O primeiro aniversário do Dossiê Vedoin produziu apenas sussurros, o caso prossegue apenas no escurinho das diligências policiais. Difícil imaginar que a Polícia Federal investigue e torne público o seu próprio desempenho no episódio. E o desempenho da PF no episódio foi crucial – ela revelou a armação do dossiê, ela vazou para a imprensa as fotos proibidas da dinheirama apreendida e, em seguida, participou ativamente da Operação Abafa-Escândalo.
Como aconteceu com os militares depois de terminada a ditadura, não se deve esperar que a impecável PF preste contas à sociedade sobre o que se passou em suas entranhas. Quem sabe de tudo são os diários do ex-ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que certamente só os publicará dentro de algumas décadas.
A nenhum grupo político interessa levantar o tapete para ver o lixo que debaixo dele acumulou-se ao longo deste ano. O PT assim como o PSDB não se mostram interessados em ressuscitar o dossiê, obviamente por razões diferentes.
Destinos semelhantes
A mídia, por sua vez, não quer remexer numa ferida ainda não cicatrizada. E por duas razões:
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Entre os envolvidos pelo escândalo está uma tradicional revista de informações, IstoÉ. Colocá-la no banco dos réus significa admitir que a impoluta imprensa também necessita de uma rigorosa corregedoria.**
A publicação das fotos da montanha de dinheiro apreendida pela PF na mesma noite em que aconteceu a tragédia com o Boeing da Gol produziu um escândalo dentro do escândalo, o ‘Complô da mídia contra o governo’. Nenhuma das partes gostaria de relembrar como a mídia foi torpemente usada para veicular um dossiê forjado.Esquecer é a solução. Destino igual terá o ‘Escândalo do Coríntians’ ou ‘Caso Berezovski’, que ocupou as quatro revistas noticiosas do último fim de semana. História complicada para contar, difícil de entender e, sobretudo, inconveniente quando for inteiramente apurada.
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Fracasso eloqüente
Copyright Folha de S.Paulo, editorial, 18/9/2007
Sempre que confrontados com denúncias de corrupção no governo, entusiastas do lulo-petismo se apressam em brandir o emblema da Polícia Federal (PF). Afirmam que nunca antes na história deste país tantos criminosos de colarinho branco foram investigados e, dependendo do caso, presos.
É bem verdade que a PF vem, ao longo dos últimos anos, se tornando um órgão mais atuante, que produziu grande número de operações policiais de alta visibilidade. O impacto dessa atuação tende a ser positivo. Exageram, porém, os que decretam ter a PF se tornado uma polícia de Estado, impermeável a pressões políticas. Aqui, os fracassos da corporação se tornam mais eloqüentes que seus sucessos.
Na noite do dia 15 de setembro do ano passado, petistas ligados à campanha do presidente Lula foram presos com R$ 1,7 milhão que seria usado para comprar um suposto dossiê com acusações contra tucanos. Os tais documentos revelaram-se uma patranha, mas a PF, em flagrante contraste com a propaganda que faz de si mesma, não foi até hoje capaz de esclarecer a origem do dinheiro, que poderia comprometer petistas de alto coturno com crimes fiscais e eleitorais.
As investigações estão paradas, não só no âmbito policial, como também no do Ministério Público, da Justiça e do próprio PT, que prometera esclarecer tudo. O delegado da PF Edmilson Bruno, que, contra determinação da superintendência, repassou à imprensa as fotografias do dinheiro, ficou um ano afastado de suas funções e respondeu a dezenas de procedimentos internos.
A PF por certo melhorou, mas ainda está a anos-luz da polícia de Estado republicana que se deseja. Pelo visto, no Brasil ainda vale a pena ser amigo do rei.
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