Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Relação carnal

Se existe alguma coisa no Brasil que só piora ano após ano, é a Febem. Em 2005, inclusive, a instituição comandada pelo governo tucano do estado de São Paulo bateu recorde de ineficiência, de corrupção, de incompetência e de tudo o mais de ruim que se possa imaginar. Em menos de 90 dias já houve 20 rebeliões e fuga de mais de 800 internos.

O descalabro que é a Febem deveria provocar críticas fortíssimas da sociedade ao governador Geraldo Alckmin. E essas críticas até existem, porém parece que não existem porque a imprensa paulista as omite. Aliás, em lugar de críticas ela tem até elogiado o tucano, por incrível que pareça. O Estadão, inclusive, em editorial publicado na semana passada, conseguiu até ver ‘ações corajosas do governo’ do estado nessa questão.

Nenhum grande órgão de imprensa teve a decência de chamar Alckmin de incompetente com todas as letras e de cobrar dele ações imediatas e eficientes depois de mais de uma década em que os tucanos estão dirigindo a Febem.

A Febem é um inferno. Nela, pessoas (internos e funcionários) são torturadas, estupradas e assassinadas num caleidoscópio interminável de terror, e o responsável maior por tudo isso, o governador Alckmin, praticamente não recebe críticas pessoais na mídia, que prefere apenas descrever o que acontece na instituição, enquanto se abstém de imputar responsabilidades.

Simultaneamente, essa mesma imprensa não pára de martelar que a ex-prefeita Marta Suplicy descumpriu a lei de responsabilidade fiscal etc. etc. A Veja, por exemplo, em sua última edição critica ferozmente a ex-prefeita e o governo Lula por descumprimento da lei tucana, mas não publica uma só crítica à incompetência do governador tucano na questão da Febem.

Outro assunto desfavorável ao PSDB e que não tem merecido atenção da imprensa paulista é a administração do prefeito tucano José Serra. A inoperância que tem marcado o início de seu governo não recebe críticas da imprensa. O desmonte de várias conquistas sociais da administração anterior, a manutenção das taxas que Serra criticou ferozmente na campanha eleitoral do ano passado, nada disso tem merecido críticas da imprensa, que tem preferido alardear a herança maldita que Serra diz que herdou de Marta.

O interessante é que quando Lula assumiu e começou a reclamar da herança recebida do antecessor, essa mesma imprensa caiu de pau em cima dele dizendo que ele não tinha sido eleito para ficar reclamando das condições em que encontrou o país.

Poderia me estender por várias laudas para demonstrar a proteção que o PSDB recebe da imprensa de São Paulo, mas acho mais interessante, agora, questionar a razão dessa proteção: afinal de contas, o que é, diabos, que há entre a imprensa e os tucanos? Essa relação quase carnal precisa ser esclarecida. Suspeito de que o interesse público esteja sendo prejudicado devido a esse serviço que o jornalismo paulista presta ao PSDB.

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