Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O triunfo da boçalidade

É do Estado de S.Paulo a melhor contribuição do fim de semana para a análise do papel da mídia na cultura e na qualidade da sociedade contemporânea. ‘A era da performance’, texto publicado no caderno ‘Aliás’ (domingo, 2/3), traz excelentes reflexões sobre a sociedade do exibicionismo sem limites, no qual, aliás, a mídia cumpre o papel fundamental de veículo – ou, como se diz no mundo das artes plásticas, de ‘suporte’.


O antiintelectualismo, a ignorância arrogante, a supremacia da tecnologia sobre o conteúdo, a privacidade transformada em espetáculo são alguns dos temas tratados numa longa conversa entre a jornalista Lúcia Guimarães, correspondente em Nova York, e o ensaísta Lee Siegel. O resultado oferece uma plataforma para reflexão de educadores, formuladores de políticas culturais e de comunicação, mas principalmente para os profissionais da mídia.


Das séries de TV que exploram a intimidade de seres evidentemente patológicos ao fenômeno dos blogs que constroem e destroem paradigmas, Lee Siegel devassa o universo que construímos com o casamento entre a tecnologia da informação e o mais irresponsável mercantilismo da mídia.


Ler e guardar


O ensaísta não afirma que a internet criou patologias de comportamento, mas observa que o negócio da mídia na internet transformou patologias em objetos de valor positivo.


Ele não precisa citar, mas o leitor atento vai se lembrar de aberrações como o programa Big Brother Brasil e assemelhados, que oferecem uma faceta mais ou menos inocente na rede aberta de TV, mas deixa escancarados na internet comportamentos cuja audiência os donos da emissora se envergonhariam de partilhar com seus filhos. E em cima de tudo isso os personagens do programa são avalizados como ‘protagonistas’ em jornais do mesmo grupo empresarial.


O caderno ‘Aliás’ desta semana é para ler, guardar e manter o espírito crítico no oceano de mediocridades em que estamos mergulhados.