Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Sigilo absoluto não faz bem ao governo

Recente reportagem do New York Times sobre uma companhia que faz transporte internacional de acusados de integrarem a al-Qaeda para a CIA causou reação negativa de muitos leitores, que escreveram para o novo editor-público do jornal, Byron Calame [19/6/05]. Esta empresa, Aero Contractors Ltd., faz vôos charter com os prisioneiros, transportando-os para lugares onde as leis contra tortura são menos estritas, o que leva a crer que podem estar sendo vítimas de maus tratos.

Os leitores se queixavam de que a matéria dava detalhes que poderiam comprometer a segurança dos vôos. Um deles escreve que não enxerga outra finalidade no texto que não ‘desviar a Inteligência da nação de conduzir as missões que a ela foram dadas pelo presidente’. O autor da reportagem, Scott Shane, explica que esse tipo de transporte terceirizado de prisioneiros não é novidade na imprensa e que as rotas de vôos puderam ser traçadas porque observadores colocam na internet as matrículas de aviões que vêem pelo céu. Ele ressalta que se a imprensa não noticiar o que os militares estão fazendo, jamais a sociedade poderá debater se estão agindo de forma correta. ‘Talvez por ter trabalhado como correspondente na União Soviética por alguns anos, eu pense que quando um governo age com sigilo excessivo, isso leva ao desperdício e ao abuso’.

Shane nota ainda que um resumo da matéria foi enviado ao Pentágono cinco dias antes da publicação. Apesar de ter vários dias para apresentar objeções, os militares não se manifestaram, o que leva a crer que, para eles, não havia nela informações que pudessem comprometer a segurança das missões. Ainda assim, o detalhe mais importante talvez seja o fato de que o artigo se baseia essencialmente em informações coletadas na internet. Isso significa que qualquer inimigo dos EUA, com um mínimo de competência, também poderia encontrar na Rede tudo que o jornal publicou. Calame conclui que, tendo sido explicado o procedimento do jornalista para produzir esse texto, os leitores ganham uma base que lhes permitirá avaliar melhor futuras reportagens do mesmo tipo.