‘O Blog do Noblat está de partida para o portal do Estadão (www.estadao.com.br), após um ano e meio de iG, hospedagem que acabou sendo decisiva para consolidar o projeto. Referência em informação e análise política, Ricardo Noblat transformou o blog que leva o seu nome num dos mais concorridos do País, chegando a atingir, em setembro, por exemplo, quase 1 milhão e 700 mil visitantes únicos. A ida para o Estadão não é apenas uma transferência de portal. Envolve uma série de ações que vão transformar o blog num produto multimídia e a própria mudança física de Noblat, que deixará sua residência para trabalhar na sucursal do Estadão. No acordo fechado, segundo apurou J&Cia, Noblat contará com uma equipe de três repórteres para enriquecer o conteúdo (hoje ele trabalha sozinho).
O Blog ganhará, além disso, um espaço permanente no primeiro caderno das edições de domingo do Estadão; poderá, ainda, ter uma versão diária, para ser comercializada pela Agência Estado com outros jornais brasileiros; e também está em estudo a idéia de se fazer duas ou três edições diárias (com o nome O Blog do Noblat no ar) para emissoras de rádio.’
TODA MÍDIA
Nelson de Sá
‘Canudos 2’, copyright Folha de S. Paulo, 5/10/2005
‘Início da noite, surge a imagem do bispo Luiz Cappio no ‘Brasil Urgente’, de José Luiz Datena, na Band. Na barra de informações, na tela:
– Frei fala ao vivo.
Foi quase meia hora de conversa, entre piadas, risadas e louvores a Lula. Algumas passagens, do bispo:
– Os letrados têm dificuldade de entender [a luta que ele faz], mas não o povo simples. A nossa ação, esgotadas todas as possibilidades racionais… quando esgota a razão, a loucura da fé é o caminho.
Consciente, ele sabe como ninguém o que está fazendo, ao ameaçar com a própria morte. É ‘a loucura da fé’.
Mas tem método a loucura de d. Luiz Cappio, bispo de Barra, na Bahia, que para o espetáculo se transferiu para Cabrobó, em Pernambuco.
Questionado ‘tecnicamente’ sobre o projeto de transposição, disse que passaria a um assessor, mas sublinhou:
– Somos radicalmente contra, só sentaremos para negociar quando for banido.
Sobre Lula, só elogio:
– Eu sempre fui partidário do PT e de Lula… Eu confio no presidente… Pelo que eu conheço do presidente, eu tenho certeza de que ele não tem conhecimento da malícia que está por trás do projeto… Confio nele e na sensibilidade dele.
Entra Datena, ‘eu também’. Segue o bispo:
– Espiritualmente eu estou muito forte. Agora, fisicamente eu estou debilitado.
Começam as brincadeiras, com o apresentador, ao cumprimentar pelo aniversário:
– O senhor está cada vez mais jovem.
E o religioso:
– A enfermeira tirou e minha pressão está 12 por 8.
O apresentador diz que tem que aprender como ficar assim, tão bem, ele que está acima do peso. O bispo olha para fora e também brinca:
– O povo está todo lá esperando a missa e o senhor não deixa.
O apresentador convida para um churrasco, quando tudo terminar. E d. Luiz:
– Eu é que convido o senhor para comer um surubim comigo lá em Barra.
Antes de sair de cena, o bispo lembra que ‘tem uma manifestação saindo agora da avenida Paulista’ e pede a presença dos espectadores.
Entre muitos outros meios, o bispo falou também à Globo e à rádio CBN.
A primeira se esmerou nas imagens, contrastadas com as do ‘Velho Chico’, como chamou seguidamente o rio, no dia de são Francisco.
Foi preciso acessar o site da Agência Nordeste, que cobre a região ao norte do São Francisco, para encontrar oposição ao religioso.
De João Pessoa, na Paraíba, o arcebispo d. Aldo Pagotto comparou a atitude do colega a ‘uma eutanásia’.
Disse que, ‘como religioso’, tem que sustentar:
– Ninguém é senhor da própria vida.
Segundo o paraibano, ‘praticamente todos os bispos nordestinos são a favor da transposição’, em ‘posição fechada durante reunião na sede da CNBB, em março’.
Mas não tem jeito, a onda mística só faz crescer.
O site Carta Maior, ligado aos movimentos sociais, destacou reportagem assinada por frei Florêncio Vaz, também tomado pela ‘loucura da fé’. Uma passagem do texto:
– Lagrimando sai a maioria das pessoas que falam com o bispo. Perguntei por que e elas me disseram algo assim: ‘Ele está fazendo que nem Jesus, ele pegou as nossas dores, é morrer por todos nós’.
Depois:
– Outras pessoas com maior visão histórica me falaram: ‘Dá para sentir. Aqui está virando um novo Canudos’.
Não, não, não
O ‘JN’ segue no esforço de reanimar as CPIs, mas Franklin Martins anda irritado:
– A cada 15 dias é uma teoria nova… Tem deputado que me diz, ‘a CPI não precisa apresentar prova porque o Brasil inteiro já sabe’. Não, não, não. O Brasil não sabe de onde veio o dinheiro e precisa saber.
Dia muito bom
Depois das ameaças, Delcídio Amaral, da CPI dos Correios, declarou à Globo que fica e comemorou no UOL, quanto à origem do dinheiro:
– Aprovamos a quebra de sigilo das corretoras, focos fundamentais na investigação. Foi um dia muito bom.
Mas é ainda ‘uma teoria’.’
***
‘Exuberância ‘, copyright Folha de S. Paulo, 4/10/2005
‘Globo News, fim do dia, ao vivo da Bolsa:
– Setembro foi muito bom para o mercado de ações e, olha, outubro promete, porque mal começou e a Bovespa alcançou novo recorde. Os estrangeiros continuam apostando… E eles apostam também nos títulos. O risco-país chegou muito perto da mínima histórica.
Na escalada da Record, com Boris Casoy:
– Bovespa bate novo recorde e risco Brasil fica próximo a seu melhor nível histórico.
Na manchete entusiasmada do Globo Online, ‘risco flerta com recorde histórico.
A exuberância dos enunciados foi precedida por editorial no ‘Financial Times’ e reportagem no ‘Wall Street Journal’, ontem. Do americano:
– Os mercados de ações da América Latina saltaram no mês de setembro, com investidores dando de ombros à turbulência política e se concentrando, em vez disso, no panorama positivo das economias. Brasil e México estiveram entre os mais fortes desempenhos.
Do britânico ‘FT’, sob o título ‘Exuberância latina’:
– Num momento em que a política da América Latina está mais feia que em algum tempo, os administradores de fundos despejam dinheiro nos seus mercados num ritmo frenético. Mercados de capitais do Brasil e do México têm batido recordes repetidamente.
Mas a região não ‘aproveita plenamente’. Cobrando mais reformas de Brasil, onde ‘um escândalo paralisou a atividade legislativa por meses’, e outros, ameaçou:
– Na pior hipótese a América Latina pode estar vulnerável a uma virada nos sentimentos do mercado internacional.
Com ou sem vulnerabilidade, Lula tratou de festejar as boas novas na Fiesp. Da escalada do ‘Jornal da Band’:
– O presidente comemora os números.
Era referência, sobretudo, ao comércio exterior. Do discurso, falando ao ministro:
– Viu, Furlan, nem precisa de tanto saldo. Que o ministério possa estourar champanhe para comemorar.
Luiz Furlan mal festejou, com nova projeção de exportações, e já voltou à carga, anunciando ‘salvaguardas contra a China’ à Folha Online, ecoando logo na agência Dow Jones.
E o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, quer mais. Cobrou Lula no ‘Jornal Nacional’:
– Nós não acreditamos em crescimento sustentável com os juros mais altos do mundo.
O SUICIDA
A Band já está com câmera em Barra, na Bahia. Gravou o bispo d. Luís Flávio Cappio bebendo do São Francisco, entrevistou devotos de sua diocese, além do próprio. E o bispo, olhando para a câmera:
– Estou nas mãos de Deus.
Como noticiou o ‘JN’, em carta ao presidente Lula ele ‘disse que se sente frágil e com perda de memória, mas não quer ajuda médica’.
Em greve de fome contra a transposição, que beneficia Estados ao norte da Bahia, o bispo ganhou apoio de ACM e demais políticos baianos, mas em especial do presidente da CNBB, d. Geraldo Majella, na sexta-feira, em pleno ‘JN’.
Desde então, é chamado de ‘bispo profeta’ em sites como o Centro de Mídia Independente e ganhou blogs diversos. Ontem, foi tema de um e-mail divulgado pela Secretaria Nacional do MST, intitulado:
– Uma vida pela vida.
O comunicado é lúgubre, com trechos como ‘nossa solidariedade pela decisão corajosa de entregar a própria vida’, mais a indicação do site www.umavidapelavida. com.br, dedicado ao bispo suicida. Na página, retórica e iconografia ainda mais tétricas fazem lembrar ‘A Paixão de Cristo’, o filme:
– Um frei entregou a sua vida para que nós prestemos atenção ao absurdo que está para acontecer… O frei não come há dias e seu estado de saúde agrava-se a cada hora. O tempo está se esgotando.
Ah, no fim, ‘participe do abaixo-assinado’.
Curiosamente, o site Adital, cujo nome é inspirado num frade que se matou, frei Tito, e para o qual escrevem Frei Betto, Leonardo Boff, d. Pedro Casaldáliga, resiste à onda mística em torno do suicida baiano.
À disposição
Sob pressão e crítica de todo lado, de Lula e Ideli Salvati a ACM Neto e William Bonner, todos no ‘JN’, Delcídio Amaral reage. Da Folha Online:
– O presidente da CPI dos Correios criticou a tentativa de parlamentares da base aliada de ‘manobrar’ para não votar os requerimentos e ameaçou pôr o cargo à disposição.
Mas Delcídio ganhou aliado, afinal, no também petista da CPI José Eduardo Cardozo.
Presunção
E surgiu alguém para defender José Dirceu. Do artigo de Ibsen Pinheiro postado ontem no blog de Ricardo Noblat:
– Estou convencido de que dificilmente terá um julgamento justo… Não tenho como avaliar se ele sabia. A acusação sente-se dispensada da prova e inverteu a presunção -’se não sabia, ele devia saber’. A premissa remete à incerteza clássica de todo réu político: denunciar o processo ou ajustar-se à sua lógica.’
LENDA & NOTÍCIA
Roberto DaMatta
‘Publique a lenda’, copyright O Globo, 5/10/2005
‘Quando a lenda se torna fato, publique a lenda.’ Esta é a famosa frase do jornalista no final do filme exemplar de John Ford, ‘O homem que matou o facínora’ (The man who shot liberty valance, 1962). Revisitei esse filme com meus alunos da PUC, no contexto de uma discussão sobre ‘heróis nacionais’.
Vale falar desse bangue-bangue diante da notícia de que o líder do presidente Bush na Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, o parlamentar Tom DeLay, foi indiciado por ter recebido contribuições financeiras no valor de 155 mil dólares, o que é proibido pelas leis do velho Texas.
A novidade, vinda do país mais poderoso e o que tem a maior experiência republicana do mundo, serve para reafirmar que a democracia não nasce pronta e que ela se faz por meio de um combate permanente entre os fatos motivados pelo eterno egoísmo humano e os exemplos de desapego que formam a matéria-prima das lendas.
Sobre Tom DeLay têm pesado muitos fatos e poucas lendas, tal como ocorre nas CPIs destinadas a apurar os escândalos do governo Lula, o que mostra como a imprensa oscila sempre entre a amargura dos eventos que denuncia e o enlevo com as lendas que glorifica. Deste modo, um governo bom é o que busca o ideal da lenda, ao passo que os maus são os que acentuam e deixam rolar as incoerências entre a ética (e a lei) e as práticas político-administrativas.
O desconcerto entre fatos e lendas é o ponto crítico dessa película que revive o mito de origem da democracia igualitária. Sua lembrança é importante porque, se os americanos hoje desbastam seus mitos, no Brasil ao que temos assistido é uma espécie de anticlímax das mitologias e dos seus heróis, já que todas as vezes que o povo pensa que algo novo e bom vai ocorrer tudo termina em inafiançável decepção. Como se os fatos, na sua contundência, fossem sempre mais fortes que os mitos. Ou, pior que isso, como se os nossos políticos fossem de fato incapazes de honrar as regras e os limites que foram traçadas para todos.
No filme, a democracia nasce do projeto de inibir e domesticar a violência. De um lado, o motivo pessoal e egoísta; do outro, a consciência freudianamente repressora e sublimatória, pois sem ela não há o belo, o honrado e a lembrança de uma existência após a morte, seja pela arte ou pela religião.
Num filme de mocinhos e bandidos, o drama se concretiza na luta entre o advogado que vai para o Oeste com seu livro de ‘direito’ e o terrível bandido que, na sua chegada, ‘sinistramente’ o assalta, espanca e ameaça. A dualidade entre a lei, a violência, o livro e o revólver corresponde à oposição entre o Leste civilizado e o Oeste bravio e desértico, onde todos lutam contra todos. Só que os conflitos se atenuam na medida em que ao lado da lei se junta a instrução, a consciência cívica, a assembléia igualitária dos cidadãos, e, sobretudo, a honestidade do jornalista embriagado pela busca dos fatos que são o espelho da sua comunidade num pedaço de papel impresso.
Diante dessa lenda eu me pergunto se a nossa luta ‘civilizadora’ não seria a de controlar os abusos de quem controla ou governa a lei. No nosso caso, o herói não seria o homem que mata o facínora, mas a pessoa que, ocupando um cargo público, consegue diuturnamente discernir os seus interesses pessoais (que apontam para os seus companheiros, familiares e partido) e os interesses do cargo (que remetem à coletividade) e, assim fazendo, controla o lado pessoal em função do coletivo. O problema para nós não seria o de formalizar instituições e de criar novas leis, mas o de fazer valer e honrar as normas vigentes, tirando da vida pública aquele ethos de malandragem e de plano B que tanto faz duvidar do nosso sistema administrativo. Mata o facínora nacional o sujeito que der um tiro certeiro no seu egoísmo malandro e canalha e, no entanto, aprovado pela moralidade coletiva em nome de um ainda não discutido realismo político.
A lenda, como diz o filme, está no papel. Mas, sem a integridade do ator disposto a dar-lhe vida pelo confronto honesto com os fatos, ela não sai dos livros de direito e dos esquemas que acham que o mundo pode ser modificado por boas, inteligentes e modernas legislações. Quando, portanto, no final do filme descobrimos que quem, na realidade, matou o bandido não foi o advogado, mas o seu amigo que tudo perde, o jornalista – esse guardião dos mitos – confrontado com tanta honestidade e altruísmo, decide ficar com a lenda.
Nos fatos existe a sordidez da vida com seu caixa dois, suas amizades enviesadas que cobram solidariedade para escapar da punição, bem como as demandas das ideologias populescas que não hesitam em tolher a liberdade da maioria com esquemas de poder absoluto. Na lenda há o ideal da luta e, como mostra esse filme, a indicação dos limites de cada ator no jogo da democracia liberal. Pois nesse sistema, se todos buscam os seus interesses, nem por isso o uso realista do revólver é permitido. Os fins não justificam os meios e as lendas ajudam a balizar no campo fundamental dos valores o caminho, tanto quanto os agentes da lei e da sociedade que, por meio dos jornais, servem como a consciência e como o espelho da sociedade.’
COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL
Francine de Lorenzo
‘Intranet torna-se maior meio de interação ‘, copyright Folha de S. Paulo, 2/10/2005
‘Se você é daqueles (poucos) que não perdem a chance de ficar por dentro das novidades da empresa por meio do jornalzinho mensal, prepare-se: o tradicional meio de comunicação que circula por toda a firma (ainda que nem sempre seja lido) está fadado à extinção.
Acompanhando o desenvolvimento da tecnologia a distância, muitas empresas estão substituindo canais de informação impressos, como jornais e revistas, por alternativas mais modernas. Nessa tendência, o campeão é a intranet: se, em 2002, era o principal veículo em apenas 18% das grandes empresas, atualmente já é o carro-chefe em 32% delas.
A conclusão é do levantamento feito pelo Instituto Aberje de Pesquisas, ligado à Associação Brasileira de Comunicação Empresarial, com 117 companhias nacionais em agosto deste ano e obtido com exclusividade pela Folha.
Outras mudanças apontadas são o aumento da importância de canais de informação rápida, como murais e boletins, e o surgimento de novas mídias, como o telejornal.
Para aproximar-se da tripulação de seus 50 navios, a Transpetro criou um jornal semanal transmitido via satélite por meio de um canal de TV por assinatura. ‘É uma forma de promover a integração com nossos funcionários, que passam 120 dias em alto-mar’, diz o gerente de comunicação da empresa, Cláudio Paula.
A Portugal Telecom também partiu para novidades. Instalada em mais de dez países, a multinacional, além de explorar veículos como revista e mural, aposta em mensagens de torpedos SMS. ‘Aproveitamos o ‘core business’ da companhia para levar aos funcionários informações úteis ao seu dia-a-dia. Além das mensagens institucionais, os torpedos são utilizados pelos colaboradores como ferramenta de comunicação instantânea, muitas vezes mais eficiente que os e-mails’, afirma o diretor de comunicação da empresa, Abílio Martins.
Eficiência
Todas essas mudanças estão ligadas à necessidade de promover canais eficientes de comunicação. Algumas firmas chegam a investir mais de R$ 5 milhões a fim de melhorar o fluxo de informações internas, que é completamente eficaz em apenas 32% das empresas, segundo a pesquisa da Aberje.
‘O canal utilizado e a forma de transmissão influenciam o entendimento da mensagem’, explica Leny Kyrillos, especialista em distúrbios da comunicação. ‘Há questões que extrapolam as competências da área e, para serem bem resolvidas, carecem de especialistas em antropologia, história, sociologia e arquitetura, entre outros’, completa o diretor-presidente da Aberje, Paulo Nassar.
Para a consultora da Franquality, Fabiana Nadir, ‘as empresas têm percebido que a falta de clareza e objetividade nas comunicações fatalmente resulta em conflitos e perda de produtividade’.
Apesar de o uso de canais como o e-mail ser cada dia mais comum, Leny Kyrillos ressalta que o diálogo face a face ainda é a melhor forma de trocar mensagens. ‘A voz, a fala e a linguagem corporal são responsáveis por grande parte da imagem que passamos ao outro e refletem a empresa na qual trabalhamos’, afirma.’