Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Paulo Rogério

‘O debate não é luta de boxe’, José Roberto de Toledo, jornalista

Entramos praticamente nos momentos finais da campanha das Eleições 2010. No rádio e na TV, o horário eleitoral termina dia 30 de setembro, quando fica proibida também a realização de reuniões públicas, comícios e debates. As pesquisas indicam tendência de definição dos vencedores tanto na sucessão estadual como na presidencial. Para o jornalismo, entretanto, nada ainda está decidido. Serão pouco mais de 30 dias para tentar levar ao leitor matérias atrativas, pautas que ainda possam acrescentar algo para ajudar na escolha do eleitor. Até o momento o que mais se tem lido é o palavreado dos candidatos, a troca de bravatas e um clima de constante guerra, aliás, com incentivo da mídia. É preciso destacar, no entanto, a boa matéria feita pelo O POVO, domingo passado, 22, na editoria Política com o título: ‘Você sabe o que pensa o seu candidato?’ Perguntas com temas diferentes – considerados polêmicos – foram enviadas aos candidatos ao governo estadual. Cada um teve assim oportunidade de mostrar, no mesmo espaço, o que pretende fazer sobre segurança, saúde e educação, entre outros, se forem eleitos. Uma ideia simples, antiga até e de fácil assimilação para o leitor.

Embate ou debate?

Outro bom momento da semana foi o debate entre governadores na TV O POVO, o primeiro realizado pela emissora. Apesar das rígidas regras que envolvem esse tipo de programa, o destaque na cobertura ficou pela interatividade proporcionada pelo O POVO Online. Já o jornal seguiu o tom do ‘clima quente’ esquecendo o prometido confronto de ideias. Os candidatos viraram gladiadores. O mais valentão e brigão vencia. O abre da matéria deu a pista: ‘.. Cid não se intimidou com os constantes ataques e partiu para cima dos adversários’. Isso é debate ou um jogo? Das duas páginas sobre o assunto, apenas uma pequena matéria, de quatro parágrafos falou de alguma proposta. No caso a criação de vales, no bom estilo Bolsa Família. As demais foram sobre desafios, provocações e postura agressiva, terminando com um ‘clima esquentou’. Bom jornalismo mesmo, e que se originou do próprio debate da TV O POVO, foi publicado na edição do dia 25. O jornal confrontou os dados referentes à geração de emprego apresentado pelo governador Cid Gomes e contestado pelo candidato Marcos Cals em uma das poucas discussões ‘proveitosas’ da noite. O POVO conseguiu mostrar, baseado em dados oficiais, quem estava certo – no caso, o primeiro.

Faltou o guia

O estacionamento em frente a estabelecimentos comerciais em Fortaleza foi tema de uma série de reportagem publicada dias 23 e 24 de agosto, na editoria Fortaleza. Durante os dois dias O POVO discutiu o tema, mostrando casos de uso irregular do espaço público, de privatização de calçadas e a criação de normas que, por lei, não existem. Uma matéria de serviço para o cidadão. Alguns flagrantes de bons e maus exemplos foram mostrados, pena que de forma tímida – apenas quatro fotos. Poderia ter ousado mais com imagens, por exemplo, de casos certos e errados. No quesito direito do consumidor, ouviu o Decon, OAB e um arquiteto dando ideias para melhor ordenamento. Ajudaria bem mais ao leitor se tivesse publicado um guia prático de como agir em caso de furto, acidente ou cobrança indevida nestes locais. Quem chamar nestas horas? O que fazer se encontrar cone ou correntes no estacionamento? Essas perguntas ficaram sem respostas.

Interesse afetado

Uma das fotos usadas mostrou carros estacionados na calçada da rua Padre Anchieta, no bairro São Gerardo, em frente a várias lojas. O dono de uma delas, Ubirajara Fonseca, não gostou. Alegando que tem alvará de estacionamento no local há 13 anos pediu reparação. ‘É porque a construção é muito antiga’ alegou. A repórter Larissa Lima, autora da série, entrou em contato com a Secretaria Executiva Regional I que confirmou a irregularidade e a notificação aos proprietários após a matéria. A AMC avisou que quem parar lá será multado. O leitor confirmou o recebimento da notificação. ‘A reportagem foi a mando de quem?’, indagou, desconfiado. Ele disse que vai atrás de uma solução com um amigo, candidato a deputado.

Leitor desconfiado

Quando uma matéria se preocupa em prestar um serviço ao leitor a atenção precisa ser redobrada. Não é o que aconteceu com a série sobre a opereta Valsa Proibida, que estreou na última sexta-feira em comemoração aos 100 anos do Theatro José de Alencar. ‘Você acha que pode ser boicote?’, questionou o leitor Francisco Dantas diante dos erros com relação às datas do evento. O primeiro deles na página 3 do caderno People de domingo, dia 22. A colunista Sônia Pinheiro informou que peça seria apresentada somente dias 27, 28 e 29 de agosto, quando também estão programadas três outras apresentações no próximo fim de semana.

Depois, quando de segunda a quinta-feira, o Vida & Arte publicou série de matérias sobre opereta informando que a mesma estaria em cartaz dias 4, 5 e 6 de setembro.’Se eu for, vai estar tudo fechado’ desabafou Dantas. Vai sim, dia 6 é segunda-feira e as apresentações ocorrem sexta, sábado e domingo. Ou seja, dias 3, 4 e 5. A correção saiu sexta-feira. O leitor, que depois se identificou como pai de Franklin Dantas, cantor da opereta que atuará nestes três últimos dias, agradeceu correção e descartou boicote.

Esquecido pela mídia: Heliponto do Instituto José Frota será entregue quando?’