A grande festa do jornalismo espanhol transcorreu na noite de quarta-feira (7/5). Ontem, El País, um dos melhores jornais do mundo, deu uma bonita chamada na sua capa e dedicou sete páginas à entrega do 25º Prêmio Ortega y Gasset dedicado como sempre à valorização da imprensa livre, valente e comprometida. O grande destaque da noite foi a cadeira vazia da blogueira cubana e filóloga Yoani Sanchez, que não foi autorizada a deixar seu país para receber o galardão referente ao jornalismo digital.
O blog de Yoani Sánchez, Geração Y, é um dos maiores fenômenos da internet. Está no ar apenas desde março do ano passado e há poucos dias a sua autora foi incluída pela revista Time entre as 100 personalidades mais influentes do mundo. Na entrevista que concedeu a El País Yoani Sánchez diz que está surpresa com a repercussão mundial das suas ‘vinhetas desencantadas’ sobre a realidade cubana. ‘O fato de que repararam numa pessoa tão simples com eu me surpreende gratamente. Estamos acostumados em ver sempre os famosos recolhendo os louros.’
Como é do seu feitio, Yoani não fez um comício, apenas remarcou a sua passagem para Junho. E declarou a El País: ‘As mudanças chegarão a Cuba. Mas não através do script do governo’.
No Brasil, nenhuma linha
A grande imprensa brasileira passou ao largo do evento. Nenhuma linha a respeito. Os porteiros das redações estão ocupados com questões mais relevantes e sensacionais. As idéias da quieta e determinada filóloga de Havana aqui não encontram eco. O problema não é dela, é nosso. ‘Há em Cuba uma vontade de fazer crer que o país vive um novo momento. Mas à minha vida ainda não chegaram as evidencias deste novo momento. Creio que há uma nova atitude da parte dos cidadãos, uma atitude mais crítica… A intolerância política, no entanto, cedeu pouco.’
‘As transformações deverão ser lentas, isto está claro, mas duvido que elas venham do sistema. Não se pode transformar e melhorar o que está enfermo na sua essência. Este sistema provou sua incapacidade de prover seus cidadãos de bem-estar material. Um dos grandes argumentos que se utiliza para defender a revolução cubana é que conseguimos fazer um socialismo sui generis. Então porque não podemos fazer um capitalismo sui generis? Este país necessita de uma injeção de criatividade e liberdade para produzir…’
José Ortega y Gasset (1883-1955) é um dos grandes pensadores da primeira metade do século 20. Cercado de jornalismo por todos os lados. A família da sua mãe era proprietária de um grande jornal, El Imparcial, onde trabalhava o seu pai, jornalista profissional. Um de seus descendentes ajudou a fundar El País. Defendeu os republicanos espanhóis contra todas as ações do fascismo franquista. Em 1936 quando começou a Guerra Civil exilou-se na Argentina onde durante 10 anos manteve o mais absoluto silêncio.
É de Ortega y Gasset o conceito ‘eu sou eu, mais as minhas circunstâncias’ (Meditaciones del Quijote). O jornalismo é apenas a busca dessas circunstâncias.