Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Rita Célia Faheina

‘‘Tão importante quanto a quantidade de erros é o seu tipo, porque muitas vezes eles alteram, deturpam a informação que o jornalista quer transmitir. Se um erro médico pode causar a morte do paciente, quais os danos que um erro de informação jornalística pode causar ao leitor? Esta é a pergunta que todo jornalista deveria se fazer diariamente, várias vezes ao dia, ao ter que tomar inúmeras decisões no processo de produção da notícia’

A declaração é de Paulo Machado, ouvidor-adjunto da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Utilizei a declaração do jornalista e escritor para lembrar aos leitores sobre os dois recentes erros de informação divulgados no O POVO. O mais recente causou indignação em muita gente. Lembrem da notícia publicada (com chamada na capa) no último dia 29 de junho, sobre o estudante de 19 anos que morreu após saltar de paraquedas, em Quixadá, no Sertão Central do Estado.

O jornal publicou, na página 9, que o rapaz era o baiano João Ângelo Fernandes Monte Negro, residente em Fortaleza. O nome da vítima não era o mesmo divulgado por outros órgãos de imprensa local. Veja a diferença de outra notícia: a vítima era o paulista Natã Firmino da Silva, corretor de valores de 45 anos. Fiz a comparação no comentário interno, mas não recebi qualquer retorno dos editores. Só soube que a notícia do O POVO estava errada quando recebi a visita de uma amiga da família de João Ângelo. Ela disse que, durante o dia, o telefone da casa dele não parou de tocar. Todos queriam se solidarizar com os familiares pela morte do rapaz. Sorte é que os pais sabiam que o filho estava vivo e não correra qualquer risco de morte.

Na verdade, João Ângelo era o piloto do monomotor Skydive PT IGB 182, que conduzia Natã e outros dois paraquedistas. Só Natã morreu ao saltar. Essas informações constavam na edição do dia seguinte do O POVO, em matéria que se referia também às inúmeras explicações que os pais de João Ângelo tiveram que dar. ‘Os pais cansaram de dizer que nada tinha acontecido’, disse a amiga. O que não tira a responsabilidade do grave erro.

Outros leitores até lembraram: ‘E se os pais não soubessem e lessem o jornal? Poderiam ter um grave problema de saúde, como um infarto, por causa da emoção.’

Francisco Marcos lamentou a troca dos nomes e perguntou: Por que outros órgãos de comunicação deram a noticia correta e O POVO não? Isso descredencia o jornal que leio há 30 anos’ Cai mesmo no descrédito dos leitores, por isso indaguei no comentário interno quem fornecera os dados errados para o repórter. Ou a apuração da notícia é que não fora cuidadosa?

Poucos dias antes (24 último), O POVO informara, na manchete, que a Polícia Federal prendera 10 pessoas por sonegação fiscal. Entre os presos, segundo a matéria, estariam três auditores da Sefaz, seis auditores fiscais da Receita Federal e um empresário. No dia seguinte, a correção: O POVO errou ao informar que seis auditores da Receita Federal tinham sido presos durante a operação realizada pela Polícia Federal. Os seis auditores participavam era das investigações e atuavam em conjunto com os agentes federais.

Perguntei à editora-executiva do Núcleo Cotidiano, Tânia Alves, o que tinha acontecido e ela respondeu: ‘Nos dois casos O POVO fez o devido reparo nas edições dos dias seguintes, com igual destaque, não se limitando à seção Erramos. No caso do rapaz de Quixadá, o erro original foi da autoridade policial, o Comando de Policiamento do Interior (CPI), que registrou o evento em seu boletim, conforme pode ser comprovado no documento que estamos enviando. Peço, inclusive que, se for possível, publique-o. O repórter ligou para checar a informação com pelo menos duas fontes: o subtenente do CPI que estava de plantão e a Delegacia de Quixadá, onde o policial que se identificou por Carlos Feitosa confirmou o acidente e o nome da vítima. Quanto aos auditores, a informação foi repassada por uma fonte que até então era confiável’. De fato, não dá mais para confiar nesta fonte.

A cópia do registro do CPI, enviado por Tânia, é assinada pelo sargento PM Clímaco Bandeira de Castro, fiscal de Policiamento do Interior. Na nota de número 23 da 1º CIA/11º BPM consta que no dia 27 de junho, por volta das 13h50min, no campo de aviação, em Quixadá, foi ‘vítima fatal (sic) de queda de paraquedas João Ângelo Fernandes Monte Negro, 19 anos, estudante. Segundo informações, a vítima ao saltar, seu paraquedas não abriu, tendo uma queda livre de aproximadamente 4 mil metros de altura. A vítima foi encontrada com fraturas por todo corpo’. Consta ainda o nome da equipe de PMs que esteve no local e conduziu o corpo ao IML de Quixeramobim. O radiograma (mensagem) tem assinatura do soldado Silva Dantas.’