Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O desenvolvimento da comunicação social

Seu talento é transmitir o conhecimento já existente, algo tão necessário quanto pesquisar, especialmente nos cursos de graduação, nos quais se trata de equipar o aluno com o saber já acumulado naquela área de estudo. [Renato Mezan, Folha de S.Paulo, caderno ‘Mais!’, 20/3/2005]

Uma das dificuldades que enfrenta o professor universitário brasileiro, em muitas áreas, é a falta de uma bibliografia introdutória, cuja leitura possa ser útil aos alunos, oferecendo-lhes um panorama geral e sintético dos conhecimentos acumulados na disciplina que vão cursar, e que, assim, possa facilitar e complementar o trabalho docente.

As novas tecnologias de informação e comunicação, especialmente a internet, têm trazido aos alunos, e a todos, fácil acesso, ainda que desordenado, a todo tipo de conhecimento. Acrescenta-se ainda a notável tecnologia xerográfica, que permite copiar rapidamente, a baixo custo e com qualidade, excertos e obras completas, a partir de um livro impresso ou mesmo de outras cópias. Tais recursos técnicos foram criando novas práticas de pesquisa que levam ao decréscimo acentuado do uso de livros impressos, em geral, com evidentes prejuízos para editores, livreiros e autores, mas também, pelo menos nas condições atuais, para a formação do pesquisador.

Quase uma obstinação

A leitura de livros exige condições psíquicas e ambientais cada vez mais difíceis de se conseguir na contemporaneidade, especialmente nas metrópoles, o que a tem tornado uma prática pouco atraente para muitos jovens, habituados a formas mais dinâmicas e interativas de acesso a conhecimentos.

Considerando ainda que, relativamente, os livros se tornaram, em geral, mais caros nos últimos anos, diante da redução das tiragens das edições, por um lado, e, por outro, pela diminuição da renda das famílias brasileiras das camadas médias, decorrente de contínuas políticas públicas de concentração de renda, tudo resulta em que o hábito de freqüentar livrarias e adquirir livros, é cada vez menor. Nas universidades, o que vemos, como prática mais comum, é a reprodução xerográfica de textos ou capítulos de livros indicados pelos professores, quase sempre com sua conivência – e mesmo, estímulo.

Isso se reflete também na redução do uso de bibliotecas, em geral, agravada pelas deficiências em seus serviços e/ou acervos, muitas vezes desatualizados, e no número de livrarias, que, com freqüência, se situavam junto ou mesmo dentro das faculdades, e que agora, cada vez mais, estão escassas e se situam em centros comerciais.

Essas condições exigem daqueles que buscam livros uma persistência, quase uma obstinação, que nem todos possuem. Só, talvez, os afortunados.

Reconhecimento e atenção

Enquanto isso, os professores são mais instados a fazer pesquisas e a produzir artigos e ensaios para apresentação em congressos e seminários e publicação em anais ou revistas acadêmicas, com o que atendem a exigências dos parâmetros de produtividade praticados na carreira docente, especialmente os das universidades públicas.

Quando o professor encontra as condições para produção de um trabalho de pesquisa mais complexo, aprofundado e que lhe exige anos de dedicação, seu objetivo será oferecer uma contribuição, menor ou maior, de conhecimento novo, em geral pontual, ou em área delimitada.

Acresce-se ainda, para explicar as lacunas bibliográficas acima referidas, a falta de tempo ou estímulo, muitas vezes um certo preconceito na academia em relação à produção de textos básicos e de síntese, que talvez se possa explicar por um movimento pendular em relação a uma época, não muito distante, em que a aprendizagem passava ao largo da leitura dos textos clássicos das disciplinas, ficando restrita a manuais ou compêndios, nem sempre adequados, ou mesmo a apostilhas reproduzidas em mimeógrafo, como denunciou Osman Lins na década de 1970.

Assim, quando jovens pesquisadores e docentes, como Richard Romancini e Cláudia Lago, elaboram com seriedade uma obra introdutória e de síntese, sobre a História do Jornalismo no Brasil, voltada para atender a estudantes e leigos interessados na formação e desenvolvimento da comunicação social em nosso país, especialmente a do jornalismo impresso, devem merecer o reconhecimento de seus pares e a atenção de nossos alunos.

Contato com papel e tinta

Os autores definem com clareza seus objetivos e os alcançam plenamente, oferecendo um panorama do conhecimento atual na área, a partir de pesquisa em obras consagradas da nossa historiografia e, também, das modernas contribuições em livro ou mesmo através de artigos veiculados pela internet, reflexos dos estudos publicados mais recentemente, sem esquecer suas próprias pesquisas.

Ao escolherem um caminho, Richard Romancini e Cláudia Lago o seguiram com segurança e método. Não tiveram medo de correr os riscos que qualquer opção metodológica pode implicar. Certamente poderão receber críticas, pertinentes ou impertinentes, por isso.

Mesmo sabendo que esta não exclui outras abordagens, que podem ser também frutíferas, o leitor deste trabalho certamente vai adquirir bagagem mais rica e maiores possibilidades de reconhecer e interagir com os desafios atuais que são lançados a todos os que optam pelas veredas, múltiplas e dinâmicas, das práticas da Comunicação Social em nosso país.

Richard Romancini e Cláudia Lago oferecem, com esta obra, excelentes pistas para se compreender como a história do Brasil está intimamente imbricada com a história das práticas sociais e humanas do jornalismo. História do Jornalismo no Brasil torna-se, assim, uma obra indispensável a todos os que já estão ou pretendem ingressar na carreira árdua e fascinante do jornalismo.

Só nos resta esperar que a editora Insular seja bem-sucedida no imenso desafio de vencer as dificuldades de fazer chegar – através de livrarias, as virtuais ou as de estantes e balcões, dispostas na beira da rua ou nos shopping centers, e nas bibliotecas universitárias, públicas e particulares – esta obra ao potencial leitor, professor e aluno de nossas faculdades, para que possam desfrutar do prazer de ler, em contato sensorial com papel, tinta, cola e odor, enquanto isto não for totalmente coisa de raros.

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Professor do Programa de pós-graduação em Comunicação e do Departamento de Estudos Culturais e Mídia da Universidade Federal Fluminense (UFF). Doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP)