Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Plínio Bortolotti

‘O assunto não é exatamente novo. Tratei dele em uma das primeiras colunas que escrevi como ombudsman, em 13/2/2005, com o título ‘O POVO todo dia’. Trata-se da suspensão da circulação do O POVO na segunda-feira e terça-feira de carnaval. Juntando-se com outras datas – Natal e Ano Novo – em que o jornal também não sai, somam-se quatro dias sem circulação no ano. Esclareça-se que assim também procedem os outros dois diários de Fortaleza.

Recebi várias reclamações sobre isso, somando-se a outras tantas que bateram na Central de Relacionamento, responsável pelo atendimento aos assinantes. Isto é, queixas que foram registradas na quarta-feira, pois o setor também não funcionou nos dois dias citados para dar as explicações a quem ligava, fazendo aumentar a irritação dos leitores. O fato de o jornal não circular nesses dias desagrada também a alguns jornalistas da redação, cujo senso profissional sobrepuja o benefício de duas folgas em pleno carnaval.

Para complicar um pouco mais a situação, nas edições de segunda-feira está circulando o fascículo ‘Caminhos do Desenvolvimento Local’, curso da Fundação Demócrito Rocha, o que deixou preocupados muitos leitores inscritos, supondo a possível perda do caderno. Mas não haverá solução de continuidade, segundo informa a coordenação do curso; o número seis, que deveria ter saído na semana passada, será encartado na edição de amanhã.

Apesar de ser uma prática que se perde no tempo – um hábito com o qual não se rompe – uma parte significativa dos leitores não se habitua à falta do jornal em alguns dias do ano. Uma leitora escreveu dizendo-se ‘surpresa’ com o fato de o jornal não ter circulado, principalmente por ter lido a matéria ‘Não é qualquer carnaval’, na capa do caderno Vida & Arte, edição de 16/2: ‘Quem já experimentou, atesta. No Carnaval, Fortaleza se revela uma outra cidade. Sem o zum-zum-zum aturdido do trânsito, bares, museus e até mesmo restaurantes fecham. Desconsideram uma estatística interessante mostrada pelo Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento do Comércio (IPDC). Segundo a pesquisa, 60,82% dos fortalezenses não pretendem viajar durante o período de folia’. Para a eleitora, torna-se ‘irônico’ o jornal criticar aquilo que também faz. Ela ainda lembra que o jornal ‘é um meio de comunicação e tem a responsabilidade social de informar’.

Ao jornal cabe agradecer a tais manifestações. Revelam que os leitores têm apreço por ele; entendem exatamente a importância de um meio de comunicação e vêem no O POVO o veículo primordial para supri-los de informação, por isso consideram imprescindível recebê-lo todos os dias do ano. São argumentos bastante fortes para sensibilizar a direção do jornal.

Erramos de novo

Na coluna da semana, passada critiquei o desleixo com que a seção ‘Erramos’ vem sendo tratada pela Redação. Citei o caso de uma matéria em que se narrava um acidente entre veículos, mas não se informava, onde era o local ‘perigoso’, como descrevia o texto, em que acontecera a colisão. Depois do alerta do ombudsman sobre a falha, o ‘Erramos’ informou ter sido o acidente na ‘avenida Aguanambi’ (edição de 14/2). Voltei à carga, dizendo que a via citada tem cerca de seis quilômetros; como o leitor poderia saber o local exato da ocorrência? No entanto, novo esclarecimento ao leitor deixou de ser feito.

Depois de o tema ter-se tornado público, recebi a seguinte explicação da editora-adjunta de Fortaleza, Lisiane Mossmann: ‘Não colocamos mais o número do lugar onde aconteceu acidente. Foi uma decisão editorial. É especificado somente quando é cruzamento de ruas’. Sinceramente, me escapa o sentido de tal medida – que não veio acompanhada de outros argumentos, mesmo depois de eu tê-los pedido. Pelo que escreve a editoria, a partir de agora, o leitor somente terá a indicação exata do local de acidentes, ou outros fatos importantes ocorridos nas ruas, se acontecerem em algum cruzamento da cidade.

Maracatu

Venho mostrando que o leitor se torna cada vez mais participativo e, muitas vezes, co-autor das matérias jornalísticas, um fenômeno bastante vigoroso na internet, que está avançando nos impressos. Isso requer um jornalista mais preparado, disposto a pesquisar e a verificar cuidadosamente cada dado que põe no papel, para não correr o risco de ser confrontado por leitores atentos e, muitas vezes, estudiosos do assunto, que não se conformam com erros ou imprecisões.

No primeiro parágrafo de ‘Domingo é dia de maracatu’ (edição de 18/2) escreveu-se: ‘Os brincantes do maracatu (…) mantêm a tradição milenar de cortejo de coroação dos reis do Congo’. O que instou o leitor Barros Alves a fazer uma correção factual, oferecendo uma pequena lição sobre um aspecto da cultura negra no Brasil. Abaixo, a íntegra da carta de Barros Alves, que se estivesse apoiando a matéria, agregaria informações importantes para situar o leitor a respeito do assunto.

‘Que exagero dizer que o Maracatu, festa que lembra a coroação dos reis do Congo tem tradição milenar. Aliás, a matéria não deixa bem claro o que tem mesmo tradição milenar, se o maracatu ou a coroação dos reis do Congo. Na verdade, nem uma coisa nem outra. O mais remoto registro sobre Maracatu data de 1711, de Olinda (Pernambuco).

Para Mário de Andrade, a origem da palavra maracatu é americana, inclusive: maracá = instrumento ameríndio de percussão; catu = bom, bonito em tupi; mara = guerra, confusão. Marãcàtú, e depois maràcàtú valendo como guerra bonita, isto é, reunindo o sentido festivo e o sentido guerreiro no mesmo termo.

A coroação do rei e da rainha do Congo no Brasil, o que deu origem ao maracatu, era uma maneira dos negros manterem no imaginário a fidalguia que porventura tiveram na Mama África. Uma festa que os portugueses dominadores aceitavam para deixar que os africanos exercitassem uma espécie de sublimação, mantivessem a auto-estima e não se rebelassem, porque a festança lhes bastava. É só ver autores como Câmara Cascudo (Made in África), Edison Carneiro (Religiões Negras no Brasil), além de Artur Ramos, Nina Rodrigues e outros.’’