Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Banda Larga alavanca
a TV por assinatura


Leia abaixo a seleção de domingo para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Domingo, 16 de março de 2008


INTERNET & TV PAGA


Tatiana Resende


Banda larga puxa TV por assinatura, que cresce 13% em 2007


‘O acesso à internet de alta velocidade mais uma vez puxou o crescimento da TV paga no país, que chegou a 5,3 milhões de assinantes no final de 2007, com alta de 13% sobre 2006. Uma das estratégias das operadoras para expandir a base de clientes tem sido oferecer um pacote de serviços, que pode incluir também telefone fixo.


Outro fator que alavancou as vendas foi o aumento real na renda da população, principalmente da classe C, onde vem crescendo a penetração da TV paga, segundo Alexandre Annemberg, presidente da ABTA (associação do setor).


Os dados divulgados pela entidade mostram que, de 2006 para 2007, a quantidade de assinantes de banda larga cresceu 47%, para 1,8 milhão de clientes. A expansão contribuiu para um aumento de 22% no faturamento bruto, que fechou o ano em R$ 6,7 bilhões.


A Net Serviços, que detém quase metade dos assinantes de TV paga do país, aumentou em 16% a base de clientes em 2007 e em 65% a de banda larga. Na esteira do ‘triple play’, o Net Fone via Embratel teve expansão de 212%. Ambas as empresas têm como acionista o mexicano Carlos Slim.


Por enquanto, para oferecer pacotes semelhantes, a Sky tem parceria com Oi, Brasil Telecom e TIM, e a TVA, com a Telefônica. No mês passado, a Net lançou uma campanha ofensiva com um ‘combo popular’ que inclui telefone, banda larga e recepção só de emissoras abertas pelo cabo por R$ 39,90, preço similar ao cobrado pela assinatura da telefonia fixa.


O avanço das operadoras no mercado de internet rápida, diz Annemberg, é o que está fazendo as teles se sentirem ameaçadas e de olho nesse nicho.


A Sky, segunda maior empresa de TV paga do país, pediu à Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) que recomendasse ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) a rejeição da aquisição da TVA -terceira no ranking- pela Telefônica. O órgão, que já aprovou o negócio do ponto de vista regulatório, ainda não se pronunciou sobre o efeito na concorrência.


‘As empresas de TV por assinatura tiveram 15 anos de monopólio sozinhas e em 15 anos conseguiram ter 5 milhões de assinantes’, ironiza José Fernandes Pauletti, presidente da Abrafix (Associação Brasileira das Concessionárias de Telefonia Fixa Comutada).


‘Não cresceram, não investiram. Agora vamos entrar nesse mercado não pelo mercado em si, mas para fazer uma oferta conjunta de serviços.’ Para ele, as operadoras de TV paga querem o monopólio para concentrar esforços nos grandes centros. ‘Só querem ir no filé.’ As TVs a cabo e com transmissão por rádio estão em 479 dos cerca de 5.500 municípios do país.


Na opinião de Annemberg, as companhias telefônicas poderiam começar a operar nas cidades em que não há TV a cabo, mas, nas demais, seria preciso criar uma regra de transição.


Eduardo Tude, presidente da Teleco, consultoria especializada em telecomunicações, destaca a vantagem financeira para o cliente, que tem desconto ao adquirir dois ou três produtos, mas argumenta que a consolidação dos serviços só vai ser realmente benéfica se os grandes grupos passarem a concorrer nacionalmente, e não apenas continuarem a ter monopólios regionais.


Outra preocupação das TVs por assinatura neste ano é o projeto em discussão na Câmara que cria cotas obrigatórias para a programação nacional, o que, segundo as operadoras, vai encarecer a mensalidade.


Sobre o fim do pagamento mensal pelo ponto extra, quando a manutenção do equipamento não for feita pela operadora, Annemberg reitera que a norma foi mal redigida e nada muda em junho. Questionada, a Anatel confirmou que a cobrança será mesmo proibida. Se isso acontecer, as operadoras também ameaçam aumentar a mensalidade para diluir o custo com todos os assinantes.’


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Conexões de internet em alta velocidade já superam acessos por linha discada


‘No ano passado, pela primeira vez, o número de lares brasileiros com conexões em banda larga -50% dos que têm internet- foi maior do que aqueles com acesso por linha discada (42%). Os 8% restantes não souberam responder à pesquisa realizada pelo Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação em 17 mil domicílios, divulgada na semana passada.


Em 2006, 40% tinham internet rápida. O levantamento mostrou ainda que a proporção de domicílios com conexão de ambos os tipos subiu de 14% para 17% do total de lares.


Rogério Santana, membro do Comitê Gestor da Internet no Brasil, destaca que a presença das TVs por assinatura nesse segmento estimula a competição, mas ressalta que ainda há poucos produtos destinados às classes mais baixas.


Na análise por faixa salarial, o estudo mostra que, nas classes D e E, 39% dos entrevistados afirmaram ter banda larga, e 37%, acesso por linha discada. Entretanto, 24% nem souberam responder à pergunta.


Além da renda, há ainda mais três variáveis, segundo Santana, que influenciam na aquisição do serviço: nível educacional, idade e local onde o consumidor mora, já que é comum haver restrições à oferta em bairros da mesma cidade.


A falta de disponibilidade na área, aliás, foi o motivo apontado por 15% dos entrevistados para não ter uma conexão mais veloz. O custo elevado foi citado por outros 32%. A maior parte (43%), no entanto, respondeu que não tinha interesse no serviço.


O presidente da Abranet (Associação Brasileira dos Provedores de Internet), Eduardo Parajo, lembra que um grande passo rumo à democratização foi dado com a redução da carga tributária na venda de micros, dentro do programa Computador para Todos. A queda no preço também foi impulsionada pela desvalorização do dólar ante o real. ‘Mas o computador ainda é caro’, avalia.’


INTERNET


Carlos Heitor Cony


O nome deles é Legião


‘No meu tempo, dizia Machado de Assis, já havia velhos, mas poucos. Parodiando o mestre, direi que, no meu tempo, já existiam chatos, mas relativamente poucos. E não eram tão espalhafatosos e onipresentes. Quando Cristo expulsou Satanás de um endemoniado, perguntou-lhe o nome. Satanás respondeu: ‘Meu nome é Legião’. Os chatos de agora são também uma legião, a internet ampliou-os em número, freqüência e virulência.


Todos os meus amigos -e até mesmo alguns que não chegam a isso- reclamam das mensagens, das sugestões e, sobretudo, das denúncias do interesse de cada um. Do prefeito que não asfaltou a rua, do emprego que alguém não obteve, do concurso que o reprovou.


O e-mail, que deu oportunidade à comunicação de forma surpreendente, se, de um lado, está servindo na busca e na troca de informações para aproximar pessoas, de outro, está produzindo chatos em massa, em escala industrial.


Desocupados, embriões de gênios que desejariam ser comentaristas de política, de esportes, de economia e de cultura, ditando regras disso ou daquilo, encontraram afinal a tribuna, o miniespaço que buscavam e não conseguiam.


Entram na internet com tempo e garra suficientes para tentar criar um mundo à sua imagem e semelhança, mundo que felizmente não existe, a não ser na cabeça desses novos Petrônios informatizados.


E, ao contrário de Deus, que quando criou todas as coisas, o céu e a Terra, o Sol e as estrelas, descansou no sétimo dia, o chato eletrônico não descansa, trabalha em tempo integral, todos os dias, sábados, domingos e feriados, não tira férias, não adoece. E como ninguém toma as providências que ele reclama, o chato adota um moralismo pedestre, primário, tentando mudar o mundo que insiste em rejeitá-lo.’


EUA / CASO SPITZER


Michael Kepp


A humilhação voluntária de Silda Spitzer


‘A imagem mais constrangedora da semana, para mim, foi a do rosto estóico, mas abatido, de Silda Spitzer, mulher do governador do Estado de Nova York, que ficou ao lado de seu marido na entrevista coletiva em que ele anunciou sua renúncia ao cargo, após a divulgação da notícia de seus vínculos com uma rede de prostituição.


E me perguntei por que razão uma mulher tão arrasada optaria por compartilhar com seu marido um momento de atenção pública dessa natureza. Para que fazer uma demonstração pública de fé em seu marido no momento em que ele está publicamente admitindo sua infidelidade a você? Ou, nas palavras da colunista do ‘New York Times’ Gail Collins, no que descreveu como memorando a futuros políticos publicamente desonrados: ‘Não queremos ver mais esposas feridas afirmou ter fé completa na fidelidade de seu marido, em entrevistas coletivas.


Nem mesmo se ela se oferecer. É o momento dele de humilhação suprema, não o dela.’


Quando minha mulher, brasileira, expressou o mesmo sentimento, indignada, expliquei a ela o papel da mulher do político americano: apoiar publicamente seu marido, não importa o que ele faça. A mulher do governador de Nova Jersey James McGreevey ficou ao lado dele numa entrevista coletiva em 2004 em que ele se declarou homossexual e renunciou a seu cargo. Em entrevista à TV em 1992, Hillary Clinton, ao lado de seu marido, candidato presidencial, falou do respeito que tinha por ele, enquanto ele mentia sobre alegações feitas por Gennifer Flowers de que os dois haviam tido um caso durante 12 anos.


Expliquei a minha mulher que, nos Estados Unidos, os casamentos são vistos como sociedades, e que os casamentos políticos criam equipes ainda mais fortes, parcerias conjugais que às vezes nascem nas faculdades de direito de elite. Bill Clinton conheceu Hillary quando os dois estudavam em Yale e Eliot Spitzer conheceu Silda na Escola de Direito de Harvard.


A esposa/sócia faz campanha para seu marido e, quando se torna primeira-dama, às vezes recebe poder político. Hillary Clinton comandou iniciativas políticas de peso, como o plano de saúde do governo Clinton.


A primeira-dama brasileira não é vista como sócia desse tipo, ocupa um cargo puramente simbólico e não é obrigada a expor-se à atenção pública. Quando senadores brasileiros acusados de corrupção renunciam a seus cargos, em desgraça, eles o fazem no Senado, e suas mulheres geralmente não estão a seu lado.


Nos EUA, quando os nomes de políticos são maculados, as mulheres dos políticos se posicionam a seu lado em público porque, na condição de sócias políticas, elas se sentem na obrigação de compartilhar a vergonha de seus maridos. E essa vergonha pode ser enorme. Por quê? Nos EUA, um país protestante, o poder de um político é decorrência de ele viver uma vida virtuosa aos olhos de Deus, que está sempre pronto a castigá-lo. Assim, ele se apresenta como alguém que é um modelo de integridade e fidelidade conjugal.


Quanto mais um político trai essa imagem, maior é sua queda e sua vergonha. A vergonha de Bill Clinton foi grande porque, ao longo de toda sua carreira política, ele negou terminantemente seus casos extraconjugais, até que a prova de um deles -um vestido azul, agora famoso, manchado de sêmen- o obrigou a admitir o caso com Monica Lewinsky. A vergonha do governador Spitzer foi maior ainda devido à sua hipocrisia. Na condição de promotor distrital de Manhattan, ele denunciou pelo menos duas redes de prostituição e criticou esse crime publicamente.


No Brasil católico, assim como em outras culturas machistas, o poder de um político advém em parte de ele demonstrar que é homem. Por isso, quando eles fazem campanha e tomam posse, projetam uma imagem de virilidade heterossexual que mostra que são suficientemente machos para governar. Foi por isso que, num comício, o presidente Collor afirmou que nascera com ‘aquilo roxo’. Essa cultura do machismo é também o motivo pelo qual um político brasileiro que fosse infiel a sua mulher provavelmente não seria obrigado a renunciar a seu cargo.


Quando Spitzer anunciou sua renúncia, disse que ‘comecei a expiar minhas falhas particulares com minha mulher, Silda, meus filhos e minha família inteira … e a curar a mim e a minha família’. Mas, voltando a minha pergunta original, por que não começar por poupar sua mulher de sua humilhação pública, mesmo que ela se voluntarie? Como disse a mãe de Silda após a renúncia: ‘Você não acha que já basta [para sua família] dizer que amamos e apoiamos Eliot, e deixar por isso mesmo?’.


MICHAEL KEPP , jornalista norte-americano radicado há 25 anos no Brasil, é autor do livro de crônicas ‘Sonhando com Sotaque- confissões e desabafos de um gringo brasileiro’, (ed. Record); site: www.michaelkepp.com.br


NOVIDADES NA FSP


Folha de S. Paulo


Folha Corrida vai trazer o noticiário em cinco minutos


‘O jornal estréia na próxima terça-feira a Folha Corrida, uma página que trará diariamente resumo de notícias, extratos de colunistas, dicas práticas, artes e gráficos para ser lida em poucos minutos.


De segunda a sábado, a nova página da Folha funcionará como mais uma ‘porta de entrada’ para o jornal. Depois de passar pela primeira página, o leitor apressado encontrará na Folha Corrida mais informações essenciais do dia, em textos curtos e diretos que perpassarão todos os cadernos, do noticiário político à cultura, Informática, Folhinha etc.


No domingo, a Folha Corrida fará um resumo dos acontecimentos mais importantes da semana e dos personagens que mais se destacaram, também para ser lido em até cinco minutos. O objetivo é atender o leitor que não acompanhou o noticiário e os que lêem jornal apenas no fim-de-semana.


Às segundas-feiras, haverá uma agenda do que acontece na semana, como eleições no mundo, finais de campeonatos, divulgação de índices importantes ou estréias de cinema. A Folha Corrida será publicada sempre na última página do caderno Cotidiano.


Esporte


Também a partir desta terça-feira, Esporte passa a circular diariamente como caderno independente, separado de Cotidiano, como já acontece nos finais de semana. Reivindicação antiga dos leitores, a separação permitirá dar maior visibilidade à cobertura dos principais fatos e eventos esportivos do país e do mundo.’


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Programa de treinamento em jornalismo da Folha faz 20 anos


‘Depois de amanhã completam-se 20 anos da conclusão da primeira turma do programa de treinamento da Folha. Desde então, o programa, hoje na 45ª turma, formou mais de 350 jornalistas, dos quais 82 permanecem no jornal.


O programa original foi concebido, ao longo de 1987, por Arthur Ribeiro Neto, então secretário-assistente de Redação, e teve como orientadores os jornalistas Leão Serva e Silvia Bittencourt. O primeiro programa aconteceu de 29 de fevereiro a 18 de março de 1988.


Entre os oito integrantes daquela turma, estava Ana Estela de Sousa Pinto, hoje editora de Treinamento. É ela que vem coordenando todos os programas desde a 26ª turma.


Quem concebeu o atual formato do programa foi o antecessor de Ana, o colunista da Folha Marcelo Leite. As principais mudanças foram no processo de seleção, que passou a incluir o preenchimento de uma ficha pela internet que inclui espaço para que os interessados relatem gostos pessoais e experiências de vida -uma maneira de fugir da seleção óbvia apenas pela formação- e uma semana de palestras para os pré-selecionados.


O programa teve a sua duração ampliada. A turma atual será treinada por quatro meses. Além disso, os trainees deixaram de fazer simulações -nas quais jornalistas da Folha faziam o papel de entrevistados- e passaram a fazer reportagens de verdade.


Com isso, nasceram os cadernos especiais. O primeiro teve como tema o trânsito caótico de São Paulo -assunto que, como naquele 1997, está na pauta do dia. Desde então, os trainees produziram 22 edições, todas disponíveis na internet, no site do programa.


Na avaliação de Leite, o programa é benéfico para a Folha e para os trainees. ‘Para os jornalistas que fazem eu não tenho dúvida de que é útil. Para a Folha também é bom. Garante um fluxo de reposição de gente que vem com menos problemas para trabalhar imediatamente no jornal’, afirma.


Atualmente, o programa de treinamento é patrocinado pela Philip Morris Brasil, pela Odebrecht e pela Pfizer. Entre outras atividades, os atuais trainees participarão do 3º Congresso Internacional da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), em maio, em Belo Horizonte.


Encontram-se abertas até julho as inscrições para o 47º programa. Para se inscrever, basta ter concluído ou estar cursando um curso superior, em qualquer área.


O programa tem como uma de suas características a pluralidade na escolha dos candidatos -desde 1997, dos 222 trainees, 104 eram de outros Estados que não São Paulo.


NA INTERNET


www.folha.com.br/treinamento


0 site do programa de treinamento’


TELEVISÃO


Daniel Castro


Atores da Globo fazem fila para visitar a casa de ‘Big Brother’


‘O reality show ‘Big Brother Brasil’ deixou de ser um programa odiado por atores -pelo menos por boa parte deles.


Há 20 dias, Regina Duarte visitou o ‘camera cross’, o corredor onde ficam as câmeras. O Projac nunca mais foi o mesmo.


‘Depois que a Regina mostrou que gosta de ‘BBB’, o programa ficou mais aceitável. Muita gente tinha vergonha de dizer que gosta. Agora tem artista batendo na porta, querendo entrar, virou uma Disneylândia particular. O mundo está pedindo para visitar a casa. Nesta semana, vieram dois presidentes de empresas. Os anunciantes querem trazer suas famílias’, diz o diretor J.B. de Oliveira, o Boninho.


Passaram pelo ‘câmera cross’ neste ano Lázaro Ramos, Murilo Benício, Fabio Assunção, Serginho Groisman e Luciano Huck. ‘A mais nova fanática é a Sasha. Ela virá com a Xuxa’, abre Boninho.


Outros, mais privilegiados, participaram de festas dentro da casa, fantasiados de ‘clóvis’ (personagem de farta roupa e máscara). Foram os casos de Claudia Rodrigues, Fernanda Rodrigues, Marcelo Novaes, da ex-BBB Grazzi e do próprio Boninho. Deborah Secco iria à ultima festa, mas se atrasou.


Mas ‘BBB’ ainda não é unanimidade. ‘Há atores que detestam ‘Big Brother’. Quando passam perto da casa, querem jogar uma bomba’, exagera Jorge Coutinho, presidente do sindicato dos artistas do RJ.


Me diverti muito, como se não houvesse amanhã. Fiquei lá só 40 minutos porque a roupa é muito quente, não dava para respirar direito


Fernanda Rodrigues, 28, atriz sobre a experiência de ser ‘clóvis’ de ‘Big Brother Brasil’


A NOVA TIGRESA


A gatíssima Ildi Silva (foto), 25, está de volta à Globo. Depois de ganhar fama em ‘Paraíso Tropical’, aparecerá em um dos primeiros episódios de ‘Guerra e Paz’, a estrear em abril. Interpretará Miréia. ‘Ela é casada com o Elias Gleiser e tem um caso com o filho dele [Thiago Fragoso]. O Guerra [Marcos Pasquim] é um detetive e desconfia que ela está tentando matar o velho, mas na verdade ela apenas protege o filho. Quem quer matar o filho é o velho’, entrega. Ildi adorou fazer um texto de Carlos Lombardi. Sobre seu suposto affair com Caetano, silêncio.


PAPAI É SEDUTOR


Este ano promete para Isabela Meirelles (foto), 19. A atriz terá papel fixo em ‘Dicas de um Sedutor’, uma das novas séries da Globo. Será Ganesha, filha do protagonista Santiago (Luiz Fernando Guimarães). Dedicada, faz último ano da faculdade de artes cênicas, está em dois filmes que devem estrear em 2008 e, nesta semana, começa a ensaiar texto teatral de Domingos de Oliveira.


ÉPICO 1


O SBT só gravará cenas de ‘A Revelação’ em Portugal depois da Páscoa, um mês além do inicialmente prevista. A emissora nega que as gravações da primeira novela de Íris Abravanel tenham atrasado porque Silvio Santos mandara a mulher reescrever dez capítulos.


ÉPICO 2


A assessoria de imprensa do SBT justifica: ‘As autorizações das prefeituras e órgãos locais [de Portugal] demoraram 108 dias para chegar ao Brasil’. Uau! Até a família real portuguesa, em pleno início de século 19, foi mais rápida. Saiu de Portugal em 29 de novembro de 1807 e chegou a Salvador em 22 de janeiro de 1808.


‘BIAL NÃO É MEU TIPO’


Muita gente que assistiu a ‘BBB’ na última segunda-feira achou que o eliminado Marcelo Arantes, 31, jogou um charme para cima do apresentador Pedro Bial. ‘Não, o Bial não é o meu tipo. Talvez seja pela inteligência, mas ele não me atrai sexualmente’, nega o urso. Em breve, Marcelo quer tomar chope com Bial -’ou champanhe’- para afinar as idéias. Para o ‘protagonista’ do ‘BBB 8’ (e toda a torcida do Atlético Mineiro, seu time), Gyselle e Rafinha são favoritos ao prêmio de R$ 1 milhão.


Pergunta indiscreta


FOLHA – O quadro ‘Construindo um Sonho’, do ‘Domingo Legal’ (SBT), em que carros velhos são totalmente reconstruídos, tem o mesmo chassi do ‘Lata Velha’, do ‘Caldeirão do Huck’ (Globo)?


GUGU LIBERATO (apresentador) – Não é o mesmo chassi porque a carroceria muda todo domingo. Em um programa construímos carros, no outro, um jardim, no outro, uma pastelaria. E por aí vai.’


Cristina Fibe


Ex-‘Friends’ se isola em nova série


‘Mais isolada do que nunca, a atriz Courteney Cox Arquette, 43, volta à TV quase quatro anos depois do fim da série ‘Friends’ com uma personagem de um amigo só, com ar de vilã, e que passa por cima de quem for para ter sucesso.


Lucy Spiller, protagonista de ‘Dirt’ (sujeira), que estréia hoje no People & Arts, às 22h, é a editora de uma revista de celebridades que faz qualquer coisa por um escândalo e cujo único amigo é um paparazzo esquizofrênico.


‘Quando estava grávida de Coco [de 2003 a 2004], fui tremendamente assediada pelos paparazzi, a ponto de me sentir ameaçada, daí surgiu a idéia de fazer uma série com esse tema’, conta a atriz, em entrevista à Folha, por e-mail.


‘Enquanto procurávamos um autor, nos reunimos com Matthew Carnahan, casado com [a atriz] Helen Hunt. Eles também já haviam passado por experiências terríveis com paparazzi. Na ocasião, Matthew vinha trabalhando em um personagem esquizofrênico inspirado em um software que simulava os efeitos da esquizofrenia. Ele então abraçou a idéia e acrescentou a ela o que viria a ser Don Konkey.’


Interpretado por Ian Hart, Konkey é o segundo grande personagem da série. Fotógrafo freelancer para a ‘Dirt Now’ de Lucy, ele é o seu protegido.


Não por seus atributos como melhor amigo, mas porque se sacrifica pela ‘notícia’ -é capaz de cortar um dedo, literalmente, por uma boa (leia-se escandalosa) foto de capa.


‘Existem momentos em que essa relação dos paparazzi com as celebridades se torna realmente perigosa, com perseguições e abusos que já conhecemos. ‘Dirt’ não tem o propósito de atacar nenhum dos dois lados -até porque existem celebridades que se beneficiam de alguma forma desse tipo de atenção- e sim de ser um programa que satisfaça o desejo das pessoas por escândalos. E elas adoram, incluindo os próprios paparazzi!’, afirma Cox.


Cerco à casa


Para que a celebridade Cox entendesse o outro lado do jogo, fez ‘até acordo com um dos paparazzi que cercavam’ a sua casa: ‘Estava me exercitando, sem a menor preocupação com o meu visual, e ele insistia na foto, então eu disse: ‘Olha, eu te dou a foto desde que você me dê o seu cartão e aceite se reunir com os roteiristas da série’.


Desse tipo de encontro e de histórias suas e de amigos famosos, a atriz e produtora-executiva da série tirou o ‘recorte mais polêmico, apimentado e extremo da relação entre celebridades e tablóides’.


Mera coincidência


Assim foram criados episódios que se parecem com histórias reais, como o vídeo de sexo que uma atriz mergulhada nas drogas e esquecida joga na internet, tentando voltar à luz. Daí para pior: por uma capa, Lucy Spiller põe em risco a vida de um atleta, precipita o suicídio de uma atriz grávida, infiltra fotógrafos em velórios e hospitais.


Segundo Cox, ‘nenhum dos episódios é a reprodução de algo que seja relacionado a alguma pessoa em particular. Pensamos em criar, a partir de referências reais, situações extremas, mas a cada dia víamos que essas situações aconteciam’. Em tempo: é no último episódio desta temporada que Jennifer Aniston, de ‘Friends’, dá um selinho em Courteney Cox. Nada como saber criar material para os tablóides.


DIRT


Quando: estréia hoje, às 22h


Onde: no People & Arts’


Cássio Starling Carlos


Cox é megera menos ambígua que Glenn Close


‘Courteney Cox foi mais esperta que Matt LeBlanc, seu colega de ‘Friends’. Este mal esperou o fim da série para se lançar em ‘Joey’, hoje na cova rasa dos seriados de vida curta. Cox esperou, mirou um terreno que impusesse menos comparações e agora entra de sola em ‘Dirt’.


Lucy Spiller é uma personagem meio mau-caráter, meio frágil, capaz de seguir à risca os ditames do capitalismo de ponta, resumido na fórmula ‘mate ou morra’. Contudo, o que se esperava de uma série focada nas baixarias do ‘jornalismo’ de celebridades não é o prato principal.


Uma limitação da série é não apostar em personagens acessórios, que poderiam introduzir mais tempero. Privilegia-se o desdobramento de poucos personagens, seus problemas com drogas, sua entrega ao sexo e seu arrivismo a qualquer custo.


Os bastidores de Hollywood surgem com realismo, mas não o suficiente para disputar com a cínica ‘Entourage’. Não falta espaço para Cox exercitar talentos de megera, suavizada pela companhia do paparazzi feito por Ian Hart. Resta saber se o público se satisfará com mais uma malvada quando pode seguir as ambigüidades bem mais excitantes de Glenn Close em ‘Damages’.


Avaliação: regular’


Cristina Fibe


Nerd desajeitado quer ser popular em série da TV paga


‘Embora distante da realidade dos universitários brasileiros, a série americana ‘Greek -Sexo, Livros e Rock’n’Roll’ estréia no Universal Channel, na próxima quarta-feira, de olho nos telespectadores da era ‘Gossip Girl’, da adolescência aos 20 e poucos anos.


A trama é centrada nas desventuras de Rusty (Jacob Zachar), um garoto nerd e desajeitado, mas carismático, que entra na faculdade de engenharia mais preocupado em ser adotado por uma irmandade. Para tal, já no primeiro episódio enfrenta uma série de provas -parecidas com os infelizes trotes daqui- para ser aceito como ‘irmão’ em alguma fraternidade.


Pior: a sua irmã mais velha, loira e patricinha, já é quase manda-chuva da mais ‘importante’ organização de meninas da universidade, e não quer que o garoto seja visto com ela. Isso enquanto ele faz o papel de bom irmão, protegendo-a do namorado traidor.


‘Eu só quis mostrar alguém que pode parecer tímido ou fraco superando obstáculos que nunca imaginou. Meu personagem é colocado em situações inesperadas’, diz Zachar, em entrevista por telefone.


Para protagonizar a sua primeira série, o ator usou a técnica de ‘aproximação com a própria vida’ -mudou-se para Los Angeles, ‘a primeira vez longe dos pais’, e afirma ter descoberto uma ‘nova família’ no elenco da série, que já tem segunda temporada em produção nos EUA.


Por aqui, além dos dez episódios a serem exibidos, o Universal Channel mantém um blog (greek.globolog.com.br), que estreou na última quinta-feira, com informações sobre a produção.


GREEK


Quando: estréia na quarta, às 23h; reprise aos sáb., às 20h


Onde: no Universal Channel


Lucas Neves


Chico Bacon leva seu mau humor à MTV


‘O novo VJ da MTV é baixinho, barrigudo e marrento que só. Para desespero dos figurinistas, não há quem o convença a trocar o ‘conjuntinho’ short vermelho/camisa amarela. O departamento de relações públicas também sofre para zelar pela imagem do contratado, já que suas investidas amorosas sempre acabam em, digamos, onomatopéias (‘pow’, ‘puf’…).


O novato atende pelo nome de Chico Bacon e foi ‘importado’ das tirinhas criadas por Caco Galhardo e publicadas nesta Ilustrada nos últimos três anos. Até o fim deste semestre, o personagem deve surgir, nos intervalos comerciais da MTV, como protagonista de vinhetas de 30 segundos.


As primeiras cinco ‘pílulas’ (que a equipe encara como um piloto) foram gravadas na semana passada, com o ator Fabio Espósito, 37 e 1,68 m, na pele do irascível diminuto. Ele comenta a caracterização: ‘A barriguinha é efeito especial de anos e anos de bar; para o figurino, fizeram uma roupa acolchoada que torneia o desenho do meu corpo. Não deixa de ser sexy, é só outro ponto de vista’.


Para sublinhar a diferença de estatura entre Bacon e a mulher gigante de quem ele coleciona ‘foras’, Espósito fez cenas sentado no chão, com uma câmera pousada no ombro. A beldade monumental com que contracenou é Luna Martinelli (‘superalta, tem 1,80 m fácil’, segundo Espósito).


A idéia de apresentar Bacon à TV foi do ‘pai’ da criatura. ‘Estava com vontade de brincar com atores. Já tinha feito animações no Cartoon Network [vinhetas com os personagens de ‘Os Pescoçudos’, em 2004, e ‘O Pequeno Pônei’, em 2006] e queria experimentar a mistura de dramaturgia, televisão e cartum’, diz Galhardo.


Atrás de diversão


Despretensioso, ele não vê nas vinhetas -dirigidas pelo ator, dramaturgo e amigo Mário Bortolotto, que ‘foi superfiel ao original’- um aquecimento para uma série propriamente dita (com episódios de 20, 30 minutos). ‘Ninguém sabe o que vai virar. O tesão do negócio é a experiência, o processo, a diversão.’


O certo é que, até o fim do ano, Bacon volta ao seu ‘habitat natural’ (a folha impressa), em uma história em quadrinhos inédita que integrará um dos volumes de uma ‘caixa Galhardo’ -os outros serão dedicados a ‘Julio & Gina’ e ‘O Pequeno Pônei’.


Além disso, ele assina a HQ ‘Quando Parei de me Preocupar com Canalhas’ (‘sobre a minha opção por me alienar politicamente’), que a revista ‘Piauí’ publica em breve, e finaliza uma história em que brinca com Popeye.


Na linha dramaturgia + cartum pela qual ele diz ter interesse, o próximo passo pode ser a chegada do casal-encrenca de ‘Julio & Gina’ aos palcos, com um empurrãozinho de Hugo Possolo, do grupo Parlapatões.’


Laura Mattos


‘Manhattan Connection’ festeja 15 anos com Francis


‘Morto em 1997, Paulo Francis é o convidado de honra do aniversário de 15 anos do ‘Manhattan Connection’, o mais antigo programa da TV paga brasileira. Ele foi o membro mais marcante da mesa-redonda intelectual comandada pelo jornalista Lucas Mendes, de Nova York, exibida pelo GNT.


Para comemorar a data, o programa foi gravado pela primeira vez em São Paulo, no teatro do colégio Santa Cruz (Alto de Pinheiros), na última quarta-feira. Estavam presentes todos os participantes atuais.


De Nova York, além de Mendes, viajaram Ricardo Amorim, Lúcia Guimarães e Caio Blinder. Do Rio de Janeiro, veio o colunista da revista ‘Veja’ Diogo Mainardi, que ocupa a cadeira que já foi de Francis.


O programa de aniversário vai ao ar hoje, às 23h. Terá material de arquivo, como trechos da edição número um.


Francis aparece em vários momentos, e os participantes também comentam seu romance ‘Carne Viva’, que pretendia lançar em 1997, mas só agora chega às livrarias.


Ex-participantes do ‘Manhattan’, Nelson Motta e Arnaldo Jabor gravaram depoimentos sobre o programa. ‘Foi um prazer sentar meu humilde rabo nessa cadeira’, disse Motta. ‘O ‘Manhattan’ inaugurou essa coisa globalizada da TV, porque, na época, não tinha nem internet’, analisou Jabor.


Mainardi, após comentar que parecia ‘um bispo da Universal’ por estar com gravata e pedir ‘10% do salário’ dos colegas, brincou que todos só o adoram porque, graças a ele, ‘se livraram do Jabor’.


Hoje, após o ‘Manhattan…’, vai ao ar um especial de uma hora em homenagem a Francis.’


HQ


João Pequeno


O gordo e o magro


‘Fundador, em 1993, da editora Conrad, uma das principais responsáveis por alavancar os quadrinhos no mercado brasileiro, Rogério de Campos, 46, vê o sucesso dos mangás japoneses e a consolidação mundial dos livros em preto-e-branco -formato que consagrou Robert Crumb, autor lançado pela editora no país- como a ‘pá de cal’ dos álbuns coloridos consolidados nos anos 50 por expoentes como Albert Uderzo e seu parceiro René Goscinny, criadores de Asterix.


Campos é otimista em relação ao crescimento do mercado nacional e acredita que essa ‘maturidade’ pode se traduzir na criação local.


Embora seja entusiasta de artistas como Laerte, Angeli, Marcatti, Marcelo Quintanilha e Lourenço Mutarelli, ele pondera que os quadrinhos brasileiros sempre se basearam nos movimentos que aconteciam no exterior, sem estabelecer uma ‘linha evolutiva’ própria, conforme explica na entrevista a seguir.


FOLHA – Qual é a importância de Crumb e Uderzo/Goscinny para os quadrinhos?


ROGÉRIO DE CAMPOS – Isso nunca tinha me passado pela cabeça, mas acho que representam movimentos opostos. Uderzo significa o impulso pela americanização dos quadrinhos europeus e, Crumb, a europeização dos quadrinhos americanos.


Ainda que faça muitas referências a quadrinhos antigos, a clássicos como Popeye, o universo dele é muito mais europeu, tanto que mora na França. Enquanto isso, Uderzo e Goscinny criaram o grande herói dos quadrinhos franceses, embora Uderzo seja filho de imigrantes italianos e o Goscinny tenha tenha pisado na França já homem. É engraçado que não são dois… franceses.


FOLHA – O curioso é que muitos imaginam Asterix como símbolo antiimperialismo americano. Alguma vez, Uderzo e Goscinny se colocaram nesse sentido?


CAMPOS – Na verdade, eles sempre foram um tanto alienados. [Asterix] é basicamente nacionalista, com toda aquela xenofobia.


FOLHA – Que características mais se destacam em cada um, Crumb e Uderzo?


CAMPOS – Uma característica comum aos dois é o gosto pelo desenho. É visível que gostam das figuras desenhadas, o que é uma característica dos grandes artistas dos quadrinhos.


A outra é que o Crumb vive numa verdadeira aldeia gaulesa. Ele, a mulher, o amante da mulher mora na casa em frente e os vizinhos vão chegando. Nesse sentido, o do desenho, eles são comuns, mas, de resto, são de gerações muito diferentes. Uderzo sonha com o ‘american way of life’ dos anos 50 e queria que a França se tornasse um país como os EUA, enquanto Crumb abomina o que eles se tornaram e queria que virassem uma vila francesa [ri].


FOLHA – Os estilos do Crumb e do Uderzo deixaram quais seguidores importantes?


CAMPOS – As influência de Uderzo e Goscinny mais Hergé [belga francófono, 1907-83], criador do Tintin, moldaram uma indústria no quadrinho francês. Fizeram todos aqueles personagens com o nariz de beterraba que assola o quadrinho francês -e que é um tédio.


É diferente quando você fala do Crumb, que com o passar do tempo vai se afirmando como o grande autor dos quadrinhos ocidentais da segunda metade do século 20. O ‘Maus’, do Art Spiegelman (Cia. das Letras), é obviamente e assumidamente derivado dele…


Agora, essa nova geração francesa, com o David B., de ‘Epilético’ (Conrad), a Marjane Satrapi, de ‘Persépolis’ (Cia. das Letras), tem ligação direta com ele. Tem outros, como o Christophe Blain, de ‘Isaac, o Pirata’ (Conrad), e até o ‘American Splendor’ (de Harvey Pekar, ed. Vertigo).


FOLHA – O Crumb tem muita influência no Brasil?


CAMPOS – Sem dúvida… o Angeli, o Marcatti, ainda que este diga não gostar do Crumb, têm toda a influência da personalidade dele. Mesmo quando a pessoa não se inspira do traço, ele é uma referência de atitude, de comportamento.


Hoje, dá para considerar que o Crumb e os mangás são as grandes influências do quadrinho mundial. E são o enterro, a pá de cal no projeto de Goscinny e Uderzo. Isso porque Asterix significou o auge de um modelo que os europeus costumavam chamar de 48 c.c. -álbuns de 48 páginas e coloridos: é o formato dele, é o formato de Tintin.


Em torno dele, se montou toda a indústria de álbuns de quadrinhos da França, principal referência na Europa. Quadrinhos de direita, de esquerda, de vanguarda, conservadores, de ficção científica, policiais, infantis ou adultos, eróticos… Todos seguiram esse modelo.


FOLHA – E como ele foi ‘enterrado’ pelo Crumb e pelos mangás?


CAMPOS – Não é que não existam mais álbuns de 48 páginas, coloridos. Eles continuam sendo produzidos na França e vendem muito, mas o que mais cresce no mundo todo, inclusive nos EUA, é o formato de livro preto-e-branco, ao qual Crumb sempre esteve ligado e também é o formato dos mangás.


FOLHA – O Crumb passa a ser bastante influente nos anos 60 e, ainda mais, nos 70. E os mangás, quando começam a tomar o Ocidente?


CAMPOS – Nos anos 90. Antes, existiam como curiosidade, para segmentos específicos. O que mudou totalmente a história do mangá no Ocidente foi ‘Dragonball’, que entrou e, em todo lugar onde foi publicado, vendeu mais do que os quadrinhos dos super-heróis americanos -menos nos EUA, é claro. Isso abriu a porteira para todos os outros, o que criou a indústria.


FOLHA – Como vê a evolução dos quadrinhos no Brasil? Existe uma escola própria brasileira?


CAMPOS – É muito difícil falar de uma linha evolutiva do quadrinho brasileiro, porque ele está aberto ao que acontece lá fora e as gerações se sucedem, ao que parece, sem ter contato com a geração precedente.


O que é diferente, por exemplo, de falar da bossa nova: por mais revolucionária que possa ter sido, todo mundo conhecia Noel Rosa (1910-37) e Ismael Silva (1905-78).


Não é o caso dos quadrinhos: existia uma geração de terror e aventura nos anos 60 que não tinha nada a ver com a turma do ‘Pasquim’. E a ligação desta com a ‘Balão’ [revista fundada por Laerte e Luiz Gê em 1972, na USP] é muito tênue.


FOLHA – Quanto ao ‘Pasquim’, que foi muito forte até para a história brasileira recente, qual foi a maior influência estrangeira?


CAMPOS – Em primeiro lugar, houve a passagem do Steinberg [Saul Steinberg, desenhista americano, 1914-99] pelo Brasil, que teve uma influência gigante sobre Millôr Fernandes… Eles não eram adolescentes e, mesmo quando ainda eram, já tinham gostos de adultos. Então, as influências foram a ‘New Yorker’ e alguns quadrinhos europeus, mas sem relação com Goscinny e Uderzo.


FOLHA – Qual deve ser, então, o futuro da HQ no Brasil? Para que lado ela vai?


CAMPOS – Ela tende a seguir o que acontece no resto do mundo. Os quadrinhos são o segmento que mais cresce no mercado editorial. Enquanto livros de referência sofrem bastante com a concorrência da internet, os quadrinhos não param de crescer e de aparecer nas listas de mais vendidos.


Como vai ser o desenvolvimento particular da produção brasileira como linguagem específica, é um pouco difícil saber. Confesso estar curioso, porque o Brasil ficou muito isolado das diversas formas de quadrinhos que aconteciam no mundo. Foram décadas dominadas pelos quadrinhos americanos, exclusivamente super-heróis e patos.


A exceção era o Maurício [de Souza, criador da turma da Mônica], mas que era só para crianças. Até o próprio Crumb foi muito mal publicado no Brasil.


Então, todo esse negócio está sendo descoberto agora, mas, por outro lado, o Brasil também está pulando etapas. A gente [Conrad] está publicando agora o ‘Jornada Oeste’, que é a primeira publicação no Ocidente de uma história em quadrinhos famosíssima na China.


Depois que compramos os direitos, fiquei pensado; ‘Que maluquice, como é que algo assim, que tem um nível, sei lá, do Príncipe Valente ou do Tarzan, não é publicado?’. O desenho é maravilhoso, a história é ótima.


Acho que essa maturidade tende a gerar, no futuro próximo, coisas muito interessantes. E já vejo algumas acontecerem. Sem falar da minha editora, por exemplo, o Marcello Quintanilha, Marcello Gaú [pseudônimo que ele usava], é uma coisa especialmente única.


E os europeus e americanos ficam falando, ficam surpresos… o Marcatti, o Lourenço Mutarelli. Veja o Laerte, como os quadrinhos dele vão rompendo clichês…


Seria muito bom para o Brasil ter um maior desenvolvimento, porque a linguagem de quadrinhos tem tido um papel essencial na indústria pop mundial. É a base de Hollywood, é a base dos games e de tudo mais.’


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O Estado de S. Paulo


Domingo, 16 de março de 2008


TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO


Marili Ribeiro


iPhone, irresistível e (ainda) proibido


‘Houve até dilema ético. Afinal, desbloquear um aparelho celular iPhone, da americana Apple e ainda não comercializado no Brasil, poderia ser interpretado como uma forma de adesão à pirataria. Mas quem comprou e passou a usar o aparelho no País – as projeções indicam 105 mil usuários ativos – se diz vítima de uma espécie de atração fatal: ‘Fui abduzido’, brinca o publicitário Luciano Traldi.


Em viagem aos EUA, o sócio da produtora de comercias Hotel Filmes não resistiu ao apelo e comprou um modelo com 8GB de capacidade (já há no mercado versão com 16 GB). ‘Fiquei algumas semanas sem desbloquear, porque pensava em pirataria e me incomodava com isso’ , conta Traldi. ‘Mas tirava o aparelho da embalagem, lia o manual e ficava fascinado. E aí, bem, o desejo de vê-lo funcionando ficou mais forte’, acrescenta. Há três meses, com o devido chip da operadora TIM, o iPhone de Traldi virou companhia obrigatória.


O publicitário não está sozinho nessa condição. O advogado do escritório Machado, Meyer, Sendacz e Opice, Wilson Mello, um declarado apaixonado por inovações tecnológicas, pondera que, em termos de legalidade, usar iPhone não configura crime. ‘Achei um caminho para usufruir de um produto que não está à venda no País’, argumenta ele. ‘A Apple, acredito, deixou um gostinho de quero mais no ar ao fazer um megalançamento apenas para o mercado americano. Isso despertou cobiça e deu condições para a companhia cobrar R$ 2 mil por um aparelho que custa algo em torno de R$ 700, quando desembarcar por aqui.’


O apetite do mercado brasileiro endossa a tese de Mello. Na Rua Santa Ifigênia, no centro de São Paulo – uma região famosa por concentrar o comércio de toda a parafernália eletroeletrônica disponível no mercado -, o iPhone costuma ser encontrado por R$ 2,3 mil com seis meses de garantia. Mas não só lá. Na web há incontáveis ofertas entre R$ 1,3 mil e R$ 1,9 mil, alguns até já desbloqueados. Aliás, estimativas da própria Apple projetam que quase 20% dos usuários do iPhone estão fora dos EUA. Dos 3,7 milhões de aparelhos vendidos, somente 2,3 milhões estão registrados em operadoras autorizadas.


No Brasil, a empresa manda informar por meio de sua assessoria que ‘não se manifesta sobre o iPhone’. Aliás não apenas ela, que seria a maior interessada em regular o mercado. As operadoras de telefonia, que, segundo se especula, estariam negociando a venda oficial desse objeto do desejo de forma regular, também não querem falar.


Na semana passada, chegou a ser noticiado que a operadora de celulares Vivo traria o produto para o Dia das Mães, tradicionalmente a data de maior venda do varejo nacional. Isso seria possível graças ao avanço das negociações entre a Apple e a controladora da Vivo, a Telefónica da Espanha, que teria o objetivo de vender o aparelho em toda a América Latina. Consultadas no Brasil, as empresas não falaram, mas também não desmentiram.


A cautela faz sentido, uma vez que entendimentos semelhantes entre a Apple e a China Móbile não vingaram. Quem acompanha o mercado de telefonia global diz que a maior dificuldade para um acerto com as operadoras regionais está no modelo de negócios. A companhia americana quer compartilhar as receitas pelos serviços prestados, mas as empresas alegam que, como vende infra-estrutura, ou seja o aparelho, não teria esse direito.


A caça pelo iPhone fora dos limites dos EUA se explica pela revolução que o aparelho provoca ao simplificar a vida das pessoas, tornando realidade a tão falada convergência digital. O aparelho combina funções acionadas com um simples toque de dedo: um iPod (tocador de música), um telefone celular, uma câmera digital e um computador portátil.’


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Navegar é preciso e fácil. E ganha adeptos


‘‘É gritante a diferença ao migrar de um smartphone Treo (um modelo de celular repleto de recursos) para um iPhone’, diz o empresário Alexandre Hadade, diretor da empresa de tecnologia em serviços gráficos Arizona. ‘Quando estou em um jantar e conheço um potencial cliente, pego o meu iPhone e mostro, com infinita qualidade da tela, o filme de três minutos com a apresentação comercial de minha empresa. O interlocutor entende tudo o que posso fazer por ele, sem gastar muito tempo’, festeja Hadade.


Ao trazer o seu modelo, fez questão de declarar na alfândega a compra feita por US$ 399, para, em sua interpretação, ‘não ter problemas’. Hadade se encarregou de desbloquear o aparelho consultando um site na internet, onde há anúncios oferecendo o serviço por R$ 300. Já o advogado Wilson Mello conta que o profissional que fez o serviço para ele disse que, nos últimos meses, desbloqueou mais de 2 mil iPhones para clientes.


Levantamento da consultoria Predicta, especializada em gerenciamento de dados online para anunciantes e portais, usa uma ferramenta que é capaz de identificar os acessos à internet via iPhone. Nos últimos seis meses, o volume pulou de 8.500 por mês para 105 mil, segundo a aferição de fevereiro. ‘É um crescimento de uso, de algo ainda não vendido oficialmente no País, de 1.129%’, constata surpresa Clécia Simões, gerente de marketing da empresa.


A atração que mobiliza os consumidores do seleto clube do iPhone brasileiro reside exatamente na simplicidade do sistema operacional criado pela Apple. ‘O sistema de navegação para localizar endereços funciona melhor nos EUA, onde há muitos satélites abertos, mas mesmo assim dá pra usar aqui’, diz o publicitário Luciano Traldi. ‘Outra vantagem do aparelho, que será melhor explorada no futuro, é a facilidade de funcionar em rede wi-fi.’


Hadade não reclama mais de acompanhar a mulher às compras no shopping. ‘Sento em um banco com o meu iPhone me conecto e nem reclamo do tempo.’ Mesma sorte não teve o publicitário e consultor Luis Grottera: ‘Dei um iPhone para minha mulher há três dias e, desde então, ela não faz mais sexo comigo’.


Ethevaldo Siqueira


Avanços digitais que revolucionam nossa vida


‘Depois de ouvir uma dúzia de cientistas, nos últimos três meses, resumo aqui as possíveis tendências tecnológicas dominantes nos próximos cinco anos: mobilidade, banda larga, 4G, redes WiMax, TV tridimensional (3D), supercomputadores e papel eletrônico. E incluo, ao final, a grande ameaça de um brutal congestionamento da internet daqui a três anos.


O brasileiro Jean Paul Jacob, pesquisador da IBM, professor da Universidade de Berkeley e um dos 50 cientistas responsáveis pelo estudo mais importante sobre o futuro, o Horizon Report, edição de 2008, inteiramente wiki ou colaborativo, destaca três grandes tendências: ‘Se tivéssemos de descrever o futuro em apenas uma palavra – diz Jean Paul – essa palavra seria colaboração. Em duas, seria colaboração e serviços. Em três: colaboração, serviços e inovação.’


EXPLOSÃO WIRELESS


O mundo está mais perto da quarta geração do celular (4G) do que se supunha. Embora a 3G ainda esteja em fase de maturação no mundo, começando a oferecer velocidades entre 3,6 e 7,2 megabits por segundo (Mbps), com a tecnologia High Speed Packet Access (HSPA), já surgem avanços experimentais com velocidades muito maiores, que vão a 50, 100 ou mais megabits por segundo. Diversas empresas já fizeram demonstrações de transmissão em velocidades de até 300 Mbps, com o uso da tecnologia denominada Evolução de Longo Prazo (LTE, do inglês Long Term Evolution). Para que tanta velocidade? Na prática, 300 Mbps significam a possibilidade de transmissão de até 15 canais de TV digital de alta definição, entre muitos outros serviços, via celular 4G. Entre as empresas que dominam a tecnologia LTE, estão a T-Mobile (Deustche Telekom), a Ericsson, a Nortel, a Alcatel-Lucent e a Nokia Siemens Networks.


WIMAX PARA TV


Transmitir 45 canais de televisão aberta (broadcasting) numa banda de freqüências de apenas 10 Megahertz (MHz) era algo impensável até há pouco. A tecnologia MXTV, da norte-americana NextWave Wireless, permite hoje essa façanha e poderá ser utilizada em serviços fixos e móveis de TV de alta definição, rádio digital e multimídia no celular, com tremenda economia do espectro de freqüências, que é um bem escasso, finito e não-renovável. Com a tecnologia convencional, seriam necessários 270 MHz para transmitir 45 canais.


TELEVISÃO 3D


A coreana Samsung e a holandesa Philips estão lançando os primeiros televisores com imagem tridimensional. Os modelos mais recentes são os da Samsung, de 42 e 50 polegadas, de plasma, cujas imagens em 2D podem ser vistas sem óculos e, em 3D, com óculos. A proposta da empresa é oferecer, juntamente com a nova televisão, videogames e filmes 3D, em parceria com a Electronic Arts, maior provedora de jogos eletrônicos do mundo.


TELEVISÃO A LASER


Com o uso de lasers nas três cores básicas (azul, verde e vermelho), a Mitsubishi e outras empresas desenvolveram aquela que talvez seja a TV do futuro. Com luminosidade extraordinária, suas imagens podem ser vistas à luz do dia. Quando teremos essa TV? Talvez daqui a dois anos.


PROJETO KITTYHAWK


A IBM projeta construir até 2013 o Kittyhawk, supercomputador da próxima geração, a ser instalado sobre uma plataforma mundial. Com centenas de milhares de processadores interconectados (clusters) em paralelo, será capaz de hospedar praticamente toda a internet do planeta. Ao seu lado, o maior supercomputador atual, o Blue Gene/P, da própria IBM, parecerá um brinquedo.


NANOCOSMOS


A nanotecnologia será a próxima grande onda tecnológica e corresponderá a uma nova fase da chamada Lei de Moore, segundo a qual os circuitos integrados dobram de densidade a cada 18 meses. Miniaturizando componentes e máquinas até a escala molecular, as inovações da nanotecnologia tornarão possíveis milhares de avanços revolucionários, prevê o presidente da Intel, Paul Otellini.


PAPEL ELETRÔNICO


Conhecido pela sigla em inglês e-paper, o papel eletrônico imita o papel convencional, permite a impressão eletrônica de textos e de imagens, que podem ser apagados ou modificados a qualquer instante sem necessidade de mais papel. O novo produto tem o aspecto de um sanduíche de camadas transparentes e microesferas nas três cores básicas do sistema CMYK – sigla que representa as cores azul (cyan), magenta, amarelo (yellow) e preto (key). A impressão funciona de modo semelhante à impressão xerox. A Organização Mundial do Comércio (OMC) prevê que as reservas de papel disponíveis no mundo só poderão assegurar o consumo mundial até 2040.


WEB PODE ENTUPIR


Agora, a má notícia: a internet corre o risco de passar por um congestionamento brutal por volta de 2011. Essa é a previsão de alguns especialistas, entre os quais Bob Metcalfe, criador da rede Ethernet. Em 2007, o site de vídeo YouTube, que pertence ao Google, consumiu mais banda do que toda a internet consumia no ano 2000.’


HQ


Jotabê Medeiros


O teatro retorcido de Eisner é pura iluminação


‘O quadrinista norte-americano Will Eisner, fundamental artista dos comics em qualquer época ou lugar, viveu os últimos 15 anos de sua vida numa tranqüila casa campestre em Tamarac, Flórida. Uma daquelas vilas em que as casas se conectam no portão do quintal dos fundos a um campo de golfe, um refúgio magnífico no qual ele e a mulher, Ann Weingarten Eisner, davam lá suas tacadas.


Curioso: apesar desse distanciamento ensolarado, esse exílio voluntário, não há a menor evidência, na obra de Eisner, que um dia ele tenha se esquecido um instante sequer de um determinado período sombrio da sua vida em Nova York, no rastro da Grande Depressão, entre os anos 1930 e 1940. É essa cidade, seus bueiros, escadas de emergência, galpões, edifícios e habitantes que ele elegeu como a espinha dorsal de todo seu trabalho, como nesse álbum que é agora publicado pela Devir Editora, A Força da Vida (A Life Force), lançado originalmente em 1988. Tinham então se passado 10 anos desde que ele iniciou sua revolução gráfica com Um Contrato com Deus e Outras Histórias de Cortiço.


Em A Força da Vida, Eisner contrapõe, em situações que se cruzam e se superpõem, pessoas extremamente duras e outras líricas, pessoas secas e cínicas e outras ingênuas, em movimentos de esperança e ganância, paixão e desencontro, tragédia e vibração. Quase sempre, o mediador de tudo é a miséria, a carência, a falta de perspectiva.


A Força da Vida é um dos trabalhos em que Eisner desenvolve de forma mais intensa a expressividade dos rostos e dos gestos em seus personagens. Claro, tudo com sua marca particular, como o balé que ele cria para um início de enfarte do personagem central Jacob, num beco sujo, ou para o atentado à serraria e a luta entre o bandido e o desmemoriado Tio Max. Tudo emoldurado por um jogo de luz e sombras, de iluminação, que privilegia o sentimento, a emoção.


Eisner parecia também remeter-se nesse trabalho a algumas influências mais evidentes, como Franz Kafka e sua A Metamorfose, na insistência dos diálogos de Jacob com uma barata, e na reincidência da passagem do inseto pelos desvãos da trama. É irrepreensível o teatro de desamparo da dona de casa Rifka, quando descobre que está sendo trocada por outra mulher já no crepúsculo da vida.


‘Um dia, eu estava conversando com ele e ele me disse: ‘Todo mundo acha que eu sou cinematográfico, mas quando faço meus quadrinhos eu penso mais em teatro’’, conta o ensaísta e jornalista brasileiro Álvaro de Moya, que foi grande amigo de Will Eisner. ‘Acontece que o pai dele era cenógrafo, pintava painéis de fundo para montagens de teatro. É por isso que os quadrinhos dele às vezes sugerem uma cena em um palco italiano, iluminado por uma luz vertical’, diz o especialista.


‘Os alemães chamam a isso de gestalt, o gestual do teatro, aquela expressão corporal que se dá aos personagens. Isso era muito ressaltado no trabalho do Eisner, cujos personagens são retorcidos, não são retos. Passados tantos anos, a gente olha o trabalho dele e não pára de se surpreender’, avalia Moya.


A Força da Vida tem personagens de meia-idade vivendo crises de identidade em plena recessão, procurando saber em que ponto da vida perderam o fio da meada. Há também jovens ambiciosos, querendo encontrar uma forma de se estabelecer, ganhar respeitabilidade e fama. Há larápios e oportunistas, reacionários e comunistas, todos envolvidos numa trama que não os julga, não os trai, e tampouco os exime de responsabilidades.


‘O que Deus quer de mim?’, pergunta a judia alemã Frieda a Jacob, seu sexagenário pretendente. Ele responde: ‘Quem sabe? Desde o princípio, padres, rabinos, gurus ou vigaristas, todos montam um negócio para tentar entender isso! Eles escrevem livros e bíblias. Nos fazem rezar na esperança de, talvez, conseguir uma humilde resposta que lhes permita chegar a uma nítida compreensão. E, enquanto isso, homem e barata simplesmente vivem o dia-a-dia’, responde Jacob.


Will Eisner criou o conceito de romance em quadrinhos (graphic novel). Ao morrer, em 2005, era difícil um desenhista, ilustrador ou cartunista ao redor do mundo que não quisesse falar de sua influência. Apesar de ter se tornado célebre como o cronista de uma América de cortiços, hidrantes, vagabundos, becos, escadas de emergência, prostitutas e cantores de rua, era pessoalmente um homem doce e solícito, que não se negava a conversar com os discípulos em qualquer circunstância.


Neil Gaiman, um dos seus muitos admiradores, disse que ‘a vitalidade contínua de Eisner como um artista’ desafiava ‘a lógica, o senso, o tempo, a história e todos os jovens cartunistas de hoje’. Para Alan Moore, ele foi o ‘Leonardo da Vinci’ dos comics. ‘Ele ainda é melhor que todos nós’, disse Frank Miller. ‘Não há ninguém mais completo do que Will Eisner. Nunca houve, e eu, em meus dias mais pessimistas, tenho dúvidas se algum dia haverá’, disse o inglês Alan Moore, de Watchmen.


Eisner, que foi sempre de uma modéstia absoluta, dizia que só tinha intenção de ilustrar a condição humana. ‘Para mim, super-heróis são personagens unidimensionais. O principal subtexto de uma história, qualquer história, é a possibilidade da falha, da mortalidade, do erro.’’


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Loira hipnotiza spirit em Hollywood


‘OH, É A SCARLETT?: O longa The Spirit, baseado no mítico personagem de Will Eisner, o detetive de máscara criado pelo desenhista nos anos 40, terá uma vilã insidiosa e irresistível: a atriz Scarlett Johansson fará o papel da insinuante Silk Satin no filme que Frank Miller pretende estrear em 2009. No papel do detetive está Gabriel Macht. No papel do vilão Octopus, o fantástico Samuel L. Jackson.


Spirit estreou em 1941 e a série foi encerrada por Eisner em 1952. O Espírito é a identidade secreta de Danny Colt, que vive num cemitério, Wildwood, tendo por fiel assistente um menino de rua, Ebony White (ou Ébano Branco), e como melhor amigo o comissário de polícia Dolan. É ligado à apaixonada Ellen Dolan, filha do comissário. A ação se passa em Central City, um alter ego urbano de Nova York.


Eisner e Miller não eram estranhos um ao outro. Chegaram a publicar um livro sobre quadrinhos juntos. Miller, o festejado autor de Sin City e do Cavaleiro das Trevas, é fã de longa data do autor. Miller estreou como diretor de cinema ao lado de Robert Rodriguez, e pegou gosto pela coisa.’


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