Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Reclamações não atendidas e leitores perdidos

Dois temas foram abordados pela ombudsman do Washington Post, Deborah Howell, em sua coluna de domingo [2/11/08]: a cobertura das eleições americanas e o estado econômico sombrio da indústria jornalística. Os lucros no Post e em outros jornais metropolitanos foram prejudicados com a internet, com os classificados online, com os efeitos da crise financeira nos anúncios de venda a varejo e com o surgimento de novas opções para leitores encontrarem as informações de que precisam.

Declínios nos lucros e circulação do Post, além de queda no valor de jornais menores do grupo Washington Post Company, resultaram em ganhos 86% menores no terceiro trimestre deste ano, comparado ao mesmo período do ano passado. Segundo os leitores que escrevem para Deborah, a edição impressa do Post está perdendo leitores e anunciantes por três razões: o diário é muito liberal, foram oferecidos três planos de demissão voluntária em cinco anos e ele tem uma atitude muito arrogante.

Em relação ao fato de o Post ser considerado liberal, nem a direita ou a esquerda está satisfeita com a cobertura do diário – e é assim, diz a ombudsman, que deve ser. É verdade que o Post – assim como a maior parte da mídia nacional – publicou mais matérias favoráveis ao candidato democrata Barack Obama do que ao republicano John McCain. Editores têm suas razões para isto, mas os críticos conservadores estão certos ao afirmar que não vêem seus pontos de vista refletidos no jornal.

Já sobre a perda em tiragem que o Post enfrenta nos últimos anos, Deborah diz que é menor do que a enfrentada por muitos jornais metropolitanos; executivos alegam que a queda publicitária tem mais a ver com a situação econômica global do que com a cobertura política.

Perdas

No que se refere às demissões voluntárias, o Post sofreu com algumas perdas – como, por exemplo, a do crítico de cinema Stephen Hunter. Até o final do ano, o repórter Tom Ricks, especialista em temas militares, deve deixar o jornal, mantendo apenas um contrato de consultoria – como fez o crítico de TV Tom Shales e o colunista político David S. Broder. Alguns jornalistas talentosos foram para o New York Times e para o sítio Politico. Editores preparam uma reestruturação na redação e uma fusão com o sítio do diário. Ainda assim, a redação mantém uma equipe de bons repórteres, fotógrafos e editores, defende Deborah.

Quanto à arrogância, a ombudsman explica que o diário acredita que sabe o que é melhor para os leitores e como apresentar os fatos a eles. O Post tem suas próprias regras, que não serão mudadas. O feedback dos leitores é solicitado freqüentemente – mas nem sempre eles são atendidos. Os leitores pediam, por exemplo, mais informações sobre temas importantes na visão dos candidatos à presidência, pois não consideravam satisfatória a cobertura da corrida presidencial. Deborah apóia: com tantos recursos investidos na cobertura política, o Post deveria ter escrito mais sobre as propostas dos candidatos e a opinião de especialistas independentes. Muitos artigos bons, lembra ela, foram publicados na última semana – mas aí já era tarde demais.