Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Abalos sísmicos no mercado midiático

O Monitor de Mídia retorna das férias escolares com força total, de olho nos principais movimentos do mercado midiático catarinense. E não foram poucos os fatos que chamaram a atenção de nossa equipe de janeiro para cá.

Dentro do território catarinense, ao menos duas notícias merecem registro. No dia 1º de fevereiro, o Grupo RBS interrompeu a edição do ANCapital, um encarte do jornal A Notícia que circulava na região de Florianópolis. O ANCapital existia desde 1995 e sempre se concentrou num jornalismo feito para a comunidade local, cobrindo a vida cotidiana da capital do estado.

No mesmo dia, a Rede Independência de Comunicação (RIC) passou a operar oficialmente no estado, transmitindo a programação da Rede Record. Como adiantamos na edição de dezembro, a chegada da RIC em Santa Catarina é um lance que agita o mercado de TV local. Por dois motivos: afronta a hegemonia da RBSTV e intensifica a briga Globo x Record. Com a RIC, os catarinenses tiveram três mudanças no seu controle remoto. O SBT passou a ser exibido em outro canal, a Rede TV! deixou de ser transmitida, e a Record News deve entrar no ar em breve. Parece um cenário melhor, mas – como no mercado de jornais – houve contração, concentração.

Mas outros abalos sísmicos foram registrados na mídia nacional já neste ano. Dois deles são duelos ruidosos a céu aberto. O primeiro coloca frente a frente o jornalista Luiz Nassif e a revista Veja.

Nassif passou a publicar na internet uma série de textos sobre bastidores escandalosos sobre a revista. Para Nassif, a Veja é ‘o maior fenômeno de antijornalismo dos últimos anos’. Claro que a revista foi à forra e processou o jornalista.

A segunda batalha midiática do ano acontece entre a Igreja Universal do Reino de Deus e os jornais Folha de S.Paulo, A Tarde e Extra. Tudo começou quando uma repórter da Folha trouxe matéria que demonstrava como a igreja fez crescer seu patrimônio nos últimos tempos. A reação veio dos fiéis, e uma enxurrada de processos assolou os jornais.

Pelo jeito, 2008 começou em alta voltagem. O enredo tem fechamento de jornais, disputa franca de fatias de mercado, acusações de alto calibre, fé misturada com ideologia, e jogadas de tribunal.

Para aumentar a fervura, um ingrediente deve ser adicionado a esta mistura explosiva. No final de fevereiro, o Supremo Tribunal Federal deu uma liminar suspendendo boa parte da Lei de Imprensa, aquela que penaliza crimes como injúria, calúnia e difamação. Ao desfigurar a lei de 1967, o Supremo permitiu o arquivamento de todas as ações que tinham como base aquela legislação, o que torna mais confuso o panorama da mídia no país.

Não dá para negar: em 2008, os observadores mais atentos dos meios de comunicação vão ter muito assunto. Aqui, no Monitor de Mídia, como de costume, acompanhamos a tudo isso atentamente.

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O perfil de mulher construído nas revistas femininas

Se existe alguma mulher que se enquadre no perfil descrito como ideal pelas revistas femininas, só se for uma leitora-modelo, como descreve Umberto Eco (1986). Em três pesquisas realizadas na Univali entre 2006 e 2007, as construções de gênero e identidade feminina apontam para uma mulher que reforça os estereótipos mais freqüentes como vaidade, submissão, ideais de sucesso profissional, a heterossexualidade como único comportamento admitido, entre outros.

Claudia

Em 2006, Naiara Zanuzzo pesquisou como Trabalho de Conclusão de Curso o perfil da mulher idealizado na revista Claudia. Em seis edições consecutivas, sob orientação da professora Laura Seligman, a jornalista analisou as imagens e as manchetes da capa, usando referenciais da semiótica peirceana. Na monografia intitulada ‘Representações e reafirmações de identidade de gênero: a mulher idealizada pela revista Claudia‘, a conclusão é a de que fica evidente o papel que essas publicações exercem no sentido de construir e reafirmar ideais padronizados, relacionados a identidades sociais e de gênero. Foram encontradas representações idealizadas de como o feminino deve se manifestar em relação ao corpo, à sexualidade, em relação à família, ao casamento, maternidade, trabalho.

A mulher idealizada, que Zanuzzo chamou de Claudia, assim como o título da revista, é heterossexual, sua sexualidade é relacionada sempre ao matrimônio, é atenta às novidades em relação à beleza e aos cuidados do corpo. Em casa deve ser uma boa mãe e esposa amável sem descuidar dos padrões de beleza, garantindo uma relação comercial da publicação com os fabricantes de produtos desta natureza.

Adolescentes

No mesmo ano, Karina Pizzini iniciou, sob orientação da professora Valquíria Michela John, a pesquisa Meninas descoladas: a leitora idealizada nas revistas destinadas ao público adolescente. Foi realizada a análise comparativa de seis meses das revistas, totalizando 12 edições da revista Capricho, que é quinzenal e seis edições das revistas Atrevida e Toda Teen, estas mensais.

O objetivo da pesquisa foi de analisar como a temática de gênero e a construção da identidade feminina são abordadas nessas revistas. Para alcançar este objetivo, optamos por descrever o vocabulário léxico utilizado; fazer um levantamento das temáticas e assuntos abordados; verificar a relevância social e educativa das matérias veiculadas; identificar estereótipos ligados à formação do feminino e observar a consonância (efeito agenda) entre os conteúdos das publicações. Foi utilizado como referencial metodológico o modelo de cooperação textual proposto por Umberto Eco. O objetivo, ao utilizar este referencial, foi o de verificar quais os conteúdos e discursos destinados às adolescentes nessas publicações.

Foi realizada a divisão do conteúdo, seu mapeamento, seguindo os pressupostos de Bardin (1977), entretanto, a análise ficou concentrada nas matérias de capa, enfatizando o discurso com o modelo de Eco. Foi observada também a consonância entre os conteúdos dessas matérias para observar se houve o efeito agenda entre as publicações. As matérias foram submetidas a um processo de análise inspirado no conceito de Desenvolvimento Humano, dividido em quatro eixos principais (Índice de Desenvolvimento Humano, Direitos Humanos e Liberdade, Diversidade e Outros), seguindo a proposta de categorização de conteúdo adotada pela Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi).

Essas três publicações destinam-se ao público adolescente, em particular das classes A, B e C, com foco no universo feminino e contribuem para a formação de sua visão de mundo a partir da realidade narrada em suas páginas. Nos seis meses analisados, as matérias destaque da capa ou matéria principal abordaram enfaticamente os conteúdos Lazer e Entretenimento, Moda e Beleza e Comportamento, praticamente ignorando temáticas de relevância social. Vários estereótipos são reforçados indiretamente e diretamente no decorrer das matérias. Há uma evidente construção de uma identidade em que a mulher é inferior ao homem, um discurso voltado para a mulher, no caso adolescente, que faz de tudo para conquistar o homem ignorando, por exemplo, a homossexualidade feminina.

Maior circulação

No segundo semestre de 2006, Francine Carolina Gemoski pesquisou ‘Quem é a mulher `Donna´? – Representações da identidade de gênero na revista Donna DC. O Donna DC é a revista que circula semanalmente no Diário Catarinense, jornal de maior circulação de Santa Catarina. A pesquisa analisou o perfil que a revista faz da mulher catarinense, indicando a linha editorial do caderno e os principais assuntos tratados nessa publicação. Para isso, foram analisadas 44 edições publicadas entre os anos de 2003 e 2006 com base na análise de conteúdo como descreve Laurence Bardin. O resultado da análise foi relacionado às teorias de jornalismo de revista e aos estudos de gênero. Dessa forma, foi possível identificar o estereótipo de mulher idealizado pela revista, levando em consideração aspectos como sexualidade, maternidade, trabalho e consumo.

Perfil de mulher idealizado

As autoras concluíram que, terminada a análise das 44 edições, publicadas entre 2003 e 2006 e levando-se em consideração as matérias da editoria de capa, chega-se a conclusão de que a mulher retratada no caderno Donna DC é uma mulher jovem, heterossexual, que não trabalha e se dedica à família, em especial aos filhos. É muito interessada em assuntos da moda, mas é insegura e sofre com o ciúme no relacionamento, com o parceiro sexual e com os filhos.

Durante a pesquisa, notou-se ausência de fotos, entrevistas e personalidades da etnia negra nas páginas do Donna. Uma análise de conteúdo levando em consideração a invisibilidade negra na mídia catarinense, no mercado de revistas, neste caso a imagem da mulher negra, poderia contribuir para a discussão de gênero e servir como um alerta para a discriminação racial.

Embora a questão da diversidade étnica não tenha sido foco de análise na pesquisa com as revistas Atrevida, Capricho e Toda Teen, um aspecto bastante preocupante constatado na análise das capas é a invisibilidade de afro-descendentes. Apenas uma capa, na revista Atrevida, edição de setembro de 2006. A adolescente está na capa porque ganhou um concurso realizado pela revista e a marca Nescau: ‘Promoção Nescau: dá gosto ser capa da revista’.

Quanto ao perfil idealizado nessas revistas, as leitoras da Toda Teen e da Atrevida têm muito em comum. Garotas sonhadoras e românticas que buscam incansavelmente conquistar o ‘fofo’, seja nas férias ou na escola. Fazem de tudo para chamar a atenção do ‘gatinho’ e ser a ‘queridinha da turma’. Estão atentas ao signo do ‘gato’ para saber como conquistá-lo, assim como estão dispostas a usar de ‘magia’ para ‘enfeitiçar’ o garoto. A legítima ‘gata borralheira’ em busca do príncipe encantado.

As matérias de capa da TodaTeen e Atrevida costumam trazer dicas para as garotas conseguirem arranjar um namorado, ter mais amigos, ou entrevistas com artistas. As matérias sugerem às leitoras modos de agir, ações a serem feitas para conquistar o ‘gato’, ou serem aceitas pelas amigas ou pelos garotos.

Já a leitora da Capricho é a ‘moderninha’, a garota ‘sou mais eu’. Aquela que está por dentro da moda, ou quer estar. A garota de classe A e B (conforme a própria proposta da revista) que possui iPod, celular e Orkut. Uma menina ‘antenada’ no mundo ‘fashion’ e nas ‘tendências da moda’ e dos ‘makes’. Preocupa-se em estar sempre bonita e atraente e manter o corpo saudável. Nessa revista, o uso de gírias e expressões é mais comum, assim como o uso de termos ou palavras que se pressupõe que as leitoras já conheçam.

A problemática, clara principalmente nas revistas TodaTeen e Atrevida, não está no fato de adolescentes buscarem ter um namorado, e sim da generalização de que todas as garotas nessa faixa etária têm como maior necessidade conseguir um.

As revistas falam como se somente as garotas ‘bem-humoradas’, simpáticas e bonitas conseguissem conquistar o gato. As ‘tímidas’ têm que se esforçar para mostrar simpatia e serem mais comunicativas. A diferença das características de cada garota exemplificada nas matérias é muitas vezes de forma negativa. Os garotos, que a revista trata como alvo para suas leitoras, gostam ou se atraem somente por um perfil de garotas reforçando o que diz Tomaz Tadeu da Silva (2000, p. 50) que ‘a diferença pode ser construída negativamente – por meio da exclusão ou da marginalização daquelas pessoas que são definidas como ‘outros’ ou forasteiros’.

Uma análise de fevereiro de 2008 (veja as descrições das capas)

As pesquisas destacadas anteriormente foram realizadas em 2006/2007. Ao nos aproximarmos de mais um 8 de março, Dia Internacional da Mulher, resolvemos verificar se os resultados apontados por Gemoski (2006), Zanuzzo (2006) e Pizzini (2007) se repetem após um ano da conclusão de suas pesquisas. Para tanto, analisamos as capas das mesmas publicações trabalhadas pelas autoras referentes ao mês de fevereiro de 2008, para fugir ao efeito que a data de 08 de março poderia exercer no conteúdo dessas publicações.

Podemos afirmar que os resultados permanecem os mesmos. As capas analisadas trazem pessoas jovens, brancas e famosas, exceção ao Donna DC que traz um casal de idosos anônimos. Os conteúdos destacam relacionamentos heterossexuais, cuidados estéticos, regras de convivência em grupo e de etiqueta e, sobretudo, o que fazer para conseguir ou manter o parceiro sexual.

As expressões, gírias e outras marcas discursivas que reforçam estereótipos da condição feminina permanecem os mesmos. É o caso de: ‘gato’, ‘fashion’, ‘fofo’, entre outros. O uso de verbos no imperativo ainda é a tônica, o que reforça a impressão das pesquisas de que essas publicações tentam um diálogo pessoal com suas leitoras, o que exige a adequação da leitora ao perfil idealizado. Faça isso ou não terá sucesso! Parece ser o slogan das revistas.

Com exceção da imagem da capa de Claudia e Donna DC, dirigidas ao público adulto, as demais revistas retratam em suas capas exemplos do que os próprios adolescentes chamam de ‘universo Emo’, referência ao movimento conhecido como Emotion Core. As bandas Simple Plan, NX Zero e Fresno, por exemplo, são ícones desse movimento que tem por princípio dar vazão às emoções com total liberdade sem restrição alguma, seja econômica, de gênero ou etnia. Parece uma tentativa de adaptação do conteúdo, costumeiramente dirigido ao consumo, à heterossexualidade, ao individualismo e ao reforço dos estereótipos femininos.

Para saber mais: clique aqui e confira algumas sugestões de livros e de filmes sobre o tema.

Referências Bibliográficas

ANDI. Agência de notícias dos direitos da infância. Relatório A Mídia dos Jovens. Ano 8, n. 11, junho de 2005.

BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.

ECO, Umberto. Lector in Fabula: a cooperação interpretativa nos textos narrativos. São Paulo: Perspectiva, 1986.

GEMOSKI, Francine Carolina. Quem é a mulher ‘Donna’? – representações da identidade de gênero na revista Donna D2006. 90f., Monografia, Jornalismo, Univali, Itajaí-SC, 2006..

PIZZINI, Karina da Cunha. Meninas Descoladas: a leitora idealizada nas revistas destinadas ao público adolescente. 22 f., Relatório Probic, Univali, Itajaí-SC, 2007.

SILVA, Tomaz Tadeu (Org). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2000.

ZANUZZO, Naiara. . Representações e reafirmações de identidade de gênero: a mulher idealizada pela revista Cláudia. 2006, 106 f. Monografia, Jornalismo, Univali, Itajaí-SC, 2006.

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Uma questão de transparência

Camila Guerra, Karis Cozer e Marina Fiamoncini

O ano de 2008 começou com mais um escândalo envolvendo os políticos brasileiros. O caso dos cartões corporativos ganhou destaque através da reportagem de Sônia Filgueiras em O Estado de S. Paulo, de 13 de janeiro. Na ocasião, foi publicado que a secretária de Promoção da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, teria gasto cerca de 14 mil reais mensais em 2007, com produtos pessoais – tudo com o cartão destinado às despesas públicas. A revista Veja, alguns dias depois, trouxe uma matéria com a apuração de mais fatos, em que mostrou tanto os gastos de Matilde como os do presidente Lula, e de sua família, pagos com dinheiro público. Uma semana depois, o assunto virou capa na mesma revista, e, como a publicação tem grande destaque no País, não demorou muito para que os cartões se tornassem o assunto nacional do momento.

O tema se alastrou nos meios de comunicação, o que pressionou o governo a mostrar serviço, antecipando-se na criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito que apurasse o caso. Existe, sim, um monitoramento para quem usa os cartões – através das faturas –, porém o que faltam são critérios específicos que determinem quem deve realmente ter acesso a eles. Ficaram claras, desde o início do escândalo, as lacunas existentes no esquema de distribuição dos cartões, ou nas regras que deveriam estar acompanhadas deles.

A devida apuração dos fatos é um dos deveres do jornalista, e a sociedade se baseia na credibilidade dos veículos para levar em consideração uma denúncia de irregularidade. O escândalo dos cartões corporativos, a exemplo de outros como o Watergate – episódio que causou a renúncia do presidente Richard Nixon em 1974 – só se tornou público devido à investigação meticulosa por parte de alguns jornalistas. O escândalo norte-americano teve tal visibilidade, que instalou de vez no jornalista a dúvida e a desconfiança diante das declarações oficiais e o desejo de desvendar acontecimentos que ficavam ocultos.

Possíveis interpretações

Atribui-se o título de ‘Jornalismo Investigativo’ a reportagens como a dos cartões corporativos, que exigem um trabalho cuidadoso e detalhado. Segundo Carlos Chagas, ‘todo jornalismo é em princípio investigativo, porque, caso contrário, não é jornalismo’. Outros profissionais e estudiosos da comunicação compactuam com a idéia, já que o fazer jornalismo exige checagem detalhada dos fatos, para que haja veracidade no que for veiculado. Todavia, com a agilidade das publicações, o jornalismo virou uma disputa por ‘furos’, mesmo que estes não sejam necessariamente verídicos ou bem explorados. A falta de tempo e de recursos nas redações é outra realidade que compromete a total dedicação do jornalista a um acontecimento em especial, o que prejudica o leitor que confia nas informações transmitidas.

Para outros profissionais, o jornalismo investigativo é classificado como uma modalidade à parte dentro da profissão. Apesar da inegável complexidade da área, existem alguns recursos básicos que, se consultados pelos jornalistas, poderiam se tornar grandes meios de pesquisa. É o caso do Portal da Transparência, site que reúne informações sobre o uso do dinheiro público pelo Governo Federal, meio que possibilitou à jornalista Sônia Filgueiras denunciar os gastos irregulares, no início deste ano. Porém, cabe ao jornalista, além da procura, adquirir um olhar diferenciado, às vezes só desenvolvido através de trabalho, estudo e experiência. Esta rotina de pesquisa – para alguns complexa e aborrecedora – é simples e depende apenas da boa vontade dos jornalistas. A falta de acesso a determinadas informações, principalmente quando se trata do poder público, atua como uma espécie de freio para os repórteres. E, em virtude disso, explorar as informações disponíveis e exigir um maior acesso a elas – ou ao menos subsídios com mais propriedade – é uma iniciativa que deve partir dos próprios jornalistas, na condição de quem está realizando um trabalho de interesse público e relevância social.

A serviço da democracia

Silvio Waisbord, autor de Watchdog Journalism in South America: News, Accountability, and Democracy, afirma que qualquer democracia precisa do jornalismo investigativo para manter o poder responsável. Em contrapartida, cabe às autoridades dessa democracia agir de uma forma tal que os jornalistas tenham acesso ao que necessitam para realizarem seu trabalho na íntegra. Leis que garantam este acesso ou práticas que o facilitem podem ser, às vezes, fatos além da liberdade do profissional da comunicação. Waisbord aborda ainda a questão ética e legal destas decisões, ao alertar que ‘as implicações legais das ações dos repórteres são, de longe, mais bem definidas que as questões éticas. Caso a lei o aprove, é legal; caso contrário, não é. A ética, por outro lado, lida com a distinção entre o certo e o errado, utilizando princípios filosóficos para justificar uma via de ação específica. Qualquer decisão pode ser considerada ética, dependendo do sistema ético utilizado para justificá-la e dos valores priorizados. O que os jornalistas e editores necessitam determinar é quem se beneficiará com o resultado da reportagem’.

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) surgiu com a idéia de unir profissionais do âmbito para a troca de experiências e informações. Foi criada em 2002 por diversos jornalistas (principalmente do sudeste do Brasil) e inspirada na instituição Investigative Reporters & Editores (IRE), dos Estados Unidos. A Abraji possui um Estatuto Social próprio e é mantida pelos próprios membros, não tem fins lucrativos, mas é um bom exemplo da importância de uma organização que una jornalistas com um objetivo em comum: aprimorar seus trabalhos. Desde a sua fundação, a Abraji realiza encontros que abordam a importância da abertura de documentos públicos, além de discutir formas que a possibilitem. Por meio de palestras e reuniões, contando ainda com um eficiente sistema de comunicação interna, a Abraji mantém seus membros constantemente em alerta da urgência desta questão.

É preciso considerar que a dedicação inerente à qualquer investigação pressupõe ainda assumir os riscos que se pode correr. O jornalista, normalmente, irá lidar com pessoas que sabem muito bem usar as lacunas presentes nas leis. Por isso, se faz necessário que, com o tempo, ele também aprenda a usá-las a seu favor, isto é, como uma questão de sobrevivência. Independente da classe envolvida, seja de policiais, políticos ou traficantes, por exemplo, o jornalista pode sofrer as mais diversas conseqüências.

Caco Barcellos, um dos grandes nomes brasileiros da área, precisou passar um tempo fora do Brasil após a publicação do livro Rota 66, que expôs os grupos de extermínio existentes dentro da polícia de São Paulo, o que irritou profundamente algumas esferas, sobretudo a dos coronéis da polícia militar. Com Tim Lopes, o resultado foi muito mais grave. Conhecido principalmente pela reportagem ‘Feira das Drogas’ – que lhe garantiu o prêmio Esso –, em que mostrou o tráfico de entorpecentes nas ruas do morro do Alemão (RJ), ele foi brutalmente assassinado pelos criminosos prejudicados pelas suas matérias. Estes e outros exemplos polêmicos fazem com que o Jornalismo Investigativo seja tido, na maioria das vezes, como perigoso e arriscado. A reunião da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), em março de 2007, inclusive, concluiu que os profissionais mais jovens preferem outras áreas de atuação dentro do jornalismo.

‘A melhor notícia nem sempre é a que se dá primeiro, mas muitas vezes a que se dá melhor’, disse Gabriel García Márquez. A qualidade do jornalismo investigativo está na segurança das fontes, na curiosidade do repórter e na sua desconfiança. O caso da Escola Base é o maior exemplo nacional da falta de profissionalismo por parte dos envolvidos, sobretudo dos jornalistas, que são os responsáveis pela divulgação de um fato. Nas palavras de Cláudio Abramo, ‘o jornalista deve procurar a verdade que está camuflada atrás da verdade aparente’. Dessa maneira, vestir a fantasia de Sherlock Holmes é muito mais que a simples transmissão de um acontecimento, mas sim a busca das realidades ocultas. Elementar, meu caro jornalista.

É comum associar jornalismo investigativo a um trabalho individual. O trabalho em equipe, contudo, pode conferir à atividade mais eficiência e mais segurança ao jornalista. Uma investigação não é uma tarefa fácil e existem diversas questões legais envolvidas que devem ser respeitadas e analisadas dentro de um contexto ético. O jornalista precisa conhecer quais são as possíveis maneiras de acesso às fontes e as implicações disto – o que muitas vezes requer conhecimentos além dos seus, ou seja, a colaboração de outros profissionais. É correto um jornalista passar por outra pessoa para obter informações? Considerando-se o fato de que as pautas desse tipo de jornalismo abordam acontecimentos em grau de importância maior, é comum que alguns legitimem a idéia de um jornalista mentir – ou omitir – sua real identidade para obter informações que como repórter ele talvez não teria acesso. Todavia, o jornalista investigativo deve sempre analisar o material que possui e priorizar se é mais importante proteger a privacidade dos personagens do acontecimento ou escolher o interesse público da notícia.

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Notícias e informações de interesse público têm pouco espaço na televisão espanhola

Gabriela Azevedo Forlin (da Espanha)

Sentar no sofá, ligar a televisão e passar a tarde toda (ou noite) de olho na telinha não é tarefa fácil para quem vive na Espanha. O país conta com seis canais abertos de televisão (La 1, La 2, Antena 3, Cuatro, Tele5 e La Sexta); e apesar da aparentemente grande lista de opções, as possibilidades de encontrar um bom programa são escassas. Diz-se ‘grande lista’ pelo fato de a Espanha ter uma população de aproximadamente 45 milhões de pessoas para esses seis canais (que na verdade são 11, como será explicado logo abaixo). Levando em conta que no Brasil temos o mesmo número de emissoras para satisfazer 180 milhões de pessoas, pode-se dizer que, em teoria, é mais fácil agradar aos espanhóis. Esta afirmativa não parte de uma questão de gosto pessoal ou de uma crítica para ser ‘do contra’ à televisão estrangeira. A qualidade da programação da TV espanhola é tema de discussão em muitas cadeiras do curso de Jornalismo das universidades da Espanha, como Análise do Discurso Jornalístico, Introdução a Realização Audiovisual, Análise do Discurso Audiovisual, entre outras.

O que ainda agrava a situação é o fato de que, além dos seis canais nacionais, cada região tem seus canais locais que tampouco trazem uma boa oferta de programas. Em Sevilha, por exemplo, a TV aberta ainda conta com o Canal 2, Popular TV, Net TV, Veo TV, Sevilla TV, CRN Giralda e Canal Sur. Parece muito? Pois bem, aqui a teoria ‘quantidade não é sinônimo de qualidade’ é muito bem aplicada. Todos os canais contam com a presença massiva de ‘telenovelas’ (que decepciona quem conhece as produções da Rede Globo), reality shows (a cada mês começa um novo. Em cinco meses já presenciei ‘Gran Hermano’, ‘Fama ¡a bailar!’, ‘El conquistador del fin del mundo’, ‘Esta casa era una ruína’ e ‘Operación Triunfo’. No momento, três desses estão no ar e dois novos estão sendo anunciados), programas de auditório no estilo Sílvio Santos (com a diferença que passam todos os dias), programas com uma hora de duração em que as pessoas têm 30 segundos para mostrar o que sabem fazer (que passam, no mínimo, 3 vezes por semana), programas de videntes (que estão no ar 24h por dia; o telespectador liga, pede para tirarem as cartas e tem seu futuro adivinhado em frente a toda a nação). Enfim, passar de um canal ao outro não muda muito, além do símbolo distinto no canto inferior da tela.

Quem ainda tem um pouco de sorte são as crianças, que têm uma boa variedade de desenhos animados para escolher pela manhã. Programas culturais? Nem pensar! Na matéria de Jornalismo Cultural eu e outros colegas acadêmicos do curso de Jornalismo tivemos a oportunidade de analisar a presença da ‘real’ cultura nos programas de televisão. Através de uma profunda análise diária (cada um responsável por um número x de emissoras) tentamos encontrar programas que oferecessem mais que entretenimento; buscamos obter um pouco de conhecimento através da televisão. Resultado? Acho que já é de se imaginar… Para a televisão espanhola cultura é sinônimo de programas de ‘moda’ (discutir os vestidos usados no Oscar, em shows, os mais bem vestidos em grandes acontecimentos nacionais, em casamentos…), de programas de ‘esporte’ (entrevistar jogadores de futebol, perguntar como vão seus casamentos, quanto custou o anel que deram à mulher, quanto gastaram nas últimas férias…), de programas de viagem (onde estão as melhores baladas do mundo, onde tem gente mais bonita, as praias onde se faz mais topless…), entre outras coisas do gênero. Aí entra a questão: moda não é cultura? Com certeza! O problema é que aqui não se discutem tecidos, tendências, texturas. Nem mesmo no programa de debate sobre o Oscar se falou do estilo de figurino usado nos filmes. Debateu-se quem tinha o maior decote, a maior fenda, quem tinha posto enchimento no vestido, quem pagou mais caro, quem estava vestido igual ou quem foi ao mesmo costureiro.

Como sempre pensei a Europa como berço da cultura erudita, esperava ao menos alguns documentários no estilo Discovery Channel ou National Geographic na TV aberta (ainda que dublado em espanhol, como temos no Brasil as versões em português de alguns programas desse tipo). Não que documentários sejam sinônimos de cultura, mas são reais exemplos de programas culturais. Nem nos finais de semana as emissoras abrem uma brecha e dividem o tempo entre entretenimento e informação de interesse público, ainda que o primeiro possa ter o interesse ‘do’ público. Bem, como nem só de cultura erudita vive o homem, eu imaginava que a Europa havia sofrido influências da cultura pop, mas não pensei que estivesse tão contaminada como tenho constatado. O problema é que nos casos acima descritos não estamos nem falando de cultura pop. Esta seria, então, debater sobre os filmes, a produção, os figurinos, não sobre as plásticas e os decotes das atrizes. O que ainda impressiona é que esses programas são feitos com jornalistas, não com apresentadores de programas de entretenimento como temos no Brasil (a exemplo de Adriane Galisteu e Luciana Gimenez que fazem os mesmos tipos de ‘debates’ em seus respectivos programas).

Mudando de canal, vamos aos telejornais, noticiários e informativos, o foco do Jornalismo. Bem, informativos não faltam. Pulando de emissora em emissora, a qualquer hora do dia ou da noite, alguma delas estará exibindo um telejornal ou um rápido boletim. Em matéria de tecnologia e produção, a Espanha demonstra que é a quinta economia mais forte da Europa e a oitava nação industrial no mundo. Cenários arrojados, estúdios bem equipados, utilização de inúmeros recursos tecnológicos e ótimos profissionais. Quem acompanha esse tipo de programa pode ver que a grande maioria são apresentados/gravados em platôs virtuais, fazendo bastante uso da Croma Key e dos backgrounds com um estilo mais cibernético. Além disso, as transmissões ao vivo de repórteres e enviados especiais a outros países são sempre de ótima qualidade. As transições de imagem, os efeitos, a luz e o áudio são impecáveis; além da tecnologia, nota-se que a Espanha conta com ótimos produtores. O que peca é a parte estética dos apresentadores (principalmente figurino e maquiagem). Considerando que a imagem é a característica chave que diferencia a televisão de outros meios, é indispensável que âncoras tenham uma boa apresentação. O problema é que isso não significa excessiva maquiagem (blush e batom vermelho) nem penteados de baile ou casamento. Desse jeito, a atenção do telejornal passa da notícia para o apresentador.

Em relação ao conteúdo informativo, em época de eleições não precisa ser muito esperto para adivinhar qual é a manchete de todos os dias em todos os telejornais: a competição entre o atual Presidente da Espanha Mariano Zapatero (PSOE) e do líder do Partido Popular (PP), Mariano Rajoy. Como já alertaram os professores das matérias de Análise do Discurso Jornalístico e de Configuração Tecnológica dos Processos Jornalísticos, até 9 de março (dia das eleições) e também algumas semanas depois, as manchetes de todos os informativos vão ser relacionadas a este tema. Neste quesito, a cobertura televisiva espanhola ganha pontos. O acompanhamento é feio dia-a-dia, passo a passo. Além disso, há também os típicos debates eleitorai, muito bem produzidos na Espanha (apesar de os profissionais críticos em televisão reclamarem que o estilo foi copiado dos franceses – o que aqui não significa uma coisa boa). Os noticiários ainda apresentam reportagens sobre os feitos de cada um, trajetória política, perspectivas de cada governo, tudo muito bem equilibrado. O público tem informação clara e importante para formar opinião na hora do voto. O único problema é o fato de a televisão focar exclusivamente estes dois candidatos. Quem não conhece a política espanhola ou acaba de chegar à Espanha, pode jurar que só existem estes dois partidos concorrendo ao cargo.

Desde que o Kosovo resolveu proclamar independência, virou assunto de todos os dias nos telejornais. Se não manchete, há alguma notícia ou debate sobre o assunto. Já que o país não é realmente independente economicamente, quem vai ter que bancá-lo é a União Européia (e isso rende muita matéria por aqui… Relembrando, a Espanha é a quinta economia da Europa). Além disso, depois da independência do Kosovo os ataques do ETA (grupo terrorista que pratica a luta armada como meio de alcançar a independência da região do País Basco) pioraram. O acontecido abriu um precedente que pode encorajar aos bascos a revoltarem-se mais do que já estão e justificarem seus atos com a desculpa de que ‘só querem independência’. Todo dia há alguma bomba que matou alguém, que feriu dezenas, que destruiu algum prédio, enfim, sempre há alguma reportagem que faça o povo espanhol lembrar que estão em meio ao terror.

As demais notícias seguem sempre os valores-notícia já tão conhecidos por jornalistas, acadêmicos de Jornalismo e pesquisadores da área. Na Espanha a violência, em especial, tem lugar diário. Violência nos metrôs, nas manifestações, violência contra imigrantes, maridos/namorados que matam suas esposas/namoradas (aqui na Espanha, a cada cinco dias morre uma mulher vítima de violência doméstica, e o número se acentua a cada ano), toda essa categoria de notícia vem à tona, todos os dias, nos canais de televisão.

O que se pode dizer é que a programação da televisão espanhola deixa muito a desejar quanto ao quesito informação ‘relevante’. Não são rápidos boletins e três telejornais diários (com duração máxima de 40 minutos) que podem qualificar uma emissora como boa. O problema não é a falta de programas, mas sim o assunto que cada um enfoca. Basear praticamente uma programação inteira em entretenimento não é a melhor saída. O público gosta, mas com limite. Aqui esse limite já chegou e os espectadores não dispõem de opções ao buscar um outro tipo de programa. Isso também já se converteu em problema para as emissoras que, com cada vez menos audiência – e perdendo o posto para a Internet -, não sabem mais para o que apelar. Com exceção do conteúdo informativo dos telejornais, o restante da programação aberta está longe de ser qualificada como relevante, interativa e que proporciona um real crescimento intelectual ao espectador. Quem acha que países desenvolvidos podem superar os emergentes em qualquer aspecto, sugiro morar um tempo na Espanha e tentar permanecer em frente a uma TV durante dias de chuva.

[Gabriela é aluna do curso de Jornalismo da Univali e pesquisadora do Monitor de Mídia. Desde setembro de 2007 está fazendo intercâmbio na Espanha na Universidade de Sevilha onde cursará um ano de Jornalismo naquele país. O texto aqui apresentado é um relato de suas impressões como acadêmica sobre o modelo de televisão praticado na Espanha a partir das discussões de que tem participado nas disciplinas que cursa e com seus colegas de Jornalismo.]

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Chuva é sinônimo de transtorno em Santa Catarina

Joel Minusculi, Roberta Watzko e Stephani Luana Loppnow

O sul do Brasil é conhecido por suas estações bem definidas, com verões quentes e chuvosos. A intensidade das precipitações, aliada à falta de estrutura para vazão pluvial, podem criar muitas dificuldades para a população. As cheias são uma triste realidade em muitas cidades de Santa Catarina. Tanto que o estado ganhou proeminência nacional com as grandes enchentes de 1983 e 1984. Naquela época, dos 199 municípios, 136 foram declarados em Estado de Calamidade Pública.

Em 11 dezembro de 2007, as chuvas causaram problemas aos catarinenses. A cidade de Balneário Camboriú foi uma das mais afetadas, com destaque nacional. Novamente, em 31 de janeiro de 2008, as chuvas voltaram a causar transtornos. Dessa vez, no Litoral Norte de Santa Catarina, os municípios de Navegantes, Itajaí, Balneário Camboriú e Camboriú foram os mais atingidos pelo grande volume de chuva. Uma questão cada vez mais freqüente que não se deve a um único fator.

No relatório do Sistema Nacional de Defesa Civil (Sindec) referente à cidade de Camboriú, consta que a enxurrada do dia 31 de janeiro de 2008 foi provocada pelo ‘alto índice pluviométrico em pequeno espaço de tempo, com muita intensidade, atingindo o índice de 145 mm de chuva, muito acima da média para o período’. Segundo o secretário de Obras do município, José Pedro Costa, serão necessários cerca de R$ 6,5 milhões para a recuperação de estragos.

O relatório do Sindec ainda aponta que as obras de reparo visam à reconstrução de pontes, a pavimentação de vias urbanas e a reestruturação de estradas. A agricultura, que pesa bastante na economia de Camboriú, sofreu com a perda de toneladas de alimentos durante a enxurrada. Além disso, os serviços sociais, como distribuição de água e transporte público, ficaram comprometidos em fevereiro. As informações desse levantamento foram enviadas para os governos federal e estadual na busca de recursos que visam o auxílio na reconstrução dos pontos afetados.

Causas e conseqüências

O secretário de Obras de Balneário Camboriú, engenheiro Edson Kratz, explica que além da proximidade com o mar, há outros fatores que contribuem para os alagamentos, como a impermeabilidade do solo (causado pela camada de asfalto, calçadas e outras construções) e uma rede pluvial deficiente (canos com diâmetro insuficiente para a vazão necessária, de difícil acesso para troca).

O coordenador do Laboratório de Climatologia da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), Sergey Alex de Araújo, lembra que nos dias 30 e 31 de janeiro choveu o equivalente a 67,8% do total previsto para o mês. Ainda assim, o total de chuvas foi de 219 mm, enquanto que a média histórica é de 238 mm (veja infográfico abaixo). ‘O problema é que choveu muito em um curto espaço de tempo’, explica Araújo.

Ainda sobre o período de chuvas, Sergey Alex de Araújo explica que antes mesmo do fim de fevereiro deste ano, a média de chuvas foi ultrapassada – foram 240 mm, contra 183 mm esperados para o período. Ou seja, apesar da maior quantidade de chuvas, a distribuição uniforme e a pouca intensidade não causaram problemas como das vezes anteriores.

Outro fator que contribuiu para os alagamentos foi a alta da maré, 0,9 m acima do nível. Isso interferiu na vazão da água, além de contribuir para o aumento do nível dos rios da região – Canoas (1,5 m), Rio Pardo (1,8 m), Rio Camboriú (2 m), Rio Peroba (1,8 m) -, que transbordaram. Com a maré alta não tem como a chuva escoar, já que a água do mar impede a saída pluvial.

Para amenizar a situação, a Secretaria de Obras de Balneário Camboriú, junto com a Defesa Civil, atendem a população nas necessidades e auxílio de limpeza da cidade. Além disso, são realizadas obras de reconstrução dos pontos afetados. Camboriú também ampara os afetados, através da recuperação de bueiros, novas tubulações e reconstrução de ruas e calçadas. ‘Seriam necessárias calhas na beira dos rios, mas faltam recursos financeiros’, completa o titular da pasta de obras de Camboriú, José Pedro Costa.

Além dos transtornos materiais, o Departamento de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde de Balneário Camboriú alerta os moradores para os cuidados com a limpeza das residências afetadas. É recomendado o uso de luvas e sapatos de borracha para evitar possível contaminação com a bactéria transmissora da leptospirose. Quem teve contato direto com a água deve ficar atento, nos 15 dias seguintes, a sintomas como dores no corpo, nas pernas (panturrilhas), febre, mal estar geral e icterícia (amarelão). Nesses casos, a orientação é procurar imediatamente um posto de saúde próximo.

Veja uma recuperação das cheias no estado

Ouça o que a população das áreas afetadas tem a dizer sobre as enxurradas

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