Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Reação ao WikiLeaks põe internet em risco


Leia abaixo a seleção de segunda-feira para a seção Entre Aspas.


 


************


Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 13 de dezembro de 2010


 


WIKILEAKS


Claudia Antunes


Vazamentos mostram que os interesses superam princípios


Os telegramas divulgados pelo site WikiLeaks confirmam que a prática da diplomacia dos EUA é muito mais realista que o discurso principista que o país prefere usar em fóruns internacionais.


Mostram que em várias ocasiões houve distância entre análises do Departamento do Estado e políticas adotadas sob a pressão do Congresso e de lobbies internos.


O pragmatismo é claro na relação com o governo brasileiro, encarado como mediador conveniente com os vizinhos sul-americanos apesar de suposto ‘antiamericanismo’, e se estende à Colômbia, maior aliado na região.


Os telegramas revelaram, por exemplo, que em 2009 um conselheiro da embaixada em Bogotá se reuniu com emissário de Pablo Catatumbo, chefe do bloco ocidental das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) -formalmente designadas como ‘narcoterroristas’.


O emissário, segundo o despacho, era também pragmático: disse que travar relação com a embaixada seria ‘útil no futuro’, pois os EUA teriam ‘participação chave’ em eventual processo de paz.


Em relação a Mianmar, as mensagens mostram colaboração constante com a China, apesar de os países adotarem posições distintas quando se trata de condenar publicamente a ditadura.


Os chineses, dizem os americanos, também mostram impaciência com a falta de concessões da junta militar de Mianmar, embora insistam em que as sanções ao país não fazem efeito.


A opinião não é desinteressada: a China investe no país e vê em seus portos uma via alternativa ao estreito de Málaca, entre Malásia e Cingapura, principal rota entre o Pacífico e o Índico.


Mas os diplomatas dos EUA concordaram. ‘Nossas sanções nos dão superioridade moral, mas são ineficazes porque não são amplas. Os principais clientes de Mianmar se recusam a participar.’


No caso de Honduras, ficou clara a diferença entre a análise da embaixada, que disse não ter dúvidas de que ocorrera um golpe contra o presidente Manuel Zelaya, e a posição conciliatória adotada em relação aos golpistas, devido à ação de conservadores em Washington.


Em outros casos, o jogo da diplomacia dos EUA se mostrou mais pesado, longe da pregação de respeito ao Estado de Direito. Em 2007, houve pressão pesada para a Justiça alemã não emitir ordens de prisão contra agentes da CIA acusados do sequestro de Khaled al Masri, suspeito erroneamente de terrorismo.


 


 


Ronaldo Lemos


Reação ao WikiLeaks põe internet em risco


SÓ SE FALA em WikiLeaks. Faz sentido. O assunto é fascinante e cheio de paradoxos. O site virou emblema das ‘novas mídias’. Mas, sem o apoio da ‘velha mídia’, sua importância seria muito menor.


É curioso ver como os jornais ficam orgulhosos em fazer parceria com o site. Na semana passada, ‘O Globo’ colocava na capa que havia se tornado ‘um dos sete jornais a publicar o conteúdo do WikiLeaks’.


Com isso, o site virou um divisor de águas: há os jornais que estão com ele e os que não estão. É um exercício de poder extraordinário: chamou toda a imprensa a tomar posição e tornou-se impossível ignorá-lo.


Muita gente tem falado que o site mostra como a internet é ‘incontrolável’. Minha visão é diferente.


A reação ao WikiLeaks periga acelerar a transformação da internet de rede aberta em rede fechada e controlável. As forças para que isso aconteça ficaram muito mais fortes depois dos vazamentos.


Vale lembrar que todos os endereços da internet são controlados por uma entidade norte-americana chamada ICANN. Até agora, ela tem mantido uma posição de neutralidade, dizendo que não intervirá.


O problema é que a ICANN é ligada ao Departamento de Comércio dos EUA. Se a coisa apertar, é fácil para o governo americano exercer sua influência.


Além disso, leis cabulosas para controlar a internet estão vindo por aí. Um exemplo é o projeto COICA, que avança rápido. Sob o pretexto de evitar violações dos direitos autorais, ele dá poderes ao governo americano de retirar qualquer site do ar, sem aviso prévio.


Mesmo sites fora dos EUA (como os sites brasileiros que terminam em ‘.com.br’, ‘.org.br’, ‘.net.br’ e assim por diante) ficariam sujeitos à lei americana.


Sob o pretexto de proteger direitos autorais, o governo americano passaria a ter controle total sobre a rede.


O WikiLeaks veio mudar a regra do jogo. Mas a reação a ele pode acabar mudando a internet para pior.


 


 


Álvaro Pereira Júnior


Só um WikiLeaks cover derruba o WikiLeaks


EU QUERIA mesmo é que fundassem o WikiLeaks do WikiLeaks. Um grupo que fizesse com o WikiLeaks o mesmo que o WikiLeaks faz com todo o resto do mundo virtual. Ou seja: invadir computadores, vasculhar e-mails, quebrar códigos, causar constrangimento, calcinar reputações.


Será que o WikiLeaks sobreviveria?


Faço esse exercício de imaginação porque me irrita um pouco esse endeusamento, essa canonização do WikiLeaks e de seu criador, Julian Assange.


Claro que o que o WikiLeaks fez nas últimas semanas é sensacional. Foi constrangimento para todo lado. Mas, na real, o que tem de novo ali, o que esses documentos provam? Basicamente, que a diplomacia é falsidade pura, um lamaçal de futricas e leviandades. Isso é novidade?


É por isso que eu queria o WikiLeaks do WikiLeaks. Para que se descobrisse como foi a operação que botou os documentos no ar.


Teve grana para o soldado que vazou a parada? E para a família dele? Rolou pré-seleção do material? Como é a comunicação entre Assange e quem trabalha com ele? Ele é movido por vendetas pessoais? É um psicopata perigoso?


Meu palpite furreca: um dia, a casa de Assange vai cair. Porque ele deve ser um picareta ególatra, tão ou mais criminoso que as pessoas e instituições que busca denunciar.


O estilo apareço-fingindo-não-gostar-de-aparecer de Assange lembra o de outra figura sombria: Osama Bin Laden. Ego maior do que o dele nem os de Jesus e Maomé somados.


Mas a história não termina aqui. Fica mais complicada. Se todos os picaretas ególatras fossem riscados do mapa, sobraria alguma figura pública no mundo? Sobraria alguém para contar nossa triste história?


 


 


INTERNET


Grazielle Schneider


Twitter ‘prevê’ tendências de consumo


O Twitter como ferramenta de marketing e relação com o cliente já é difundido entre as empresas brasileiras. O seu potencial na ‘futurologia’ do mercado, porém, ainda é subutilizado.


De acordo com especialistas consultados pela Folha, o microblog é uma arma poderosa para ajudar a entender o que querem os consumidores hoje, e até amanhã.


A chegada do Natal e do décimo terceiro aquecem as vendas no fim de ano. O Twitter ‘captou’ isso.


Em agosto, a consultoria em mídias sociais e.Life monitorou os tuítes que continham a frase ‘quero comprar’. Foram 15.387.


Em novembro, a empresa refez a pesquisa para a Folha e registrou 20.795 mensagens, um aumento de 35%.


Entre a infinidade de produtos citados, sete aparecem mais (somando 19%): livro, ingresso, CD, roupa, DVD, celular e camiseta. E em tempos de iPad, o melhor presente parece ser o bom e velho livro, campeão de citações (veja quadro).


Mas o estudo das mensagens permite ir ainda mais longe na identificação de tendências de consumo.


Nos tuítes que mencionavam celular, por exemplo, a consultoria verificou também o interesse em contratar planos de internet e em comprar aparelhos com dois chips e capacidade maior de armazenamento.


‘A partir da curva de menções ela [a empresa] pode prever ou esperar um incremento da curva da demanda. Nem todo mundo está falando, mas quem está representa intenções inclusive de pessoas que não falaram’, destaca Alessandro Barbosa Lima, presidente da e.Life.


PÓS-COMPRA


Para Lima, as empresas ainda estão muito focadas no uso do Twitter para monitorar o pós-compra. ‘[O que] muitas vezes já significa um consumidor perdido.’


‘Em vez de identificar quem teria necessidade de um produto, as empresas ficam só monitorando ‘#fail’, que é falha, junto com o nome da empresa. O marketing não é para apagar incêndio’, diz Martha Gabriel, consultora em marketing digital.


Para Warren Whitlock, autor de ‘Twitter Revolution’ (‘A Revolução do Twitter’, ainda sem versão no Brasil), ‘se você esperar que o comprador o procure, já perdeu grande parte da conversa’.


‘Ao ‘escutar’ a conversa, você terá a oportunidade de interagir com o mercado antes de ele ir às compras. Se for esperto, não vai implorar pelo negócio ou tentar gritar a sua mensagem’, afirma.


A Porto Seguro é um exemplo de quem tenta exercitar a capacidade de ouvir. Além de estimular corretores a estreitar os laços com os clientes nas redes, tem um serviço de monitoração para identificar oportunidades e abordar novos clientes.


‘[Assim o empresário] tem mais chances de entender a necessidade do cliente e ofertar produtos assertivos’, diz Rafael Caetano Tognole, gerente de canais eletrônicos.


 


 


TELEVISÃO


Keila Jimenez


Governo quer votar PL116, mas TVs abertas pressionam


A pressão é grande, mas o governo quer votar o polêmico PL 116 no Senado até o dia 16. O projeto prevê, entre outras coisas, cotas de programação nacional e libera as teles para entrarem no mercado de TV a cabo em suas áreas de concessão.


Depois de operadoras e produtoras, quem resolveu fazer pressão no Senado são as TVs abertas. Na segunda audiência pública sobre o tema na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) no Senado, no dia 7, Globo e Record foram as que mais pressionaram os parlamentares para prolongarem a discussão do projeto.


Globo, que tem todo interesse na aprovação, de olho na possível venda de sua parte na Net para um grupo internacional, defende a discussão de alguns pontos na redação do projeto, para ter maior segurança jurídica. Já Record, pressiona porque sabe do interesse da Globo.


O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), encaminhou um pedido para que o projeto siga para votação sem passar pelas quatro comissões previstas. Apresentou também um requerimento de urgência, que dá prazo de até 45 dias para um projeto ser votado.


A oposição, no entanto, acredita que falta tempo hábil, e que o governo não conseguirá votar o PL 116 até o fim desta semana.


Adeus O ‘Happy Hour’ deixa a grade do GNT no dia 17, sem muitas esperanças de volta. Astrid deve ganhar uma nova atração no canal.


Solidário Quase ninguém assistiu, mas a Record já negocia com a Endemol a realização da segunda edição do programa ‘Extreme Makeover Social’ de Cristiana Arcangeli.


Promessa Depois do mico ‘Busão do Brasil’, Edgard Piccoli deve ganhar uma atração musical na Band, nos moldes do ‘Circo do Edgar’, que ele fazia no Multishow.


Eterno Cansado do Charlie Sheen? Pois saiba que a Warner renovou contratos para exibição da série dele, ‘Two an Half Man’, na TV americana até 2021.


Freio O ‘Auto Esporte’ atração automobilística terceirizada na Globo, vai trocar de mãos. A GW, que faz o formato, pode não renovar contrato.


Derrapada A Globo diz que a GW pode mesmo sair, mas que o ‘Auto Esporte’ fica, pois é título registrado pela emissora e seguirá sendo produzido. A Folha apurou que a GW, por sua vez, negocia programa similar com a Record.


Lá Fora As séries ‘Cidade dos Homens’ e ‘Força Tarefa’ estreiam no início de 2011 na Tele 5, da Polônia.


Climão Gugu e Marcelo Rezende evitam se encontrar nos corredores da Record. Rusga antiga, do caso da falsa entrevista do PCC, em que Rezende não poupou Gugu.


com SAMIA MAZZUCCO


 


 


Vitor Moreno


Reprise de ‘Barrados no Baile’ atrai saudosistas, mas segue atual


Quem acha que Annie (Shenae Grimes) e Dixon (Tristan Wilds), de ‘90210’, são os alunos mais problemáticos que já passaram pela West Beverly High provavelmente não acompanhou quando Brenda (Shannen Doherty) e Brandon (Jason Priestley), de ‘Barrados no Baile’, estudavam ali.


A série que redefiniu a forma de fazer televisão para os jovens nos anos 90 (e ainda é copiada) tem mais uma chance na TV paga, com uma nova reprise. Embora atraia mais saudosistas, pode ser vista, sem medo, por quem gosta de tramas de colegial. No episódio que vai ao ar hoje -e que encerra a segunda temporada-, o pai de Brenda proíbe Dylan (Luke Perry) de ir à casa deles, após uma desastrada viagem do então casal 20.


Nessa altura, a série estava em ótima fase, prestes a chegar ao auge de sua popularidade e alcançando bons índices de audiência. Em breve, ganha ainda mais conflitos. É na terceira temporada que Kelly e Dylan começam a se aproximar. A disputa pelo coração do ‘bad boy’ terá impacto profundo na trama.


NA TV


Barrados no Baile


Final da segunda temporada


QUANDO hoje, às 9h30 e às 14h, no Animax


CLASSIFICAÇÃO não informada


 


 


REVISTA


Fernanda Ezabella


‘Playboy’ está mais em alta do que nunca’


Hugh Hefner está com 84 anos, não escuta direito e sofre de dor nas costas. Ainda assim, não pretende largar tão cedo o império que criou há quase 60 anos e, mais, acredita no renascimento do seu coelhinho.


‘Este próximo ano será nosso. Será o ano chinês do coelho’, repete Hefner ao telefone na entrevista à Folha.


‘Ao mesmo tempo em que o mercado editorial está passando por problemas econômicos, e a ‘Playboy’ está incluída, nossa marca está mais em alta do que nunca.’


Para quem acompanha o noticiário financeiro, o papo de Hefner parece de velho gagá. Afinal, a Playboy Enterprises, que edita a revista, teria uma dívida de US$ 110 milhões para ser paga em um ano e apenas alguns milhões em caixa para bancá-la.


Além disso, a revista circula hoje com 1,5 milhão de cópias por mês nos EUA, número bem abaixo dos 7 milhões da época áurea, os anos 1970.


Apesar de tudo, o império vem avançando em outras áreas, como no licenciamento de produtos (cadernos, lingerie e bebidas) e numa unidade de TV. Juntos, tiveram lucro de US$ 30 milhões em 2009, contra US$ 1,6 milhão da revista e do site.


No mês passado, Hefner reabriu os lendários clubes Playboy, fechados em 1991. Cancún (México) e Macau (China) foram os primeiros a receber as garçonetes vestidas de coelhinhas e, em maio, será a vez de Londres.


‘Demoramos [para voltar a ter os clubes] por uma questão de tempo, da sociedade. Nos anos 1980 e 1990 houve uma volta forte do conservadorismo, contra a revolução sexual dos anos 1960 e 1970. Não conseguimos renovar nossas licenças’, disse Hefner, que criou a revista aos 27 anos, em 1953.


A China é um caso clássico de como a marca está forte, embora a revista não seja permitida pelo governo. ‘Neste mês abrimos uma loja de roupas em Taipei e esperamos abrir outras 2.000 na China continental.’


E há negociações para trazê-la à América do Sul? ‘Quando a oportunidade surgir, teremos interesse em discutir’, disse. ‘Você sabe como são os coelhos. Eles tendem a se multiplicar.’


VIAGRA E SHANGRI-LA


Hefner trocou Chicago pela mansão em Los Angeles nos anos 70. ‘É minha Shangri-la, minha Disneylândia para adultos’, diz o empresário, que costuma circular nos eventos da casa vestido num roupão de cetim vermelho.


É lá que acontecem festas de arromba, seleção de coelhinhas ou sessões de cinema. Hefner também chegou a morar com sete namoradas, mas hoje só vive com a modelo Crystal Harris, 24.


A sede da empresa continua em Chicago, e Hefner diz que participa da edição americana, que tem versões em outras 27 línguas. ‘Escolho fotos da capa, a coelhinha do mês. Tenho conversas diárias com os editores.’


Já na vida sexual, afirma que se mantém ativo, graças à descoberta do Viagra.


‘Minha vida certamente não seria a mesma se não fosse pelo Viagra’, disse. ‘Mas acho que teve algum impacto na minha audição.’


 


 


‘Apple barra mulher nua no iPad’, diz Hefner


A revista ‘Playboy’ foi uma das pioneiras a chegar à internet, em 1994. E também teria sido uma das primeiras a estrear no iPad se não fosse pelo conservadorismo do criador, Steve Jobs.


‘Eles censuram o produto, simples assim’, disse o fundador da revista, Hugh Hefner, à Folha. ‘Eles precisam ser mais tolerantes. Acredito que o futuro é obviamente cada vez mais longe da censura e da repressão.’


Atualmente, só existe um aplicativo da revista para iPhone, que pode ser visto em iPad, mas sem foto de mulher pelada. É como se Hefner voltasse aos anos 50, quando o correio americano boicotava sua distribuição.


‘A sociedade ficou mais liberal, mas ao mesmo tempo é uma batalha constante’, afirmou. ‘Ainda existe esse politicamente correto na América que certamente perpetua todos esses tabus.’


Foi com esse discurso pela liberdade de expressão e contra o puritanismo que Hefner batalhou pela existência da ‘Playboy’ durante décadas, sendo um dos agitadores da revolução sexual dos anos 60.


Essa faceta rebelde está num documentário com mais de três horas lançado neste ano nos EUA e que tem estreia prevista no Brasil em março. Mas há alguma coisa sobre Hefner que possa ainda de fato surpreender?


‘Minha vida é um livro aberto. Mas acho que as pessoas projetam suas visões, valores, preconceitos e fantasias na ‘Playboy’ e na minha vida. O que as pessoas sabem da minha vida depende de quem elas são’, respondeu.


Atualmente, ele dá festas na sua mansão cujos ingressos são revertidos em parte para instituições beneficentes. E, neste ano, ajudou a criar um fundo de US$ 12 milhões (cerca de R$ 20,5 milhões) para preservar o letreiro de Hollywood, que corria risco de perder seu terreno.


TWITTER NO IPAD


Apesar da birra com a Apple, é de um iPad que o octogenário americano manda suas mensagens pelo site do microblog Twitter.


‘É verdade’, disse ao telefone, rindo. ‘Ganhei de aniversário da Crystal [Harris, namorada].’


Ele tem mais de 400 mil seguidores e segue apenas quatro: Harris, o site da ‘Playboy’ e seus filhos. As mensagens são frequentes e parecem de família tradicional.


‘Natal é meu feriado favorito e este será especial porque Crystal, os meninos e eu estamos mais próximos’, escreveu recentemente.


Na semana passada, foram os quatro a um restaurante de Los Angeles e publicaram fotos no site com hashis na boca, como se fossem longos dentes de coelhinhos.


‘Não havia nada como o Twitter. Tem menos a ver com comunicação com amigos e sim com fãs’, disse à Folha. ‘Vejo muitos fãs do Brasil. E da Europa e do resto do mundo. Transforma o mundo numa aldeia global.’


Ele costuma responder recados de seguidores e até retrucar provocações. ‘Não respondo para quem me chama de vovô’, escreveu. ‘Na verdade, eu tuíto da cama. Meu melhor trabalho eu faço deitado’, escreveu para uma fã no mês passado.


 


 


Revista leiloa mais de cem trabalhos em Nova York


Mais de cem trabalhos que apareceram nas páginas da ‘Playboy’ em quase 60 anos foram a leilão na semana passada, em Nova York, arrecadando US$ 2,9 milhões (cerca de R$ 5 milhões).


Hugh Hefner, fundador da revista, nega que a empresa esteja passando por dificuldades financeiras e diz que o leilão foi apenas um ‘movimento estratégico’.


Recentemente, ele fez uma oferta de US$ 185 milhões para tornar privada a empresa, após a rival ‘Penthouse’ anunciar que faria uma proposta pelo grupo. Hefner, dono de 70% das ações, afirma que não irá vender sua parte.


Coincidentemente, o leilão ocorreu logo depois de um relatório avaliar as dívidas da empresa. Um analista chegou a afirmar que seria necessário vender sua mansão em Los Angeles e sua coleção de arte para quitá-las.


A sede da ‘Playboy’ em Chicago possui um acervo com 5.000 trabalhos de arte contemporânea e mais de 20 milhões de fotografias.


No leilão, o lance mais alto foi de US$ 1,9 milhão pela pintura pop ‘Mouth #8’ (1966), uma boca com batom vermelho, que Tom Wesselmann criou para a revista.


Outro destaque foi uma aquarela de Salvador Dalí, ‘Playmate after Rokeby Venus’ (1966), que vendeu por US$ 266 mil. O desenho de uma mulher nua foi também comissionado pela revista no mesmo ano e ficou décadas no quarto de Hefner.


O leilão também trouxe 24 cartoons e 80 fotos, como as de Marilyn Monroe, capa da primeira edição, em 1953.


250 GB DE ‘PLAYBOY’


Por um preço mais camarada, US$ 300, a revista disponibilizou neste mês, num único aparelho digital, todas as edições da ‘Playboy’ americana desde dezembro de 1953 até o fim de 2009.


No total, são cerca de 650 revistas digitalizadas, mais de 100 mil páginas publicadas durante 56 anos.


O material vem num disco rígido portátil de 250 gigabytes, com adicionais 200 gigabytes livres, conectado ao computador via cabo USB.


Além das famosas nuas, como Madonna (1985), Sharon Stone (1990 e 1992), Pamela Anderson (1989 e outras 11 vezes) e Charlize Theron (1999), há também entrevistas históricas, como a de Miles Davis, primeiro entrevistado da revista, em 1962.


Outros que foram entrevistados mais de uma vez foram Fidel Castro, John Lennon, John Travolta, Paul Newman, Steve Martin, Gore Vidal, Cher e Bob Dylan.


 


 


 


************


O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 13 de dezembro de 2010


 


WIKILEAKS


Grupo pró-Assange ameaça Judiciário britânico


O grupo de ativistas ‘Anonymous’, que nos últimos dias atacou as páginas na internet das empresas de cartões de crédito MasterCard e Visa e a de pagamentos PayPal, ameaçou ontem sabotar o sistema do Judiciário britânico se o fundador do site WikiLeaks, Julian Assange, for extraditado da Grã-Bretanha para a Suécia.


Segundo o diário The Sunday Times, os ativistas lançariam um ataque contra o sistema informático do Serviço Público de Processamentos e outros departamentos do governo relacionados com a extradição. ‘Anonymous’ também poderia atacar os sistemas da prisão de Wandsworth em Londres, onde Assange, de 39 anos, está preso, informou o Times.


O fundador do WiKiLeaks, que nas últimas semanas divulgou telegramas confidenciais da diplomacia americana, está em prisão preventiva nesse presídio, acusado de abuso sexual contra duas suecas. Amanhã ele irá ao tribunal de extradição de Londres. Está previsto que os advogados de Assange voltem a pedir a liberdade condicional para seu cliente.


Desde que o WikiLeaks começou a sofrer retaliações de empresas como MasterCard e Visa – que bloquearam seus pagamentos – , o site começou a obter um amplo suporte, que se expandiu a nível global, de hackers que iniciaram uma verdadeira guerra informática em favor do site de Assange. O WikiLeaks também obteve apoio de tradicionais organizações de defesa dos direitos civis, que consideraram a controvérsia sobre os vazamentos como um importante teste do compromisso dos EUA com a liberdade na internet.


Contactado por meio do Twitter, um membro do ‘Anonymous’, que não quis ter seu nome revelado, disse que eles entraram em ação temendo que os direitos civis fossem afetados no futuro. O homem comparou os ataques aos sites das companhias americanas – que ficou conhecido como ‘hacktivismo’ – às anteriores versões de protestos civis: ‘É parecido com os anos 60, quando você tinha estudantes que invadiam restaurantes e sentavam nas mesas.’


O homem disse que o site Reddit tem ajudado o movimento ‘Anonymous’, cujos membros conversam uns com os outros por meio dele ou por servidores difíceis de ser espionados. Não se sabe quantas pessoas se consideram parte do ‘Anonymous’. Vários grupos no Twitter se filiaram à organização, ampliando sua influência: Anonops tem cerca de 10 mil seguidores; a Operação Leakspin tem mais de 1.300 e o Operações Anônimas, 1.200.


O ‘Anonymous’ se defendeu em um comunicado: ‘Não queremos roubar suas informações pessoais ou números de cartões de crédito. Também não queremos atacar infraestrutura crítica de companhias como Mastercard, Visa, PayPal e Amazon. O ponto da Operation Payback nunca foi atacar a infraestrutura crítica de qualquer das companhias ou organizações afetadas. Em vez disso, nos concentramos em seus sites corporativos. É uma ação simbólica.’ Os ciberativistas também atacaram na sexta-feira o site do Ministério Público holandês após a prisão de um rapaz de 16 anos, suspeito de envolvimento na série de ataques a organizações consideradas inimigas do WikiLeaks.


 


 


INTERATIVIDADE


Lúcia Guimarães


Hiperdemocracia


O professor, jornalista do New York Times e Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman resolveu fazer uma faxina no seu blog, que é reproduzido por este jornal. Na quarta-feira, um post com o título Housekeeping anunciava:


‘1. Nada de obscenidades. Aqui é o New York Times. Se você xingar, estará desperdiçando seu tempo e o meu. E tem havido muito desperdício ultimamente.


2. Nada de comentários intermináveis. (…) A seção de comentários não é lugar para discursos. Arrume o seu próprio blog!


3. Nova regra: ainda não fiz isto mas, no futuro, vou aplicar o mesmo padrão de verificação de fatos do jornal – declarações falsas não serão publicadas. Opinião, pode; mas se você alegar que eu fui a favor de matar bebês numa coluna ou no blog em que nada disso foi dito, o comentário será apagado.’


Uau. Em que século vive Paul Krugman? Será que ele não compreende a marcha irreversível da II – a Interatividade Ilimitada? A II é como uma era geológica, não dá para voltar atrás e querer viajar por terra entre a Austrália e o Brasil, como se fazia antes do Cretáceo.


O comediante Steve Martin aprendeu sua lição e poderia dar uns conselhos ao economista.


Martin é um polímata. Além de ser conhecido por seu trabalho como humorista, ele dirigiu filmes, ganhou um Grammy com uma gravação de banjo e colabora com a New Yorker. Falta lembrar que ele escreveu peças, publica romances e coleciona arte moderna. Steve Martin compra pinturas de Edward Hopper e desenhos de Pablo Picasso. De tanto frequentar galerias e museus, ele se inspirou no mundo da arte para escrever seu mais recente livro, An Object of Beauty: A Novel (Um Objeto de Arte: Um Romance).


Pois um veterano do show biz como Martin veio a cometer um pecado capital em público. Imaginem só, Steve Martin esqueceu de ser engraçado durante mais de uma hora!


Martin foi convidado para dar uma entrevista pública, no dia 29 de novembro, no auditório do 92nd Y, uma instituição cultural judaica onde os ingressos para eventos com celebridades, de Laurie Anderson a Patti Smith, passando por Benjamin Netanyahu, costumam esgotar-se com antecedência.


Para entrevistá-lo, Martin escolheu a repórter do New York Times Deborah Solomon. A jornalista não trata muito bem os entrevistados na sua seção regular na revista do New York Times ao domingos. Mas é amiga de Martin, versada em arte moderna e concluiu (com sua verve polêmica?) que a entrevista deveria ser sobre o tema do novo romance. O leitor já sente a aproximação do tsunami?


No meio da entrevista, um funcionário da augusta instituição entrou no palco e passou um bilhete zangado para a entrevistadora: ‘Pergunte sobre a carreira dele.’ O público que acompanhava a entrevista online estava entediado com aquele papo sobre arte. Deborah tentou aplacar a ira cibernética e acolheu perguntas do público presente. A noite acabou mais cedo e, no dia seguinte, o 92nd Y devolveu o dinheiro dos ingressos aos presentes – cada uma das 900 pessoas pagou US$ 50 -, afirmando que a noite não estava no ‘nível de excelência’ habitual da série.


Steve Martin duvidou do tal nível de excelência, uma vez ‘que já me convidaram para falar lá outra vez’. Touché.


Parece que Martin só vale US$ 50 quando conta alguma anedota sobre Meryl Streep ou Michael Caine. Por isso, votaram na sua expulsão da ilha, não a de Manhattan, mas a terra da Interatividade Ilimitada.


Na ilha de Manhattan, não é preciso muito para tocar fogo nos ânimos. Facções se formaram, pró e contra todos os envolvidos. Martin mandou ver no Twitter: ‘O 92nd Y determinou que o curso das entrevistas seja ditado em tempo real pelos emails do público. Cuidado, artistas.’


Outro comentarista local, que compra brigas com a frequência com que eu compro tulipas aqui na esquina, identificou na Interatividade Ilimitada uma revolução tão libertadora que saiu pedindo reembolsos a torto e a direito. Lee Siegel pediu a Barack Obama para devolver o valor de 6 canecas compradas em 2008 com a inscrição Yes, We Can (Sim, Podemos).


Pediu à editora para reembolsar o valor pago pelo livro Freedom (Liberdade), de Jonathan Franzen. Um crítico havia dito que Franzen criou ‘um retrato indelével da vida dos americanos’. ‘Eu não vivo assim’, retrucou o militante interativo.


Siegel levou o filho para assistir à ópera La Bohème e pediu o dinheiro do ingresso de volta porque, no terceiro ato, a Mimi não parava de tossir e, a essa altura, ele concluiu, o problema já devia ter sido eliminado com um nebulizador.


Quem precisa de defesa do consumidor se temos o poder de corrigir qualquer incômodo? O que você está esperando para exigir que, na próxima encenação de Romeu e Julieta, os pombinhos mudem o rumo inconvenientemente trágico da história e passem o fim de semana na ilha de Caras? Está com nojo das caras pestilentas das Demoiselles d’Avignon? Fotoshop nelas!


E você, Paul Krugman, que, ao contrário de Steve Martin, não contracenou com a Beyoncé? Você tem encontro marcado com o público do 92nd Y em março. Como vão suas aulas de sapateado?


 


 


 


************