‘Não é de hoje que excedem na internet falsos textos de Luis Fernando Verissimo. Pois agora o Partido da Bala espalha um em que o mestre defenderia o ‘não’ no referendo do desarmamento, dia 23. Sobre isso, a turma da coluna trocou ontem dois dedos de prosa com Verissimo. Confira.
– O texto é seu?
– O texto na internet não é meu.
– Dia 23, você vai votar ‘sim’ ou ‘não’? Por quê?
– Vou votar ‘sim’ porque quanto menos armas disponíveis no país para serem compradas ou roubadas, menos crimes e acidentes com armas acontecerão. Isto me parece lógico, embora a lógica nem sempre seja credencial no Brasil. E a criminalização do simples porte de arma será um recurso a mais para pegar bandido e prevenir o crime. Pelo menos teoricamente.
– A turma do ‘não’ diz que o Rio Grande do Sul é o estado mais armado do país e um dos que têm menor índice de violência. Você, que é gaúcho, concorda com esta tese?
– Não sei se a segunda parte da tese é correta. Mas se há mesmo menos crimes no Rio Grande do Sul, certamente isto não se deve à capacidade ou disposição da população de reagir a bala a criminosos. Haverá, sim, um problema econômico e social, o desemprego na forte indústria de armas no estado, que precisará ser atendido.
– Você tem arma em casa ou já teve? Já atirou alguma vez? Em que situação?
– Já tive um revólver igual ao do Roy Rogers com o qual matei muitos índios. Mas eram todos imaginários, além de americanos.
Os italianos inventaram os ‘western-spaghetti’ (lembra o Ringo?). Com a novela ‘Bang bang’, o Brasil cria o ‘western-queijo-coalho’ – ou seria (para homenagear Aldo Rebelo) o ‘western-saci’?’
TODA MÍDIA
Nelson de Sá
‘Seres incorpóreos’, copyright Folha de S. Paulo, 6/10/05
‘E lá estavam ontem o bispo d. Luiz Cappio e o ministro Jacques Wagner, ao vivo na Band.
Sem mudança, fora a confirmação de encontro para hoje e a condição, expressa pelo religioso, de carta assinada por Lula, para então se alimentar.
O religioso, sem dizer em que pé estão, confirmou que as negociações vêm sendo mediadas pela Igreja Católica.
Quando a Lula, nada de falar com o bispo. Abrindo a escalada da Globo News:
– O presidente Lula não vai se encontrar com d. Cappio.
Sem pausa, na mesma toada das manchetes, em contraste consciente do canal:
– A Casa Branca confirmou a viagem do presidente George Bush ao Brasil.
Depois, a locução informaria que ‘o convite foi feito pelo presidente Lula’.
Enquanto o encontro de Lula e George W Bush ecoava nos sites do ‘New York Times’ ao ‘Wall Street Journal’, bispo e ministro se restringiam aos sites e blogs nacionais.
No blog do baiano Mário Kertesz, o baiano Jacques Wagner dizia, sem adiantar em que pé estão as negociações:
– Eu tenho o balizamento do presidente, mas não posso antecipar a conversa. Sei como chego lá, mas não como saio.
De sua parte, o blogueiro Claudio Weber Abramo resolveu desabafar:
– E daí que bispo faz greve de fome contra a transposição? Como é que um governo atrasa o desencadeamento de uma obra desta magnitude por conta de uma bobagem?
Escreveu mais, até fechar:
– Como levar a sério raciocínios de pessoas cuja profissão é centrada na proposição de que existiriam seres incorpóreos que interferem no mundo?
OFENSAS
Globo News e Band News transmitiram ao vivo, mas Folha Online e Globo Online preferiram aguardar que o quadro se revelasse por inteiro, ontem. Manchete da Folha Online, à noite:
– Acareação na CPI dos Bingos vira troca de ofensas.
Entre outras expressões nos canais de notícias ao longo de horas, ‘bandido’, ‘tolo’ etc. E o enunciado do Globo Online, também a noite:
– CPI: Tasso diz que Lula é ‘rei do trambique’.
O senador tucano ‘pediu desculpas após a acusação’.
Em fase agressiva desde que o vice José Alencar se aproximou da Igreja Universal, o ‘Jornal Nacional’ levou as ofensas à manchete.
O POVO ARMADO
Dada como suprapartidária, a campanha sobre comércio de armas toma caráter plebiscitário em relação a todo o governo, com o horário do ‘não’, dia após dia na televisão, dizendo coisas como:
– O governo federal, não conseguindo desarmar bandidos, tenta desarmar o cidadão.
Ontem, o destaque em rádios e sites era que o ministro da Justiça saiu em defesa do ‘sim’ e ampliou o contraste, para angústia do blog tucano E-Agora:
– A campanha do ‘não’ está passando a impressão de que é contra o governo. Isso é um erro grave… O ‘sim’, tudo indica, ganhará e isso será capitalizado como mais um trunfo.
O problema é que os oposicionistas PSDB e PFL, ao contrário dos governistas PT ou PC do B, pelo que se vê nos sites, estão ambos divididos.
A home page do primeiro diz apenas ‘Tucanos defendem debate sobre desarmamento’. No texto interno, pronunciam-se dois tucanos pelo ‘sim’, um pelo ‘não’. No site pefelista, com esforço, encontram-se textos com um parlamentar pelo ‘sim’, outro pelo ‘não’. Pior, o presidente e garoto-propaganda da campanha do ‘não’, Alberto Fraga, é do PFL.
Reforçando a sensação, o oposicionista PSTU, que nada tem a ver com PFL ou PSDB, acaba de se posicionar pelo ‘não’, ou seja, em favor do comércio de armas. Trechos, no site da legenda:
– O referendo busca acabar com o direito democrático da compra de armas pelo povo… O povo unido e armado é a nossa garantia contra a opressão imperialista… Foi assim na Venezuela.’