Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Para aprofundar a
informação jornalística

Referência internacional na formação de jornalistas, a escola de Jornalismo da Universidade de Colúmbia, em Nova York, abriu inscrições para um novo modelo de curso de pós-graduação na área: o Master of Arts in Journalism.

A escola, fundada a partir de uma doação de Joseph Pulitzer, já oferece há 70 anos o curso de mestrado em Jornalismo, o Master of Science, e também o nível PhD. Como o tradicional mestrado em jornalismo, o novo curso tem a duração de um ano e prevê a elaboração de uma dissertação ao final de seus 30 créditos mínimos.

No sistema de pós-graduação americano, em geral a distinção entre os dois tipos de mestrado – Master of Arts e Master of Science – é que o primeiro teria uma característica de conhecimento mais aplicado ou profissionalizante, enquanto o outro seria voltado à formação de pesquisadores e acadêmicos sobre determinado tema. Essa diferenciação, contudo, não é válida para os cursos de Jornalismo oferecidos pela Universidade de Colúmbia, cuja formação nos dois casos tem caráter eminentemente profissional.

A novidade do curso que será oferecido pela universidade americana a partir de maio está diretamente ligada ao que poderíamos avaliar como uma crise do jornalismo atual, tanto aqui quanto no país governado por George Bush. Salvo raras e honrosas exceções, o que ocorre é que os meios de informação têm sido incapazes de oferecer informação aprofundada de forma a efetivamente garantir o conhecimento dos receptores de suas mensagens – e estimular seu espírito crítico.

Lembrança importante

Se a formação no mestrado da Universidade de Colúmbia é voltada para as técnicas ou habilidades jornalísticas, entre elas as de apuração, redação e edição para diferentes veículos, a proposta do Master of Arts é garantir o aprofundamento do conteúdo, isto é, do nível de informação dos repórteres e editores. Para isso o estudante deve optar pela especialização em uma das quatro áreas oferecidas: Artes e Cultura; Negócios e Economia; Política; Ciência e Medicina.

Esse desafio ao aprofundamento dos jornalistas teria sido lançado por Pulitzer em 1904 num manifesto dirigido à escola de jornalismo da Columbia, segundo o texto de apresentação do curso disponível na página da universidade.

A expectativa é de que haja uma melhoria na qualidade do Jornalismo a partir da aproximação dos profissionais com as temáticas que cobrem, o que tornaria possível maior compreensão dos aspectos e contextos a serem apurados e o conseqüente aprofundamento das informações oferecidas.

‘Em um mundo crescentemente complexo, jornalistas que dominam assuntos que cobrem – e assim podem comunicar efetivamente à população – são um elemento fundamental para o público, cruciais ao melhor funcionamento de uma sociedade democrática’, salienta o texto de apresentação do curso disponível na página da escola de Jornalismo da Columbia.

O Master of Arts in Journalism é voltado para jornalistas com competência profissional e técnica já bastante desenvolvida. Os candidatos devem ser egressos do mestrado tradicional ou profissionais experientes. O curso, que tem um custo total de 31.560 dólares, começa com a oferta de 25 vagas, número que seria ampliado nas próximas turmas.

As características do curso, e de sua proposta, suscitam reflexões interessantes também sobre os limites do jornalismo praticado atualmente no Brasil – em garantir a comunicação efetiva de assuntos de interesse público para telespectadores, ouvintes, internautas e leitores. Afinal, apesar da crítica ao tratamento superficial da informação ser tradicionalmente dirigida aos telejornais, hoje os problemas de aprofundamento parecem atingir todas os meios – que, em geral, mostram-se incapazes de responder às questões necessárias ao efetivo conhecimento da realidade pelos cidadãos.

Para além da constatação da carência de aprofundamento nas notícias e reportagens oferecidas aos brasileiros, é interessante relacionar a proposta do novo curso oferecido pela Universidade de Colúmbia à formação de jornalistas em nossas faculdades. Aqui, a crítica mais recorrente é de que os cursos superiores em Jornalismo seriam incapazes de formar profissionais com domínio das técnicas de produção de informação em diferentes meios. Também é freqüente a defesa de uma formação mais técnica e menos ‘teórica’, como costumam ser classificadas as disciplinas de conteúdos menos ‘aplicados’.

O certo é que, constatada a crise no jornalismo praticado tanto aqui quanto nos Estados Unidos, a busca por aprofundamento dos profissionais nas temáticas relacionadas ao seu campo de atuação pode ser um importante lembrete de que, mais do que meros técnicos de coleta de dados e redação de informação, os jornalistas são produtores de conhecimento social, como há muito concluiu Adelmo Genro Filho.

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Jornalista, mestre em Comunicação e Cultura (UnB) e doutora em Comunicação Social (Umesp) com estágio doutoral na Universidade de Colúmbia; professora do Departamento de Jornalismo da FACOM-UFJF