Paulo José Cunha tem razão quando diz que os jornais brasileiros sofrem de um mal comum à grande imprensa: a mesmice. ‘Ler um jornal no Brasil é ler todos porque todos os (grandes) jornais brasileiros publicam rigorosa e sistematicamente as mesmas notícias, com diferenças superficiais de tratamento, um ou outro box com alguma explicação adicional, um infográfico mais esclarecedor ou uma foto mais bem apanhada.’ O caso da menina Isabella Nardoni é um exemplo. Tanto nos jornais impressos, quanto nos meios eletrônicos – rádio, televisão e internet –, as notícias são as mesmas.
Quais as causas responsáveis pela uniformidade dos assuntos tratados pela imprensa nacional? Impossível apontar uma sem embasamento científico. Podem-se, entretanto, apontar algumas razões que levam a tal pasmaceira através de simples verificação do dia-a-dia. Por exemplo, a acomodação dos profissionais da área diante da praticidade das notícias que lhes são oferecidas através das agências de notícias. De posse desses ‘pacotes’ prontos, os repórteres não saem das redações e deixam de ir às ruas, onde estão as notícias. Outro motivo é que as grandes reportagens investigativas estão cedendo espaço para a espetacularização da notícia, o que parece ser a tendência do momento. As conseqüências são os produtos de má qualidade, pasteurizados, iguais.
Mais tempo, recursos, perseverança
Mas não é só. Grande parte dos profissionais da área não estão preparados, razão por que não produzem conteúdos de melhor qualidade – nem para os jornais, nem para os outros meios. Um jornalista bem informado sabe dispor do tempo e distinguir fatos de notícias, principalmente se esta é inédita e interessa ao leitor. Até porque, para o leitor, o que interessa são matérias exclusivas, diferentes das notícias veiculadas nos outros meios de comunicação, a fim de que ele possa refletir e tirar suas próprias conclusões do mundo à sua volta.
Muitos profissionais de imprensa acreditam que todo jornalismo é investigativo. Alguns partem do princípio simplista segundo o qual todas as histórias carecem de investigação para serem recuperadas. Não é bem assim. Há diferença, embora sutil, entre jornalismo investigativo e outros gêneros jornalísticos, como informa o repórter investigativo da Folha, Frederico Vasconcelos. Para ele, a principal dessemelhança entre um tipo de reportagem e outro é que a reportagem investigativa exige mais tempo, recursos, perseverança, coragem, documentos, viagens, depoimentos, gravações e comparações de dados, além de outras exigências.
Qualidade e credibilidade
Cabe, ao profissional, ainda segundo ele, que se disponha a levar adiante uma tarefa desse tipo, que tome todas as precauções que o caso exigir, sobretudo se nele estiver envolvido algum figurão da República ou da esfera empresarial. Na avaliação de Frederico Vasconcelos, palavras podem construir personalidades, mas podem destruir reputações. Por isso, em sua opinião, apesar de o Brasil ser o paraíso da improbidade administrativa, da corrupção, dos desvios envolvendo recursos públicos, do nepotismo, do superfaturamento, das fraudes eleitorais, dos mensalões, da impunidade e de tantas outras mazelas, ainda assim o jornalista precisa ter muita cautela ao revelar algum esquema imoral. O jornalista investigativo, continua ele, precisa de pelos menos três habilidades específicas: curiosidade, conhecimento e técnica.
As reportagens investigativas podem levar o repórter a praticar um tipo de jornalismo mais isento, mais próximo da realidade dos fatos. Mas isso implica em custos e não é o que o empresário de mídia quer. Muitas empresas jornalísticas, alegando dificuldades financeiras, demitem profissionais veteranos, experientes, consagrados e, em seu lugar, contratam estudantes de jornalismo, ou jornalistas recém-formados e inexperientes, com baixos salários, comprometendo a qualidade e a credibilidade dos seus produtos. Com isso, o leitor é prejudicado. Justamente ele, para quem o jornalismo de qualidade deve estar voltado.
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Jornalista, Salvador, BA