Meu problema com computadores é que não nos damos. Temos relação apenas cerimoniosa, de chapéu. A pérfida máquina já me pregou inúmeras peças, a mais recente em meu livro Sabor de Mar (128 pp., Editora Revan, Rio de Janeiro, 2005).
Tudo porque tenho medo. Medo não, pavor de tétricas conseqüências que já me assaltaram, sobretudo por escrever em computadores estrangeiros, que não falam o português. Ainda agora pelejei para colocar um modesto trema no ‘u’ da palavra… bem, deixem pra lá. E as vezes em que um toque descuidado fez desaparecer para todo o sempre um texto laboriosamente redigido? Dizem que nada se perde no espaço cibernético, que o que entra em um computador tem que estar forçosamente em algum lugar. Tolice ou assombração, pois, ao menos no meu caso, se as palavras redigidas foram para algum lugar, certamente é em outro mundo.
Eis pois, que, por injunções malévolas, quatro vezes o nome da heroína de Sabor de Mar, Maria Eduarda, saiu como Ana Maria. Ela era Ana Maria no início, é verdade, troquei-a por Maria Eduarda para homenagear uma antiga colega na Bloch Editores, Maria Eduarda Alves de Souza, recentemente falecida. Troquei-a – mas, o computador, nem sempre.
Meu romance aborda o atraso cultural do interior brasileiro nos anos 50, a repressão sexual em todo o país, algumas canções que marcaram época, como Sapore di Sale, de Gino Paoli, a política nacional na época da ditadura militar, um assassinato em Londres, a doença de Alzheimer, o direito ou não de dispormos de nossas vidas e a Maratona do Rio de 1980, que teve como vencedor o americano Greg Meyer.
É verdade que aquela maratona não foi a primeira a ser disputada na cidade. No ano anterior tinha acontecido outra, que eu mesmo corri, mas, para todos os efeitos, para os personagens que interessam – e muitos deles são da vida real e estão por aí até hoje – aquela foi a que os marcou.
O episódio central do livro porém tem a ver com natação, não com atletismo – e, para celebrá-lo, vai ser realizado no dia 25 de junho, sábado de manhã, um evento que, creio, nunca houve antes no Rio de Janeiro. O autor da obra, no momento a se debruçar sobre estas mal batucadas linhas, vai sair a nado do Castelinho, em Ipanema, e tentar chegar ao Marimbás, no Posto Seis, bracejando ao largo do Arpoador, Praia do Diabo e Forte de Copacabana, acompanhado por alguns amigos.
Para entender mais, só lendo Sabor de Mar. O louco intento será bem-sucedido? Quem nadar, verá.
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Jornalista