Tuesday, 16 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Plínio Bortolotti

‘Já faz algum tempo, cerca de três meses, tenho alertado em seguidos comentários internos que várias notícias do jornal se tornam ilegíveis devido a problemas de impressão. Isso acontece, normalmente, no uso de letras sobre o fundo chapado (a cor sem meios-tons) ou sobre o grisê (a cor em meio-tom). No mês de abril, seis edições tinham notícias, colunas ou seções ilegíveis ou de leitura difícil. Neste mês, sete edições saíram com algum tipo de problema. Na terça-feira, por exemplo, a ‘Página A’, editada no caderno ‘Vida & Arte’ estava completamente ilegível. Com letras brancas sobre fundo preto, a página virou um borrão.

Uma parte do problema advém da última reforma do projeto gráfico, que passou a exigir o aumento do uso de cores e a ‘revistização’ de alguns cadernos e páginas, cujos recursos artísticos passaram a aproximá-los da estética das revistas. Isso acabou por provocar uma certa tensão entre a editoria de Arte e a gerência Industrial. A editora de Arte, Andrea Araújo, diz que não pode ‘limitar a criatividade’ em seu trabalho; Kléber Brasil, gerente industrial, afirma ter um ‘limite técnico’ para impressão em papel jornal, o que não permitiria imprimir com qualidade todas as criações da editoria. Se é verdade que a criatividade é a alma do trabalho da editoria de Arte, esta só terá razão de ser quando traduzida corretamente e de forma legível – texto, fotografia, ilustração – no ‘corpo’ do jornal. Portanto, é necessário achar um ponto de equilíbrio, pois o mínimo a se esperar de um jornal é que ele possa ser lido.

Se trouxe um problema eminentemente técnico ao conhecimento dos leitores, é porque, anteriormente, obtivera pouco sucesso internamente ao sugerir que as áreas responsáveis se reunissem para encontrar uma forma de superar o problema, o que estão se propondo a fazer agora. Espero que a solução seja encontrada.

PROJETO GRÁFICO

Há outro tema a merecer um olhar mais atento dos editores e diagramadores: o projeto gráfico do jornal vem sendo bastante desrespeitado de uns tempos para cá. Do meu ponto de vista, o que mais incomoda é a redução do tamanho das letras e do entrelinhamento (a distância, no sentido vertical, entre duas linhas do texto), dificultando a leitura. Nos jornais que dispõem de um projeto gráfico bem elaborado, como é o caso do O POVO, vários critérios têm de ser observado em todas as edições, inclusive o tamanho e o tipo das letras a serem usadas. No entanto, por orientação do editor ou de moto próprio, os diagramadores, freqüentemente, estão reduzindo o tamanho das letras e do entrelinhamento, de modo a acomodar mais texto em determinada área da página. Também está se reduzindo o espaço entre uma matéria e outra, ficando algumas praticamente ‘coladas’, tornando a leitura e a visualização da página mais difíceis. É tempo de a editoria de Arte fazer uma revisão geral no projeto gráfico, acompanhando mais de perto o trabalho dos diagramadores.

DANO DESPROPORCIONAL

Um dos interessantes debates da conferência da Organização dos Ombudsmans de Notícias (ONO – Organization of News Ombudsmen), da qual participei, no início do mês, em são Paulo, foi proporcionado pelo professor de Ética Jornalística, Edward Wasserman, da Washington and Lee University (EUA). Ele falou sobre o conceito de ‘dano desproporcional’ que pode ser causado pela internet: a criação de ‘arquivos permanentes’ sobre fatos banais, que podem prejudicar de maneira desproporcional, em relação à ocorrência, a vida de uma pessoa.

Por exemplo: noticia-se que alguém é suspeito de um crime. Tempos depois, as investigações revelam a sua inocência, mas o jornal não volta ao assunto, como acontece de forma recorrente. Porém, na rede virtual, o nome dessa pessoa ficará vinculado ao crime que ela não cometeu. Antes, o fato ficaria restrito à região que o jornal foi publicado e o assunto seria esquecido no arquivo. Hoje, a notícia fica disponível mundialmente, ao alcance dos dedos na internet, e de forma permanente.

Pois um caso que pode se enquadrar na situação foi noticiado pelo portal Terra em 20/5, em notícia na qual O POVO foi citado. Com destaque, o portal anunciou: ‘Cantor da dupla Bruno & Marrone é acusado de estuprar menor’ (uma mulher de 17 anos). Segundo a notícia, o inquérito fora oficializado pela polícia da cidade de Goiás (interior do estado de mesmo nome), mas a denúncia contra Marrone teria sido feita em Aparecida de Goiânia, distantes mais de 100 km uma da outra. À frente a matéria anota: ‘Segundo o delegado Norton Ferreira, chefe do Departamento de Comunicação da Polícia Civil de Goiás, a amiga da garota nega essa versão dos fatos (o suposto estupro). ‘Uma fala uma coisa, e a outra desmente. O laudo do exame será determinante para a investigação’, declarou em entrevista ao jornal cearense O Povo.’ (Grifo meu.)

Ao final do texto da matéria publicada no O POVO (edição de 20/5, pág. 2, reproduzida na internet) havia a anotação: ‘Das agências’. Isto é o delegado não fizera a declaração diretamente ao jornal, mas este já reproduzira a matéria de outra fonte, uma agência notícias (que foi copiada em terceira mão pelo portal Terra). Além de ter publicado uma matéria com deficiência de apuração (como o inquérito do suposto crime pode ter sido feito em uma cidade e a denúncia em outra?), foi usada uma fonte terciária em caso que pode comprometer a vida e a carreira de um artista. Observem que a notícia foi rodando, uma fonte citando outra, de tal maneira que não se sabe nem onde a informação teve início. Apesar de envolver um cantor conhecido, é improvável que o jornal e o portal acompanhem o processo até o desfecho.

A pergunta é a seguinte: é correta exposição de forma descuidada sabendo-se que a cada vez que se digitar ‘Marrone’ nos motores de busca da internet o nome estará vinculado a uma acusação confusa e não comprovada contra ele? (Esta nota foi escrita com subsídios do artigo ‘Denúncia no Terra – Portal adere ao estilo faroeste’, de André Borges, publicado no Observatório da Imprensa, edição de 20/5: www.teste.observatoriodaimprensa.com.br).’