Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Tereza Rangel

‘Reportagem sobre o Novo Palio divulgada por UOL Carros e pela home page do UOL causou indignação em leitores. O título na home: ‘Novo Pálio (sic) apanha’; da reportagem: ‘Novo Palio leva goleada do concorrente da VW’; e os dois primeiros parágrafos do texto levaram internautas a escrever para a ombudsman para reclamar. Apesar de o texto ter sido destacado pela home page do UOL há quase uma semana, ainda está provocando reações.

‘Realmente o Fiat Palio tem muitos pontos negativos, mas da forma que eles escreveram, quem lê a matéria tem a clara impressão de que o veículo com o qual eles compararam o Fiat Palio, que na reportagem é o Volkswagem Gol, é muito superior ao Palio. Isso não é verdade. Qualquer pessoa sabe que os dois carros são praticamente equivalentes. Na reportagem se tem a clara impressão que o Gol é muito superior ao Palio. Não foi citado um único ponto negativo do Gol, e olhe que ele tem mais pontos negativos que o Palio! A intenção de manipulação da opinião de quem está lendo a referida reportagem fica bem clara’, diz Flavio.

‘Quebrando a tradição de boas reportagens e artigos do site, é com indignação que li o artigo sobre o Novo Palio. A reportagem é tão inverídica e tendenciosa que parece ter sido paga pela VW do Brasil’, afirma Mauro.

O título da reportagem e seus dois primeiros parágrafos faziam referência ao Gol, colocando-o em vantagem.

‘O Fiat Palio até aparece no retrovisor do Gol, mas não o ultrapassa. Apesar de há 11 anos comer poeira nas vendas do veterano hatch da Volkswagen, a marca italiana não desiste. A estratégia tem sido seguir o modelo da marca alemã em tudo. Basta o Gol sofrer um ‘face-lift’ que a Fiat logo promove uma boa maquiagem no seu hatch. Na mais recente, porém, houve uma significativa diferença. Enquanto a Volkswagen bancou mudar o visual do carrinho de uma só vez, em 2005, a Fiat se atrasou e preferiu fazer aos poucos. Apresentou o Palio 2008, mas manteve o antigo, rebatizado de Palio Fire, em produção. Foi a sorte. O novo visual, de clara inspiração chinesa, não agradou. A versão velha é a que continua sustentando a vice-liderança do compacto no ranking (principalmente pelo baixo preço oferecido a frotistas).’

Acontece que o texto não era um comparativo entre os dois carros. Era, segundo seus autores, uma avaliação do Novo Palio. A avaliação propriamente dita começava no terceiro parágrafo. No pé do texto principal, havia uma tabela, que dava nota final de 5,8 ao Palio. Os autores do texto, da agência Auto Press, defendem-se ao dizer que ‘foi feita apenas uma análise do Palio como produto e do que a Fiat almeja com ele: tomar a liderança de vendas do Gol . Embora tenham sido observados no teste alguns aspectos negativos, as notas do Palio nem foram tão ruins (nenhuma foi abaixo de cinco)… O fato de o Palio ter tido algumas de suas características questionadas não significa que o Gol seja um carro melhor ou pior. Na matéria, apenas o Palio 1.4 foi avaliado por Auto Press.’

Por que então fazer um título para comparar o Palio com o Gol (o original era ‘Sempre atrás do Gol’), se essa comparação é em relação às vendas e o objetivo do texto era falar das características do Novo Palio? Para provocar a ira dos amantes do Palio? Os próprios autores afirmam que ‘automóvel é um assunto que mexe com paixão’. Se a análise era apenas sobre o Novo Palio, não teria sido um melhor serviço se concentrar nas características do automóvel, dos pontos fortes e fracos? Começá-la pelo terceiro parágrafo? Se o fato de o Gol ser líder de vendas e referência para outros modelos era um assunto tão relevante na avalição dos autores, por que não fazer, de fato, uma comparação? A reportagem ficou no meio do caminho, criando ruídos e indignação. Além do mais, reservou ao título e ao lide algo que nem é notícia (se há onze anos o Gol está à frente do Palio em vendas, qual é a novidade?).

‘Na verdade, o título é apenas uma referência ao fato de que, desde que foi lançado, há 11 anos, o Palio se mantém em segundo lugar no ranking nacional de vendas de automóveis, sempre atrás do Volkswagen Gol’, dizem os autores. No jornalismo, o título e o lide devem trazer as informações mais importantes, mais novas: no caso, que o Novo Palio tem nota 5,8 em avaliação da Auto Press. Detalhe: sim, o Palio vende menos do que o Gol, mas a cada ano a diferença cai. Veja a tabela abaixo com os números de carros emplacados, segundo a Fenabrave. A diferença na venda entre os dois modelos não permite falar em ‘goleada’. UOL Carros diz que ‘talvez ele (o título) tenha sido infeliz’. A ombudsman avalia que, tecnicamente, dentro das regras do jornalismo, está errado. Assim como o que falou em ‘Novo Palio apanha’ na home page.

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O bom exemplo (16/8/2007)

O UOL Economia preparou no dia 3 de agosto um infográfico para explicar como a crise dos imóveis dos EUA afeta o mundo. Um exemplo de simplicidade, didatismo e eficiência. Pela natureza da função, é raro a ombudsman receber elogios ao trabalho executado pela redação. Neste caso, foram vários, em vários dias diferentes.

‘Não sou assinante UOL, porém gostaria de elogiar este conteúdo que encontrei hoje, dia 15 de agosto de 2007 no portal UOL. Obrigado’, escreveu Gabriel sobre o infográfico de UOL Economia.

‘Acabo de ver o belíssimo e altamente esclarecedor infográfico sobre a crise imobiliária americana feito pelo portal de Economia do UOL. Na minha opinião, nada prolixo e de muita utilidade para quem quer entender a atual crise’, afirmou Pedro Phellipe.

‘Pedro Phellipe tem toda a razão. O infográfico ficou maravilha’, ressaltou Washington.

‘Hoje, ao acessar o portal, fui atraído pela manchete ‘Infográfico: entenda a crise americana’. O link leva para o infográfico ‘Entenda como a crise nos imóveis dos EUA afeta o mundo’, que foi com certeza a melhor explicação na Internet desta crise’, disse Luiz Rodrigo.

A redação poderia se espelhar no bom exemplo e multiplicar a prática de produzir informação de qualidade, com simplicidade e eficiência, que atenda ao internauta, como mostram as manifestações acima. (Também pela natureza da função, a ombudsman sentiu falta da fonte das informações que constam do infográfico e de sua atualização: afinal, é o mesmo desde o dia 3, e pode ser cansativo para o internauta que navega com freqüência).

Já que o assunto é infográfico, com clareza e simplicidade, falta no UOL um mapa que mostre o epicentro e a extensão do terremoto que atingiu o Peru na noite de ontem e matou mais de 300 pessoas. A concorrência tem.

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Conteúdo espremido (15/8/2007)

A figura acima traz cópias de home pages do UOL, de 2001 até 2007. A mancha amarela aponta o conteúdo editorial. A mancha vermelha, as áreas de publicidade ou comercial. Foram desconsiderados o pop-up e a eventual publicidade no espaço da foto principal. O menu ficou em área neutra, porque sua função é facilitar o acesso ao ‘interior’ do portal.

As imagens mostram que a área de conteúdo vem encolhendo em relação ao total da página. O conteúdo perdeu quase 20 pontos percentuais de 2001 a 2007. Ocupava 52,1% em 2001. Ocupa 32,6% hoje. Já o espaço destinado ao comercial e publicidade vem crescendo. Mais do que dobrou nesses seis anos (passou de 20,7% para 45% da página). Até 2004, o conteúdo era soberano na home page (mais de 50% do espaço). Em 2006, quando o UOL adotou a resolução 1024 por 768 pixels, o conteúdo ainda se sobrepunha ao espaço da publicidade/comercial, mas deixou de ser maioria (39,2%). Em 2007, veio o ponto de inflexão: o espaço publicitário e comercial passou a ser maior do que o de conteúdo (45% contra 32,6%).

Mesmo quando levamos em conta a resolução 800 x 600 pixels, nota-se também mudança significativa na proporção conteúdo x publicidade/comercial. Em 2006, áreas comerciais passaram a ocupar o pé da área de conteúdo. Entre 2001 e 2007, houve uma perda de quase dez pontos percentuais de conteúdo na home page. É bom ressaltar que cada vez menos gente usa essa resolução de tela. No mundo, são 8%, segundo a OneStat. (Agradeço ao internauta Danilo Korber, que chamou a minha atenção para dados mais atualizados em relação aos 12% que eu informei no post original).

‘Parece que o espaço de publicidade na página principal está ‘espremendo’ da direita para a esquerda o espaço total, em detrimento do conteúdo, ou é ilusão de óptica minha?’, diz Ailton

‘O público está protestando pelo excesso de propagandas antes das sessões cinematográficas. E a página do UOL? Se fôssemos todos protestar, daria uma Bíblia, tamanha a quantidade de anúncios, né?’ , afirma Antonio.

‘Se retirarmos todos os banners e colunas do Shopping UOL, do UOL Megastore, ficaremos com um ínfimo retângulo no meio da página… Isso na verdade contradiz o lema da UOL. O melhor conteúdo. Que conteúdo, devo perguntar? O conteúdo principal na página principal é na maioria feito de propagandas… Isso é o melhor que podem nos oferecer?’, comenta Viviane.

Nesta semana, a Associação de Publishers Online divulgou uma interessante pesquisa, conduzida pela Nielsen/NetRatings. Ela mostra que metade do tempo na Internet é gasto com conteúdo. Esse número supera atividades como o envio de e-mails, busca por informações e compras.

Ao mesmo tempo, a publicidade online está crescendo e vai ter cada vez mais importância no faturamento das empresas de Internet. A questão que se levanta é: como aumentar o faturamento em publicidade de forma equilibrada, atendendo aos interesses dos anunciantes, dos internautas que buscam anúncios e daqueles que se sentem agredidos com a crescente oferta de produtos à venda e reivindicam mais conteúdo?

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Dois pesos e duas medidas (13/8/2007)

Entre as acepções da palavra pornografia, o dicionário Houaiss destaca: ‘qualquer coisa feita com o intuito de ser pornográfico, de explorar o sexo tratado de maneira chula, como atrativo (p.ex., revistas, fotografias, filmes etc.)’.

Uma chamada para um ‘ensaio fotográfico’ (aspas minhas) do site Garotas do Outdoor na home page do UOL neste final de semana trouxe à tona a discussão de até que ponto o UOL deve usar sua página principal para divulgar conteúdo adulto. O tal ‘ensaio’ trazia fotos de nudez. Ao clicar na foto da home page do UOL, o internauta seria presenteado (ou golpeado) com uma imagem que servia de pano de fundo para 120 fotos do ‘ensaio’: a modelo deitada nua num sofá, com seio farto, pernas abertas e genitália à mostra. Se continuasse a clicar nas fotos, encontraria várias outras com visões quase ginecológicas da moça. O bloco ‘Ensaio’ vinha ao lado de outros com conteúdo pouco adulto: ‘Meninos também devem começar a ir ao médico cedo’ e ‘Mande uma foto dele (seu pai)’. Veja na imagem abaixo:

‘Acredito que o UOL deve tomar mais cuidado com matérias em sua página principal que levam para conteúdo pornográfico’, disse Eduardo. ‘O ensaio levava para uma página com fotos pornográficas sem nenhum controle de acesso contra crianças ou avisando o tipo de conteúdo.’

A chamada entrou às 22h de sábado e saiu às 5h de domingo. O horário é considerado ‘adulto’ pelo UOL. O que chama a atenção é haver dois pesos e duas medidas sobre a questão no portal. Quem entra em UOL Sexo dá de cara com uma advertência, chamando a atenção de que ‘UOL Sexo é um site exclusivo para maiores de 18 anos’. Quem clicou na home page do UOL entrou no site Garotas do Outdoor sem advertência alguma. O Garotas é parceiro de UOL Sexo, portanto, teoricamente, exclusivo para maiores de 18 anos. Parece uma distorção. Quem vai para UOL Sexo, imagino, sabe o que busca. Quem clicou na chamada na home do UOL poderia não saber. Ainda mais sob o chapéu ‘Ensaio’.

Pessoalmente, questiono se o UOL precisa levar à sua home page esse tipo de conteúdo. Claro que uma chamada dessas dá boa audiência. Claro que há interesse lícito por esse tipo de conteúdo. Acho, contudo, que o UOL deveria levar em consideração aqueles que se sentem ofendidos, pelas razões que forem. Principalmente quando podem entrar inadvertidamente no conteúdo pornográfico (o que era o caso deste final de semana).’