O Estado de S.Paulo deu chamada de primeira página, em sua edição de domingo (9/9), ao modelo internacional de avaliação escolar School Accountability (Responsabilidade Escolar), que concluiu, entre outras coisas, que a atuação do professor é decisiva no desempenho dos alunos.
Por sua vez, o Ibmec São Paulo recomenda que a metodologia, implantada na Inglaterra na década de 1980 e nos anos 1990 nos EUA, seja adotada em nossa escola pública. Um dos frutos seria reduzir em 30% a diferença entre o desempenho dos alunos brasileiros e o dos alunos de países ricos.
Não precisamos recorrer ao Programa Internacional de Avaliação (Pisa) para saber que nossos estudantes aprendem pouco. Em 2003, de acordo com avaliação oficial, 55% dos alunos da quarta série conseguiam ler apenas frases simples. Em resumo, o ensino fundamental sequer os ensinou sequer a ler.
Figura solar
De vez em quando irrompe a crença de que a causa de tão fraco desempenho é uma. A bola da vez é a progressão continuada, satanizada como causa principal da calamidade.
A experiência internacional mostra que o problema não é a progressão continuada. A Bélgica não a adota e está muito bem classificada nos sistemas de avaliação. Japão, Coréia, Suécia e Noruega, que lideram o ranking de qualquer avaliação educacional, adotam a progressão continuada em todo o ensino fundamental e proíbem a reprovação de um aluno em qualquer série do ciclo, a não ser por faltas.
Como melhorar? A primeira medida é a adoção de um currículo único.
O currículo único é requisito para a qualidade do ensino, na medida em que possibilita, por exemplo, que a avaliação seja unificada e que todos possam aprender o mínimo exigido.
O segundo passo é a avaliação periódica, medida já adotada pelo MEC, por estados e por municípios, que a fazem anual ou bienalmente. As diversas metodologias empregadas buscam verificar o que os alunos de fato aprenderam ao final de cada ciclo, identificando as falhas do processo.
O terceiro passo – responsabilizar o professor – é o mais polêmico e exigirá das associações de docentes e de sindicatos que, sem corporativismo, defendam os docentes, pois já se culpa o professor por fracassos que de modo algum lhe podem ser atribuídos.
Por exemplo: o livro é figura solar da arte de ensinar, ou do que se denomina pomposamente processo de ensino e de aprendizagem. Nem sempre é processo, raramente se ensina direito e o resultado é que se aprende pouco. Outro: como ensinar algumas disciplinas sem biblioteca e outras, sem laboratório?
Recurso estratégico
No exterior, o projeto foi aplicado com prêmios em dinheiro para as equipes de docentes que obtiveram melhores resultados. Para as escolas que não alcançaram os níveis desejados, o remédio foi reciclar os docentes. Mas pairou sobre todos a ameaça de a unidade ser fechada por deficiência.
‘É preciso desatar a idéia de que o ensino é ruim por causa da progressão’, disse ao Estadão o professor José Francisco Soares, da UFMG, especialista em avaliação, acrescentando: ‘O resultado é ruim porque a gente não oferece condições pedagógicas para o aluno aprender’. E conclui: ‘Repetir não pode ser o único instrumento pedagógico do professor’.
Seja qual a providência, é preciso fazer alguma coisa. Faz anos que o rebaixamento é notório. São muitos os cursos superiores que ainda não conseguem ministrar o conteúdo de disciplinas do antigo ginásio, principalmente de língua portuguesa, recurso estratégico para ensinar todas as outras.
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Doutor em Letras pela USP e professor da Universidade Estácio de Sá, onde é vice-reitor de pesquisa e pós-graduação e coordenador de Letras; seus livros mais recentes são Os Segredos do Baú (Peirópolis) é A Língua Nossa de Cada Dia (Novo Século); www.deonisio.com.br