No mês de abril chegou às bancas mais uma revista Caros Amigos, projeto alternativo de um meio de comunicação que conta com muitos jornalistas experientes e excelentes. A edição de abril foi a mais rica em conteúdo que eu pude presenciar desde o início da minha assiduidade como leitor da revista.
A revista trás, como dizia seu ex-editor Sérgio de Sousa, que faleceu no início de tal mês: ‘um modelo editorial simples. Artigos, colunas, seções, reportagens, entrevistas, charges, desenhos e um ensaio fotográfico’. Caros Amigos não atinge tanto a população, pois não tem nenhum grande parceiro ou patrocinador, seu público é o maior financiador da revista. A tiragem da revista é pequena, mas tem o objetivo de ‘mexer com a cabeça do brasileiro, para mim, o objetivo maior do jornalismo’ (Sérgio de Sousa, o Serjão).
Neste mês a revista, como não é de costume, esgotou nas bancas natalenses. Este fato se deu, por vir estampado na capa nada mais nada menos que José Agripino Maia. O perfil do senador, junto com sua história política rendeu muito por aqui. Alguns levantam a hipótese de que o grupo do senador tenha comprado todos os exemplares, fato que justifica o difícil acesso à revista, diferentemente das outras edições da Caros Amigos. Essa reportagem fez Agripino declarar a um blog da cidade (Thaísa Galvão) que a matéria ‘foi encomendada, e é coisa dos aloprados’. Referência ao governo Lula, que segundo Agripino encomendou a reportagem para desmoralizá-lo perante a sociedade. Creio que a matéria não tenha sido encomendada, pois acredito na idoneidade dos profissionais da revista. Mas creio que a reportagem, produzida por um norte-rio-grandense, Léo Arcoverde – fato que me deixa orgulhoso –, desmistifica um dos políticos em maior ascensão atualmente no país. Agripino está praticamente todas as noites em jornais televisivos, dando suas opiniões e contestando o governo federal.
As informações contidas na reportagem não são falsas, fatos que interessam uns e incomodam outros. A jornalista Thaísa Galvão disse que o problema reside no modo como foram expostos os fatos. Discordo. Não vejo nenhum problema em divulgar fatos verídicos, não vejo o modo interferindo nos fatos, como na Veja, IstoÉ, Época e outros meios Brasil a fora.
Fatos incômodos
O que escandalizou os norte-rio-grandenses, pelo menos para mim, é que nunca a imprensa do nosso estado, Rio Grande do Norte, relatou tais fatos. Por medo, omissão e não sei mais o que. Existem algumas publicações que retratam fraudes de campanhas eleitorais do senador Agripino, como o livro: Rabo-de-Palha: o Jabá do Jajá, do jornalista e escritor Orlando Rangel Rodrigues, mas tais publicações são ofuscadas pela impressa local que não dão ênfase a esse e a outros trabalhos.
Que Agripino construiu uma oligarquia não há dúvida. Que ele comanda a política estadual, ninguém duvida. Manda e desmanda mais que o presidente do senado Garibaldi Alves. Tem meio de comunicação, como a TV Tropical (filiada da TV Record), fora as rádios que ninguém sabe quantas realmente são.
Entre fatos e acusações está no tópico: Lourismo: uma questão de bom gosto racial. Baseado no livro que narra o escândalo do Rabo-de-Palha, o repórter Léo Arcoverde, narra o fato de racismo por parte do senador e de seus amigos mais íntimos, que não aceitam Lula na presidência não por ser de outro partido, e sim, por que é torneiro mecânico e ‘analfabeto’. Num trecho da revista é reproduzida a fala de José Bezerra de Araújo, suplente de Agripino, em entrevista ao jornal Tribuna do Norte: ‘eu acho que o Lula é um populista analfabeto. Discrimino mesmo: é analfabeto!’ Segundo a reportagem, o grupo de Agripino também é contra negro, pobre, contra analfabeto. Orlando Rangel Rodrigues afirma: ‘Acham que não tem direito a nada (o pobre). E são contra o Barack Obama. Tem algum motivo dessa casta, dessa elite ser contra o Barack Obama a não ser pelo fato de ele ser negro. Hein?’.
O fato é que a matéria mexeu demais com a cidade. Alguns, poucos, meios de comunicação de Natal publicaram trechos da reportagem. Outros só deram voz a Agripino justificar e se sair, como diz a revista de santa de altar. A mídia, mesmo oposicionista, esqueceu rapidamente o fato e não deu a importância necessária a tal acontecimento. A imprensa norte-rio-grandense é calada por Agripino, nunca se fez um trabalho voltado para a investigação e publicação dos fatos que todos sabem ser verídicos, por ser tratado como mito no Estado. Nos versos de um artista da terra, o poeta Cabeção do Sabugi, conhecemos as peripécias de Agripino. ‘Pois o filho de Tarcísio/ Que ostenta porte de nobre/ No tempo da ditadura/ Quem pesquisar descobre/ Com a grana do caixa dois/ Para comprar se dispôs/ O voto do pobre[…].
Talvez Agripino não cale a imprensa norte-rio-grandense acintosamente, mas acredito piamente a falta de coragem, moralidade e competência dos jornalistas do estado de denunciar, ou ir contra esse político que nasceu nos braços dos generais.
Creio que Caros Amigos é a melhor revista do Brasil, pois apesar de ser de esquerda publica uma entrevista com o ex-petista, hoje no PSOL, deputado Chico Alencar que entre tantas outras coisas diz que ‘o PT se aliou a Direita’. E mais que isso, a revista é acusada de ser financiada por José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil. Se esse fato é verídico, não sei, mas que a entrevista vai contra os interesses do partido, isso vai. Uma revista que conta com a colaboração de muitos profissionais e estagiários e que paga apenas dois jornalistas com salários fixos deve ser exaltada pelo seu trabalho e exemplo de jornalismo. Os fatos são dados na matéria, ninguém diz que Agripino é bom ou mau. O cidadão observa os fatos, interpreta e toma suas decisões. Acredito que esse seja realmente o papel da imprensa, dá subsídios para que a população crie suas opiniões.
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estudante e repórter www.foque.com.br