Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

TV paga critica cota nacional obrigatória

Leia abaixo a seleção de terça-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Terça-feira, 4 de março de 2008


TV POR ASSINATURA
Elvira Lobato


Cota de conteúdo nacional é atacada pela TV paga


‘A criação de cotas obrigatórias para programação nacional na TV paga, prevista no projeto de lei 29, em discussão na Câmara, abriu nova guerra no setor, já estremecido pela aquisição de operadoras de TV a cabo pelas companhias telefônicas.


Os programadores estrangeiros entregaram ontem ao deputado federal Jorge Bittar (PT-RJ), relator do projeto, estudo sobre o impacto econômico das cotas. A previsão deles é que haja aumento de até 144% na assinatura mensal dos pacotes básicos. O estudo foi feito a pedido da Associação Brasileira de Programadores de TV por Assinatura, que representa Discovery, ESPN, Fox, HBO, MGM, Nickelodeon e Turner.


Foi calculado o impacto sobre os preços de dois pacotes básicos da Sky. O primeiro iria de R$ 88,90 para R$ 196,48 (144,1% de alta), e o segundo, de R$ 134,90 a R$ 228,51 (82,6%).


O encarecimento, segundo o estudo, reduzirá a base de assinantes atuais, de 5,8 milhões para 3,92 milhões em 2010, mesmo com as teles sendo liberadas para oferecer TV a cabo.


O projeto propõe a criação três tipos de cotas, que se sobrepõem. A primeira determina que os canais pagos ocupem ao menos 10% de seu horário com conteúdo nacional de produtoras independentes. A segunda, que 50% dos canais de ‘espaço qualificado’ -excetuando jornalísticos, religiosos, propaganda comercial, propaganda política, eventos esportivos, televendas e horário eleitoral- devem ser de conteúdo nacional, sendo 25% de produtores independentes. A terceira cota é sobre o empacotamento de canais: metade precisaria de programadores brasileiros (30% independentes).


O projeto também limita o tempo de veiculação de publicidade na TV paga e cria a possibilidade de radiodifusores serem remunerados pela transmissão dos canais da TV aberta.


O projeto dá prazo de quatro anos para adaptação. As cotas devem ser cumpridas à proporção de 25% ao ano. Segundo o estudo, serão necessários R$ 3,3 bilhões de investimentos, nos quatro anos, para produzir conteúdo nacional para cumprir as cotas.


O projeto enfrenta oposição da ABTA (Associação Brasileira de Televisão por Assinatura) e dos programadores internacionais. A ABTA colocará no ar, na próxima semana, sua segunda campanha contra as cotas.


‘Precisamos de conteúdo nacional, mas as cotas são um retrocesso medieval. Elas inviabilizam a diversidade de canais, encarecem a assinatura e fracassaram em todos os países’, afirma o diretor-executivo da ABTA, Alexandre Annenberg.


A Sky Brasil, segundo seu presidente, Luiz Eduardo Baptista, terá que eliminar metade de seus canais estrangeiros para atender à cota de 50% de canais brasileiros. A alternativa, diz ele, seria incluir 15 novos canais de conteúdo nacional, o que considera inviável.’


 


Deputado afirma que costura acordo entre teles e radiodifusão


‘O deputado federal Jorge Bittar (PT-RJ) disse que o projeto de lei 29 é resultado da costura de um grande acordo entre as teles e o setor de radiodifusão para, de um lado, garantir mercado para a produção de conteúdo nacional, e, de outro, permitir que as companhias telefônicas usem sua infra-estrutura para oferecer TV paga.


Segundo o deputado, Brasil Telecom, Oi e Telefônica estão ‘fundamentalmente unidas’ na discussão do projeto, e a Embratel, apesar das diferenças com as outras três, também tem interesse na aprovação para ter controle da Net Serviços.


As TVs pagas dizem que não foram ouvidas na costura do acordo e que pagarão a conta.


O PL 29 propõe a criação de uma licença única para o serviço de TV por assinatura, independentemente da tecnologia. Hoje, a lei varia com a tecnologia: as TVs a cabo são reguladas por lei, que impede o controle estrangeiro das empresas e a exploração do serviço pelas teles. Nos sistemas por satélite e por rádio, não há limitação para teles nem capital estrangeiro.


Bittar admite a possibilidade de excluir a exigência de que os pacotes tenham 50% de canais programados por brasileiros e rever o percentual de conteúdo nacional obrigatório.’


 


LEI DE IMPRENSA
Victor Gabriel Rodríguez


Tiro no pé


‘O JULGAMENTO DA Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental, que incide sobre a Lei de Imprensa, enche de esperanças os jornalistas, ansiosos em ver declarada a inconstitucionalidade de um resquício da idade das trevas das liberdades públicas. Posso demonstrar aqui que, no jogo de equilíbrio necessário entre liberdade de informação e direitos individuais, a Lei de Imprensa é o menor dos males.


Fixe-se, antes, a premissa de que a Lei de Imprensa só excepcionalmente foi utilizada como repressora da liberdade de expressão. Desde a independência, o imperador implantou um método bem característico de perseguição aos jornalistas impertinentes: liberalismo na lei e repressão nos porretes das milícias do regime.


Foi essa a filosofia da Lei de Imprensa atual: feita às vésperas do AI-5, delegou às normas de segurança nacional -ou ao arbítrio puro- a repressão às vozes dissonantes. Proponho a comparação de cinco institutos da lei reservada aos jornalistas e da lei geral (Código Penal, no caso), para ilustrar o que digo.


Primeiro, as penas dos crimes contra a honra. Tem sido dito que as penas previstas para os delitos de calúnia, injúria e difamação cometidos pelo jornalista (arts. 20, 21 e 22 da Lei de Imprensa) são mais graves do que as cominadas para os crimes equivalentes, no Código Penal (arts. 140 a 142). Tal afirmação é fruto, perdoem, de pura falta de técnica. Quem a faz simplesmente desconsidera que, se o juiz, à falta de lei específica de imprensa, condenar um jornalista na lei comum, será obrigado a aplicar o dispositivo genérico do Código Penal e então aumentará a pena em um terço, porque o fato é cometido ‘na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria’, ou simplesmente a aplicará em dobro, se entender que ‘o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa’ (art. 141 do Código Penal).


Agora é só fazer contas.


Segundo e terceiro pontos: a decadência e a prescrição. São dois institutos que determinam prazos para que, respectivamente, o ofendido e o Estado ajam para garantir seu direito de viabilizar a punição. Ao perseguido interessa, portanto, que a lei preveja prazos mais exíguos. Assim é: no Código Penal, a decadência ocorre em seis meses (art. 103), enquanto a Lei de Imprensa reduz o prazo a três meses (art. 41), na vantajosa contagem a partir da data de publicação. O mesmo na prescrição: o crime de calúnia prescreve abstratamente, na legislação comum, em oito anos (109, IV, Código Penal). Favoravelmente ao jornalista, o lapso é de dois anos (art. 41 da Lei de Imprensa).


A previsão de defesa prévia é o quarto ponto. Pela especial condição do jornalista, a Lei de Imprensa prevê um direito de defesa a mais àqueles processados por suas linhas (art. 43).


Na legislação comum, não há oportunidade equivalente. O último ponto é a responsabilidade penal sucessiva. De origem nacional, o instituto determina o responsável pelo crime por um modo especial, de acordo com uma hierarquia presumida. Esse sistema está previsto hoje nos artigos 37 e 38 da Lei de Imprensa e é adotado em eficazes legislações de construção recente, como o Código Penal Espanhol, de 1995. Se bem utilizado -e aí sim é necessária a revogação do parágrafo 3º do art. 37 da Lei de Imprensa-, o instituto estreita os limites punitivos do Estado em relação aos profissionais da comunicação, pois veda a obrigatória consideração de concurso de agentes da lei comum (arts. 13 e 29 do Código Penal).


Com tudo isso, nem sequer toquei no assunto do direito a cela especial do jornalista ou no impedimento à sua prisão processual (art. 66 da Lei de Imprensa), ou nas condições de fixação da pena (art. 69), ou nas estritas margens da reincidência (a reincidência específica do art. 73). Não abordei a questão indenizatória, em que, à diferença da legislação comum, a Lei de Imprensa prevê a cessação da responsabilidade civil (art. 49) e, ainda, faz uma limitação do valor de reparação de dano (art. 51, I a IV), em valores irrisórios se comparados aos fixados pelas regras do Código Civil.


Não se iludam os jornalistas: na mais livre das democracias, sempre haverá instrumentos estatais de controle aos abusos de liberdade, porque esta não existe na forma absoluta.


A suspensão da eficácia da Lei de Imprensa pelo Supremo Tribunal Federal já conduz a que sejam aplicadas as regras comuns aos delitos ou meros abusos da informação. E, se me permitem a conclusão, será o momento em que a classe jornalística notará haver batalhado por revogar a lei que a protegia.


VICTOR GABRIEL RODRÍGUEZ , doutor em Direito Penal pela USP e pesquisador convidado pela Universidade de Valladolid, é autor de ‘Responsabilidade Penal na Lei de Imprensa’ (APTA Edições).’


 


MÍDIA & POLÍTICA
Folha de S. Paulo


CPI com fartura


‘NO TRABALHO , no esporte, na universidade. O noticiário sobre padrões curiosos ou suspeitos de distribuir dinheiro público para organizações civis já abrange um leque variado das atividades humanas.


Primeiro foi revelada a proliferação de convênios entre o Ministério do Trabalho e organizações ligadas ao PDT, com o objetivo de qualificar mão-de-obra. O responsável, ministro Carlos Lupi, presidente do partido, acabou prestigiado. Ganhou do presidente Lula a medalha de campeão do republicanismo na Esplanada.


De medalha, treinamento e campeonato o Ministério dos Esportes entende. De convênios com instituições companheiras também. Desde 2005 a pasta de Orlando Silva Jr. destinou R$ 14 milhões a ONGs dirigidas por correligionários do PC do B. O ministério afirma que segue padrões impessoais na distribuição dos recursos. Donde se conclui que, pelo menos no esporte, os comunistas são páreo duro.


Outro ramo competitivo em se tratando de recursos repassados para fundações é o universitário. No ano passado a verba federal para essas entidades de apoio ao ensino superior mais que duplicou em relação a 2003. A Finatec, por exemplo, apoiou a UnB na compra da mobília luxuosa para a residência do reitor com dinheiro que, segundo o Ministério Público, deveria ter seguido para pesquisa.


A CPI das ONGs, vê-se por essa pequena amostra, terá farto material a investigar.’


 


Clóvis Rossi


Não cabe neutralidade


‘MADRI – Marco Aurélio Garcia, o assessor diplomático do presidente Lula, disse à rádio CBN que o governo ‘vai mobilizar toda a força da diplomacia brasileira e de outras capitais sul-americanas para reduzir ao máximo a tensão [Colômbia/Venezuela] e procurar encontrar uma solução duradoura’.


Ótimo. Mas convém ter claro que o Brasil pode -e deve- ser neutro entre os dois vizinhos, mas não pode -nem deve- ser neutro entre o governo colombiano (legítimo) e as Farc (um grupo delinqüente).


Mesmo sobre Hugo Chávez, vale a observação do especialista argentino Juan Gabriel Tokatlián à Folha: a reação de Chávez foi um ‘gesto intempestivo, inusualmente desproporcional’ (o ‘inusualmente’ é gentileza de Tokatlián). Se se quer ‘solução duradoura’, convém ter igualmente claro o que escreveu um íntimo aliado de Lula, o ex-presidente José Sarney: aceitar as ações das Farc ‘como parte de um estilo normal do jogo político é atribuir valores a um simples exercício do terrorismo. É, no mínimo, uma velada solidariedade com esse modo de tortura’.


Perfeito. Não se trata, como quer Chávez, de um ‘grupo beligerante’, nem mesmo de um grupo terrorista, se se aceitar que o terrorismo às vezes busca um objetivo político, ainda que por meios condenáveis.


As Farc há muito tempo abandonaram qualquer veleidade de ação política pela via armada para se tornarem delinqüentes que vivem do narcotráfico e do dinheiro arrecadado com seqüestros.


A Colômbia invadir território equatoriano é também condenável. Mas vale, até para o Brasil, o que diz Carlos Malamud (do Real Instituto Elcano da Espanha): ‘Se os governos fronteiriços da Colômbia fizessem seu trabalho, protegessem as fronteiras e impedissem que bandos de delinqüentes passeassem livremente por seu território, ações [como a da Colômbia] não seriam necessárias’.’


 


Carlos Heitor Cony


Transparência lá e cá


‘RIO DE JANEIRO – Parece filme de Woody Allen, mas não é. Tampouco tenho certeza se foi um sonho absurdo, como costumam ser os sonhos, mas que sempre servem para alguma coisa. No meu caso pessoal, já cheguei ao exagero de escrever dois romances a partir de sonhos que tenho mesmo sem estar dormindo. Nada demais que agora escreva uma crônica que me dá menos trabalho e, tal como os romances, nenhuma glória.


Não estou acompanhando com entusiasmo (e mesmo sem ele) a campanha eleitoral nos EUA. Leio as notícias e os comentários muito por cima, sem me interessar por nenhum candidato. Nem mesmo me edifico com a transparência, que, tal como no Brasil, passou a ser virtude indispensável dos governos e dos governantes. Todos agora se preocupam com a transparência, que antigamente era atributo exclusivo de seres incorpóreos, como os anjos e alguns extraterrestres.


Sonhei que Hillary Clinton, pré-candidata democrata, após comício em que ganhou o apoio de vários convencionais que nela votarão na devida hora, chegou em casa eufórica e comunicou o sucesso ao marido: ‘Bill, dei uma que vai derrubar o Obama definitivamente. Prometi que serei transparente como nunca ninguém foi neste país, nem mesmo você, que foi tão opaco naquele caso com a estagiária da Casa Branca. Para mostrar transparência, decidi me assumir tal como sou e declarei que não mais usaria peruca. Num gesto teatral que provocou uma ovação delirante, arranquei a minha peruca e a joguei para os convencionais’.


O ex-presidente e marido estava tentando ler sem interesse um relatório sobre as conseqüências do aquecimento global, tema que não o alarmava pessoalmente. Sem tirar os olhos da papelada, estranhou:


‘Mas querida, você nunca usou peruca!’.’


 


Marcos Nobre


O bacharel e o grosseirão


‘VEZ POR OUTRA aparece a conversa de qual presidente é ‘um estadista’. ‘Estadista’ é alguém que não faz a gente passar vergonha. ‘A gente’ quer dizer quem lê jornal. E ‘passar vergonha’ significa parecer brasileiro. Lula atacou de brasileiro mais uma vez. Falou como se estivesse em uma roda de amigos sobre onde o Judiciário deveria ou não meter o seu nariz.


O ministro Marco Aurélio Mello respondeu: ‘Conhecemos o estilo do presidente. Às vezes, quando deixa o script e parte para o improviso, ele não nos surpreende, ele nos estarrece, como nos estarreceu por último’.


Traduzindo: quando alguém com a devida cultura e os devidos diplomas universitários escreve o discurso e Lula apenas lê, ‘a gente’ respira aliviado. Quando se mete a falar por conta própria, é de ‘passar vergonha’.


Mas o ministro do STF é magnânimo, acha que o presidente e seu governo ainda podem aprender.


Por isso completou: ‘Eu tentei, numa atuação pedagógica, alertar o governo quanto à existência de uma lei que veda peremptoriamente qualquer criação de plano social no ano das eleições e também aumento de plano social’.


O debate sobre o episódio foi tão sofrível quanto o próprio acontecimento. Ficou na oposição entre o grosseirão que não consegue ser estadista e o bacharel mestre-escola incompreendido.


Para ir além dessa superficialidade é preciso partir do pressuposto simples de que Lula não é um idiota. Toma decisões políticas equivocadas, com certeza, como qualquer outro político. Mas não compra briga à toa com parlamentares e com juízes.


Em termos políticos, o que realmente importa neste episódio é o isolamento paradoxal de Lula. É difícil encontrar um presidente mais popular. A economia vai de vento em popa. E, no entanto, parece que Lula não vai conseguir implementar nenhuma nova política de governo até o final de seu mandato.


A partir da derrota da CPMF, ficou claro que Lula não aprovará mais nada no Legislativo. A não-aprovação do Orçamento de 2008, por exemplo, significa colocar todo o governo a pão e água durante o ano inteiro. Sua ‘base parlamentar’ não serve para aprovar nada. Serve apenas para impedir que a oposição tome conta de vez do Congresso.


Na defensiva no Legislativo, Lula resolveu partir para a ofensiva no STF. Indicou nada menos do que 7 dos 11 ministros e não quer perder essa vantagem. Aproveitando do isolamento de Marco Aurélio Mello no tribunal, fez-lhe uma provocação para convocar sua tropa à unidade. Se vai conseguir ou não manter esse último bastião, ‘a gente’ vai saber em breve.’


 


Ranier Bragon


Quatro anos depois da Câmara, Senado põe gastos na internet


‘Com quatro anos de defasagem em relação à Câmara, o Senado começou ontem a divulgar na internet os valores gastos por parlamentares com recursos da chamada ‘verba indenizatória’. Até a tarde de ontem, só havia dados de 17 dos 81 senadores, o que totalizava um gasto de R$ 110,7 mil em fevereiro.


A verba reserva mensalmente aos congressistas um valor individual de R$ 15 mil para gastos como aluguel de imóveis, consultorias e confecção de jornais.


Os dados divulgados (www.senado.gov.br) ontem mostram, entre outras coisas, que o senador Gilvam Borges (PMDB-AP) gastou os R$ 15 mil com aluguel de escritório político no Estado, ‘compreendendo despesas concernentes a eles’. Cristovam Buarque (PDT-DF) usou R$ 14.150 para ‘divulgação do mandato parlamentar’. Roseana Sarney (PMDB-MA), líder do governo no Congresso, R$ 5.976 com ‘contratação de trabalhos técnicos de apoio ao exercício do mandato’. Jayme Campos (DEM-MT), R$ 12.551 com ‘locomoção, hospedagem, alimentação, combustíveis e lubrificantes’.


Os valores são parciais, já que o senador tem até o fim do mês para pedir ressarcimento por gasto feito no primeiro trimestre do ano.


No gabinete de Gilvam e de Campos ninguém respondeu aos questionamentos.


Cristovam apresentou uma prestação de contas em que diz ter gasto R$ 21.442 em fevereiro com itens que vão desde o aluguel de escritório a cafezinhos e botijão de gás. O Senado o reembolsou em R$ 15 mil. Os gastos para ‘divulgação do mandato’, diz ele, se referem a jornal de prestação de contas, folders, cartões, bandeiras e cartilhas sobre educação.


A assessoria de Roseana afirma que o reembolso de R$ 5.976 se refere a levantamentos e trabalho de orientação para projetos tratados pela senadora.


Os dados a serem divulgados pelo Senado só alcançarão o mês de fevereiro em diante. O uso da verba de fevereiro de 2003 (data de sua criação no Senado) até janeiro permanecerão sob sigilo.’


 


LIBERDADE
Folha de S. Paulo


Liberdade de imprensa é tema de debate


‘A liberdade de imprensa e a parcialidade nas coberturas jornalísticas foram temas discutidos ontem em debate promovido por alunos da Faculdade de Direito da USP, no largo São Francisco, em São Paulo, com a participação dos jornalistas Boris Casoy, da TV Bandeirantes, e Marcio Aith, editor-executivo da revista ‘Veja’.


Casoy afirmou que o governo Lula já ‘demonstrou formalmente não ter apreço’ pela liberdade de imprensa. Citou como exemplo, entre outros, a tentativa de criação do Conselho Federal de Jornalismo.


Casoy afirmou ver ameaças reais à liberdade de imprensa no país. Ele citou a multiplicidade de processos movidos em nome de fiéis da Igreja Universal contra a Folha. ‘Acho legítimo entrar com uma ação, mas há visivelmente uma orquestração para calar a Folha ou quem venha, por acaso, tentar criar obstáculos à ação da igreja’, disse.


O próprio jornalista lembrou que trabalhou como âncora na TV Record, que pertence ao bispo Edir Macedo, fundador da Igreja Universal.


Para Marcio Aith, causa preocupação a reação de Lula, que considerou legítima a ação dos fiéis. ‘Mais grave foi a reação do presidente Lula, que deu um inequívoco apoio às chicanas da igreja’, disse.


Questionado sobre os limites da ‘liberdade e da libertinagem’, Aith disse que a imprensa existe para incomodar. ‘Numa sociedade democrática, se a imprensa não incomoda, aí sim você fica com medo da libertinagem. Mas não é aquela libertinagem que você olha e vê, é aquela que ninguém conhece, é aquela que envolve injeção de recursos públicos para sustentá-la.’


Convidado para o debate, o jornalista José Arbex Jr., editor da revista ‘Caros Amigos’, não compareceu ao evento.’


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Cobertura assimétrica


‘O site da ‘Foreign Policy’ uniu os pontos. A ação da Colômbia no Equador foi de ‘guerra assimétrica’ ou preventiva, contra um pequeno grupo que se refugia além-fronteira. E foi parte da ofensiva ‘assimétrica’ dos aliados americanos: Turquia e os curdos; Israel e os palestinos; os EUA no Paquistão e na Somália.


A ‘FP’ avalia que abrir guerra seria reação excessiva à ação. Myles Frechette, ex-embaixador na Colômbia e hoje ‘consultor’, foi entrevistado por ‘Washington Post’ e ‘Miami Herald’ para opinar na mesma linha. Alfredo Rangel, ‘analista’ e colunista do colombiano ‘El Tiempo’, foi ouvido por BBC e outras para atacar as reações ‘desproporcionais’ e até ‘injustificadas’.


De resto, o hemisfério todo só ecoou o ‘El Tiempo’, com os documentos repassados pela Colômbia. Da parte da nação invadida, para quem se interessar, o ‘El Comercio’ acompanhou a escalada no Equador, até a ruptura militar e diplomática com a Colômbia.


FIM DE CONVERSA


Brasil e França questionaram a Colômbia não através de seus presidentes, como o Chile, mas pelos chanceleres.


O francês falou à estatal rádio França Internacional que ‘não é uma boa notícia’ a morte de Reyes, ‘o homem com quem havíamos falado’.


E MAIS UM RECORDE


E o preço do petróleo bateu ‘recorde de quase três décadas’, na home do ‘Wall Street Journal’ e demais, ontem.


O ‘WSJ’ registrou que ‘a tensão em uma região de improvável conflito militar até o momento’, a fronteira da Venezuela, ajudou no recorde.


LIÇÃO DE DESIGUALDADE


Sob o título ‘Lição do Brasil para a China: não ignore a desigualdade’, o correspondente do ‘Financial Times’ em Xangai, Geoff Dyer, comparou um shopping da metrópole chinesa, o Plaza 66, à Daslu, que ele conheceu há pouco em São Paulo. A única diferença é que o primeiro ainda é visto como uma ‘medalha de sucesso’, enquanto a Daslu já é dada como ‘símbolo dos males do Brasil’. Na China, a desigualdade caminha para os ‘níveis notórios’ do Brasil.


E OUTRA LIÇÃO


Dias atrás, o colunista Martin Wolf, do ‘FT’, escreveu em apoio às previsões mais pessimistas sobre a crise na economia americana, levantadas por Nouriel Roubini.


Este respondeu e sublinhou que, como concordou Wolf, o problema é o ‘regime politicamente insustentável’ em que os bancos ‘privatizam lucros’ e ‘socializam perdas’. Foi o que levou, diz, às crises dos emergentes nos anos 90.


‘A GRANDE AMEAÇA’


O site Market Watch destacou que a previsão para os emergentes é ainda melhor para março, com ‘oportunidades’ no Brasil e outros. A Bloomberg deu que o índice Bovespa ‘está batendo as maiores Bolsas do mundo’.


E o blog Passport, da ‘Foreign Policy’, já faz até piada: ‘Então, quando é que Lou Dobbs vai começar a atacar ‘a grande ameaça brasileira’?’. É o âncora xenófobo da CNN.


‘OS DIAS CONTADOS’


O ‘WSJ’ deu a longa reportagem ‘Mesmo quando o dólar cai, ele mantém seu papel global’, destacando que, dos exportadores do Brasil aos bancos do Golfo Pérsico, a queda é um ‘grave desafio’.


O jornal sublinha frase corrente nas finanças globais, ‘o dólar é uma moeda com terríveis defeitos e os seus dias estão contados’, de Jim Rogers, um ex-sócio de George Soros.


MÍDIA GLOBAL


‘WSJ’, ‘FT’ e outros se uniram para noticiar que União Européia e EUA devem entrar com ação na Organização Mundial do Comércio, contra a China, pelas restrições ao comércio de notícias financeiras -a saber, produzidas pelos mesmos, mais a Bloomberg, a Reuters etc.


Já o grupo espanhol Prisa, do ‘El País’, ‘depois de conquistar a América Latina com seus livros’, avisou que pretende atacar de língua inglesa.


O HOMEM DA GAZPROM


Eleito afinal, o futuro presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, deixou a sombra do ex-presidente Vladimir Putin para receber perfil próprio, em textos de ‘FT’ etc.


Como sublinhou o site de política externa Council on Foreign Relations, dos EUA, agora ele ‘é um homem de negócios’ na cobertura. Sem vínculo com a KGB, atuou em empresas de ‘commodities’ antes mesmo de entrar para a política. E foi eleito antes de tudo pela projeção de presidente da Gazprom, ‘gigante de energia’, orgulho da Rússia e terror da Europa dependente do gás importado.’


 


OBITUÁRIO
Willian Vieira


Haroldo de Andrade, pioneiro do rádio


Os mesmos ouvintes que abandonaram os auditórios lotados das radionovelas, no fim da era de ouro do rádio, nos anos 1950, deixaram-se cativar por sua voz, a despeito da chegada da televisão.


O ‘grande comunicador’ do Rio nasceu em Curitiba. Aos 11 fugiu de casa, brigado com o pai. Dormia no banco da praça Tiradentes quando o dono da padaria lhe deu abrigo e um emprego de faxineiro do prédio, onde também funcionava um estúdio de alto-falantes. Começou com seu vozeirão anunciando em parques de diversão.


Quando foi descoberto pela rádio local e logo pela rádio Mauá, do Rio, para onde foi em 1954, ser locutor comercial. ‘Andava com a pastinha debaixo do braço atrás de patrocínio’, diz o filho, fumando três maços de cigarro por dia. Casado aos 17, teve oito filhos e 13 netos.


Quando sobrou um horário na programação, criou o ‘Musifone’, pioneiro ao permitir a participação interativa dos ouvintes, que entravam no ar pedindo músicas. Tornou-se líder de audiência. Em 1960 foi para a Rádio Globo, criar o programa que levou seu nome por 45 anos.


Aberto com o indefectível ‘bom dia’, e repleto de entrevistas e debates, o Programa Haroldo de Andrade mereceu prêmios até da revista Billboard. Haroldo de Andrade até fez televisão, mas nunca largou o rádio.


Em 2002 saiu da Globo ‘com mágoa’, comprou a freqüência da mesma Mauá que o lançara no rádio, batizou-a com seu nome e continuou o programa, em 2005.


Morreu no sábado, aos 73, devido ao diabetes. Seu programa, porém, continua, nas mãos de um dos oito filhos.’


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Globo estica Faustão para salvar ‘Fantástico’


‘A Globo decidiu prolongar a exibição do ‘Domingão do Faustão’ para alavancar o ‘Fantástico’, cuja audiência despencou ao longo de 2007.


O ‘Domingão’ já está sendo encerrado 15 minutos mais tarde, indo até as 20h45. Em julho, deve ganhar mais 15 minutos. A explicação é simples: o número de televisores ligados na Grande São Paulo aumenta depois das 20h30. Começando mais tarde, o ‘Fantástico’ se beneficia de maior massa de público.


O ‘Domingão’ já foi ao ar além das 20h30 em dois domingos. No dia 17, se prolongou até as 20h50, e o ‘Fantástico’ marcou 31 pontos, o melhor desempenho nos últimos meses.


No último dia 24, por causa da transmissão do Oscar, o ‘Fantástico’ voltou para a faixa das 20h30. Sua audiência caiu para 26 pontos. Anteontem, entrou no ar às 20h45. Seu ibope subiu para 29 pontos. Nos três domingos, o ‘Domingão’ cravou de 20,4 a 20,6 pontos.


Há tempos a área de programação da Globo pressiona para prolongar o ‘Domingão’, atrasando o ‘Fantástico’. Mas encontrava resistência da área comercial, porque a revista dominical é altamente atrativa para anunciantes. Com sua queda, a mudança tornou-se necessária.


Na Globo, especula-se que o ‘Fantástico’ voltará a cair com o final de ‘Big Brother Brasil’. É que há um público que assiste ao final do programa (e da novela das oito), aguardando o início do reality show.


INSATISFAÇÃO O ator Fábio Assunção fez chegar à Record versão de que não gostou de ter sido afastado do elenco da próxima novela das oito da Globo. E que está aberto a negociações no futuro.


DESESPERO 1 Considerada elitista e ‘cabeça’, a minissérie ‘Queridos Amigos’ registrou 18,3 pontos na semana passada, dois a menos do que na primeira semana. O ‘Festival de Sucessos’, de filmes, antes no lugar dela, deu 24,2 pontos de 1º a 15 de fevereiro. Para piorar, a minissérie perde para a Record (‘Troca de Família’) às quintas-feiras.


DESESPERO 2 Na Globo, cogitou-se encurtar ‘Queridos Amigos’, mas a idéia foi logo abortada. Não há o que colocar no lugar. E sua audiência não é de se jogar fora.


LARANJA MECÂNICA O ‘big brother’ Marcelo, com aquele olhar de psicopata, divide gays paulistanos. Uma parcela acha que ele queima o filme dos homossexuais por causa de seu comportamento um tanto bélico. Outros avaliam que é o único capaz de enfrentar o ‘homofóbico’ Rafinha.


PAREM AS MÁQUINAS Jaque Khury, aquela que ficou só uma semana no ‘BBB 8’, contratou uma assessora de imprensa (que usa vírgulas para separar sujeitos de verbos), numa tentativa de prolongar seus minutinhos de fama.


HORA H O canal Multishow, que dispara no ibope da TV paga graças a ‘BBB’, frustrou viciados no reality show. Ficou sem áudio anteontem, logo após a formação do paredão de hoje.’


 


Falta tempero a série do Discovery


‘A primeira consideração a ser feita sobre ‘A Volta ao Mundo em 80 Sabores’, programa que o canal pago Discovery Travel & Living estréia hoje, é que seu nome é bem mais interessante que seu conteúdo.


Ao contrário do pressuposto no início, os telespectadores não são conduzidos a um interessante passeio cultural pela cozinha de vários países, por meio da imersão em um ingrediente. O programa, apresentado pelo chef mexicano Eduardo Osuna, contenta-se em fazer uma colagem de receitas, com medidas (tediosamente) explicadas e reexplicadas.


No primeiro dos 26 episódios de ‘A Volta ao Mundo…’, o ingrediente comum a todos os preparos é o arroz. E tome receita: arroz selvagem com vieiras marinadas, outro arroz selvagem com vinagrete e camarões e arroz doce com saquê.


Ah, sim, no meio da ‘viagem’, Osuna pára seu ‘balão’ (a animação de abertura o conduz ao redor do globo terrestre num balão) para trazer a bordo o chef Gabriel Takakura. Mas o convidado mal consegue falar.


Cabe-lhe apenas cortar legumes para o tempura. Espera-se que ‘Histórias com Sabor’, a outra nova série do canal (com estréia amanhã), seja mais interessante que esta.


Porque, receita por receita, é mais fácil, rápido e produtivo correr à estante e pegar um bom livro de cozinha.


A VOLTA AO MUNDO EM 80 SABORES


Quando: hoje, às 22h


Onde: Discovery Travel & Living’


 



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O Estado de S. Paulo


Terça-feira, 4 de março de 2008


TRANSPARÊNCIA
Ana Paula Scinocca


Só 22 dos 81 senadores põem contas na internet


‘No primeiro dia de prestação de contas do uso da verba indenizatória no Senado, apenas 22 dos 81 senadores, o equivalente a 27% deles, divulgaram ontem as suas despesas no site da Casa. Cada senador tem direito a R$ 15 mil mensais, mas a prestação de contas pode ser feita trimestralmente. O gasto total dos parlamentares em fevereiro foi de R$ 110.697,48, mas cinco deles alegaram não ter usado um único centavo.


A abertura dos dados da verba indenizatória, até então considerada uma ‘caixa preta’ do Congresso, começou com quatro meses de atraso. No final do ano passado, em uma ação para resgatar a imagem da Casa – deteriorada pelas denúncias envolvendo o então presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) -, um boletim administrativo interno ordenou que os gabinetes divulgassem a aplicação dos recursos no site www.senado.gov.br.


Dos 17 senadores que declararam os seus gastos em fevereiro, apenas 2 informaram despesas de 100% da verba, ou seja, R$ 15 mil. Foram eles Gilvam Borges (PMDB-AP) e Cristovam Buarque (PDT-DF). O peemedebista declarou despesas referentes a ‘aluguel de imóveis para escritório político, compreendendo despesas concernentes a eles’.


Cristovam também apresentou a mesma justificativa, além de gasto com ‘divulgação da atividade parlamentar’. E explicou: ‘São gastos com pesquisa, jornais e livros para divulgação dos trabalhos como senador e ex-governador.’


Entre os 81 senadores, três abriram mão da verba – Jefferson Péres (PDT-AM), Marco Maciel (DEM-PE) e Pedro Simon (PMDB-RS) – e sequer tiveram seus nomes mencionados no portal do Senado ontem à tarde.


Um quarto senador, Lobão Filho (DEM-MA), recém empossado – ele ocupou a vaga do pai, Edison Lobão, que trocou o Senado pelo Ministério de Minas e Energia -, também não tinha seu nome na listagem publicada na internet. A Casa informou , por meio da Secretaria de Comunicação, que os dados ainda estavam sendo incluídos no site ao longo do dia.


RECORDISTA


Entre as mulheres que divulgaram os gastos, a recordista foi Rosalba Ciarlini (DEM-RN). Na prestação de contas, ela declarou gasto de R$ 14.978,40 com a contratação de consultorias, assessorias, pesquisas, trabalhos técnicos e outros serviços de apoio ao exercício do mandato, além de locomoção, hospedagem e combustíveis.


Entre os senadores que fizeram uso da verba indenizatória, os mais econômicos foram foram Renato Casagrande (PSB-ES) e Patrícia Saboya (PDT-CE). Fizeram, respectivamente, despesas de R$ 577,45 e R$ 949, 20.


A prestação de contas franqueada ao público não é, porém, acompanhada da apresentação de notas fiscais que justifiquem as despesas.


Alguns dos senadores que não disponibilizaram os seus dados na internet alegaram que ainda estão dentro do prazo e o farão nos próximos dias. Ainda que o gasto seja zero, é preciso que os parlamentares prestem informação.


Na bancada de São Paulo, nenhum dos três senadores – Aloizio Mercadante (PT), Eduardo Suplicy (PT) e Romeu Tuma (PTB) – divulgou gastos no site do Senado até o fechamento da edição de ontem.


GARIBALDI


A maioria dos 81 senadores não enviou sua prestação de contas. Na lista estão os principais defensores da abertura da ‘caixa-preta’ do Senado, como o presidente da Casa, Garibaldi Alves (PMDB-RN), o ex-presidente interino, Tião Viana (PT-AC),que propôs de fato a abertura das contas, e Álvaro Dias (PSDB-PR).


O tucano confirmou que não entregou a prestação de contas e frisou que tem três meses para incluir os seus dados no sistema. ‘Eu ainda não assinei a prestação de contas, porque as notas não chegaram. Mas farei isso logo’, afirmou o senador, .acrescentando que os seus gastos em fevereiro ‘não devem ter sido altos’.


Viana não estava ontem em Brasília. A sua assessoria de imprensa informou que, como é necessária a assinatura do senador, o envio da prestação de contas do petista será feito hoje para a Diretoria-Geral do Senado.


Ao chegar em Brasília, no início da noite de ontem, o presidente do Senado afirmou que não há ‘nada de extraordinário’ no fato de os senadores ainda não terem apresentado suas prestações de conta, inclusive ele próprio. Mas prometeu entregar até o final da semana.


‘Não entreguei porque ainda não deu tempo. Mas vai ser logo, porque preciso ser o exemplo’, declarou. Garibaldi também frisou que os senadores não estão obrigados a prestarem contas mensalmente.


Questionado se temia apresentação de notas frias por parte de alguns senadores, o presidente da Casa afirmou: ‘Eu não parto do pressuposto de que alguém recorra a esse tipo de expediente.’ Para Garibaldi, com a abertura das contas o Senado dá um passo importante em direção à transparência. Mas admitiu que a apresentação dos dados pode ser melhorada: ‘Aquilo que foi prometido começa a ser divulgado e pode ser aperfeiçoado.’’


 


Marcelo de Moraes


Surgem novos gastos de Matilde


‘Apenas 15 dias antes de pedir demissão do cargo, a então ministra da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, usou o cartão de crédito corporativo do governo para alugar carros para sua locomoção. O gasto aparece nos novos dados de uso do cartão disponíveis no Portal da Transparência. O pagamento de R$ 1.085,80 foi feito à empresa Localiza no dia 15 de janeiro, dois dias depois de o Estado ter revelado o alto crescimento nos gastos dos cartões corporativos de todo o governo e mostrar, em particular, as elevadas despesas de Matilde, incluindo aluguéis de automóveis, que acabaram tornando sua situação no governo insustentável politicamente.


Segundo os dados do Portal, no dia 10 de janeiro, Matilde também já tinha alugado outro carro com o cartão, pagando mais R$ 878,69 novamente à Localiza. As novas faturas do cartão da ex-ministra ainda registram em janeiro despesas em restaurantes.’


 


Propaganda municipal deve excluir Luizianne


‘A prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (PT), está proibida de aparecer na propaganda institucional da prefeitura, sob pena de pagar multa diária de R$ 50 mil. A decisão é do juiz da 117ª Zona, Emanuel Leite Albuquerque, e atende, em parte, solicitação do PSDB, que acusou Luizianne de usar indevidamente, em janeiro, meios de comunicação.’


 


RÚSSIA
O Estado de S. Paulo


Polícia prende dezenas em protesto contra Medvedev


‘A polícia russa prendeu ontem dezenas de manifestantes que protestavam contra a vitória do governista Dmitri Medvedev na eleição presidencial de domingo. Em São Petersburgo, segunda maior cidade da Rússia, a oposição conseguiu reunir 3 mil participantes em outra manifestação contra o novo líder russo.


No protesto de Moscou, que não havia sido autorizado pelo Kremlin, policiais cercaram grupos de manifestantes que gritavam ‘Essa é nossa cidade!’ e ‘precisamos de outra Rússia!’. Os opositores, em sua maioria jovens, foram retirados à força pelos policiais.


Entre os detidos está Nikita Belykh, um dos líderes do partido União de Forças de Direita e o ativista de direitos humanos Lev Ponomaryov. ‘Há 15 anos, não poderia imaginar que meus filhos cresceriam num país que me lembra tanto a União Soviética’, criticou o manifestante Alexander Ivanov, em Moscou.


Em São Petersburgo, o ex-campeão mundial de xadrez Garry Kasparov, líder da oposição e um dos organizadores do protesto, criticou o resultado da votação. ‘Hoje (ontem) começamos a lutar contra um regime ilegítimo’, afirmou.


Apesar de vencer com 70,23% dos votos, a vitória do sucessor do presidente russo, Vladimir Putin, foi recebida pela comunidade internacional com reações discretas. ‘É do interesse da Rússia e dos EUA que os países trabalhem juntos em áreas como não-proliferação e contraterrorismo’, afirmou o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Gordon Johndroe.


O presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, disse estar confiante de que a ‘relação estratégica’ entre Rússia e Moscou se aprofundaria.’


 


ARTE CONSCIENTE
Camila Molina


Olha o que a arte pode fazer pela floresta


‘Arte pela Amazônia é a ampla mostra que será inaugurada hoje à noite para convidados e amanhã para o público, no terceiro andar do prédio da Fundação Bienal de São Paulo. Há de tudo: fotografia, instalações, pinturas, esculturas, objetos, vídeos e gravuras criados por três diferentes gerações de artistas. Essas obras são abrigadas na mostra dentro de núcleos livres (leia ao lado), concebidos pelo curador Jacopo Crivelli Visconti de forma a promover aproximações entre as criações. Os núcleos não têm títulos próprios. Cabe ao espectador fazer suas relações.


A iniciativa contou com a adesão de 150 artistas de todo o Brasil, incluindo os grandes nomes de nosso cenário de artes visuais, como Tomie Ohtake Tunga, Nelson Leirner, Paulo Pasta, Regina Silveira, Sandra Cinto, Thomaz Farkas e Maria Bonomi. Eles cederam suas criações para a mostra e, depois, para a realização de um leilão, previsto para o dia 3 de abril, em um shopping da cidade.


As escolhas das obras foram feitas pelos próprios artistas. Muitos criaram trabalhos específicos para o projeto; outros decidiram apresentar peças já prontas e há criadores que optaram por reeditar obras realizadas há tempos. ‘Não gosto de tema para trabalhos, então resolvi colocar uma obra inusual minha, uma monotipia de uma série de 2005 que nunca havia mostrado. Essa exposição é bacana, é um jeito de ajudar em algo’, diz o pintor Paulo Pasta, referindo-se aos possíveis desdobramentos do projeto, voltado para uma criação de reserva natural na Amazônia. Sandra Cinto também entrou com a vontade de ajudar. ‘Nunca fico preocupada com o literal. Meu trabalho em si já tem relação com a paisagem e resolvi participar com um desenho inédito e novo’, afirma a artista, que também indicou as jovens Michele Lerner e Alice Ricci a participar.


Preocupada em realizar ações de preservação da floresta e programas para a população ribeirinha local, a produtora da mostra é a Base 7 Projetos Culturais. ‘É fundamental chamar a atenção para a Amazônia e promover sua preservação consciente’, diz o artista Ricardo Ribenboim, proprietário da Base 7, ao lado de Arnaldo Spindel e Maria Eugênia Saturni e principal articulador do projeto.


Como conta Ribenboim, que criou, ele próprio, a obra Intangível para a mostra, as primeiras conversas para a realização do projeto vêm sendo feitas há oito meses em parceria com a CO2 Soluções Ambientais. Com a verba do leilão, será criado um fundo para o recém-nascido Instituto Arte + Meio Ambiente, que, concebido este mês, poderá ter estrutura própria.


Tudo será focado para o plano de criação de uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) a ser comprada em local já definido, no sul do Amazonas. ‘É uma área equivalente a 5,3 vezes o Parque do Ibirapuera’, afirma Ribenboim. ‘As reservas particulares são uma solução saudável para a Amazônia. Os recursos são particulares, mas a guarda é do Governo’, ainda diz. Segundo ele explica, quando se constitui uma reserva, não se constrói nada no local, mas se instalam censores em núcleos estratégicos que indicam se há queimadas e desmatamento na área. ‘‘Eles acionam a segurança’, conta.


O local escolhido para a reserva particular, perto da divisa com o Mato Grosso, é, segundo Ribenboim, um lugar estratégico dentro da área de cinco Estados brasileiros que compreende a Amazônia. ‘Com o Amazonas sentimos mais firmeza. É o Estado com menor índice de desmatamento; que quer trabalhar para a preservação da floresta em pé e pela sustentabilidade; e que tem um Instituto Socioambiental seriíssimo’, diz. No leilão, que será comandado pelo martelo do leiloeiro James Lisboa, 70% do valor de cada obra (os lances mínimos foram estipulados pelos próprios artistas) serão destinados ao projeto e 30% vai para o criador. ‘Mas há os que cederam integralmente sua obra’, diz Ribenboim.


Mundos, Esferas e Universos


SEM FRONTEIRAS: Este é um segmento que, como afirma Ribenboim, fala de ‘rasgar a idéia das fronteiras’ – ele completa que problemas ambientais como o aquecimento global são de responsabilidade do mundo todo. A fotografia Nem Lá…Nem Cá, realizada em 2005 por Rafael Assef, é uma feliz representação da idéia de abstração de fronteiras: nela, a pele é tomada em uma grande área pela tatuagem lisa feita com tinta escura, ficando apenas uma pequena tira ilesa na composição. Já Tunga, como conta Ribenboim, criou uma obra especialmente para a mostra, uma aquarela que ‘faz a representação de fumaça diluída.’ Na mesma linha, Shirley Paes Leme exibe suas telas em que os desenhos são feitos com fumaça congelada. Já em fotografia, Cao Guimarães apresenta duas pequenas bexigas penduradas em um bastão em uma rua qualquer: uma delas está murcha, a outra, aparece como um frágil corpo inflado. Carmela Gross exibe a instalação Alagados, feita com barras de ferro articuladas . ‘Cada um contribui com um tijolo imaginário, e o que conta é o resultado desse esforço coletivo, desse movimento. O objetivo é começar a colocar limites, traçar no chão uma linha que não pode ser ultrapassada, uma tentativa de fronteira que delimite o nosso universo, o dos ideais que não podem e não devem ser negociados. O trabalho propriamente artístico sublima-se, aqui, no gesto democrático, e seu valor precisa, portanto, ser repensado, medido com novos parâmetros’, define em texto o curador Jacopo Crivelli.


Natureza Deturpada


FLORESTA ASSASSINADA: Dentre os quatro núcleos da exposição, está o que trata, como não poderia deixar de ser, da devastação da natureza pela visão poética dos artistas. Ao se ver o conjunto de obras reunidas em toda a mostra, tem-se a impressão de que elas tratam mais do tema de forma poética e lírica do que de maneira radical. ‘Denúncia não é preciso mais’, diz Ribenboim. Segundo ele, as primeiras propostas que trataram da natureza, e que fizeram intervenções sobre ela, ocorreram nas décadas de 1950 e 1960, visando ‘à transformação das artes pela sua aderência à vida cotidiana’ e manifestando ‘não apenas o interesse pela paisagem, mas a efetiva integração do ambiente no fazer artístico’. A land art e seus similares ‘ aparecem hoje desdobradas em inúmeras proposições referidas ou não às questões ambientais’, afirma ainda. É assim que, nesse núcleo, estão, entre outros, a fotografia de peixes cortados com intervenções pictóricas realizada por Alex Flemming; a aquarela de Janaína Tsch?pe; o delicado objeto Spilling (Derramamento), de Jeanete Musatti; a pintura Floresta, de Sergio Fingermann; a gravura sobre papel Gracias a La Vida, Gracias a La Muerte, de Alex Cerveny; e a grande instalação de teto Man at First, feita com xilogravura e colagem sobre papel Nepal por Maria Bonomi, uma das maiores, em dimensão, da mostra, que talvez vá itinerar por outras cidades brasileiras – ‘por enquanto, a primeira aproximação é realizá-la na Espanha, em Madri ou Barcelona’, como adianta Ribenboim.


Retratos


PRESENÇA DA FOTO: O gênero fotográfico é meio valioso tanto para a realização de obras de caráter documental quanto para os trabalhos que se transformam em visões mais livres – e até abstratas – sobre a floresta e seus habitantes. É também nas obras fotográficas que aparece a cor verde tão característica da ampla mata. ‘Cada geração escolhe as suas batalhas: algumas lutaram pela paz, outras defenderam os direitos das minorias, outras, ainda, exigiram um mundo mais justo e igual. A batalha mais urgente e iniludível, hoje, é voltada para o planeta’, afirma o curador Jacopo Crivelli. Os retratos presentes no segundo núcleo da exposição são, portanto, os realizados por criadores de diversas gerações. Uma das mais emblemáticas desse conjunto é o retrato O Derrubador, realizado por Thomaz Farkas, fotógrafo e cineasta com uma das carreiras mais extensas entre os participantes. Nesse seu trabalho, um homem, com forte expressão, está sentado na ponta de um barco segurando um machado. Há também outras fotos, como, por exemplo, a Paisagem Bovina, de Tadeu Jungle; A Mata, de Claudia Jaguaribe; Perto de Manaus, de João Luiz Musa; Piraguaçu, de Caio Reisewitz; Rosa no Arraial, de Luiz Braga; trabalho realizado por Miguel Rio Branco no Pará; e e Dilúvio, por Gal Oppido. Mas não se pode dizer que esse segmento se encerra na fotografia. Há também, entre outros, a pintura realista O Tempo e o Improvável, de Mariana Palma; e um belo desenho de paisagem em preto-e-branco de Gil Vicente.


Abstração


LIBERDADE: Nesse segmento figuram obras não que tratam de uma representação da floresta, mas interpretações abstratas livres e carregadas de sentidos. A monotipia de Paulo Pasta, assim como o desenho de Sandra Cinto. E há ainda as gravuras da consagrada Tomie Ohtake e a recente tela Lembranças do Tocantins, realizada especialmente para o projeto, por Feres Khoury. É um segmento amplo, repleto de obras diferentes em que a natureza foi cada vez mais abstraindo, transformando-se em figura aquosa e orgânica, como na peça de Manoel Veiga, no emaranhado de linhas de aço feito por Angelo Venosa ou de tinta sobre espelho, por Carlito Carvalhosa. A Amazônia sobre tela de Carlos Matuck é composição de apenas cores. A abstração não vem do nada, ela tem o seu referencial no mundo. Como conta o artista Pazé, que apresenta a tapeçaria Labirinto, produzida com Tomi Roman e com a Associação de Moradores do Bairro Jardim Indaiá, seu desenho foi retirado de série de desenhos recolhidos pelo antropólogo Darci Ribeiro em 1949, produzidos pelos índios Cadiwéu do MT. ‘Ele é exatamente o mesmo desenho (abstraindo-se os desenhos das folhas em sua lateral) cunhado nas moedas encontradas na Ilha de Creta, referente ao Labirinto onde se encerrava o Minotauro’, completa Pazé. O mesmo ocorre no tríptico Dormentes, de Edith Derdyk, feito com fotos de trilhos que remetem à história da comunicação e do ciclo da borracha assim como à adormecida e ‘afundada Transamazônica’.


Serviço


Arte Pela Amazônia. Pavilhão da Bienal. Avenida Pedro Álvares Cabral, s/n.º, piso 3, 3088-4530, Parque do Ibirapuera, entrada pelo portão 3. De 3.ª a dom., das 10h às 20h. Grátis. Até 30/3′


 


TELEVISÃO
Keila Jimenez


Galisteu na Record


‘A boa filha à casa retorna. Depois de muita especulação, Adriane Galisteu voltou de fato para a Record. Nos corredores da emissora já é fato que a loira deve desembarcar por lá ainda neste ano, assim que seu contrato com o SBT acabar. Já está tudo acertado.


O retorno se deu após muitas tentativas de Galisteu de retomar sua vaga na emissora, deixada em 2004. Na época, a loira comandava o programa É Show e foi para o SBT por um salário na casa dos R$ 500 mil mensais. Uma bolada que a Record não pôde cobrir.


Na bagagem para o SBT, a apresentadora levou a promessa de um programa diário, noturno, com entrevistas, convidados famosos, musicais, tudo orquestrado por ela. Acabou rifada nas tardes da emissora, comandando gincanas para donas de casa. Brigou com Silvio Santos, reclamou na imprensa, mas acabou ‘cumprindo as ordens do patrão’, como ela mesma diz.


Na época da saída de Galisteu, a direção da Record chegou a anunciar que para lá ela não voltaria nunca mais. Mudou de idéia. A apresentadora volta, resignada, mas já com a promessa de um programa noturno e semanal.’


 


 


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