‘No final da tarde, uma sorridente Fátima Bernardes surgiu na Globo:
– O bispo d. Luiz Cappio acaba de suspender a greve de fome. A decisão foi tomada depois de cinco horas de reunião com o ministro Jaques Wagner, que levou uma carta do presidente Lula propondo a revitalização do rio São Francisco.
Foi destaque imediato nas rádios Jovem Pan e CBN, nos despachos de agências, como a Reuters, e nos sites noticiosos, caso da Folha Online:
– Após encontro com ministro, bispo encerra greve de fome.
Foi depois da carta de Lula, entregue pelo ministro, mas também depois da carta de Bento 16, entregue pelo núncio apostólico Lorenzo Baldisseri -como sublinhou a Reuters.
Quanto à carta do presidente, até os blogs dissecavam seu conteúdo, ontem. Já quanto à carta do papa, quase nada.
Aqui e ali, a confirmação de que foi um ‘apelo’ para que suspendesse a greve de fome. De Bento 16, era mais provavelmente uma ordem.
Tema de despachos da agência americana Associated Press à espanhola EFE, o bispo já surgia ontem em jornais pelo mundo todo, do londrino ‘The Times’ ao argentino ‘Clarín’.
O que talvez ajuda a explicar a intervenção papal. Segundo o Globo Online, à tarde, ‘o protesto já é motivo de constrangimento na Santa Sé’.
Um líder do PFL avisou à tarde à Agência Nordeste que ‘a liminar da juíza da Bahia, que suspende a licença do Ibama, é a primeira da série’:
– Vai ser sim e não todo dia, a briga de dois Nordestes.
O ‘Jornal Nacional’ de William Bonner optou por um deles, o de ACM, para a primeira manchete ontem:
– Liminar da Justiça Federal suspende licença para transposição do São Francisco.
No enunciado mais direto do ‘Jornal da Record’ do âncora Boris Casoy:
– Bispo encerra greve.
AS RELAÇÕES
A um mês da visita de George W. Bush, anunciada no dia anterior, já se esboça a cobertura nos jornais americanos, do ‘Miami Herald’, da Flórida, ao ‘Christian Science Monitor’, de Massachusetts.
O primeiro elegeu o Brasil como exemplo na região, com um presidente que não cede às ‘tentações populistas’ apesar da crise e que recebe elogios do secretário John Snow a Paulo Leme, da Goldman Sachs. No título, ‘O Brasil -sim, o Brasil- é o modelo’.
O segundo jornal avaliou as relações, dizendo que com os profissionais da secretária Condoleezza Rice, como seu vice, Roberto Zoellick, ontem em Brasília, ‘os EUA estão sinalizando que compreendem a necessidade de dar mais ênfase à pobreza’ na região.
Até então, nada de novo. Mas logo veio problema, no meio da tarde, na Folha Online:
– Brasil pede autorização à OMC para aplicar sanções contra os EUA.
É ainda o caso dos subsídios ao algodão. Zoellick saiu criticando, no Globo Online:
– Minha experiência no comércio mostra que a situação se agrava a partir de uma retaliação.
Antes mesmo do anúncio formal, a intenção do Brasil de retaliar com sanções era destacada ontem na versão impressa do ‘Washington Post’.
Mas nem tudo é conflito entre Brasil e EUA.
O ‘Financial Times’ adiantou no site uma reportagem dizendo que ‘Brasil e outros’, que não aceitavam a exigência de ‘EUA, União Européia e Japão de fortalecer direitos de propriedade’, chegaram a uma ‘trégua’ nas negociações em Genebra, na Suíça.
As ‘nações industrializadas’ aceitaram discutir uma ‘agenda de desenvolvimento’.
AS GARRAS DOS EUA
O ‘Guardian’ publicou ontem longa reportagem saudando o que chamou de ‘um anúncio que muda para sempre a face na internet’. No título:
– Arrancando as garras dos EUA na internet.
Foi um ‘golpe político’ que a Grã-Bretanha, diz o jornal, praticou contra os EUA. Em Genebra, no âmbito da ONU, ‘Brasil, China, Irã e vários países africanos’ vinham pressionando para Washington desistir do controle da internet, que sempre deteve. Os americanos resistiam.
Representando a União Européia, o enviado britânico propôs um ‘modelo cooperativo reunindo governos’ para tomar conta da rede. Brasil e demais apoiaram de imediato, os EUA, não. Mas a proposta caminha para o ‘consenso’, segundo o jornal, no encontro mundial de cúpula no mês que vem.
A reação veio logo, com blogs como o de Mickey Kaus, na revista on-line Slate, defendendo o ‘imperialismo americano’ na internet, com o argumento de que é uma garantia de democracia.
A revista ‘The Economist’, na nova edição, segue linha semelhante, com editorial e reportagem questionando as ‘vozes críticas como Brasil, China e Irã’ e dando apoio à idéia de um ‘fórum em que o tema seja tratado por todos os governos num processo evolutivo’.
Foi a proposta lançada pelos EUA, depois da derrota.’