Wednesday, 08 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Quando a ironia vira arrogância

A rede varejista JC Penney inaugurou uma nova loja em Manhattan, no final do mês passado. O novo ponto foi tema de uma coluna de crítica de compras do New York Times, considerada por muitos leitores como ofensiva, conta o ombudsman Clark Hoyt em sua coluna de domingo [23/8/09]. ‘Por que esta entidade da classe média americana, sem gosto, iria andar no centro de Manhattan com seus grandes shorts velhos e sandálias, sem sequer fazer uma reestruturação em seu logo?’, questionou a colunista Cintra Wilson, em uma de suas colocações irônicas ao longo da crítica.

A leitora Helen Berkeley escreveu para dizer que a coluna tinha ‘um humor nojento, preconceito de classe e estava inflada de ódio’. Já Kristin Anne Carideo criticou o fato de fazer graça com pessoas que querem estar na moda, mas não têm como comprar roupas caras de estilistas famosos. Foram muitos os que escreveram para dizer que a coluna ‘expressou um privilégio de classe’ e foi ‘genuinamente cruel’.

Crítica infeliz

Para Bill Keller, editor-executivo do NYTimes, foi uma crítica infeliz e passou uma imagem arrogante do diário. Ele disse que sua mãe sempre comprou roupas na JC Penney e teria achado a coluna arrogante. Keller admitiu que teria preferido que a crítica não tivesse sido publicada.

O caso trouxe à tona uma questão enfrentada por muitas organizações de mídia: como navegar entre as linhas tênues da observação, sátira e ironia, e quando editores devem intervir? O editor de estilo, Trip Gabriel, reforça que a separação entre os estilos é nebulosa. Neste caso, no entanto, Hoyt acredita que os editores deveriam ter impedido que a crítica fosse publicada daquela maneira, para evitar a reação dos leitores, que não acharam graça nenhuma das tiradas irônicas. ‘A chave é, creio eu, imaginar que você está escrevendo para uma audiência com amplos pontos de vista e experiências, e respeitar a todos’, diz Keller.

Para Darcie Brossart, vice-presidente de comunicação da JC Penney, a crítica foi ofensiva aos clientes. Depois de a coluna ser disponibilizada online e antes de ser publicada na versão impressa, Cintra desculpou-se no site do jornal.