Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Humanizar o processo da notícia

Nos cursos de Comunicação Social das faculdades e universidades de todo o país ensinam-se as técnicas e as normas para a aplicação da informação nos diversos veículos de comunicação – rádio, tevê, jornais, revistas etc. Tudo para colocar o estudante em condições de ingressar no ‘deus mercado’, ditador de regras, modas e conceitos. Quase tudo que se fala e se faz numa academia visa – ao menos na teoria – cumprir as exigências de um mercado voraz e seletivo que absorve somente os mais preparados e competentes. Mas, preparados como? Para que e para quem? Que competências?

Entendemos por preparação e competência mais do que a aptidão à aprendizagem das regras e técnicas básicas, a aquisição de um imprescindível conhecimento humanístico e da engrenagem dos processos comunicacionais. Para tanto, é preciso abraçar com humildade e dedicação a filosofia e a ciência. Ao menos na graduação dos cursos de Comunicação Social é preciso ir além do que as faculdades têm proposto, porquanto os cursos de Comunicação carecem de humanização. Ao jornalismo, mais que se ater somente aos fatos, acontecimentos e imagens, torna-se premente, isto sim, fazer vislumbrar um horizonte possível de um jornalismo humano e inclusivo.

Seres humanos-jornalistas

Muito mais do que preparação e competência, atribuições igualmente importantes, selecionar notícias e produzi-las exige o mínimo de humanidade; humanismo – ‘com manifestações no domínio lógico e no ético’ – e sensibilidade, não pejorativamente, mas na expressão de sentimentos de humanidade, ternura, simpatia e compaixão. Não raras vezes, ouvimos em nossa trajetória no jornalismo fragmentos como ‘contra fatos não há argumentos’ e ‘a imagem vale mais do que mil palavras’. Não pretendo aqui esmiuçar o sentido de ambas, porém ressaltem-se os riscos que corremos a todo o instante quando ingerimos formulações como estas sem, ao menos, refletir à luz da razão e da sabedoria sobre tais afirmações coercitivas, incoerências que podem ser prejudiciais a muitas pessoas.

Vejam-se os fatos e acontecimentos que ocorrem em todo momento em quaisquer partes do mundo, como são tratados os fatos que a grande imprensa absorve e repassa em forma de notícias e como as recebemos. Como o público, seja ele ouvinte, leitor ou telespectador, recebe as informações que chegam? Murmuram, ficam indiferentes ou fotografam com olhar crítico as informações recebidas? De que forma o jornalista trata a notícia escolhida ou selecionada? Como o jornalista escreve ou noticia? O profissional tem liberdade para escolher a informação? Que preparo ou competência reúne o jornalista para discernir a notícia que chega até ele? Há interferências da direção da empresa para a qual o jornalista trabalha, ou ele tem liberdade e autonomia própria para atuar com responsabilidade como agente de transformação humana da sociedade?

Mesmo relevando a correria e a pressa do mundo moderno, mais ainda, do mundo da produção da notícia – o que não significa ser conivente –, creio ser possível praticar o bom jornalismo, pautado no valor ético-moral, o que, sem dúvida, requer cuidados na leitura que fazemos das notícias, estando a exigir investigação e checagem; um jornalismo proponente da verdade como elemento primordial para informar e formar o indivíduo, norteando-o para não se deixar seduzir por conteúdos ideologicamente nocivos. Enfim, um bom jornalismo feito por seres humanos-jornalistas, e não apenas jornalistas.

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Jornalista