Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Tânia Alves

Num mundo em que as notícias ganham velocidade assustadora na Internet, movidas a sucesso instantâneo de compartilhamentos, fazer análise consistente dos fatos para apresentar ao leitor no dia seguinte é a função que o jornal impresso pode assumir e abraçar. No O POVO, a pluralidade de análises e opiniões é valorizada e se apresenta ao longo de toda edição diária. Seja nas colunas, nos artigos da página de Opinião, ou ainda no “Ponto de Vista” como complemento ao noticiário. Opinião no jornal é um exercício diário para o aprofundado analítico do texto.

Como o “Ponto de Vista” é subjetivo, nem sempre é motivo de reclamação dos leitores. Não foi o que ocorreu na segunda-feira passada, 13, com texto publicado na seção junto à cobertura das manifestações realizadas no dia anterior. Leitor entrou em contato com a ouvidoria e classificou de irritante e desastrado o início do artigo “Eles merecem respeito”, de autoria do editor- executivo do Núcleo de Negócios Jocélio Leal. “O dia de ontem foi de militantes chapa-branca a tentar minimizar as manifestações pelo País, de Governo buscando fazer um olhar blasé, de PMDB segurando os lábios para não rir e de manifestantes aguerridos na rua”, opinava a primeira frase do comentário. O leitor reconheceu que era uma visão particular do autor, mas para ele, escrito do jeito que foi, pareceu uma provocação. “Ele foi infeliz. Ele utilizou, no início do texto, uma ironia equivocada”, disse.

Sobre responsabilidades

O leitor tem razão. O início do ponto de vista, querendo transformar em vilão um lado e em mocinho o outro, pareceu-me descabido. Faltou bom senso. É como se fosse dirigido para um lado só. O desconforto que o ponto de vista me causou no início se esvaiu à medida que a leitura foi avançando. Ao falar da percepção que teve da manifestação em si, a opinião passa a ser mais comedida, me parecendo dentro do princípio da razoabilidade. Enviei email para o editor de Negócios para que ele comentasse. Não recebi resposta.

O alerta do leitor, no entanto, me fez refletir sobre o quanto pesa aquilo que a gente reproduz e escreve no contexto político brasileiro de hoje. Editores, repórteres e fotógrafos nunca devem perder de vista a responsabilidade que devem cultivar com as palavras ao analisar os fatos. Jornalista tem o dever de ser duro em suas análises, mas nunca se deixar levar pelo clima de rivalidade, semelhante a do futebol, que está tomando conta das ruas. Ao lançar opinião, é preciso ter cuidado para não fomentar mais e mais a divisão em um País já muito apartado. Por isso, entendo que os pontos de vistas, que tão bem são utilizados no noticiário do O POVO, devem servir de mecanismos para a difusão de ideias múltiplas e não apenas buscar holofotes.

Aniversário de Fortaleza

O POVO entregou aos seus leitores no dia 13 passado um caderno para celebrar os 289 anos de Fortaleza. Lançar produtos no aniversário da Cidade já é uma marca do jornal, sempre atento em sua relação com o cotidiano. Este ano, o caderno Especial com o título “A cidade e o devir” reuniu 10 ensaístas, repórteres da casa e convidados, para escrever sobre temas que perpassam a metrópole. A publicação está inserida dentro de um projeto de cobertura que começou no dia 5 de abril com matéria no DOM, contou com webdocumentário “Fortaleza das marés”, hotsite no Portal O POVO Online, ação nas mídias sociais do grupo e perpassou por todas as editorias do impresso. O trabalho resultou num caderno consistente, denso, sem academicismo. É um esforço de pesquisa dos articulistas, mas com linguagem de fácil degustação e atemporal. Disse no comentário interno e repito aqui: a “A cidade e o devir” é um produto para ser usado em sala de aula, em disciplinas que queiram entender a formação de Fortaleza, enxergar os problemas atuais e antever o futuro. É um documento para se guardar.

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Tânia Alves é ombudsman do jornal O Povo.