras entrevistas às insatisfações dos governadores de estados com a atuação do governo federal ou de alguns ministérios, a entrevista com o governador do Amapá é a única que envolve personalidades e aponta alianças políticas.


Talvez seja útil para os leitores se a ABr aprofundar este tipo de balanço sob a ótica de organizações da sociedade civil e de especialistas em políticas públicas além, é claro, da própria população, permitindo assim que se forme um quadro mais realista da situação neste início de governo. A interatividade com os leitores por meio de espaços virtuais de participação poderia proporcionar uma rica coleta de depoimentos subsidiando o debate e diversificando os pontos de vista sobre os desafios a serem enfrentados. Esta foi uma sugestão apresentada a Ouvidoria esta semana por Almanakut Brasil: ‘Isso não é um portal mantido com o dinheiro público? Por que o povo não pode comentar?’


Até a próxima semana.’