Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Linha cruzada, telefone mudo

Na reunião de pauta, às 8h45 de uma quinta-feira (28/02), recebi a cópia da sentença de um juiz do Tribunal de Justiça do estado de São Paulo. Pela decisão, a Telefonica, prestadora de serviços de telefonia fixa no território paulista, ficava proibida de avisar assinantes, por telefone, de que estão com suas contas atrasadas. Motivo: outra pessoa poderia atender a ligação, o que constrangeria o titular da linha.

O descumprimento da decisão faria com que a empresa tivesse de pagar multa diária de R$ 100 mil, em caso de desobediência comprovada. Enfim, a notícia interessava a dezenas de milhões de assinantes. Como, aparentemente, só o jornal tinha o fato nas mãos, matéria sobre o assunto, claro, seria publicada na edição do dia seguinte.

Li a decisão judicial e, por volta das 9h20, liguei para a assessoria de imprensa (terceirizada) da Telefonica. Contei a história. Para não tomar tempo demais da assessora que me atendeu (e também porque todas pedem a mesma coisa; quase ninguém mais toma nota de nada), disse-lhe que lhe mandaria um e-mail com perguntas. Deixei com ela o número do processo. Adiantei que precisava de respostas até as 15h30.

A longa espera

Não levou uma hora para que a assessora desse retorno ao e-mail – pedindo mais tempo e, ainda, que segurasse a matéria para outro dia, pois talvez a direção da companhia não se pronunciasse.

Não, respondi. Estendi o prazo para as 16h30. E fui claro: a reportagem sairia mesmo sem que a Telefonica se manifestasse.

Ouvi outras fontes, redigi a matéria, apurei outros assuntos. Eram quatro da tarde quando a assessora me telefonou, afirmando que não havia conseguido encontrar o processo. Pediu que mandasse a sentença. Enviei um fax à assessoria.

Mais meia hora, a secretária dela me ligou de volta dizendo que o aparelho do escritório estava com defeito (chegou ‘tudo preto’) e me dando um número da Telefonica, em São Paulo. Não ligou mais. Tudo bem, talvez. Passava das cinco quando, por descargo de consciência, telefonei de novo para a assessoria e enviei outro e-mail (o da editoria na qual trabalho) para respostas.

No dia seguinte, a assessora viu, pela internet, que a matéria havia sido publicada – obviamente, sem a resposta da empresa. Como último favor, me solicitou que lhe remetesse a reportagem, pois, por não ser assinante do jornal, não podia ler o texto na íntegra. Eram umas 9h30 de sexta. Ela me prometeu resposta até o fim da manhã.

‘Virei exceção’

Pois não foi que às 14 horas o coordenador da assessoria de imprensa da Telefonica me procurou na Redação? Segue, mais ou menos, o diálogo:

– A gente viu que a matéria sobre a decisão da Justiça foi publicada, mas a assessoria me disse que vocês tinham combinado que você ia segurar a reportagem…

– Nada disso! – reagi, diante da desinformação ou da cara-de-pau do coordenador. Dei um prazo, ela me pediu mais tempo e escrevi que a matéria sairia mesmo que a Telefonica não se pronunciasse.

– Mas, nesses casos, é bom não pedir resposta muito em cima. A que horas você fez contato com a gente, ontem?

– Acho que eram umas nove horas. Falei que aguardaria até as 16h30. Só às quatro da tarde é que a assessora me disse que não tinha achado o processo. Mandei a sentença em dois números de fax porque o de vocês estava com defeito. Esperei até umas 17h30 e, antes disso, deixei outro endereço eletrônico para resposta.

– Bom… – conformou-se o coordenador, que já não tinha mais o que argumentar e sem nem sequer me pedir desculpas. Então, está bem. Fique sossegado: a Telefonica nunca deixa de dar uma resposta às demandas que recebe.

Hoje é segunda-feira, 9 de março. Vai ver, virei exceção…

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Repórter do jornal A Tribuna, Santos (SP)