Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O amadurecimento dos microblogs

Leia abaixo a seleção de segunda-feira para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 10 de março de 2008


INTERNET
Gustavo Miller


Microblogs amadurecem e deixam de ser ‘diarinhos’


‘Quando os blogs começaram a ganhar muitos adeptos no Brasil e em todo o mundo, eles tinham o (chato) rótulo de meros diários virtuais. Não era por acaso: muitos dos blogueiros da época apenas usavam a ferramenta para falar de suas vidas pessoais. Hoje a situação se inverteu e o blog já conseguiu se livrar dessa fama maldita.


O mesmo está acontecendo com seu irmão caçula, o microblog. No ano passado, quando o Twitter, o site que criou o conceito dos blogs curtos, começou a repercutir bastante por aqui, muita gente viu nele apenas uma forma de algum desocupado dizer em até 140 caracteres o que estava fazendo em determinado momento de seu dia-a-dia.


Um ano depois vê-se que os microblogs já amadureceram e viraram uma ferramenta que exemplifica o ritmo frenético da comunicação atual, em que qualquer pessoa, em qualquer lugar, consegue achar um meio de dar o seu recado.


O universitário carioca Victor Pencak, de 19 anos, começou usando o serviço de microblog Pownce e hoje usa o Twitter. ‘Indico algum site que achei interessante, um vídeo engraçado ou um link para uma matéria’, diz. Detalhe: ele não atualiza seu microblog pelo site do próprio. ‘Posto pelo o meu celular ou pelo Gtalk’, explica.


Esse é um diferencial bacana dos microblogs: a facilidade que eles têm de se integrar a qualquer ferramenta digital (leia abaixo). Não por acaso, hoje ele consegue ser um complemento para blogs, redes sociais e mensageiros eletrônicos. O próprio Pencak,quando não tem muito tempo para escrever algo em seu blog, opta pelo microblog. Sua solução foi criar um ‘widget’ de seu Twitter (twitter.com/VictorPencak) em sua página (www.victorpencak.com) – e assim seus leitores sempre estão atualizados.


‘Widgets’ são pequenos aplicativos que rodam dentro de um site. São códigos HTML que, inseridos no código-fonte de uma página online (seja blog ou perfil em rede social), viram uma mini janela interativa.


Nos microblogs os ‘widgets’ são os ‘badges’. Twitter, Pownce, Tumblr e Gozub são serviços que oferecem essa ferramenta (é só procurar no menu inicial de cada um desses serviços um link com a palavra ‘badge’; no caso do Gozub, clique em ‘meu emblema’).


Integrar o blog com o microblog está dando tão certo que o WordPress lançou recentemente seu próprio aplicativo de microblogging, o Prologue. É um ambiente onde os blogueiros podem criar seus microposts, com a opção de cada texto ser comentado e ter sistema de tags e feed próprios. Bem legal.


Microblogs são uma mistura de blog com rede social. Além de publicar os seus textos, também dá para ‘assinar’ o perfil de outras pessoas. Assim, acaba-se vendo em seu perfil os seus posts e os de sua lista de amizades – dá até para responder os textos postados por eles.


A essência dos microblogs é o texto. No Twitter, o serviço mais popular do gênero (os brasileiros correspondem a 7% do número de usuários internacionais do site) isso é claro. Para mandar o link de um vídeo ou notícia é necessário colocar todo o seu endereço no corpo da mensagem (dica: o site www.tinyurl.com diminui as URLs).


Por essa e outras cositas mais, o Twitter não é o serviço de micropost mais completo que há. Mesmo assim, nos testes do Link ele acabou sendo o mais indicado – mas pelo fato de ele ser muito popular, que é o que pesa em uma rede social. Pownce e Jaiku até permitem que se envie arquivos, como fotos e vídeos, e que se crie grupos. Mas o número de brasileiros presente neles é bem reduzido.


A webdesigner Nathália Capistrano, de 22 anos, usa um microblog diferente, o Tumblr (http://nath.tumblr.com), que é muito mais um blog secundário, um Tumblelog. Ele publica apenas pequenas informações: um vídeo, uma imagem, um áudio ou uma frase. Como no Twitter, dá para assinar o Tumblr de outras pessoas e ver o que elas estão postando – dá, inclusive, para ‘reblogar’ o conteúdo de terceiros, caso ele seja muito interessante (dá-se o devido crédito, lógico).


‘Coloco apenas coisas interessantes que acho na internet para mostrar para os meus amigos’, diz Nathália. ‘O legal do Tumblr é que nele você faz o seu sistema. No Twitter eu apenas dou o link do vídeo, já no Tumblr eu posso mostrá-lo.’’


 


TECNOLOGIA
Marili Ribeiro


Propaganda de terceira geração


‘As companhias de telefonia andaram comedidas em seus investimentos publicitários no último ano. Em 2007, responderam por 4% do bolo publicitário, ante os 5% que representavam no ano anterior. Mas começam este ano com disposição para ganhar maior visibilidade. A estréia da regra da portabilidade a partir de agosto – que permitirá ao usuário mudar de companhia carregando o mesmo número -, é um dos fatores que mobilizam as áreas de comunicação das empresas.


Quem deu largada alertando para uma prática que favorece o consumidor antes mesmo da chegada da portabilidade foi a operadora Oi, ao sair alardeando em campanha publicitária, criada pela agência NBS, o desbloqueio dos aparelhos de sua base de clientes. ‘As empresas não podem cobrar pelo desbloqueio, a liberdade de escolha é um desejo do consumidor’, diz Flávia da Justa, gerente da Oi. ‘ Cada vez mais , não é o aparelho, e sim o serviço que vai reter o consumidor’.


O mercado sabe disso. Os números mais recentes disponíveis sobre o tema, em estudo feito no ano passado pela empresa de pesquisa Yankee Group, mostram que 57% dos paulistas, 50% dos mineiros e 36% dos cariocas trocariam de operadora se pudessem carregar seus atuais números. Eles se declaram insatisfeitos com os serviços prestados pelas empresas.


A agressividade da ação da Oi, que anuncia a permissão de uso em seus aparelhos do chip de qualquer outra operadora, incomodou os concorrentes. ‘A Oi cria desinformação ao não avisar que o desbloqueio é uma opção’, pondera Erike Fernandes, diretor de marketing da Claro. Para conquistar clientes, as empresas de telefonia móvel adotaram a estratégia de vender aparelhos subsidiados. E, para receber pelo ‘financiamento’ dado ao comprador, atrelam a compra ao contrato de um ano de uso.


Fernandes, entretanto, também reconhece que a chegada da portabilidade vai mesmo aquecer o mercado. ‘Caminhamos para uma saturação do mercado básico (hoje com 122 milhões de linhas) e haverá maior esforço de marketing para buscar os nichos para uso de mais recursos tecnológicos’, diz ele. Daí a campanha da agência AlmappBBO, que acaba de entrar no ar, ressaltando as vantagens da cobertura da tecnologia de terceira geração da operadora, que, ao aumentar a velocidade móvel dos serviços, permite entre outros a recepção da televisão digital.


Na mesma linha, a operadora BrT pôs no ar dois filmes para falar dos benefícios da banda larga móvel. Mais que isso, enfatiza, como diz o vice-presidente de criação da agência Leo Burnett, Ruy Lindenberg, as oportunidades para os usuários. ‘Criatividade junto com a tecnologia geram condições para o desenvolvimento de produtos atrativos que tornam a portabilidade um detalhe’, diz ele. ‘ A BrT tem promoções como ligações mais baratas aos sábado. Uma cliente nos contou que namora um jogador de futebol na Suécia. Seu gasto telefônico era absurdo, mas ela descobriu como falar 16 horas por mês de graça com ele. Telefona por quatro horas a cada sábado’.


A mudança que agita os negócios do setor, na opinião de José Luiz Liberato, diretor de Imagem e Publicidade da TIM, deve apenas servir para melhorar a qualidade de vida das pessoas. ‘No final de semana, começamos a veicular uma campanha que avança na nossa comunicação, ao ressaltar uma mensagem que vai além do viver sem fronteiras. Quer passar a idéia de que o relevante é viver além da tecnologia’.’


 


Filipe Serrano


Celulares com TV digital chegam às lojas até abril


‘Quatro meses depois do lançamento da TV digital em São Paulo, finalmente será possível comprar celulares que sintonizam o sinal digital. A Vivo anunciou na terça-feira que venderá os primeiros telefones compatíveis com o novo padrão de transmissão. A operadora terá dois modelos, o CTV41 da Semp Toshiba – que foi testado pelo Link na edição passada – e o V820L da Samsung.


A Vivo afirma não ter fechado os preços dos telefones ainda. Mas de acordo com os fabricantes eles serão altos. O preço sugerido do CTV41 é de R$ 1.200. Já o V820L ficará entre R$ 1.600 e R$ 1.800. Ambos os modelos chegarão às lojas entre o final desse mês e o começo de abril, segundo a Vivo.


O anúncio da operadora coincidiu com a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à fábrica da Samsung em Campinas. No mesmo dia o fabricante apresentou um modelo do V820L ao presidente.


Apesar de ter lançado os celulares, a Vivo não descarta que terá um serviço pago de televisão em sua futura rede 3G (tecnologia que permite a transmissão de dados para o celular com uma velocidade maior). ‘São serviços complementares. Poderemos oferecer conteúdos e canais diferentes do que os da TV digital aberta’, disse ao Link Hilton Mendes , diretor de desenvolvimento de terminais da Vivo.


A Claro inaugurou em novembro sua rede 3G em São Paulo e desde então os clientes que têm celulares compatíveis com a tecnologia podem assistir a nove canais de TV por assinatura, como CNN, Bloomberg, Cartoon Network e Discovery Channel. Ao contrário dos da TV digital, que é aberta e gratuita, a transmissão de TV da Claro é tarifada.


Questionada se pretende lançar celulares com TV digital, a operadora apenas afirmou que já oferece um serviço de televisão. Já a Tim, que deve estrear sua rede 3G até abril, afirma que seu foco está no crescimento com rentabilidade, ou seja, em canais pagos. A operadora deverá vender celulares com TV digital de acordo com a demanda dos consumidores.


A Oi também não respondeu se venderá celulares com TV digital. Apenas afirmou que já tem um serviço pago de televisão móvel.


MAIS UM MODELO


Depois da Samsung e da Semp Toshiba, a LG mostrou também na semana passada um protótipo de celular com TV digital. Segundo o fabricante, ele deve começar a ser vendido em outubro. Ainda não há uma previsão do preço do aparelho.


O nome do modelo é L705ix, uma versão adaptada de outro celular da LG, o Shine, que tem um botão de rolagem central, câmera de 2 megapixels com flash, porém, não é compatível com a tecnologia 3G. O modelo da Samsung é o único até agora que funciona em 3G.


Na apresentação do aparelho da LG para a imprensa, o celular captou apenas o sinal da emissora Record. E as imagens não ocupavam a tela inteira do aparelho. A antena do protótipo é fina e frágil, mas pode ser movimentada em qualquer direção, ao contrário da antena do celular da Semp Toshiba, que é fixa.’


 


ARTE
Antonio Gonçalves Filho


Brasil visto por japoneses


‘Quando se pensa na contribuição que os pintores japoneses deram para a arte brasileira surge, de modo quase automático, o nome do grupo Guanabara, formado em 1950 em torno do pintor Tikashi Fukushima (1920-2001). Não foi, naturalmente, a única associação de artistas imigrantes (ou descendentes, como o italiano Archangelo Ianelli), mas o grupo chegou a ter 34 membros, entre eles alguns que fizeram parte do grupo Seibi (Seibikai), fundado em 1935 por Takaoka e outros. Com a entrada do Brasil na guerra, os japoneses tiveram seus movimentos limitados no País e só em 1947 o grupo voltaria a se reunir, incorporando novos artistas. Desses, os nomes de destaque são Flávio Shiró, Mabe, Tomie Ohtake e Kaminagai (Hiroshima, 1899 – Paris, 1982), que está sendo homenageado na exposição Círculo de Ligações, aberta hoje, no Centro Cultural Banco do Brasil em São Paulo. Junto a Kaminagai estão dois outros mestres da pintura oriental: o japonês Foujita (Tóquio, 1886 – Zurique, 1968) e o nissei Jorge Mori, com 74 anos.


Com curadoria da crítica Aracy Amaral e do coordenador do serviço educativo do Masp, Paulo Portella Filho, a mostra comemora o centenário da imigração japonesa no Brasil e reúne 90 obras e 50 documentos que revelam como os japoneses e seus descendentes viram a paisagem brasileira intermediada pelo olhar europeu. Explicando: Foujita, ligado à Escola de Paris, veio para o Brasil em 1931 e, apesar de sua rápida estadia (quatro meses), conheceu modernistas do Rio, travando amizade com Portinari, a quem recomendou por carta um pintor japonês, Kaminagai, que conheceu na França. Kaminagai gostou tanto do Brasil que ficou por aqui os 14 anos seguintes, tempo suficiente para conhecer outro jovem talentoso de São Paulo, Jorge Mori, recomendando-o a Foujita. Estava fechado o círculo de que fala o título da exposição, aberta com a presença de Mineko e Yo Kaminagai, respectivamente viúva e filho do pintor. Eles vieram especialmente de Paris para a inauguração.


O que primeiro chama a atenção na mostra é o primor artesanal do trio de pintores e, como se disse, a afinidade com a pintura de matriz européia. Explicável: no Japão, inexiste essa distância abissal – predominante no Brasil – entre artista e artesão. Kaminagai fabricou chassis e molduras a vida toda para garantir a educação do filho Yo, hoje um dos que comandam o serviço de transportes de Paris. Eram molduras encomendadas pelo marchand Ambroise Vollard, que deu nome a uma suíte de gravuras de Picasso e foi comerciante das obras de Bonnard. Portanto, são molduras incomuns, como prova a mostra, que tem meia dúzia delas expostas. Outra prova da extraordinária habilidade artesanal desses pintores é o paulista Jorge Mori, que passou por Paris mas preferiu voltar, trazendo na bagagem cópias que fez de obras-primas européias. Uma delas está no Masp: é o painel A Batalha de San Romano, do italiano Paolo Uccello(1397 -1475). Até mesmo um especialista teria dificuldades para encontrar alguma diferença entre o painel pintado por Mori e a terceira parte do tríptico que está no Louvre (as restantes estão no Uffizi e na National Gallery).


Mori foi aluno de Takaoka, influenciado por Cézanne, e demonstrava afinidades com a pinturas dos fauvistas em sua primeira individual no Rio. Na Europa, fez um curso de mosaico com seu mestre no ateliê de Gino Severini, mas foram as cores de Matisse que impressionaram sua retina. De Foujita, guarda boas recordações, mas não tão boas quanto de Kaminagai. ‘Foujita falava de tudo, menos de pintura, mas Kaminagai era diferente, ele realmente me ensinou a viver’. E Kaminagai tinha uma experiência e tanto de vida. Aos 14 anos estava recolhido a um mosteiro budista. Depois seria missionário na Indonésia, mas ficaria famoso como moldureiro em Paris, requisitado por célebres pintores. Ao desembarcar no Brasil, em 1941, aos 42 anos, o ascetismo budista já era passado. ‘Ele ficou deslumbrado com as cores tropicais’, diz o curador Paulo Portella, apontando uma tela em que o pintor retrata a pensão Mauá, no morro carioca de Santa Teresa, onde manteve por 14 anos uma oficina de molduras.


A viúva do pintor, Mineko Kaminagai, confirma as palavras do curador. ‘Eu diria que suas cores ficaram mais vibrantes depois de sua estada brasileira, mas especialmente após o nascimento de nosso filho’. Yo, que nasceu quando o pintor tinha 58 anos, diz que o pai era o protótipo do antimaterialista. ‘Morávamos num beco em Paris, circulávamos num carro caindo os pedaços e me sentia um pouco diferente de meus colegas por ter um pai artista’, lembra o hoje o orgulhoso filho.


Kaminagai e Mori estão representados na mostra com mais obras que Foujita. A curadora Aracy Amaral explica a razão: ‘Os colecionadores brasileiros estão cada vez mais resistentes ao empréstimo de obras e só conseguimos dois óleos dele para a exposição’. Um deles retrata duas patéticas figuras no carnaval carioca de 1931. Alguns trabalhos de Foujita vieram de fora: o mencionado óleo cedido por um colecionador argentino e outro emprestado de uma coleção particular belga – a aquarela Deux Gamins Nègres (Dois Meninos Negros), de 1931, que ilustra esta página. Há na exposição curiosos retratos de Foujita assinados por Ismael Nery e Portinari, que o desenhou dormindo. Foujita, conhecido por alugar sua banheira parisiense de água quente para Kiki, amante de Man Ray, nunca se lembrou de retribuir a gentileza. Em suas cartas nem menciona o pintor brasileiro que fez a triangulação do encontro entre ele, Kaminagai e Mori.


Serviço


Um Círculo de Ligações: Foujita no Brasil, Kaminagai e o Jovem Mori. Centro Cultural Banco do Brasil. Rua Álvares Penteado, 112, Centro, telefone 3113-3651. 3.ª a dom., 10 h às 20 h. Grátis. Até 1.º/6. Abertura hoje, 19h30, para convidados’


 


 


 


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 10 de março de 2008


PAULINHO
Fernando de Barros e Silva


Farsa sindical


‘SÃO PAULO – ‘Não estou à venda.’ A frase aparece quatro vezes na boca de Paulinho, o presidente da Força Sindical, durante uma entrevista à Folha em 2004. O então candidato à prefeitura tratava de insistir que nem Serra nem Marta conseguiriam comprar seu apoio.


Na mesma entrevista, Paulo Pereira da Silva, eleito deputado dois anos depois, repetia outras três vezes: ‘Deputado eu não vou ser. Não saí [a prefeito] para ser candidato a deputado’. Com a licença de Caetano Veloso: como pode querer que o político vá viver sem mentir?


‘Não estou à venda.’ Freud (não o ‘aloprado’ de Lula, o outro) talvez explique a repetição obsessiva da frase. O fato é que Paulinho terminou aquela campanha municipal nos braços de Serra, o eleito.


Dois anos antes, vice de Ciro Gomes na disputa presidencial, o sindicalista era adversário mortal do tucano e havia apoiado Lula no segundo turno. Em 98, estava engajado na coordenação da campanha de Fernando Henrique à reeleição.


Essa tem sido a regra: Paulinho não está à venda, mas sempre acaba ao lado dos vitoriosos, não importa se tucano, petista ou tucano de novo. Ele não tem restrições partidárias, ideologia, idéias ou ideais; tem interesses. Seu negócio é o Estado.


‘Sindicalismo de resultados’ é um slogan propagandístico que não deixa de exprimir o que é a Força Sindical. Seu segredo reside na associação da velha cultura pelega e clientelista com técnicas de aliciamento e entretenimento importadas do showbizz. Com uma mão, se beneficia de convênios ‘republicanos’ com o Estado; com a outra, distribui brindes às massas.


A central presidida por Paulinho mistura política retrógrada com a negação da política.


Este pequeno Lula paraguaio agora anuncia entre palavrões que vai entupir o Judiciário de ações contra jornalistas da Folha. Ameaça imitar os fiéis seguidores de Edir Macedo e nem sequer disfarça que pretende recorrer a chicanas com o intuito de intimidar a imprensa. Pobre deputado, pensa que os outros estão à venda.’


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


O mundo em 2050


‘‘The Hindu’ e outros indianos soaram trombetas: ‘Em mudança tectônica no centro econômico global de gravidade, o tamanho da Índia chegaria a 90% dos EUA em 2050, com a China ainda maior’ que os EUA. É relatório da PriceWaterhouseCoopers, que cobriu as apostas do Goldman Sachs quando falou em Brics.


Ecoou por agências com atenção à China, que seria 90% dos EUA já em 2025, e até ao Brasil, que em 2050 seria a quarta economia, passando o Japão. No site da ‘Wired’, o escritor e visionário Bruce Sterling gostou: ‘2050 não é tão longe, sabia… E o mundo anunciado é uma incrível transformação de tudo que se conhece’.


De outro lado, na China, o ‘Diário do Povo’ noticiou que começa hoje no Rio um novo encontro dos Brics.


O TREM BRIC


Dia após dia, a inflação é manchete na mídia chinesa.


Mas o site financeiro Asian Investor, de Hong Kong, diz em título que ‘a inflação não descarrilhará os Brics’. Para tanto, entrevista ‘gerente de investimento’ em Frankfurt: no ano, ‘o consenso é esperar crescimento’ de Brasil, Índia, Rússia e China, ‘só afetados parcialmente pelos EUA’.


APOSTAR NO BRASIL?


‘Bet on Brazil?’, pergunta a revista ‘U.S. News’, seguindo Seeking Alpha e outros sites financeiros na repercussão de um ‘analista de mercado’ que apontou o país ‘em situação melhor do que a maioria dos emergentes’. O Brasil, ‘tudo considerado, terá um melhor desempenho do que os outros países emergentes durante esta turbulência’ dos EUA.


ÍNDIA E O SAMBA


No topo da busca de Brasil por Google, Yahoo e Inform. com, a notícia do ‘Hindustan Times’ de que três estatais indianas de petróleo pretendem investir, em conjunto, US$ 600 milhões no Brasil, em etanol. É para atender ao consumo brasileiro, mas também ‘exportações’. Abrindo a notícia, o jornal diz que a Índia vai ‘sambar no Brasil’.


FLEX, O VINGADOR


Jornais regionais dos EUA, ‘San Francisco Chronicle’ e outros, abordaram no final de semana o recorde nos preços da gasolina com a pergunta ‘estamos vencendo o vício?’.


Sem segurança, ‘a resposta parece que é sim’, com uma recente queda no consumo incentivada por ‘maior uso de combustíveis alternativos’, etanol sobretudo. O carro flex é dado como ‘Opec-avenger’, o vingador contra a Opep.


QUEM ACREDITARIA?


Já o britânico ‘Observer’ se pergunta ‘quem acreditaria no petróleo a US$ 105?’. E avisa que o preço continuará subindo, segundo consultoria de energia, ‘enquanto China, Brasil e Índia, com passo rápido, se industrializarem’. Diz que a única política para EUA e Europa, ‘mas também Rio, Nova Délhi e Pequim’, é buscar ‘fontes alternativas’ e, assim, consumir menos, forçando a queda nos preços.


VAGAS NO ABC


Também em destaque nos sites de busca de notícias do Brasil, no final da semana, uma reportagem publicada no jornal ‘The Detroit Free Press’, da capital da indústria automobilística nos EUA, em crise, dizendo que a General Motors planeja aumentar o número de empregados na unidade de São Caetano do Sul, no ABC, em 900 vagas.


‘POBRISMO’ BRASILEIRO


No domingo, o ‘New York Times’, com tradução no UOL, deu uma longa reportagem de Eric Weiner, autor de livros de turismo, discutindo ‘Visitas a favelas: turismo ou voyeurismo?’. Falou em ‘acusações de exploração’, mas não escondeu a simpatia com o ‘novo nicho’. O Brasil foi o destaque, até por ter iniciado o fenômeno há 16 anos, na Rocinha. O texto reproduz um dos nomes que vêm sendo usados para identificar a tendência: ‘poorism’, pobrismo.


TRÂNSITO ELEITORAL


No domingo em que São Paulo, segundo Folha Online, rádios e outros, voltava a sofrer alagamento na Marginal Tietê, o ‘Fantástico’ abriu com a avaliação própria de que os recordes de congestionamento se devem ao excesso de carros, tão-somente. Nada de atraso no metrô, Rodoanel, nos corredores. Ônibus nem seria solução, ‘a velocidade está caindo’, e o prefeito só ‘aposta em investimentos no metrô’. Pedágio urbano, não -ao menos ‘por enquanto’.’


 


MÚSICA
Thiago Ney


Sem controle


‘Eles lançaram apenas dois discos, a banda existiu por apenas pouco mais de três anos e tinha como líder uma figura arredia. Foi o que bastou para o Joy Division motivar a realização de dois recentes filmes e modelar uma bem-vinda sombra no rock atual.


As telas de cinema do Brasil exibirão duas produções que cercam a banda. Uma é ‘Joy Division’, com direção de Grant Gee (o mesmo do minidocumentário ‘Meeting People Is Easy’, do Radiohead), que é um dos destaques da 13ª edição do festival de documentários É Tudo Verdade. O evento acontece em São Paulo (entre 26 de março e 6 de abril), no Rio de Janeiro e em Brasília.


A outra produção é ‘Control’, longa ficcional baseado na vida de Ian Curtis. O filme marca a estréia do fotógrafo Anton Corbijn na direção cinematográfica -ele fez, entre outras, a capa do disco ‘The Joshua Tree’ (1987), do U2, e dirigiu mais de 80 clipes de bandas.


‘Control’ foi exibido em concorridas sessões na Mostra de Cinema de São Paulo de 2007, e entra em cartaz em 16 de maio -dois dias antes do aniversário da morte de Curtis (1956-80).


A intensidade de seus dois únicos discos de estúdio, ‘Unknown Pleasures’ (1979) e ‘Closer’ (1980), reverbera no pop atual -sem Joy Divivion, uma banda como o Interpol, que amanhã inicia turnê no Brasil, estaria desorientada.


Anton Corbijn e Grant Gee falaram à Folha sobre os filmes que produziram e (um pouco) sobre o filme do outro.


Corbijn a respeito de ‘Joy Division’: ‘Sim, assisti ao documentário. É muito bom, é legal que ele exista. É um documentário sobre uma banda, tem um objetivo diferente do meu filme’. Gee sobre ‘Control’: ‘Filme ótimo. Mas sinto dificuldade em falar sobre ‘Control’, pois às vezes penso que ele trata de um assunto completamente diferente do que abordei no documentário’.


A temática de ambos os filmes é próxima, mas um não atravessa o território do outro.


‘Joy Division’ busca em imagens antigas (como cenas históricas do primeiro show dos Sex Pistols em Manchester, em 1976, no qual estavam Ian Curtis, Bernard Sumner e Peter Hook) e em entrevistas com gente próxima à banda os combustíveis para esquadrinhar a trajetória e contextualizar a importância do grupo.


Com a ajuda de atores, ‘Control’ narra especificamente a vida de Ian Curtis. O filme é apoiado quase inteiramente por ‘Touching from a Distance’, livro de memórias escrito pela viúva de Curtis, Deborah.


(Coincidência ou não, em ‘Control’ a presença de Annik Honoré, a amante belga de Curtis, é menos proeminente do que em ‘Joy Division’.)


Há três anos Corbijn iniciou a produção do longa, mas o tema o acompanha há muito tempo. Com sua câmera, saiu da Holanda, em 1979, e foi a Manchester fotografar o grupo. ‘Não fiz um filme para fãs do Joy Division. E não me preocupei com a reação desses fãs. Fiz o filme que eu gostaria de ver no cinema’, afirma Corbijn.


Por que a fascinação com o grupo? ‘Eles não tiveram a oportunidade de pôr tudo a perder’, opina Gee. ‘O que fizeram foi perfeito. Veja como se vestiam, veja as letras de Ian. Soa moderno no meu iPod.’’


 


Folha de S. Paulo


China aumenta controle após show de Björk


‘A China decidiu aumentar o controle em relação a apresentação de cantores estrangeiros. Segundo a agência Reuters, a medida foi tomada após a islandesa Björk ter gritado ‘Tibete, Tibete!’, em show em Xangai, no final de semana retrasado, depois de cantar ‘Declare Independence’. O governo considerou a manifestação ‘ofensiva’.’


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Mulheres vão dominar novelas da Globo


‘As próximas novelas das 18h, 19h e 21h da Globo terão mulheres como protagonistas e temas centrais. Não é mera coincidência: o maior sucesso de audiência desta década, ‘Senhora do Destino’, era centralizada em mulheres (Suzana Vieira e Renata Sorrah).


Prevista para estrear em 5 de maio, ‘Ciranda de Pedra’, próximo título das seis, é basicamente a história de uma mulher, Laura (Ana Paula Arósio), que luta contra a opressão masculina, na São Paulo dos anos 50. Tem papel central na trama uma das três filhas de Laura, Virgínia (Tammy di Calafiori). Escrita por Alcides Nogueira, a novela é baseada em romance de Lygia Fagundes Telles.


‘Juízo Final’, título provisório da próxima novela das oito, com estréia marcada para 2 de junho, será focada em duas mulheres, Flora (Patrícia Pillar) e Donatela (Cláudia Raia), que disputam o amor da ‘mesma’ filha (Mariana Ximenes). A história de João Emanuel Carneiro começa quando Flora sai do presídio disposta a provar que foi Donatela quem matou seu marido, crime que lhe custou a liberdade. Durante sua ausência, Donatela tomou sua filha.


Por fim, ‘Três Irmãs’ (de Antonio Calmon), novela das sete em setembro, terá como tema central o afeto numa família só de mulheres (mãe e três filhas), que enfrentam uma outra poderosa. Claudia Abreu, Giovanna Antonelli e Carolina Dieckmann serão as filhas.


NOVO COMANDO 1


A Globo anuncia nesta semana, em nota oficial, a substituição de Mário Lúcio Vaz por Manoel Martins no cargo de diretor-geral artístico. Vaz passará a atuar como consultor, principalmente de telenovelas, assunto do qual é craque.


NOVO COMANDO 2


Justiça seja feita, a mudança não tem nada a ver com a queda de audiência sofrida pela Globo. Aos 75 anos de idade e quase 50 de TV, Vaz já adiou sua aposentadoria várias vezes. Agora, quer se dedicar mais à família.


NOVO COMANDO 3


Desde o final de 2007, Vaz já vem transferindo suas funções para Manoel Martins, que deverá entregar o cargo de ‘prefeito do Projac’ (oficialmente, diretor da Central Globo de Produção) a Eduardo Figueira.


MAU EXEMPLO


Uma operadora de telefonia celular está exibindo comercial em que uma menina corta com uma tesoura fios não-eletrificados de microcomputadores. Em 30 segundos, a empresa joga fora o esforço de anos de pais de crianças peraltas.


VASSOURA


Silvio Santos mandou tirar do ar, a partir de hoje, os programas ‘Charme’, de Adriane Galisteu, e ‘Fantasia’. O primeiro acabou por falta de audiência e será substituído por filmes. No lugar do segundo, que não lucrava, entram séries.


TELA QUENTE


A Fox está negociando com a Record um pacote de filmes. São títulos de distribuidoras independentes e da própria Fox -estes rejeitados pela Globo, que tem preferência.’


 


ARTE
Mario Gioia


CCBB-SP relembra japoneses


‘Um prédio com poucos andares, típico de Paris, retratado em 1952. ‘Era a vista que tinha do ateliê de André Lhote. Não agüentei ficar muito lá, eles retocavam os quadros. Saí rapidinho’, conta Jorge Mori, 75, ao ver sua tela ‘Muro de Paris (Da Janela do Ateliê de André Lhote)’, uma das 150 obras da exposição ‘Círculo de Ligações: Foujita no Brasil, Kaminagai e o Jovem Mori’, que é aberta para convidados hoje no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) paulistano.


Lhote (1885-1962), um dos principais nomes do cubismo, não era o único medalhão a não agradar o jovem Mori. ‘Conheci Fernand Léger [1881-1965, outro destacado cubista], também não achava nada demais.’


Quando tinha 20 anos, Mori, filho de alfaiate, foi em 1952 para a capital francesa estudar, depois de, na década anterior, causar alvoroço na cena artística paulista por suas pinturas de grande desenvoltura plástica.


‘É impressionante ver a produção dele aos 13, 14 anos, não devia nada a seus contemporâneos do grupo Guanabara [que tinha artistas como Tikashi Fukushima e Arcangelo Ianelli, entre outros]’, avalia a curadora da mostra, Aracy Amaral.


Recuperar essas antigas conexões e revelar as histórias que cercam pinturas, desenhos, e fotografias, muitos deles inéditos para o público, é um dos objetivos de Amaral, que tem como assistente na curadoria Paulo Portella Filho, que dirige o setor educativo do Masp.


‘Trazer de novo o Foujita para o Brasil e discutir sua influência sobre a arte brasileira é um dos focos’, diz ela. ‘O desenho do Portinari retratando o artista japonês [1932], por exemplo, tem todo um traço sutil, diverso de outras obras do paulista, que o Foujita certamente repassa a ele.’


Tsuguharu Foujita (1886-1968) é considerado um dos principais nomes do modernismo no Japão. Fica famoso quando vai para a França e faz parte do movimento Escola de Paris, convivendo com nomes como Soutine e Modigliani. ‘Era uma figura muito festejada lá, algo exótica. Em 1931, quando passa quatro meses no Brasil, também chama a atenção, com seus grandes brincos, casado com uma bela modelo francesa, Madeleine Lequeux’, conta Amaral. ‘Ele também busca a aventura; depois do Brasil vai para Bolívia, Peru, México e Cuba.’


Paulo Herkenhoff, curador de outra exposição que terá obras do artista japonês (leia no quadro ao lado) concorda com Amaral. ‘Dentro do cenário parisiense, ele atraía muito pelo exotismo, por certa excentricidade. É inegável, no Brasil, a influência sobre Portinari’, diz.


Kaminagai


O Rio de Janeiro do bairro de Santa Teresa é uma das paisagens mais presentes na mostra, em razão das telas do japonês Tadashi Kaminagai (1899-1982). Depois de um frustrado período budista em sua juventude na Indonésia, o japonês parte para Paris em busca de independência artística. ‘Lá, faz uma pintura com influência da Escola de Paris e, em 1941, pela guerra, vem para o Rio’, conta Portella.


Kaminagai acaba se estabelecendo em Santa Teresa, fonte de algumas de suas mais belas pinturas, residindo no bairro por 14 anos. Depois, volta ao Japão e fica definitivamente em Paris, onde morre, em 1982.


CÍRCULO DE LIGAÇÕES: FOUJITA NO BRASIL, KAMINAGAI E O JOVEM MORI


Quando: abertura hoje, às 19h30 (convidados); de ter. a dom., das 10h às 19h; até 1º/6


Onde: CCBB-SP (r. Álvares Penteado, 112. tel. 0/xx/11/3113-3651) Quanto: entrada franca’


 


NYT
Álvaro Pereira Júnior


A melhor reportagem de guerra


‘SE VOCÊ AINDA não leu, faça isso correndo. Se você não sabe inglês, é hora de aprender. Se você tem algum interesse por jornalismo, não perca. Falo da reportagem ‘Battle company is out there’ (a companhia de combate está no fim do mundo, em tradução livre), de Elizabeth Rubin, capa da revista do jornal ‘The New York Times’, de 24/2.


Passei as últimas duas semanas viajando a trabalho em lugares distantes, fiquei meio fora do circuito. Li na viagem. Na volta, achei que alguém no Brasil tivesse comentado ou traduzido. Nada.


Não sei se foi a própria Rubin ou um editor, mas alguém escolheu a dedo o lugar da reportagem: um ponto perdido e ultraviolento chamado vale do Korengal, no extremo nordeste do Afeganistão.


Se o conflito no Afeganistão aparece menos que o do Iraque, essa região, então, é mais invisível ainda. Ali acontece uma guerra tribal superespecífica, que não tem a menor importância para o governo central afegão -o qual, aliás, é 100% ausente nesse fim de mundo.


Para os soldados americanos, não há nenhuma fortificação especial, eles ficam dentro de um cercado (‘the wires’, como chamam). A poucos metros desse limite, o couro come, as balas voam, a vida não vale nada.


Rubin acompanha os militares em missões quase suicidas. Em uma situação extrema, tantos tiros são disparados, e o perigo é tamanho, que um oficial se joga sobre a repórter, empurrando-a para um casebre. Na queda, Rubin corta o braço num prego. Repórter fria a politicamente correta, ela desabafa: ao ver o sangue escorrendo da ferida, entendeu por um instante o sentimento de alguns militares que têm vontade de trucidar o primeiro afegão que virem pela frente.


Por mais que eu tente descrever, não vou transmitir a sensação bruta de ler algo tão jornalisticamente relevante. Espero que você sinta o mesmo: www.nytimes.com/2008/02/24/magazine/24afghanistan-t.html?ref=magazine.’


 


 


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