De fevereiro a junho deste ano, a Folha de S. Paulo vem associando à edição de domingo a possibilidade de comprarmos vinte títulos da coleção ‘Grandes Escritores Brasileiros’. Não apenas os vinte grandes escritores de sempre, mas as grandes obras de sempre desses grandes escritores.
O primeiro livro, Dom Casmurro, de Machado de Assis. Estamos, afinal, no centenário de sua morte. A escolha do autor de sempre, com o romance de sempre, que comparece todos os anos em listas de leituras obrigatórias para vestibulares Brasil afora. Mais do que um clássico, uma obviedade.
Que venha Machado! É o maior dentre os maiores prosadores, mestre dos mestres. Mas não haveria talvez outros títulos? Entendo: é melhor o casmurro certo do que o alienista duvidoso. O público poderia rejeitar a louca idéia.
De Guimarães Rosa, Primeiras Estórias… de novo. Não será a primeira vez. E aproveitando tratar-se de outro centenário. Este, de nascimento. Guimarães Rosa tinha três meses de vida quando Machado faleceu… e Rosa faleceu quatro dias depois do seu ingresso oficial na Academia de Machado. Muito bem, que venha, e que venda Guimarães Rosa!
Boas intenções
Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, outro autor de lista de vestibulares. Obra-prima, ninguém duvida. Mas que falta fazem outros poemas de Cabral… Seria pedir demais a ousadia de se oferecer ao leitor domingueiro a educação pela pedra? No ano que vem lembraremos os 10 anos de falecimento do poeta recifense. Que venha Cabral, e descubramos um Brasil poético de primeiro mundo.
E os grandes de sempre se repetem: Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade (com o Sentimento do mundo, outro best-seller para os vestibulandos), Erico Verissimo, Rachel de Queiroz, Manuel Bandeira (faz 40 anos que faleceu), Lima Barreto, Graciliano Ramos, Mario de Andrade, Mário Quintana, Cecília Meireles (seu Romanceiro da Inconfidência, outro campeão de lista de vestibulares)…
O prestígio desses e de outros nomes incluídos na coleção é inegável. Não deixa de ser um ponto positivo aparecerem três autores vivos: Rubem Fonseca, Ariano Suassuna e Ferreira Gullar. Especialmente este último, grande poeta, com o seu grande Poema Sujo, ainda que, sintomaticamente, compareçam os três na metade final da fila.
Que venham os grandes escritores (em preços razoáveis), mais visíveis na banca do que na livraria. Acreditemos, enfim, que a iniciativa da Folha nasceu da intenção de incentivar a leitura.
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Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br