Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Plínio Bortolotti

‘Recebi um longo e-mail da psicóloga e psicanalista Sabrina Matos com o título reproduzido acima. Ela fez um percuciente levantamento de uma edição de domingo do O Povo e chegou à seguinte conclusão, observando cada uma das editorias do jornal: ‘No total de 44 colunas e/ou artigos, 36 são opiniões masculinas, significando 81,8%. Somente oito são opiniões femininas, ou seja, 18,1%. Trata-se de diferença muito grande e que pode sugerir muitas questões. A questão básica é: por que tal fato ocorre? Foi exatamente o que fiquei pensando. Será que as mulheres não gostam de escrever? Será que o jornal privilegia o olhar masculino? Existe maior número de profissionais jornalistas homens? Existe alguma estatística com relação ao percentual de homens e de mulheres que enviam artigos para o jornal e os que são de fato publicados?’ (O levantamento pode ser considerado representativo do que acontece em todas as edições do jornal.)

Algumas perguntas podem ser respondidas objetivamente, outras não. Vamos às mais fáceis. Dos profissionais que trabalham na Redação do O Povo, 68% são homens e 32% são mulheres. A Redação tem três níveis de chefia: 1) direção da Redação; 2) editores executivos e 3) editores adjuntos. Dos três principais cargos da Redação, dois são ocupados por homens (os diretores de Redação Carlos Ely e Arlen Medina) e o outro por uma mulher: a editora chefe Fátima Sudário. Dos editores executivos, cinco são homens e três mulheres; entre os adjuntos, há oito homens e sete mulheres. Quanto aos articulistas, há dois tipos: os fixos, convidados pelo jornal, escrevendo semanalmente ou quinzenalmente (com predominância dos homens) e os eventuais – leitores que enviam artigos para publicação na editoria de Opinião. Não há estatística sobre a quantidade de textos que a editoria recebe, mas, segundo o editor Valdemar Menezes, a maioria dos que mandam colaborações espontâneas são homens.

Os argumentos

Para estimular o debate falei com alguns editores. Vejam o que eles dizem sobre o assunto.

Para a editora chefe, Fátima Sudário, o que acontece nas páginas do O Povo ‘muito provavelmente reflete as relações sociais mais amplas, que se reproduzem na redação de um jornal’. Para ela, levantamento em outros veículos de comunicação, possivelmente, mostrará a mesma realidade. Mas não é por isso que Fátima se entrega. Ela diz ter conversas freqüentes com os editores sobre a necessidade da ‘presença mais marcante do olhar feminino’, ressalvando: ‘É um processo a ser feito sem ansiedade’. Fátima diz que ‘o jornal tem compromisso de trazer a pluralidade de olhares para suas páginas: homens, mulheres, jovens, minorias. É um desafio, mas tudo muito possível’.

Marcos Tardin, editor executivo do Núcleo de Negócios (Economia, Turismo, Tecnologia e Veículos) diz que ‘num primeiro momento’ também teria ‘mais perguntas do que respostas’. Para ele, o assunto ‘não é muito estimulante’, mas continua: ‘Não temos, no Núcleo de Negócios nenhum direcionamento para privilegiar o ponto de vista masculino, até porque seria de uma profunda idiotice. Sempre que possível – e pertinente, é óbvio – fico feliz em valorizar a presença feminina nas páginas de caderno. Se for bonita, então, o prazer é dobrado’. Por que as mulheres aparecem menos nas páginas do jornal?, pergunta Tardin. Ele mesmo responde: ‘Sei lá. Talvez porque elas se exponham menos, talvez porque ocupem menos cargos de liderança nas empresas que ouvimos, talvez porque prefiram ler a escrever, talvez porque tenham se acostumado a ver maior presença masculina na mídia’. O editor termina a sua argumentação com um apelo: ‘Eu também gostaria muito de ver as mulheres mais presentes nas páginas do jornal. Se você (o ombudsman) tem alguma boa sugestão, por favor, me procure’.

O editor do Núcleo de Conjuntura (Política, Brasil e Mundo), Erick Guimarães, acha ‘muito interessante’ o levantamento feito pela leitora. ‘Apesar de muito discutida, não é uma questão fácil de resolver. Temos dificuldade enorme de romper com o círculo tradicional de fontes e incluir mulheres na pauta. No meio político, os agentes são preponderantemente masculinos’. Mesmo quando se trata de analistas e cientistas políticos, Erick diz encontrar dificuldades: ‘Puxe de memória os analistas políticos e você verá a preponderância masculina – ainda que o número de mulheres com reconhecimento na academia esteja aumentando’. Erick afirma estar tentando ampliar o espaço das mulheres nas páginas da editoria, ‘mas não tem sido fácil’.

Regina Ribeiro, editora executiva do Núcleo de Comportamento & Cultura (Vida & Arte, Guia Vida & Arte e Clubinho), vê um aspecto histórico e cultural: ‘Os jornais nasceram no Brasil com os homens, para os homens e pelos homens. Isso porque a imprensa era a extensão da disputa e crítica do poder vigente, que tinha os homens como personagens principais’. Para ela, o jornalismo na TV ‘foi muito mais rápido quando começou a escalar mulheres para `domar´ assuntos considerados importantes, como economia, política e esportes’, enquanto, nos jornais impressos, ‘isso continua sendo assunto de homem’. Para Regina, a menor presença feminina nas páginas dos jornais ‘está intimamente ligada aos espaços de poder que ainda somos reticentes em ocupar. Mas está na hora de mudar isso’.

O olhar

A psicóloga termina a sua correspondência prevenindo: ‘Em hipótese alguma minhas reflexões são contra o universo masculino de opiniões que se faz presente no jornal. Trata-se apenas de um olhar acerca de uma constatação’. A riqueza de um jornal está justamente na capacidade de mobilizar diferentes olhares, tanto de quem escreve com de quem lê – e deve ser considerado um privilégio contar com leitores tão atentos como Sabrina Matos.

Balanço

Abaixo, o balanço dos atendimentos do mês de agosto.

Atendimentos do ombudsman – agosto de 2005

Total de atendimentos: 100

E-mail – 64

Telefone – 34

Pessoalmente 2

Atendimentos por assunto

Reclamação sobre assinatura – 3

Erros apontados – 16

Críticas – 52

Elogios – 8

Comentários/ sugestões de pauta – 21

Erros corrigidos

Buchicho – 1

Ceará – 1

Ciência e Saúde – 1

Cotidiano – 3

Economia – 7

E-mais – 2

Guia Vida & Arte – 1

Mundo – 1

Opinião – 1

Política – 7

Últimas – 1

Viagem & Lazer – 2

Vida & Arte – 2

Total de erros corrigidos – 30′