Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O jornal mais importante é o da comunidade

As pessoas acostumadas a ler jornais diários, e mesmo aquelas que os folheiam ocasionalmente, podem falar sobre a impressão de que, naquelas páginas, faltam muitos assuntos de interesse real da população.

É que a maioria desses jornais, inclusive os chamados ‘populares’, está muito voltada para os temas nacionais e internacionais, o noticiário sobre as celebridades da TV, a cobertura do esporte e da violência. Reportagens, notas e comentários dessas áreas aparecem com poucas variações nesses jornais. Grande parte desse material é fornecida pelas agências de notícias, e o restante produzido pelos repórteres das publicações específicas com base nas mesmas pautas ou roteiros, como se fosse tudo combinado entre os editores.

Para o caso do grande volume de matérias enviadas por agências, sabe-se que esse recurso diminui o custo de produção do jornal. Já as matérias locais parecidas ou iguais são produzidas com inspiração no noticiário de rádio, da TV e da internet. Os repórteres, muitas vezes, apenas dão continuidade aos temas levantados por esses meios, que oferecem (há quem escreva ‘disponibilizam’) a informação praticamente em cima do acontecimento.

Além disso, os jornais têm que trabalhar depressa para fechar as edições num horário que possibilite a sua presença nas bancas mais distantes do estado ou do país antes de o Sol nascer. Portanto, fica muito difícil seguir o conselho de Ricardo Noblat no livro de sua autoria, A arte de se fazer um jornal diário (Editora Contexto). Os jornais devem se esforçar para explicar os fatos em vez de continuar insistindo apenas em contar o que aconteceu no dia anterior (até o início da noite, pois o deadline está cada vez mais apertado), porque as pessoas já sabem quase tudo ou os fatos mais importantes, que foram transmitidos por outros meios.

O tempo que se gasta para escolher os temas, buscar a informação, redigir os textos e editar um jornal diário não é o único problema. Sabe-se que as redações não contam, atualmente, com um número de jornalistas experientes que possa garantir a rápida produção de matérias analíticas sequer sobre os principais temas do dia. No caso de reportagens investigativas ou exclusivas há o problema do custo, até porque devem ser feitas por repórteres especiais, que ficam por conta desse trabalho durante dias, às vezes semanas ou meses.

Alerta aos aventureiros

Por causa desses empecilhos, os jornais diários, em geral, parecem não dar importância à proposta de oferecer edições que expliquem os fatos. Alguns se limitam a comentar a notícia em poucas linhas. Leitores mais exigentes, que paralelamente assistem à TV, ouvem rádio ou usam a internet, percebem isso e já procuram publicações que atendam mais a seus interesses. Estão prestando também mais atenção nos jornais de suas comunidades, porque ali encontram a informação que os grandes jornais ignoram ao insistirem na mesmice das coberturas.

As pessoas que não têm acesso aos jornalões, por causa do dinheiro que teriam de desembolsar ou por outros motivos, constituem a grande massa potencial de leitura dos jornais comunitários, que podem ser vendidos a preço mais em conta ou até distribuídos gratuitamente, dependendo de patrocínios e parcerias.

Tais publicações, quando são bem feitas, falam a linguagem dos leitores e atendem diretamente a seus interesses. Uma coisa puxa a outra e, da mesma forma, as empresas instaladas no universo em que circulam esses jornais também acabam se convencendo de que essas publicações merecem patrocínio e parceria.

Mas não se enganem os aventureiros, pois os empresários escolhem com rigor o espaço para anunciar seus negócios. A possibilidade de contar com esse apoio, de fundamental importância para um jornal, é mais uma razão para se fazer jornalismo de qualidade, capaz de informar, entreter e contribuir para a formação dos leitores.

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Jornalista