Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Tania Alves

A cobertura de matérias jornalísticas no O POVO deve sempre buscar a pluralidade. O leitor já está acostumado com esta norma do bom jornalismo. Quando a pauta assim não procede, ele reclama para que o noticiário volte ao seu curso normal. Foi o que ocorreu na quarta-feira passada, dia 12. Leitor telefonou à ouvidoria para se queixar da falta de cobertura na mobilização realizada no Dia do Estudante, na véspera, pela Frente em Defesa do Pré-Sal, da Petrobras e da Educação. Ele lembrou que, no dia anterior, o jornal publicou matéria, na editoria Radar, sobre um ato na avenida Bezerra de Menezes que chamava para o Fora Dilma, evento marcado para a tarde deste domingo na Praça Portugal, e deixou de comparecer à caminhada entre a praça Clóvis Beviláqua, no Centro, e a praça da Gentilândia. “Para o Fora Dilma vai uma equipe do jornal, faz vídeo, publica no portal (O POVO Online), faz o maior auê e quando se faz a defesa do Pré-Sal não tem divulgação”, disse, completando que achou estranho, pois considera O POVO um jornal que prima por mostrar a multiplicidade de ideias.
O comentário do leitor tem razão de ser. Inexiste justificativa para deixar de cobrir uma caminhada que reuniu duas mil pessoas (ver foto), segundo a página oficial do Sindicato Apeoc, entidade que coordena a frente. A mobilização foi contra o projeto de Lei 131/2015, do senador José Serra (PSDB/SP), que tira da Petrobras a exclusividade da exploração do Pré-Sal. Outras 23 entidades apoiam a iniciativa. A caminhada não foi noticiada pelo O POVO sequer numa nota Breves. Também nada foi postado no Portal O POVO Online ou mídias sociais do grupo. Uma equipe do jornal poderia ter ido ao local para, pelo menos, produzir um vídeo. A coluna Vertical publicou uma nota, com o título “I Love Petrobras”, segunda-feira passada, mas anunciando o ato. Este não foi o único momento da semana passada em que houve falha na cobertura por não se ficar mais atento às ações dos movimentos sociais.
MARGARIDAS SECUNDÁRIAS

No comentário interno da quinta-feira passada, 13, anotei que a Marcha das Margaridas, evento realizado todos os anos para debater as condições das trabalhadoras rurais do País, também deixou de obter a devida cobertura do O POVO. O evento, que reuniu milhares de mulheres de todos os estados em Brasília, ganhou destaque na capa, porém se resumiu a três parágrafos de matéria coordenada (que não é manchete) na cobertura interna. Este ano, o encontro caminhou também na defesa do mandato da presidente Dilma. Pelo momento político, teve maior repercussão.
Enviei email solicitando uma explicação para as duas questões explicadas acima. O editor-executivo do Núcleo de Conjuntura, Guálter George, reconhece o equívoco no tratamento dado às duas manifestações. Ele diz: “A nossa avaliação interna sobre os dois casos abordados na coluna vai na mesma linha de sua análise, infelizmente. Ou seja, em ambas as situações admitimos, hoje, que as opções editoriais feitas estavam aquém da dimensão dos fatos”, diz.
“Quanto à caminhada da Frente em Defesa do Pré-Sal, da Petrobras e da Educação, o erro foi não registrar nada do evento, independente da dimensão que tenha tido. Já em relação à Marcha das Margaridas, a ideia de tratar o acontecimento político na linha de coordenada, dentro do conjunto de movimentações do dia em Brasília, acabou não dimensionando-o com a justiça necessária. Mesmo que a edição no geral lhe tenha contemplado bem, inclusive com uma boa foto na capa”.
SUBSÍDIOS

O reconhecimento de falha na cobertura mostra maturidade da Redação. É um passo para se trabalhar com mais atenção em futuras pautas. Não se trata aqui de pedir para deixar de cobrir a divulgação do Fora Dilma para acompanhar a Frente da Educação, ou vice e versa. Mas de dar espaço equilibrado para todas as manifestações, respeitando, lógico, seu alcance e sua dimensão.

 

O POVO é um jornal que pauta a sua missão pelo princípio da divergência e do espírito crítico. Por isso, é fácil ler nas suas páginas, numa mesma edição, opiniões opostas para que o leitor se informe e tire suas próprias conclusões. Daí, quando se deixa de mostrar um evento como foi a caminhada em defesa do Pré-Sal ou se minimiza a Marcha das Margaridas, o jornal abre mão de oferecer aos seus leitores subsídios para que ele entenda todos os emaranhados que formam o cenário atual da política brasileira.