Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Rita Celia Faheina

‘A manchete do O POVO da última segunda-feira, 14, gerou discussão na empresa, entre os leitores e até em sala de aula. ‘Por que tanto lixo na Rua’ iniciava uma série de matérias sobre a sujeira que aumenta em Fortaleza. Logo cedo, o estudante de jornalismo Ariel Gustavo enviou um e-mail perguntando se a manchete era uma pergunta ou uma afirmação. Respondi que se tratava de uma pergunta, mas que não se costumava usar interrogações nas manchetes de jornais. Na verdade, é o ponto de exclamação que é desaconselhável usar nas manchetes. A interrogação (aqui admito a minha falha) pode ser ou não usado nas manchetes dos jornais. Depende da opção do editor. Naquele dia, o editor plantonista da primeira página preferiu não acrescentá-lo na frase. É correto, de acordo com os manuais de redação.

Para o leitor entender melhor o uso das diversas grafias (por que, porque e porquê) em manchetes e títulos de matérias, pedi explicações ao professor de Língua Portuguesa, Myrson Lima e ele ensina: O “Por que“ da manchete significa “por qual motivo“ e por essa razão deve ser grafado separadamente. Trata-se, no entanto, evidentemente de uma pergunta, diz Myrson, e deveria, portanto, haver obrigatoriamente um ponto de interrogação no final. O professor confirma que os manuais de redação dos jornais desaconselham o emprego do ponto de exclamação nas manchetes, mas não censuram o uso do ponto de interrogação, que fica a critério do editor.

A grafia de “porque“ (junto e sem acento), continua Myrson, é usada somente quando se trata de uma conjunção causal, igual a “visto que“. A mesma grafia (junto e sem acento) se usava na linguagem literária, hoje arcaica, quando assume também o sentido de “para que“. Já o “Por que“ (separado) se usa quando é substituível por “por qual motivo“ ou por “pelo qual, pela qual, pelos quais, pelas quais“. Lição para o leitor ficar atento.

A manchete da última segunda-feira, o professor achou “pobre e inexpressiva“. Parece, diz ele, que não se trata de uma pergunta, que requer uma resposta do leitor, mas um registro de uma exclamação, de um protesto diante de tanta sujeira acumulada nas ruas. Tem, portanto, o sentido exclamativo censurado pelos manuais de redação dos jornais. Em texto jornalístico, não se pode escrever assim; em outros contextos, porém, para ser fiel ao que o redator quis comunicar e, com propriedade, registrar-se a pergunta que não requer resposta, pois usada como recurso estilístico unicamente com o objetivo de exprimir surpresa e censura, talvez coubesse a dupla pontuação: Por que tanto lixo na rua?! Ensina Myrson. Com a pontuação duplicada, de fato, a frase se torna mais enfática.

O EDITORIAL

Também recebi e-mails sobre o editorial do último dia 12. Com o título ‘Interesse nacional’, referia-se às negociações do governo brasileiro para a escolha do fornecedor de aviões de combate e outros equipamentos militares, que segundo o resumo do texto, ‘não devem ficar presas apenas ao critério técnico’. A discussão maior foi sobre o fato do editorialista – o editor sênior do O POVO, Valdemar Menezes & ser o redator da coluna Concidadania e ter expressado a mesma opinião no editorial. ‘Até quando o espaço do editorial do O POVO vai ser uma extensão da coluna do editorialista? Chega de editoriais ideológicos’, disse a leitora Danielle Diógenes.

Questionou-se a defesa do governo federal no texto publicado: O editorial escamoteia os fatos, a verdade quando omite que existe um processo público de licitação, pareceres técnicos, etc. ‘Até quando o leitor vai ter de ver(ler) que o editor confunde o espaço de sua coluna com o do editorial. São coisas diferentes, ou não?’ Indagou Lucas Magalhães.

O jornalista Valdemar Menezes responde: ‘Nos momentos em que o debate na sociedade atinge pontos fundamentais, que dividem opiniões, é natural que as posições divergentes produzam às vezes a elevação de temperatura no embate de ideias. Isso é próprio da democracia. É perfeitamente compreensível que o leitor discorde da opinião do jornal. O POVO não se julga detentor do monopólio da verdade. Mas, tem clara a posição de que assim como o leitor tem o direito de expressar sua opinião, o jornal também tem o mesmo direito. Cada um pode discordar do outro sem desqualificar o pensamento contrário. O POVO sempre teve como norma posicionar-se diante das questões, recusando-se a ser pusilânime ou ficar apenas numa cômoda posição formal, mesmo que isso possa acarretar incompreensões’.

E continua: ‘Na questão da negociação do fornecedor de equipamentos militares, entende que se trata de uma decisão estratégica e, como tal, não deve ficar presa apenas a aspectos técnicos e financeiros. Isso, sem dúvida também é levado em conta, mas, a decisão derradeira é política, pois diz respeito à soberania nacional. Quando o Chefe de Estado chama a si essa incumbência, está apenas cumprindo a Constituição, que lhe reserva essa prerrogativa, depois de ouvidas as instâncias competentes. Quanto ao editor da coluna Concidadania expressar concordância com a posição defendida pelo jornal no Editorial (quando coincide que seja o redator igualmente do texto oficial), isso é mais do que natural, pois isso significa que as duas instâncias jornalísticas comungam da mesma preocupação com as questões prementes da sociedade’, conclui.’