Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Rita Célia Faheina

‘A notícia sobre a tentativa de estupro contra uma universitária em Fortaleza, publicada no O POVO, dia 2 passado, causou indignação a muitos leitores. Tanto pelo fato (uma jovem de 22 anos pulou do 2º andar de um prédio, na Praia do Futuro, para escapar da agressão, ficando com lesões e fraturas) como pela não-divulgação dos nomes dos acusados. Segundo a polícia, um empresário e seu amigo.

O POVO não publicou os nomes dos acusados e nem da vítima. As explicações vinham no fim da matéria: Houve tentativas de ouvir o empresário por telefone que, quando soube que era do jornal, desligou o celular. O jornal também preservava os nomes dos acusados porque ainda não tinham sido indiciados. O nome da vítima fora mantido em sigilo por questões de segurança.

Os leitores não aceitaram a justificativa. Ligaram e enviaram e-mails durante a semana. ‘Muito triste a matéria sobre a universitária que teria saltado do 2º andar de um prédio, porque estaria com medo de ser molestada sexualmente por um empresário. Lamento pela inditosa jovem, mas lamento também que ainda se publique matéria sem nomes de qualquer natureza… Por que somente uma semana depois da coisa ter acontecido, o jornal publica a matéria?’. O trecho é de um dos e-mails.

Outro leitor disse, por telefone, que se fosse um pobre (o acusado) já tinha o seu nome e o da família, divulgados pelo jornal. ‘Quer dizer que se esse marginal não for indiciado, O POVO vai esconder a sua identidade? ‘, perguntou mais um leitor.

Na edição do dia seguinte, 3, o jornal retomou a matéria informando que os dois homens acusados de agressão e da tentativa de estupro contra a universitária seriam intimados a prestar depoimento na Delegacia da Mulher. ‘Os dois devem ser indiciados em inquérito pela delegada Rena Gomes que só tomou conhecimento da agressão três dias após o fato’.

A preservação dos nomes foi motivo para mais telefonemas e e-mails. ‘Será que esses agressores não têm nomes? Será porque são ricos não divulgam no jornal? E se fossem ladrões de galinhas, morando na periferia, já tinha saído seus nomes?’ Foram as perguntas feitas pelos leitores.

Houve ainda quem dissesse que só O POVO silenciava sobre os nomes. Em outros jornais (impresso e TV) acompanhara o assunto e vira a divulgação dos nomes, inclusive da universitária agredida. ‘O jornal deveria ter divulgado porque será mais um crime sem impunidade. Seria um estimulo para que outros não acontecessem’, disse o leitor que pediu para que preservasse o seu nome, assim como tinham solicitado os demais, em telefonemas e e-mails.

Procedimento

Os leitores não ficaram convencidos com a explicação da ombudsman de que O POVO adota o procedimento de só publicar nomes de acusados após o indiciamento, denúncia ou se a pessoa for presa em flagrante.

No dia 4 passado, outra matéria anunciava que um dos dois homens acusados da agressão e da tentativa de estupro contra a universitária se apresentara espontaneamente na Delegacia da Mulher e que o rapaz não fora ouvido porque a delegada Rena Gomes havia ido ao Instituto Doutor José Frota ouvir o depoimento da universitária que estava internada. Os nomes continuaram preservados e os leitores voltaram a reclamar: ‘Quando é um empresário, a imprensa e a polícia se recusam a divulgar o nome, mas se o acusado fosse pobre já estaria no jornal’.

Outro deu sua opinião:’Gostaria de esclarecer que a atitude da impressa, bem como da polícia em divulgar os nomes se faz necessário para a proteção da sociedade, evitando que outras garotas sejam vítimas desses maníacos’.

O editor-chefe-executivo jornalista Erick Guimarães reforça que ‘o procedimento (do O POVO) é antigo. Ele existe para criar regras mínimas para divulgação do nome de acusados, e isso vale para ricos e para pobres. Uma forma de evitar que a simples suspeita de um delegado leve a uma pessoa ter o nome publicado no jornal. Claro: mesmo pessoas indiciadas podem ser inocentes. Daí o porque de as matérias precisarem ser bem contextualizadas e tratarem os personagens apenas como indiciados ou denunciados até que o caso seja totalmente esclarecido’.

Erick lembrou que ‘O POVO foi o primeiro veículo de comunicação a noticiar o fato, o que torna equivocado o argumento de que o jornal só noticiou o caso mais de uma semana depois. O POVO noticiou o caso assim que soube, utilizando os mesmo procedimentos que usa sempre. A partir daí, outros veículos de comunicação entraram no caso’.

Na edição da última quinta-feira, 9, após os acusados serem indiciados pela delegada Rena Gomes, da Delegacia da Mulher, O POVO divulgou os nomes. Régis Antônio Benevides, estudante do curso de Economia, e Paulo Fernando de Sousa Maia, que é comerciante. O nome da universitária agredida continuou preservado.’