Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Rita Célia Faheina

‘Descoberto um dos panos que poderiam ter sido usados para limpar o sangue que supostamente escorrera da boca da beata Maria de Araújo depois que ela recebera a Eucaristia (hóstia consagrada) das mãos do padre Cícero Romão Batista. Foi o que divulgou O POVO na edição do último domingo, 1º, data comemorativa dos 120 anos do chamado ‘milagre de Juazeiro’.

E quem estava com a relíquia? O padre italiano José Venturelli, da ordem salesiana, congregação religiosa fundada por São João Bosco que tem o nome oficial de Pia Sociedade de São Francisco de Sales. Em Juazeiro do Norte, esses sacerdotes, popularmente conhecidos por salesianos de dom Bosco, cuidam das obras do padre Cícero na Colina do Horto.

Os repórteres Cláudio Ribeiro e Thiago Cafardo descreveram, na matéria, o encontro com o padre Venturelli, a surpresa pela revelação do sacerdote que tinha a relíquia guardada e confiaram na afirmação do salesiano de que o bispo, dom Fernando Panico, da Diocese do Crato (Juazeiro do Norte é subordinada à Diocese do Crato) tinha conhecimento do novo sanguinho que é como se chama a toalhinha semelhante a um lenço branco usado para enxugar os lábios do celebrante da missa, o cálice e a âmbula (espécie de cálice onde são colocadas as hóstias para os fiéis).

Na matéria não constava a confirmação de dom Fernando e nem a informação de que os repórteres tinham procurado o bispo para se pronunciar. Membros da Diocese do Crato, sacerdotes da Basílica Menor de Nossa Senhora das Dores, pesquisadores do suposto episódio não foram ouvidos. Nem romeiros.

Na terça-feira, 3, dom Fernando Panico desmentiu a afirmação do padre José Venturelli dizendo que ficara surpreso com o ‘novo pano da beata’ e pediu cuidado na publicação desses fatos para não gerar expectativas. Isso numa entrevista concedida à repórter Elizângela Santos, do Diário do Nordeste.

Leitores, pessoas da igreja e pesquisadores da história do padre Cícero reclamaram à ombudsman da falta de contato com dom Fernando e mais fontes na matéria para que discutissem o aparecimento da relíquia. Disseram que, da forma que a notícia fora divulgada, havia a impressão de que o jornal dava o fato como verdadeiro, sem levar o leitor a questionar. Houve comentários de que o novo pano não era motivo para tanto alarde.

Justificativa

Os repórteres Cláudio Ribeiro e Thiago Cafardo explicam: ‘Falamos com a Igreja. O padre José Venturelli é administrador do Horto, um religioso da Diocese, autorizado a falar pela Igreja numa situação como a citada na matéria. É uma pessoa qualificada pela Diocese a dar declarações a respeito da história tratada na reportagem. Foi o padre que nos contou ter um pano que poderia ser um dos que teriam sido usados para limpar a beata Maria de Araújo. Assim, não compreendemos quem diz que não há uma declaração da Igreja.

Por todo currículo do padre Venturelli, ele é, sim, uma pessoa com autoridade para dar entrevista. Estávamos em Juazeiro e procuramos o bispo do Crato. Dom Fernando Panico estava ‘em Brasília ou São Paulo’, como nos foi informado. A matéria diz, e o padre Venturelli também, que o pano encontrado no livro ainda aguarda comprovação científica e a apuração da Igreja para atestar sua autenticidade. Está lá. Não endossamos o fato como verdadeiro. Contamos o que achamos ali, diante de nós. E respeitamos os fatos históricos, dando o devido valor ao que aconteceu e às suas nuances, polêmicas e valores. Havia uma efeméride fechada naquele domingo da publicação.

O achado não chegou a ser contestado pelo bispo, em entrevista ao Diário do Nordeste, dois dias após nossa publicação. Dom Fernando se disse surpreso com a divulgação, assumida pelo padre. Também diz, como nós, que o pano não é autêntico até a devida comprovação. O que estava em nossa mão tinha valor jornalístico e estava resguardado pela declaração de um padre, membro da Diocese. Quando concluímos a matéria, entendeu-se de ela ser publicável como estava. E já estava programada toda uma série de matérias como aprofundamento, publicada a partir de quinta, 5, feita pela repórter Ana Mary C.Cavalcante’.

Outras religiões

O leitor Célio Andrade, que enviou comentários sobre as matérias do ‘milagre de Juazeiro’ (serão divulgadas até amanhã encerrando com entrevista de dom Fernando Panico) quer saber quantos artigos e notícias são publicadas semanalmente no O POVO sobre a Igreja Cristã Romana. ‘Sabemos que não chega, nem de perto, ao mesmo espaço destinado às outras religiões como a mulçumana, budista, umbandista, islã, sem esquecer o espaço dado aos filósofos, cientistas e agnósticos que efetuaram seus devidos contrapontos’.

A resposta é da editora de Opinião, Jacqueline Costa:’Temos a página de Espiritualidade, ao domingos, que é aberta a todos os credos, assim que cheguem as colaborações. Nas páginas de Opinião e Jornal do Leitor, da mesma forma. O POVO é democrático. O espaço é de todos e para todos’.’