Após o fracasso de programas policiais nas grandes emissoras, famosos e pioneiros nos formatos – Aqui Agora (SBT), Cidade Alerta (TV Record) –, percebe-se a migração desses formatos para emissoras de menor porte nas capitais brasileiras. Hoje, com os diversos recursos tecnológicos, é possível ver esses programas não só pela TV, mas também na internet estão disponíveis em sites das próprias emissoras como em sites especializados em divulgação de vídeo, caso do YouTube.
Diante disso, pergunto: como informar a população e ajudar a sociedade por meio dos programas e reportagens policiais? O que é mesmo jornalismo-verdade?
Num âmbito regional, e até local, podemos perceber que não existe diferença entre os programas aqui produzidos em relação aos pioneiros Aqui Agora eCidade Alerta. Seja no rádio, na TV ou na mídia impressa, reportagens policiais caíram no gosto popular. Porém, esse tipo de reportagem, quando não utilizado como denúncia social, explora situações dramáticas e humilha as minorias. Seja qual for o fato, ele acontece dentro de um contexto que de forma alguma deve ser omitido, bem como os autos do processo e o nível de investigação criminal. Há diferenças que separam um indivíduo da situação de suspeito e de acusado – e assistir às reportagens policiais vistas diariamente para perceber os equívocos.
Educação é critério principal
Essas reportagens, se feitas sem compromisso, trazem à tona dois problemas graves. O primeiro é a banalização da violência. Você pode nunca ter sido vítima de um ato violento, mas, diante da TV, acredita que fatos cruéis são corriqueiros como quaisquer outros. A violência é um fato jornalístico e deve ser divulgado como tal.
Há diversas formas de tratar a notícia. Esta pode ser divulgada de forma fidedigna ou se transformar num grande espetáculo. Isto inclui desde o tratamento dado aos envolvidos no fato, eles acusados ou vítimas, como o uso da linguagem. O que se percebe nesse tipo de reportagens policiais é a apropriação da linguagem policial e até do palavreado chulo, o que tem pouco a ver com a linguagem jornalística.
O segundo problema é suscitação do medo: ‘Eu não vou naquele bairro, porque ali moram pessoas que cometem crimes’. Ou seja, a violência, mostrada de forma estigmatizada, divide a sociedade. Sabemos que é papel do Estado promover o desenvolvimento e o bem-estar da população, e que a mídia não é a culpada pelas diferenças existem em nossa sociedade. Valores sociais podem ser resgatados e a mídia pode contribuir com isso. Uma (dentre tantas) função da mídia é educar, e o critério principal para o desenvolvimento de um país é a educação – a condição básica para a construção de oportunidades iguais.
Respeito e cautela
Reportagens policiais de baixo nível têm ocupado espaço na mídia, principalmente porque a população se vê ali representada, em especial a dos bairros mais carentes. Boa parte dessa população acredita que seus problemas e carências serão resolvidos através da divulgação desses fatos. As pessoas tendem a acreditar que a privação de bens materiais e de direitos sociais têm a ver com sua pobreza, esquecendo que pobreza é estar impossibilitado de construir suas próprias oportunidades.
Estudo realizado em Itabuna (BA) pelo escrivão de Roberto José da Silva, da Polícia Civil, mostrou que é na periferia da cidade que ocorre a maioria dos homicídios dolosos. As áreas mais problemáticas convivem com a falta de equipamentos urbanos, ruas sem pavimentação e policiamento precário ou inexistente. A mesma pesquisa revelou que a maioria das vítimas e autores desses crimes não é alfabetizada. Importante lembrar que essa parcela da população que se identifica com as reportagens policiais não tem opção nem outro espaço na mídia.
Os meios de comunicação social não devem esquecer que a violência está diretamente relacionada às questões sociais. Vivemos numa sociedade sem direitos, na qual a Justiça, muitas vezes, é ausente, os direitos humanos são violados e a politicagem está acima dos valores morais. Respeito, apuração de fatos e cautela são essenciais na divulgação de qualquer notícia.
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Estudante de Comunicação, Ilhéus, BA